18 de dezembro de 2014


ALGUNS MIONICONTOS

- Não te pedi para ficar sozinho um pouco? Não te disse que estava precisando me recolher?
- Mas isso já fazem três meses!
- Pra você ver como eu estava precisando.


A boca cheia falou à boca vazia umas coisas que a boca vazia invejou, pois queria encher-se também. Mas quando teve a fartura diante dos dentes, a boca vazia percebeu coisas que a boca cheia ainda teria que esvaziar-se para perceber.


Nada fazia Falippa mudar de ideia. “Tenho certeza, e quando eu tenho certeza vou até o inferno defendendo a minha opinião”. O que Falippa não percebia é que isso já era o inferno. E ela não perceber fazia parte dele.


A cabeça de Gápilo caiu no chão com um certo estrondo, chamou a atenção de meio mundo, foi uma correria para juntá-la e por de novo em cima do aflito pescoço. Gápilo nunca perdoou sua cabeça por este vexame. Ainda se caísse discretamente e pedisse ajuda com educação para três ou quatro mais próximos, tudo bem. Mas aquele escândalo, aquela falta de pudor histérica, fotos disseminadas pela internet, programas de tevê querendo entrevistá-lo, revistas de homem pelado querendo fazer capa com ele, isso Gápilo jamais perdoaria. Nem que sua cabeça nunca mais caísse no chão.


- Trouxe uma rosa pra você.
- Mas é a mesma de ontem!
- Claro que não é a mesma de ontem, amor. Só a cor é igual.
- Então. É a mesma de ontem!


Hacágio era um homem correto. Aparentemente, Hacágio era um homem correto. Quando se descobriu que ele havia casado duas vezes no mesmo dia com mulheres diferentes e que estas mulheres nunca souberam da amante que ele mantinha desde antes dos casamentos, foi um tremor de terra. Hacágio deu um meio sorriso para todo aquele frenesi em histeria e depois disse:
- Isso que vocês nunca viram minha declaração de renda.
Houve primeiro um pequeno choque, um instante em que tudo pareceu paralisado. Logo após, uma corrida à escrivaninha de Hacágio.


- Quero deixar bem claro que deixar bem claro é coisa pra alvejante e pra sabão em pó. Se vocês querem mesmo clareza procurem um albino.
- O que ele quer dizer com isso?
- Que não quer dizer nada.


Acabou se ferindo na cerca. Ela estava ali para dizer “não passe”. Passou. Mas passou se ferindo, deixando carne e sangue no arame e levando corte fundo e ferrugem consigo. Nada bom. Mais adiante é preciso que haja mais do que outra cerca.


- Não serviu. Bota fora e compra outro.
- Mas custou 50 reais!
- Tu tens 50 reais pra comprar outro?
- Tenho.
- Então bota este fora e compra outro.
- Mas tá novinho, é uma pena.
- É, tá novinho. Mas não serviu...


Aquele poço parecia não ter fundo.
- Quem cavou isso?
- A Natureza, será?
- Olha as paredes. A Natureza costuma fazer desenhos assim?
- Pois é. Quem faria desenhos nas paredes de um poço?
- Pode que nem sempre tenha sido um poço.
- Pode. Mas pra que alguém cavaria um buraco tão fundo, com quatro metros de diâmetro e com desenhos nas paredes?
 - Não sei. Pode ser que lá embaixo a gente encontre a resposta.


- Eu espero muita coisa de ti, meu filho!
- E eu espero que esta sua espera não me desespere...

ROGÉRIO CAMARGO

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Agradecemos pela leitura.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.