22 de dezembro de 2014

Dueto da tarde (XX)

Desenhando as estrelas, contornando as montanhas, alinhando os mares, criando os homens e seus pares
Com as mãos em sóis abertos e o coração de carne nua com a lua na sua paisagem.
O corpo é balão de gás hélio, a alma já está no espaço
E o espaço que o ocupa é o infinito na casca de noz, é tempo cabendo no tempo eternamente.
Defronte ao delírio do homem (ao ter que criar e expor a esperteza) fica arredio e temeroso, volta-se à natureza.
Naturalmente ela responde com suas estrelas, suas montanhas, seus mares – aos pares às vezes, às vezes não.
Quando se trata de criação, sempre existirá o incerto, como se fosse um incesto validando a ação.
As janelas da percepção escancaradas deixam entrar uma luminosidade que não entende, que tende a enquadrar 
O latente que é existir na parte da arte que não se submete à perfeição.
Por elas, desenhando montanhas, contornando estrelas, alinhado pelos mares, o criador dos homens e pares vai.

Rogério Camargo e André Anlub®
(22/12/14)


Joe Cocker, cantor britânico, morre aos 70 anos

Músico britânico lutava contra um câncer de garganta, segundo emissora.
Ele ganhou fama ao cantar 'With a little help from my friends', dos Beatles.

Manhã de quase Natal


Manhã de quase Natal

Veemência ao máximo, mas a corda ruída;
Troca-se a música erudita por um funk pesado.
Na beira do abismo com o pensamento equivocado,
Constrói-se o equilíbrio conforme a necessidade.

E atravessa-se o vale:
Agora se vê cedros secos e regadores lotados d’água;
Ave cinza voando ao redor de arco-íris.
Foca-se a íris em bocas que com todos falem,
Palavras inexatas – incoerências em dialéticas.

E retorna-se à corda, não se sossega o facho:
Acorda os olhos, pois agora é real perigo;
Nostálgico tempo, vento e desabrigo.
Pede-se o ofuscamento, pois coragem em andamento...
O sangue corre quente e rente à corda balança a mente.
(troca-se o funk alto por Ron Carter e seu contrabaixo)

E acorda-se do sonho, agora voa-se baixo:
Céu encoberto, nuvens à vera,
Ventos fortes de leste varrendo a estação;
O sol quente que preste, a cachoeira à espera,
Nos poemas – quimeras; para as feras, oração.
(fica Ron Carter e seu contrabaixo).

André Anlub®
(22/12/14)

21 de dezembro de 2014

Tempo de ser cágado

Top 10: árvores extraordinárias --->  http://viajeaqui.abril.com.br/materias/arvores-pelo-mundo?utm_source=redesabril_viagem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_ngbrasil#1


Baobá, um ecossistema em uma única árvore
O baobá pode sustentar a vida de incontáveis criaturas. Dos minúsculos insetos que perambulam por suas cavidades até o elefante, o maior mamífero terrestre, que procura a água estocada no tronco para sobreviver às duras condições dos desertos da África. Aves fazem seus ninhos nos galhos, babuínos devoram suas frutas, morcegos bebem o néctar de suas flores. É um mundo em forma de planta.

Tempo de ser cágado
(André Anlub - 2/3/12)

O dia amanhece com muitas nuvens
E a jornada de fome e reprodução.
Anda cabreiro com olhos céleres;
Lento, sujo e determinado...
Vendo de lado ao modo arredio.

Pisando em barro com passos calmos e vida mansa,
Como se houvessem as danças (balés solitários).

Com a pança que arrasta,
Para e ensaia o sorriso.
O pescoço é farto
Para dez relicários.

Tarde caindo afogueada
Confunde-se com o vermelho dos flamboyants.
A garoa molha e limpa seu casco,
Olha a sequoia que é a direção,
Caminha bem lento, vagabundo...

Mastiga e engole algo alucinógeno
E elefantes voam por sobre o verão.

Ótimo dia aos amigos...

Os cineastas Henrique Ligeiro e Fausto Mota falam sobre o documentário "Domínio Público", que entre 2011 e 2014 investigou as transformações no Rio de Janeiro por conta dos megaeventos: UPPs nas favelas, remoções forçadas, privatizações de espaços públicos e revoltas populares.



Asas de anjo ou dragão

Vejam só os dois olhinhos, sinceros, impávidos,
Carregando a expressão das brasas dos entusiasmos.

O mundo deles também anda agitado,
E ainda mais quando estão juntos;

São avejões diversos...
No advérbio adjunto do anseio disponível no plasmático vulcânico...
Fundiram os neurônios e os versos.

Não há relógio no “slow motion”,
Tampouco o reviver das simples coisas.
A caneta dança na folha branca,
O sentimento canta a canção que voa...

Os dois olhinhos são escravos do tempo,
E o tempo não vive a mercê de porta aberta...
Não cumpre a cumplicidade que se torna seguro,
Simplesmente existe, e o quase é quase eterno.

Asas batendo, colorido das penas,
Bico bem largo e garras como dentes;
Com moderação se barganha com a vida,
Contínua rotina de distrair pensamentos
E tapear os momentos e as ideias baldias.

Criou-se o hábito saboroso e salutar,
Começou a lutar com as armas evidentes.
Vê a novidade de coisas iguais que nunca foram feitas,
Reinventa os trejeitos dos seus sujeitos (dá-se um jeito).

E a luta contra o colosso imortal continua,
O gigante que é anão, que espeta,
Que apunha, apunhala, compunha a mente incerta,
E a luta se enluta no negro alerta.

(...) nessa hora os olhos se emocionam mais uma vez,
Enchem-se d’água e desaguam...
E a vida: eles querem entendê-la, desvendá-la,
Querem enterrá-la para saber sempre onde está;
Irão confessar até o que nunca fizeram
E pelos campos e cidades aos ventos voarão...

Sendo perene ou não,
Sendo asas de anjo ou dragão.

André Anlub®

(3/7/14)

20 de dezembro de 2014

Dueto da tarde (XVII)

Como um felino nervoso cruzando a noite em passadas cuidadosas,
A relva afaga suas patas, e sua mente nada vaga foca num absoluto inquieto.
Os olhos varrem o que não encontram na escuridão densa e pensa, se pensa,
E se acha o que procura, se “fura” o seu destino, se deixa ao desatino de tal noite não achar.
A caminhada é longa como é longa a vida, sua expectativa, seu investimento e o momento... 
Será que e só seguir o instinto? Afinal, acima de tudo, ele pensa em se levantar
Do chão que não é só cuidado, ganhar a nuvem, também, que não é só ideal impossível
E atravessar o infinito, pois todo ser que é mais que um ser, quer superação, quer ser mais que o material
Em que se reconhece. Como um felino nervoso, então, palpando a noite com cuidadosa minúcia,
Larga por um momento a raiva, a relva e a astúcia, vê-se no espelho d’água como se pelúcia
A natureza mãe amante lhe ofertasse ao toque e vai a reboque da sua percepção ferina.

Rogério Camargo e André Anlub®
(19/12/14)

Dueto da tarde (XVIII)

Agora pela manhã caem, sedentos pelo encaixe, dilúvios de palavras desencaixadas e irritadiças à procura da cola da inspiração.
Ontem pela tarde elas levantavam-se, olhava o mundo bem fundo nos olhos e diziam não ter medo de nada, nem da alvorada.
Agora na onda do vento a inspiração e as palavras atravessam os campos de trigo e beijam os que lá trabalham; o tempo seria amigo ou apenas conhecido das palavras?
As palavras, desencaixadas, também se perguntam: que amizade temos com o tempo, que nos esquece e não nos esquece?
Às vezes todos se entendem e nascem magníficos filhos, nascem arte e desafio, amor concreto ou por um fio, tudo se agarrando no fio da meada.
Agora pela manhã, ontem pela tarde, o tempo todo pela noite das estrelas, pela sanha de entendê-las, sem medo de lembrar ou de esquecê-las
Nas arritmias do tempo e da criação segue o menino poeta, nesse momento vai criando o novo ou recriando o velho, dando luz ao sombrio, florindo as alvoradas e ajeitando as placas de mão e contramão.
Há sentido no sentido, nos cinco sentidos, nos duzentos sentidos dos cinco sentidos sentindo... muito.
Nasce na compreensão do momento o sentimento de poder, o sentir-se um Deus, o paladar apurado e revigorado de ver além, e ver, ver... muito.
Agora pela manhã, ontem pela tarde, o tempo todo pela noite das estrelas ver, ver muito. É o que dá sentido.

Rogério Camargo e André Anlub®
(20/12/14)


Crato 250 anos



19 de dezembro de 2014

Em breve e logo mais, não são “pra já!” (em doze tempos)


I

Saindo de Juazeiro, nuvens,
Sol quente, um pouco de sede e muito já de saudade;
Deixando o olhar dos cães
E os meus olhos úmidos para todos que tenho apreço...
Mas é breve, é coisa ligeira.

O tempo passa tão logo, tão “flash”, como os ponteiros do relógio,
Na pressa e na eternidade do tempo que sempre já foi.
Seguem avião e emoção,
Trocam-se óculos...
Escuros – de grau.

Vem bloquinho, vêm sonhos de realidades;
Ao meu lado na poltrona: ninguém!
Lugar vazio é coisa rara nos tempo de hoje...
Vai ver foi de sacanagem,
Para aumentar o vazio e duplicar a saudade.

II

Entrando em Brasília:
Nuvens parecem montes, montanhas;
Nunca as vi com tais formas.

Ao longe uma se destaca mais assanhada,
Como uma torre alta, feito um castelo.
Lá embaixo um rio longo
E a sensação de estarem todos dormindo.

III

Sábado (13/12/14):

Meu café, dia chuvoso – parque meio alagado,
Cabeça lenta, bate-papo com a vendedora de uma loja vazia
E o encontro com um amigo.

Já se foram àquelas pernas energéticas, descontroladas,
Que andavam de um canto ao outro
E nadavam, nadavam a esmo ou não,
E corriam, a esmo ou não, na mais infindável eficácia.

IV

Um rissole de camarão, café espresso
E a pressa de ir a lugar algum.
Uma farinha de maracujá e mais caminhar...
Algumas coisas mudaram/mudam e outras nem tanto,
Busco sempre a poesia velha/atual/nova; o bom, a meu ver, é isso!
E ela?! ela está em todo lugar... Quem?
- Agora não importa...
O celular vibra – é mensagem – é tecnologia!
Agora não; não largarei a caneta.

V

Vulcões estouram, à realidade da lâmina do vento,
Entre diversos contratempos: melancolia e saudade.
Seguimos espertos nos mares, nos maremotos cabreiros,
Nos peixes-espadas guerreiros e ingestão de ornamentos.

O tempo agora é amigo – parceiro, sombra e herdeiro;
Delicado, bem-humorado, sorri a mim com sarcasmo.
É meu ouvinte esse tempo, o grito que ensurdece os receios,
Segredos e vivencias e abrigos – antigos pensamentos são recentes.

VI

Barba enorme e o cabelo que não cresce,
Prece disfarçada de poesia.
Todo dia um bom-dia à “reprise”
E o “vixe” que procuro nas nuvens. 

Damos sempre “viva” aos mortos,
E tem aquele que se faz evidente;
Cantam descrentes e crentes à sorte,
Cantam ao norte na hipocrisia da vida.

VII

Enquanto o sol beija meu corpo
Na fria manhã dessa quarta,
A folhinha com os dias marcados,
Parece caçoar da minha cara.

Veio tranquilidade, mas logo a má notícia;
Veio no dia à perícia, para dar certeza ao estrago.
Mas ponho forte o cordão, meu São Jorge pendurado,
E faço o branco pendão, a paz em seu imaginário reinado.

VIII

Rigor na minha sábia decisão,
Mudanças nos planos da festa;
Há pudor, mas há tiro na testa,
Se houver algum ligeiro mau humor.

Tudo são fogos com o foco armado,
Embriagado de fortuna e sorriso.
Tudo são figas nas mãos dos amados,
E com torcida não há mais perigo.

IX

Ouço pássaros chamando meu nome,
Pela varanda novo dia de conceitos e afins.
Ouço músicas que me remetem ao sono/sonho profundo,
Talvez nostalgia.

Há a obscuridade de lembranças,
Mas há a claridade das promessas e esperanças;

Há um tempo muito novo – talvez amanhã ou daqui a uns anos;
Há um tempo antigo – talvez minha infância ou seis meses atrás.

Na adolescência o tempo era farto,
Mas aos nossos olhos tornava-se escasso;
Com a maturidade o tempo torna-se escasso
E não há espaço para colocarmos as farturas.

X

O Natal bate à porta,
Entorta e revive as letras já tortas e mortas;
O novo dia chega chegando,
Breve e erudito, compromissado compromisso
De haver algo novo e harmonia.

Beijo meu anel de São Jorge,
Ato falho, desnecessário...
Pois na fé sempre me agarro!
Coloco as chinelas que trouxe
De couro velho e sola de pneu de carro;
Coloco o pijama bem leve, 
E para o frio de Itaipava me preparo.

XI

Um “drops” e um drope no copo de café,
Lá vem, com cara de cinza, mais um dia.
Hoje nada de sol, só de só (mas sobrevivo).
A névoa que não se espalha traz um pedaço de bom dia,
Traz a fleuma, bela visão do horizonte,
Inspiração e todo o restante montante...
E, à revelia, me impute felicidade.
O frio não veio;
No velho que passa pela rua com frio,
Vejo seu pensar distante e seu andar sereno.
Na criança do vizinho, 
Sinto o dom da juventude.
No pássaro que canta no voo,
Ouço o som da liberdade...

Hoje sou o mesmo eu,
Mas mais suave,
Sou velho,
Menino
E sou ave.

XII

Agora é sentir a brisa e deixar o clico rolar,
É soltar o barco no mar e acreditar;
É curar o arrepio, ser pertinente e vadio.
A sujeira pode ser limpa
E o borrão tornar-se um belo desenho.

O arremate depende do escultor,
A escultura não está completada;
O que virá, veremos,
O que se foi, folguedo (não quis ser indelicado).
A justiça sempre é feita, de uma maneira ou de outra.

Agora me torno mais eu e bato o martelo;
Cumpro minha missão,
E na submissão, que assaz “sub”,
Meço-me.

André Anlub®
((...)19/12/14)


Ótima sexta!

On the road (Pé na estrada)
(...)
A South Main Street, por onde Terry e eu perambulávamos comendo cachorrosquentes,
era um fantástico carnaval de luzes e loucura. Policiais de coturno revistavam
pessoas em praticamente cada esquina. As calçadas fervilhavam com as personagens
mais maltrapilhas da nação — tudo isso sob aquelas suaves estrelas do sul da
Califórnia, perdidas na aura escura desse enorme acampamento no deserto que L.A.
realmente é. Podia-se sentir o cheiro de erva, de baseado, quer dizer, maconha,
flutuando no ar, misturado com o odor de feijão, chili e cerveja. Aquele incrível e louco
som de bop saía flutuando das cervejarias; o som embaralhava ainda mais aquela
confusão de cowboys de todas as espécies e boogie-woogie dentro da noite
americana. Todos se pareciam com Hassel. Negros muito loucos, com doidos bonés e
cavanhaques, passavam às gargalhadas, depois vinham hipsters cabeludos e
deprimidos, recém-saídos da Rota 66 de Nova York; e então velhos ratos do deserto,
com suas mochilas, indo em direção a um banco de parque na Plaza; logo a seguir,
pastores metodistas com as mangas arregaçadas, e um eventual garoto santo e
naturalista de barba e sandália. Eu queria conhecer todos eles, conversar com todo
mundo, mas Terry e eu estávamos ocupados demais, tentando arranjar uma grana
juntos.
(...)
On the road (Pé na estrada) - Jack Kerouac 
p. 37

18 de dezembro de 2014


ALGUNS MIONICONTOS

- Não te pedi para ficar sozinho um pouco? Não te disse que estava precisando me recolher?
- Mas isso já fazem três meses!
- Pra você ver como eu estava precisando.


A boca cheia falou à boca vazia umas coisas que a boca vazia invejou, pois queria encher-se também. Mas quando teve a fartura diante dos dentes, a boca vazia percebeu coisas que a boca cheia ainda teria que esvaziar-se para perceber.


Nada fazia Falippa mudar de ideia. “Tenho certeza, e quando eu tenho certeza vou até o inferno defendendo a minha opinião”. O que Falippa não percebia é que isso já era o inferno. E ela não perceber fazia parte dele.


A cabeça de Gápilo caiu no chão com um certo estrondo, chamou a atenção de meio mundo, foi uma correria para juntá-la e por de novo em cima do aflito pescoço. Gápilo nunca perdoou sua cabeça por este vexame. Ainda se caísse discretamente e pedisse ajuda com educação para três ou quatro mais próximos, tudo bem. Mas aquele escândalo, aquela falta de pudor histérica, fotos disseminadas pela internet, programas de tevê querendo entrevistá-lo, revistas de homem pelado querendo fazer capa com ele, isso Gápilo jamais perdoaria. Nem que sua cabeça nunca mais caísse no chão.


- Trouxe uma rosa pra você.
- Mas é a mesma de ontem!
- Claro que não é a mesma de ontem, amor. Só a cor é igual.
- Então. É a mesma de ontem!


Hacágio era um homem correto. Aparentemente, Hacágio era um homem correto. Quando se descobriu que ele havia casado duas vezes no mesmo dia com mulheres diferentes e que estas mulheres nunca souberam da amante que ele mantinha desde antes dos casamentos, foi um tremor de terra. Hacágio deu um meio sorriso para todo aquele frenesi em histeria e depois disse:
- Isso que vocês nunca viram minha declaração de renda.
Houve primeiro um pequeno choque, um instante em que tudo pareceu paralisado. Logo após, uma corrida à escrivaninha de Hacágio.


- Quero deixar bem claro que deixar bem claro é coisa pra alvejante e pra sabão em pó. Se vocês querem mesmo clareza procurem um albino.
- O que ele quer dizer com isso?
- Que não quer dizer nada.


Acabou se ferindo na cerca. Ela estava ali para dizer “não passe”. Passou. Mas passou se ferindo, deixando carne e sangue no arame e levando corte fundo e ferrugem consigo. Nada bom. Mais adiante é preciso que haja mais do que outra cerca.


- Não serviu. Bota fora e compra outro.
- Mas custou 50 reais!
- Tu tens 50 reais pra comprar outro?
- Tenho.
- Então bota este fora e compra outro.
- Mas tá novinho, é uma pena.
- É, tá novinho. Mas não serviu...


Aquele poço parecia não ter fundo.
- Quem cavou isso?
- A Natureza, será?
- Olha as paredes. A Natureza costuma fazer desenhos assim?
- Pois é. Quem faria desenhos nas paredes de um poço?
- Pode que nem sempre tenha sido um poço.
- Pode. Mas pra que alguém cavaria um buraco tão fundo, com quatro metros de diâmetro e com desenhos nas paredes?
 - Não sei. Pode ser que lá embaixo a gente encontre a resposta.


- Eu espero muita coisa de ti, meu filho!
- E eu espero que esta sua espera não me desespere...

ROGÉRIO CAMARGO

Dueto da tarde (XVI)

Olhos de lince que alcançam “no lance” a paixão que passa em relance...
Instante mágico de saber e não saber, de ter certeza e afogar-se em dúvidas
E a plenitude absoluta, inspiração e labuta (que engorda e faz crescer).
Não há desculpas para não ter visto: aos olhos de penetração aguda nada escapa.
Não se trata de ser caça, nem caçador; não é preciso haver dor ou desgraça,
Também não é preciso intoxicar-se de felicidade, enlouquecer de coisa boa vista/vivida.
Há a disponibilidade da escolha, mas há de se ter equilíbrio e o brio de enxergar sempre a boa renovação.
O lince caça, a fome consome, mas o olhar de matar também é o olhar da vida tida,
A ansiedade da continuidade, a herança de tempo idos e a necessidade de se concretizar o amanhã,
Quando isso é aquilo apenas em pensamento projetado e aquilo é isso apenas em ilusão cultivada.
Essa “coisa” é o ciclo do natural; assim como mergulhamos nos sonhos com a incumbência de torná-los reais (ou não),
Ela vem e ela vai, porque é dela ir e vir, como é do lince olhar, ter fome, atacar.

Rogério Camargo e André Anlub®
(18/12/14)


17 de dezembro de 2014

Ótima noite aos amigos...





Carro-chefe da vida




Carro-chefe da vida
(André Anlub - 11/10/12)
 
Dizem que vive de pão e água,
É intocável e onipresente
Seguidora do fluxo da vida
E violentamente inocente.
 
Pai e mãe da maioria dos desejos,
Manifesta os sabores e dissabores,
Inexauríveis amores e desamores...
De calibre incoerente.
 
Pula pelos corações inflamados,
(cutuca, grita, devora)
Delibera-se nos canteiros que aflora,
Corrente casta invisível.
 
Do atual lirismo à nostalgia inerente,
Em serenatas e poesias...
Faz-se mais que presente.

Mais alguns "tempos"




Em breve e logo mais, não são “pra já!” 
(em doze tempos)
André Anlub®

V

Vulcões estouram, à realidade da lâmina do vento,
Entre diversos contratempos: melancolia e saudade.
Seguimos espertos nos mares, nos maremotos cabreiros,
Nos peixes-espadas guerreiros e ingestão de ornamentos.

O tempo agora é amigo – parceiro, sombra e herdeiro;
Delicado, bem-humorado, sorri a mim com sarcasmo.
É meu ouvinte esse tempo, o grito que ensurdece os receios,
Segredos e vivencias e abrigos – antigos pensamentos são recentes.

VI

Barba enorme e o cabelo que não cresce,
Prece disfarçada de poesia.
Todo dia um bom-dia à “reprise”
E o “vixe” que procuro nas nuvens.

Damos sempre “viva” aos mortos,
E tem aquele que se faz evidente;
Cantam descrentes e crentes à sorte,
Cantam ao norte na hipocrisia da vida.

VII

Enquanto o sol beija meu corpo
Na fria manhã dessa quarta,
A folhinha com os dias marcados,
Parece caçoar da minha cara.

Dueto da tarde [XV]

Depois que a sombra tomou conta da lua, fazendo-se menina também,
Desenhou um sorriso (lá e cá), e agora almeja ir além.
Depois que a lua mostrou à sombra que era ela e mais ninguém,
Desvendou os mistérios, trouxe a paz que apraz o “porém”.

Estavam as duas como sempre estão as duas quando o mar se acalma,
Ponto de luz cintilando no espelho, desvanecendo o receio de um futuro breu na alma.
Para a imagem de sol que guardava ainda na lembrança, ergueu as mãos, mostrou as palmas,
Sentiu o respeito, o respiro, o silencio, a saliência e o bendito dos peixes e de todas as finas floras e faunas.

Era um tempo gasto em se mirar nos espelho das águas mansas e reticentes,
Em ver o próprio rosto sorridente, ver felicidade e futuras pulcras nascentes
Onde reconhecer a sombra das coisas e a sombra das gentes.

Assim molda-se a vida, construindo as saídas pelos naturais caminhos
Que dão à sombra da lua modo e razão para amar seus desalinhos
E ela se dispensa; entra em cena e põe a mesa a energia dos astros vizinhos.

Rogério Camargo e André Anlub®
(17/12/14)



16 de dezembro de 2014

Dueto da tarde [XIV]

Sonhar alto faz parte do corpo, como uma extensão invisível acima das cabeças ousadas.
O voo que leva ao sonho, que traz do sonho, que é o sonho, é anatômico feito os braços abertos
Assim vai-se longe, no horizonte das linhas fluidas infinitas, sanguíneas, imaginárias e criativas.
Mesmo que longe seja logo ali, onde os olhos alcançam, ou logo aqui, onde o coração rege a orquestra
Versos permeiam em novas sinfonias, restos de sons tornam-se majestosas mulheres em esculturas vivas.
É viagem e é chegada ao mesmo vero intenso indispensável indefinível tempo
E assim, do nada, sonha-se com flores, flores e mais flores; não poderiam deixar de ser citadas, sonhadas, mas não colhidas; que fiquem em suas terras, em seus ventos, em suas moradas,
Que emprestem seu perfume para a embriaguez da compreensão semi-desperta de quem viajou na pura sensação de vida, 
Vida bucólica e melancólica, inspiração aos amantes, observadores e narcisistas, 
Fonte de fontes e céu definitivo para o voo alto que os pés no chão conduzem.
Vão os sujeitos poetas dormindo acordados em seus sonambulismos, vagueando em países distantes, longínquos universos e musas desconhecidas
Até que a morte não os separe de seu casamento consigo mesmos.

Rogério Camargo e André Anlub®
(16/12/14)

Sentimentos confusos

Caminhando no parque pensei em você
Entre a neve que cai e o vento frio que bate;

Na mente momentos que nunca vou esquecer
Pensava tão alto quanto um cão que late.

Seria o ódio e a saudade ou o amor e a vaidade?
- A confusão era tamanha que nem sei a verdade!

Colocou fogo nas cinzas que pensava extintas,
Como um pesadelo à toa...
Pegar um Kandinsky e borrá-lo de tinta.

Lembro-me das crianças que não chegamos a ter
E nos dias frios um com ao outro aquecer.

Das falácias que saiam da minha ébria boca,
Mesmo assim seu sorriso se fingindo de louca.

Mas chegando a casa e enfim aquecido
Descobri que a saudade é maior que a loucura;
E saber que apesar disso sou jamais esquecido,
Esperava-me deitada completamente nua.

André Anlub (4/11/11)


Wassily Kandinsky, nasceu em Moscovo no ano de 1866 no dia 16 de Dezembro. Era de nacionalidade russa, mas mais tarde viria a adquirir nacionalidade francesa. Foi essencialmente artista, principalmente de pintura e introduziu o movimento artístico da “pintura abstracta”. Inovou as artes plásticas, influenciando muitas outras, e quebrou a ideia de tudo o que era conhecido até à altura com os seus ideais. Para além de pintor foi também professor de artes visuais. Kandinsky faleceu em Neuilly-sur-Seine, França, no ano de 1944 a 13 de Dezembro, devido a uma arteriosclerose, não chegando a fazer os seus 79 anos.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.