15 de dezembro de 2014

Dueto da tarde [XIII]

Deixe do jeito que veio; aquela flecha no peito e a sensação de ar fresco;
O destino destina-se malucamente, mas sabe o que faz malucamente.
O arrebol, belo e deslumbrante, bateu em seu semblante e tornou-se mais vermelho
Aceitar as pequenas dádivas, remoer as pequenas mágoas, decidir aqui ou lá, ir adiante com o sol no semblante.
Nossa! são os dias sagrados; nossa! nada de errado na sua companhia.
O que veio do céu deixe do jeito que veio. O que veio da terra deixe do jeito que veio. Aquela flecha no peito é o ar que você respira,
É meu mundo no seu que gira e transforma-se numa folia, num novo preito.
Se é dádiva ou se é mágoa, os seus olhos acabarão me contando
E no final dos tempos restarão lembranças, versos e as horas, correndo velozmente em alinhamento, correndo sem pressa e julgamento
Para os braços do que veio do céu, para os braços do que veio da terra.

Rogério Camargo e André Anlub®
(15/12/14)

Dueto da tarde (XII)


Dueto da tarde (XII)

Andava sobre as águas ou sobre alguma coisa que as águas diziam ser,
Embrião de certo ancestral que vivia num tempo medieval, ou num que fazia jus a crer...
Tudo por ali se escoava porque águas escoam, se lhes é permitido
E no mesmo sentido a pureza norteia e desfaz o vil “umbigo” que a grandeza diz ter.
Ter, ter. Se a grandeza tem de fato não é o ato de dizer nem o de esconder ou de prometer que garante às águas o que as águas garantem, e seguem nada errantes, buscando o conforto no dom de ser parte de toda a concepção.
Andava sobre as águas como uma caravela sem velas, casco ou tripulantes
Era louco varrido – varrendo – variante, variável várias vezes de variedade em variedade.
Era um elemento químico, ou sólido, ou filme... quiçá fuligem, de mente de símio, mas absurdamente pensante.
Olhava para o que as águas diziam ser, olhava para si mesmo nas águas, olhava para o impossível de tudo.
Chegou à conclusão do absurdo que é ser louco, símio, embrião, variável, errante, navegante, e não saber de nada, pois já sendo água é tudo, e andando sobre si mesmo pode até (sem querer e de repente) ser um Deus.

Rogério Camargo e André Anlub®

(14/12/14)

14 de dezembro de 2014

Inocente e réu



Inocente e réu
(André Anlub - 21/12/10)

Andei por caminhos difíceis
(sombrios e íngremes)
Descobri a esperança e o renovar de cada andança
(caridades e crimes)
Peregrinando e observando no caminho
Pássaros que vão e vem
E seus gravetos nos bicos.
Lembro-me de outras épocas,
Ninhos de cantos e gemidos...
Vida de baixos e apogeus.
Ah! sinto saudade, sinto o perdão que outrora não conhecia. 
Aprendi durante esses anos vividos
A amar e saciar a quem me sacia.
Aprendi a doar-me mais e cobrar menos,
Ser moderno amando o eterno e ser bom aprendiz.
Aprendi a conter minha raiva, ter paciência,
Pisar em ovos e passar feliz.
Nesse caminho, sob a luz da lua, declamo mansinho os Versos teus... 
O vento mexe as margaridas
Campos de trigo - minha vida (baú de amigos).
Em outra vida devo ter sido rei, 
Talvez um nobre, 
Bobo da corte ou um plebeu.
(de nada importa!)
Na paisagem de tua janela, de frente ao lago, o pôr do sol.
E no crepúsculo, ouvindo os sapos, os violinos, clave de sol.
Sinto o toque divino no verde e no azul piscina do céu,
Vejo que ainda sou menino e sou desde pequeno
Inocente e réu.

A Terra - Tudo azul


A Terra - Tudo azul
(André Anlub - 7/1/11)

A terra é um coração - grandioso terreno
Aguardando sempre as sementes certas.
Sejam quais forem os frutos...
Todos contêm novas sementes.
Com a ajuda do beijo do banho
Das chuvas perfeitas, perfeitas águas,
Com o clima ameno do sentimento
Mais que um afetuoso momento.
Persevera a vida:
Linda, desejada e indecifrável.
Outra semente:
Germinada é outro “rebento”.
A natureza da sua jornada,
Quase tudo que se brota do (quase) nada:
Metamorfoses, nada se perde.
Da fotossíntese o ar mais puro
Cada um cuidando da sua terra.
A bola mais verde seria utopia?
Longínquo, mas é possível?
Somos seu rebanho,
Vivemos e comemos dos seus verdes pastos...
Um futuro imprevisível.

Acalmando a Alma XV

13 de dezembro de 2014

Dueto da tarde [XI]

Eis a nova percepção da leitura, aquele saborear sem julgamentos e “olhos de faca”.
Nem olhos de estilete são necessários: a página se abre fácil à compreensão dócil,
Surgem romances e poesias – nascem nuances policromas da própria vida;
E as mãos talvez ávidas, quase aflitas, também namoram com a calma e a distensão.
Foi-se o tempo penoso dos ventos sem fundamentos, da pequena procura sem fim e incompleta, inconsequente e em ignição.
Foi-se, mas pode ser que volte, não sei, não me prometeu nem jurou nada. Só sei que agora, entre as páginas viradas, encontro o que ele deixou.
Eis a tamanha confiança carregando os versos completos, espertos e profundos, como a aura brilhante que nota a “dúvida” voando, livre, e sabendo que ela é uma passarinha do mundo.
A nova percepção da leitura é uma leitura da percepção. Sem ela, o livro é apenas o livro, nada mais que o livro, embora um livro.
Agora fica o conselho: o Abra, o leia – abra-se, se abrace; descubra um universo que vive em folhas e descubra suas folhas em seus inversos.
Porque é neste momento que D. Quixote troca de lugar com Robin Hood.

Rogério Camargo e André Anlub®
(13/12/14)

VITIMAÇÃO x VITIMIZAÇÃO

Vamos diferenciar vitimação de vitimização?

(1) Vitimização é se colocar inapropriadamente no lugar de vítima. Por exemplo, a classe alta e a sua lógica narcísica de que o outro é sempre uma ameaça. Portanto, ela é sempre vítima;
(2) Do outro lado, temos a vitimação, que é ação de tornar alguém ou algo vítima. É subjugar. É matar. É destruir. Algo que ocorre com muita frequência em relação a certas coletividades: negras e negros, gays, lésbicas, transexuais, mulheres, populações pobres;
(3) O mais curioso é que essa vitimação de certas coletividades está diretamente ligada ao medo e a vitimização da classe alta, que provoca uma demanda por segurança pública. E segurança, muitas vezes, se reduz ao extermínio do outro que “ameaça”;
(4) Outra forma de vitimar certas coletividades: impedir que elas se tornem agentes políticos. Garantir a hegemonia do discurso para que aquilo que se diz ganhe contorno de Verdade;
(5) A desqualificação e invalidação do lugar de fala de certas coletividades tem origem no medo da classe alta, mas é reproduzido por toda sociedade – e até por intelectuais;
(6) Podemos dividir essa desqualificação/invalidação da seguinte maneira: (i) intelectuais que se acham qualificados para assumir o lugar de “consciência das minorias” e falar por elas (ii) a invalidação da experiência de sofrimento do outro;
(7) Essa invalidação da singularidade da experiência passa pela utilização de recursos argumentativos, que costumamos chamar de “senso comum”. Por exemplo, dizer que o outro está se vitimizando, quando estabelece algum tipo de narrativa sobre a sua exclusão social ("sou gay e nordestino");
(8) Não achem que o senso comum é inofensivo e que desarmamos com facilidade alguém que chama o outro de vitimista por se dizer gay e nordestino;
(9) O discurso preconceituoso e perverso do senso comum está em tudo. Sobretudo, onde o poder se instala – inclusive, o poder intelectual, não se enganem! Desconstruir isso é uma tarefa militante que não termina. Não por acaso, dizem que saberemos que houve uma revolução, quando mudarmos o senso comum.

por Daniela Lima, do Coletivo Jandira

Condomínio de inocentes



Condomínio de inocentes 
(do livro “Poeteideser”)
(André Anlub - 3/11/09)

A coisa mais bela:
- Uma abelha e sua colmeia
A natureza mostrando a cara,
Muito além das nossas ideias.

Muitas vezes me pergunto:
- Quem criou toda essa graça?
Tudo cheio de beleza,
Com tempero de desgraça.

Andamos nos esquivando
Sem tempo, sem templo e igreja...
Com fé e sem muita certeza,
Com sonhos que estão voando.

Buscamos o fim da tristeza
Violência – maldade.

Vida digna - notoriedade
(Tudo na absoluta clareza)

Nossos rebentos com segurança
Arrebentando as correntes
Que os prendem às desesperanças...
Um condomínio de inocentes.

Acalmando a Alma XIV

12 de dezembro de 2014

Dueto da tarde (X)

A velha ponte entre sonhar e ter sonhado, entre acordar e continuar sonhando
Deixando-me entusiasmado por dar cria ao inspirado fato que move meu coração.
Gosto de pensar que ela sabe de onde me trouxe e sabe para onde me leva,
Pois a travessia pode até ser árdua; mas água, pão, lápis, pincel e o bloquinho eu levo para uma eventual contramão.
O mapa eu deixo para as pontes como esta. O mapa vem-me das pontes como esta.
Sinto-me realizado, não quero conhecer o futuro, o porvir; quero embriagar-me de novidades, olhar sempre com olhos de novo, de “aqui”.
A velha ponte que atravesso todos os dias também renova o olhar do “aqui”, é o seu colírio e o seu oftalmologista; 
é também meu dentista que cuida/clareia/incendeia e congela o meu poético “sorrir”.

Rogério Camargo e André Anlub®
(12/12/14)


ARQUIVO NATIONAL

Após estampar a capa de National Geographic, a misteriosa refugiada voltou a olhar para o mundo. O fotógrafo Steve McCurry reencontrou a "menina afegã" após 17 anos. Leia a reportagem "Uma vida revelada"  http://abr.ai/12MAgw3

Bom dia.

Meu abraço em todos!

O Amor é tudo, com as devidas exceções! 

O fez de servo esse amor coibido,
A mercê do seu regalo,
Diluiu-se em seu cerne,
Atravessou o fino gargalo...
Qualquer antes desafeto,

Agora é reto, sombra e estalo.

- André Anlub

11 de dezembro de 2014

Dueto da tarde (IX)

Viu no seu espelho aquele reflexo intenso de novas probabilidades.
Resolveu então entrar no espelho, porque era lá que estava a sua verdade.
Mergulhou e escreveu... se conheceu e não esqueceu ou escondeu seus medos,
Não ficou prova na tinta que marcou seus dedos.
Na beleza da sua mais nova/antiga realidade, renasceu
O que há muito tempo, entre cortinas e persianas fechadas percebeu
Já era o tempo, mas não no sentido de perda; era o tempo de agora ser a própria ajuda e história, ser seu dono deixando entrar a luz e fazer-se a cor.
Tempo de sacudir a inércia, de bater os tapetes da acomodação, de dar um basta à desistência e ao torpor.
Assim cria-se um novo poeta, de visão sem enlaças e ideias ao vento, a cabeça feita, moldada na adequação exata que exige a sua dona, a escrita.
E se sua dona quiser, ele pode aprender a diferença entre a feia e a bonita.
E se sua dona deixar, ele pode nadar em águas quentes e frias.
E se sua dona for mesmo sua dona, nunca mais as cortinas abrirão para paisagens vazias.

Rogério Camargo e André Anlub®
(11/12/14)




Dueto da tarde [parte VIII]

Abro a janela para a janela aberta e para a janela aberta abrirei a janela.
Assim sendo, expondo os meus internos horizontes que fazem o montante que me completa absoluto...
Nada é mais importante que a janela aberta diante da janela aberta
A incumbência de ir além, sair do ventre, ir adiante... embarcar no trem,
Meu trem de viagem imediata, instantânea, irrevogável diante da paisagem interna
- Um afago do alento; um trago de ler Jorge Amado; uma ambiguidade é voltar no tempo e seguir no agora dentro desse fardo.
O que acontece lá fora faz uma visita para o que acontece aqui dentro,
Busca o meu Eu mais poético, frenético e farto.
É quando parto sem partir, é quando um quarto é a casa toda, é quando infarto e meu coração é mais coração do que nunca.
(...) mais uma vez, assim sendo, absoluto me concerto e me interpreto (ser o ser completo). 

Rogério Camargo e André Anlub®
(10/12/14)

Peitando a ignorância

Vamos peitar a santa ignorância,
Fazendo aliança com o santo Aurélio,
Criando rimas com enorme concordância,
Limpas, como um céu de brigadeiro.

Vamos debochar dos garranchos,
Inflar os podres egos, até estourarem.

Vamos rir da concupiscência de belas atrizes
Que encenam as loucuras em solos sagrados.

Não vamos duvidar de todos os enamorados
E os sorrisos congelados, devemos enumerar.

Para (vamos) quebrar o gelo a foice do entusiasmo:
- Dizer que é escárnio quando chegar o final.

Vamos levar a sério o que é dispensável,
Pois o essencial, atualmente, é radioativo.
No meio dessa guerra fria, assumir ser indolente,
Pois se o mundo está doente, não é por mal.

(André Anlub - 11/9/12)


Água Que Guia uma Águia


Papo reto: viver não é o bastante, queremos por perto os afetos: (sexo, chocolate, diamante)...
Mesmo que por um instante, só para querermos de novo.

Água Que Guia uma Águia
(André Anlub - 27/9/10)

Vejo rebento rapina,
Que em ondas e ventos chegou;
Fez do mais velho, menino,
E a discórdia enterrou.

Nasceu do amor impregnado,
Uma busca que nunca teve fim;
Chuva e semente, cultivado,
Verde, forte, capim.

Cresce e se alastra com brilho,
Bate suas asas de Pégaso;
Voa por entre palácios,
Desperta nas nuvens seu filho.

Aurora de paz, sentinela,
Seus olhos fitam o amor;
Orquestra um grito de guerra
Na companhia de um condor.

Vejo de baixo incrível beleza,
Derramo sem piedade meu pranto...
Sem jeito, mas com sutileza,
Viro, caminho e canto.
Já se foi o pássaro por entre os coqueiros e a maresia...
Deixando um dedo apontado ao infinito com um sorriso no rosto da menina.


O sol está sempre penteado, perfumado, bem vestido... 
Também cortês, fotogênico e amigo;
Ao se pôr, diz: 
“Jusqu'à demain, bonne nuit!”


O sol por detrás dos negrumes ilumina as colinas mais altas... 
Justamente onde o amor não faz falta.


Não quero paixão egoísta, profunda feita poça de chuva fina, nem paixão quente feito água que o bacalhau se banha...
A paixão que quero deixou pista:
Muito beija, muito afaga, não apanha e não amarga... É brincadeira de criança... 
Pera, uva, maça e salada mista.


Quem ama às vezes sofre,
Pois arromba-se o cofre dos anseios
E alimentando-se nos seios que repousa,
Justifica o fim nos prazeres dos meios.
Vou degustar outros ares,
Novos mantras e músicas,
Devorar os segredos,
E digerir o dom.

Vou esculpir o vão
E redesenhar velhos mares,
Fazer da vida um folguedo
Num real sonho bom.

Vejo o ser montanha russa,
Dando tapa na fuça da depressão.
Vejo a beleza em rubores de fúcsia,
Sendo cor ou sendo flor,
Sempre adoração.

Lembrei-me da mocidade
Num instante congelado,
Ao som de um verde pássaro
Nesse nosso antigo lago.

Uma pequena e livre garça,
Charmosa, cheia de graça,
Dançou desengonçada
Sobre a água - sob o sol.

Fitou-me com ousadia
E de leve fez barganha,
Num breve arrebol que banha
Meu amor no espelho do céu.

10 de dezembro de 2014

I e II de "Em breve"...

“Em breve” e “logo mais”, não são “pra já!” (em doze tempos)

I

Saindo de juazeiro, nuvens,
Sol quente, um pouco de sede e muito já de saudade;
Deixando o olhar dos cães
E os meus olhos úmidos para quem tenho apreço...
Mas é breve, é coisa ligeira.
O tempo passa tão logo, tão “flash”, como os ponteiros do relógio,
Na pressa e na eternidade do tempo que sempre já foi.
Seguem avião e emoção, 
Trocam-se óculos... 
Escuros – de grau.
Vem bloquinho, vêm sonhos de realidades;
Ao meu lado na poltrona: ninguém! 
Lugar vazio é coisa rara nos tempo de hoje...
Vai ver foi de sacanagem,
Para aumentar o vazio e duplicar a saudade.

II

Entrando em Brasília:
Nuvens parecem montes, montanhas;
Nunca as vi com tais formas.
Ao longe uma se destaca mais assanhada,
Como uma torre alta, feito um castelo.
Lá embaixo um rio longo
E a sensação de estarem todos dormindo.

É assim que deve ser...

Além de separar governo de religião, a Constituição Federal (art. 5º, inciso VI) também garante o tratamento igualitário a todos os seres humanos, quaisquer que sejam suas crenças. Atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado em função de crença são crimes. Lembre-se que a crítica religiosa não é igual à intolerância religiosa. Leia mais: http://bit.ly/1uXBJJv

Ótimo dia...


Inutensílio - por Paulo Leminski

A ditadura da utilidade
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para quê, desde que os mercadores, com a Revolução Mercantil, Francesa e Industrial, substituíram no poder aquela nobreza cultivadora de inúteis heráldicas, pompas não rentábeis e ostentosas cerimônias intransitivas. Parecia coisa de índio. Ou de negro. O pragmatismo de empresários, vendedores e compradores, mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente até que a Bomba de Nêutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos certeza.


Além da utilidade
O amor. A amizade. O convívio. O júbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia. A rebeldia. Os estados de graça. A possessão diabólica. A plenitude da carne. O orgasmo. Estas coisas não precisam de justificação nem de justificativas.

Todos sabemos que elas são a própria finalidade da vida. As únicas coisas grandes e boas, que pode nos dar esta passagem pela crosta deste terceiro planeta depois do Sol (alguém conhece coisa além- Cartas à redação). Fazemos as coisas úteis para ter acesso a estes dons absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condições de vida é, no fundo, luta pelo acesso a estes bens, brilhando além dos horizontes estreitos do útil, do prático e do lucro.

Coisas inúteis (ou "in-úteis") são a própria finalidade da vida.

Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. Que é feita de júbilo, liberdade e fulgor animal.

Cem mil anos-luz além da utilidade, que a mística imigrante do trabalho cultiva em nós, flores perversas no jardim do diabo, nome que damos a todas as forças que nos afastam da nossa felicidade, enquanto eu ou enquanto tribo.

A poesia é u principio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo não suportam o prazer. A sociedade industrial, centrada no trabalho servo-mecânico, dos USA à URSS, compra, por salário, o potencial erótico das pessoas em troca de performances produtivas, numericamente calculáveis.

A função da poesia é a função do prazer na vida humana.

Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama a poesia. Ama outra coisa. Afinal, a arte só tem alcance prático em suas manifestações inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdos querem que a poesia produza um lucro ideológico.

O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade.


Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita, uma luz política ultra-violeta ou infra-vermelha. Uma política profunda, que é crítica da própria política, enquanto modo limitado de ver a vida.

As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa. Servir. Prestar. O serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a rate (a poesia é arte) é a única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade. As utopias, afinal de contas, são, sobretudo, obras de arte. E obras de arte são rebeldias.
A rebeldia é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem chamamos poesia, inestimável inutensílio.
As várias prosas do cotidiano e do(s) sistema (s) tentam domar a megera.
Mas ela sempre volta a incomodar.
Com o radical incômodo de uma coisa in-útil num mundo onde tudo tem que dar um lucro e ter um por quê.
Para que por quê?


In ANSEIOS CRIPTICOS, Ed. Criar, Curitiba, PR, 1986, p. 58-60.

Arte in-útil, arte livre?


Paulo Leminski

9 de dezembro de 2014

Críticas, cítricas e titicas...


Críticas sempre serão bem-vindas, pois demonstram que algo provocou alguma coisa; sendo positivas ou não, estimulam o raciocínio e acabam com a inércia da vida “homeomorficamente” corriqueira. São salutares tanto para o criticado quanto para o criticador. Ah, lembrei-me do que disse Diderot: "O talento é imperdoável”.

André Anlub®

Acalmando a Alma XIII

Dueto da tarde [parte VII]

Acordei: além disso, ou daquilo, amanheceu e veio o estalo, ingresso para o embalo, para o baile, à caneta...
Fardei-me de manhã cedo, perfumei-me de aurora, embarquei na alvorada e me enfiei pela música.
É assim que acho certo, feito cachoeira no deserto – um Saara e uma cerveja.
O que me chama na música além, muito além da areia queimando os pés
É tal tom que na tua tez, na tinta tatuada o tautograma quebrado, fez-se adequado para tocar-me,
Para atravessar o sentido de estar vestido das manhãs e revestido de esperanças.

Mais uma vez acordei: vi meu corpo opaco nos teus olhos belos, verdes, no teu sorriso amarelo, mas tão esperado – benfazejo,
Benfazejo como o deserto quando não deserta, quando não deserda, quando é música e eu vou à música.
Agora posso deitar-me, pois assim deu-se o dia com nossa melodia, simples maravilha do amor em ter-te inteira – doce faceira – cria da insana fantasia.

Rogério Camargo e André Anlub®
(8/12/14)




Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.