20 de janeiro de 2015

Houve um tempo



Houve um tempo

Um homem saiu para procuras utópicas
Longe de pessoas estigmatizadas 
Com tatuagens internas do interesse e da cobiça;
Focou os fulanos que não apontam dedos,
Vivem livres de julgamentos,
(amores, famílias e conhecidos – pérfidos);
Vivem presos a coisas próprias,
(autoconhecimento).

Houve um tempo que a vida era quente,
Saborosa, bem passada, ou no ponto, ou al dente.

A vida abraçava o fulano, ofertando beijos,
E nesses beijos o vendava;
Ao invés do breu ele assistia a um filme,
Sentia o vento, saboreava vinho,
Vida com ritmo, alegria entorpecente.

Fulano se conhecia muito bem... 
Defeitos – qualidades
Força – fraqueza.

Foi um homem como muitos outros,
Apenas não desistiu, não entregou o jogo.
Cresceu, mas continuou criança,
Seguiu na andança além dos delinquentes.

Fulano gostava dos paradoxos da vida, 
Das antíteses do ser, do estar, do viver;
Gladiava-se com algumas sombrias sombras
Festejava com algumas brancas brumas.

Houve um tempo e esse tempo se foi.
Há o hoje com pintura, com moldura, 
Com belo verniz e cores vivas.
Tela pendurada na muralha,
Com solidez...
Pois há a arte armada de presente.

André Anlub
(20/1/15)

Dueto da tarde (XLI)





Dueto da tarde (XLI)

Em absoluto sigilo o coração transformou-se num ninho e o ninho que o coração era abrigou o que não era
Uma espécie de guerra ente anjos e feras, que formam uma indecência e ferem fincando as fictícias facas nas faces de maleficência.
Era outra espécie de guerra, onde os sentimentos, por momentos, à voz dos ventos, iam de lamentos a euforias.
Se via nas entrelinhas que formavam-se grandes festas que aparavam as arestas nos corações de inocência.
Coisas do coração, diriam os simplistas, conferindo listas e indo para as pistas de corrida fazer apostas.
Coisas da poesia, diriam com ironia, os apaixonados de plantão; achando que não haveria outra resposta à questão.
Enquanto o isso o coração, sem compromisso de antemão, fazia disso a relação de A com B, de B com A sem que o ABC soubesse de mim/você, podendo assim se intrometer, quebrando o verso e fazendo, de resto, com plena satisfação,
O que as satisfações fazem, mesmo insatisfeitas. Desta feita, porém, o ninho aninhava e esperava o que de melhor estaria chegando:
O dia em que o dia traria o dia e a noite juntos, de braços dados como o que se abriga contraditoriamente, complementarmente no coração.

Rogério Camargo e André Anlub
(20/1/15)

Mesmo assim



Mesmo assim

Agora mesmo a alegria passou por uma rua,
Ela estava nua, estava fula, estava atormentada e vadia.
Olhou em todas as portas, portões, porteiras;
Olhou por cima dos muros e em murmúrios
Resmungou algumas asneiras... eram loucuras, coisas cruas...

Ela abriu janelas e meteu a mão nos cestos de frutas
E nas caixas dos correios...
(pegou algumas contas, cartas de amor, maças, peras).

A alegria soprou uma brisa, apagou algumas velas,
Espalhou a fumaça dos charutos e incêndios;
Atrapalhou as preces, os cantos nos terreiros;
Atrapalhou enterros e desacelerou as pressas.

Agora mesmo senti seu cheiro de mato lavado,
Senti seu ar gélido, fresco, encanado;
E como um refresco me afagou por dentro...
Acalentando meu mundo e meus imundos pulmões.

Vi alegria em multidões, senti suas fragrâncias...
Mas novamente vi a dor;
Senti o odor do suor dilapidado
Pelo horror de intolerância.

Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”,
Concomitante que media o tamanho do estrago, 
Tragada e hipnotizada pela hipocrisia
Da constante desarmonia dos cínicos embargos
Nos livres-arbítrios de nossas/fossas vidas.
Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”.

André Anlub
(19/1/15)

19 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XL)



Dueto da tarde (XL)

Um vento quente como o hálito de um bêbado bateu no rosto da desconfiança.
Deixou o desembaraço da incoerência, pois ninguém havia desconfiado desse ato.
Ela fazia sozinha o seu melancólico show de calouros, como as bonecas esfarrapadas de uma criança pobre.
Ela é esnobe; talvez pobre de espírito com tal artifício de em nada acreditar.
O vento quente seguiu seu destino e sua tarefa, deixando para trás um espetáculo mal acabado como o esqueleto de um prédio
Esperto! - o vento não para quieto, não esquenta lugar, não cria raiz, família, não constrói lar.
A desconfiança tem todos os motivos para não confiar nele e ele tem todas as razões para não levá-la a sério.
Esse (des) casamento é um mistério! - o vento sempre volta de surpresa (nisso todos confiam) e prega uma peça nos esquecidos, pois ele vem abraçado com o improviso.
O vento passa e a desconfiança fica, enraizada em terra ruim enquanto ele vai plantando inconsistências pelos ares. 
Ela cria seus azares nas consciências em decadências e afins, ele recria liberdades fugazes a cada instante.
São dois opostos da mesma aposta, são o lado de lá e o lado de cá e o lado nenhum, que nenhum quer entregar
Um lado berrante, atuante, que passa com a razão, e um lado sem noção, sem nação, que errante como o passo adiante do bêbado que realmente é.

Rogério Camargo e André Anlub
(19/1/15)
AGUNS MINICONTOS

Custavo recebeu de presente um livro com as páginas em branco e achou ótimo. Esse vai ser bom de ler, exultou. Gláudia observou: Isso tá mais pra um caderno, acho que o tio tá sugerindo que você faça um diário. Custavo repeliu a ideia: Seja tola não, o tio é mais inteligente do que isso!


- No mais, tudo bem?
- No mais, tudo mais pra menos. Mas também, tão bem quanto se esperava não dá mais...


No coração do vento frio uma vontade que não era calor mas quase recitou um poema estranho, falando em coisas que ele nunca tinha pensado. Porque o coração do vento frio só sabia ventar frio e, de repente, aquela vontade.


O céu da Marquesinha desenhou umas nuvens que o céu da Condessinha imitou, para pior, e o céu da Baronesinha nunca deixou de lembrar nos saraus seguinte. O céu da Viscondessinha ria com polidez afetada, mas o céu da filha do jardineiro, aprendiz de bordadeira em casa de sua avó, nunca olhou para essas coisas.


- Vô, se eu fosse rico e famoso o senhor ia ficar feliz?
- A pergunta não é esta, meu bem. A pergunta é: Se você fosse rico e famoso, você ia ficar feliz?


- Você está com a lua atravessada na garganta!
- Eu sei. Tentei engolir inteira. Devia ter dividido em fases. – Ela podia ter feito isso por você.
- Mas aí seria ela, não eu.


- Quem fez este homem aqui?
- Eu não!
- Nem eu!
- Não olha pra mima!
- Deus me livre!
- Não sou tão incompetente!
- Ah, não foi ninguém, então. Vai ver foi o cachorro da vizinha.
Todos puderam ouvir o cachorro da vizinha latindo eu não, eu não!


Fetênia queria sair de si mesma. Sua mãe achava um absurdo. Logo agora que você está pra c sar, que ideia mais absurda! Mas Fetênia não conseguia pensar em outra coisa. Sair de si mesma virou quase uma obsessão para ela. Até o dia em que assistiu o vídeo de uma briga de canários, um furando os olhos do outro e uma boçália masculina em torno, fazendo apostas e babando. Fetênia lembrou que tinha um noivo, bom sujeito, e estava para se casar. Nem ligou quando sua mãe repetiu à exaustão que ainda bem.


- Devagar, devagar!
- Mas eu estou quase parando!
- Isso do seu ponto de vista...


Desde que Rúspilo foi embora, Réspila passa os dias na janela, esperando a volta dele. Mas ele não vai voltar, Réspila! Não adianta, ela não ouve. E de vez em quando se agita toda, arruma o cabelo, passa um batom, troca o vestido...


- Você já vai?
- Mas eu estou aqui há três dias!
- Pois é. E já vai?


Zóquima fez todo o possível para salvar a amizade com Pértila. Como não foi possível, em pouco tempo Zóquima não lembrava mais que algum dia houve Pértila em sua vida.


O diagramador da poesia esqueceu que era dia, esqueceu de molhar a grama, esqueceu da dor de esquecer. Mas a dor de esquecer não esqueceu o diagramador da poesia. E então os seus diagramas, com a dor presente/ausente, surgiam num verde onde os pés pousavam e em plena luz do sol.


- Posso te ler?
- Não. Hoje eu não vou abrir minhas páginas.
- Vou ficar só admirando tua capa, então.
- É, mas com os olhos. Não preciso que me tires o pó.


Quem inventou o pisnoio também inventou a graviranda. Mas, de toda vez que ia falar na graviranda, sua invenção preferida, todo mundo só queria ouvir sobre o pisnoio, seu grande sucesso comercial, responsável por sua imensa fortuna. Voltava então para a oficina e tentava inventar outra coisa.


O verão já ia pelo meio quando Stipérnio deu-se conta de que não precisava mais andar de botas e meias, calça de veludo, camisa de lã, cachecol e luvas. Stipérnio ficou muito admirado de não suar mais e não ter alergias quando se deu conta disso.


O pescoço estava crescendo muito. O que há contigo, quis saber a orelha direita. Eu vi uma girafa e achei a coisa mais linda do mundo, respondeu o pescoço. A orelha esquerda estremeceu de excitação e disse que tinha amado o elefante, quando viu um.


- Às dez e vinte? Tem certeza?
- Sim.
- Mas já são onze e quarenta!

- Então acho que preciso deixar de ter certeza...

(Rogério Camargo) 

18 de janeiro de 2015

Solto os verbos com as rimas




Foi hoje pela manhã
(André Anlub - 7/4/12)

Solto os verbos com as rimas
Loucura sob o céu que observa
Fortes são minhas asas que vão ao vento
Fazendo do meu mundo minha quimera.

Sem bússola e sem direção
Emoção no contato com novos povos
Povos com ritmo, sem inadequação...
Que eternizam a ação do tempo.

Nas paredes descascadas das igrejas 
Visíveis imagens do envelhecimento
Desmascaram as pelejas
Nas esquinas religiosas.

Joelhos ao chão em devoção
Entregam-se ao fado hipotético
Aproveito e solto meu canto poético
Afiada e desafinada oração.

Na saída não apago a luz
Entregue ao provável destino
Com estilo de esporte fino
Nos pés um belo bico fino.

Charuto cubano no boca
Fito no horizonte o disparate
Aceno para qualquer boa pessoa
Quero à toa uma guarida.

Volto do meu voo imaginário,
Toquei o belo azul turquesa,
Preservo com idoneidade e clareza
O que ponho no papel da minha vida.

- Quero ouvir a verve gritando
Ao mundo, ao pouco, como louca rara.

Preciso da sua leitura,
De corpo nu em noite tão escura
Que nem estrelas darão as caras.


Joga sementes por onde passa, por onde pisa;
Roga por mais leitura, mais astúcia e poesia.
Agora, mais velho, se aposentou da correria;
Mas a mente ainda atua, 
A pena apura e a escrita é viva.

Ser modesto e ser medonho




Ser modesto e ser medonho
(André Anlub - 20/1/11)

Os olhos veem, o coração sente;
Palavras soltas – versos obscenos.
A língua passa por entre os dentes,
As mesmas cenas passam a minha frente.
Não me amofino, restou só eu!
Absolvido por um talvez.
Na sua vez, uma ré sofrida,
Que nessa vida pagou o que fez.
Todas as sombras são desejos
E o seu jeito quase assombra.
Há unicórnio com dois chifres
E quero é mais! (aceito a honra).
Nesse mundo alheio,
Ser um ser bem pequeno:
Um pingo d’água,
Uma semente, vagamente, 
Um grão de areia.
O que restou da mágoa?
Por entre o concreto e o abstrato,
Estar perto ou em um sonho,
Ser modesto e ser medonho.
Um gambá ou ser um gato?
Em todo canto procuro,
Bem longe e próximo do mundo,
Ser parte do seu rebanho.

Dueto da tarde (XXXIX)



Dueto da tarde (XXXIX)

Amanheceu com calor extremo e sol quente; gente indo às praias e piscinas,
Gente deixando a pele em casa, para não queimar demais, e alugando outra pelo caminho.
Há pessoas de essência e atitudes frias, sentadas em suas mesas frias onde só o café está quente.
E há pessoas que sustentam estas mesas, como se as carregassem nas costas.
Não seria desatino, se porventura – de repente – afinal, contassem o tempo de trás para frente, como uma contagem regressiva para um funeral.
Amanheceu com calor extremo e o sol implacável fazia fermentar algumas verdades na pele sensível da indiferença
Caiam mitos, ritos e crenças, tiravam as chupetas das bocas de algumas crianças
E o tempo súbito pareceu gelado, embora escaldante. Estar de frente para si mesmo não é tão fácil quanto ir à praia, abrir guarda-sol, passar creme e olhar o desfile dos corpos.
“O hábito não faz o Monge” – um monte de gente indiferente ao que verdadeiramente é por dentro, no cerne, no seu montante.
O sol brilha generoso, mas quase sempre ilumina a escuridão. A luz está sempre ali, mas quem enxerga é quase sempre a cegueira.
A covardia não fica de bobeira (toma posse do corpo feito um espirito de porco) faz do ser um ser oco, e no caminhar do tempo segue destruindo seus dias.
Dias que às vezes amanhecem tão bons de ir à praia, de ir à piscina, de gastar dinheiro tranquilamente, porque há mais dinheiro pra gastar.

Rogério Camargo e André Anlub

(18/1/15)

17 de janeiro de 2015

Enlace das almas - Um dos poemas e a orelha para o livro "Contos, Crônicas & Poesias".




Um dos poemas e a orelha para o livro "Poemas à Flor da Pele - Contos, Crônicas & Poesias".

Enlace das almas
- André Anlub

Por debaixo da seda você me seda...
Brinca de ser a pura, e, em apuros, me cedo.
Deu início aquela conversa; deu o ensejo com a fuça de lua cheia;
No bule o café bem fresco, na mesa o bolo, a maça e a ameixa.
Na troca de vocábulos transpõem-se os obstáculos,
Surge um oráculo inócuo no enleve dos versos leves;
O dia rasgando com o sol no arrebate da torra,
A noite fica sem jeito e deseja que escuridão se entregue.
Nada daquilo é fracasso se o ocaso se vestir de amarelo,
Largar um breu quase eterno, e com isso também foi-se o tédio...
Há de parar com os remédios, vestir uma sunga e calçar o chinelo.
(pisar no solo do sortilégio)
Para todos a areia está fofa, o mar bem calmo e a brisa a contento;
O inesperado não é tão enigma, pois temos a insígnia de um nobre guerreiro.
O cabelo castanho vai ficando branco; o branco dos olhos, vermelho.
O ano já está acabando e depois de um espirro já é novamente janeiro.
Vem uma luz no fim do túnel, arrasando a desesperança,
Criando a salutar aliança de aceitar o escuro, mas procurar a clareza.
Dizem ser indelicadeza – mas assim a vida tem mais futuro;
Dizem que estão em cima do muro – mas o muro é puramente adereço.
Deu-se o fim da conversa com um sorriso em todas as faces.
No bule o café ainda quente, na mesa um vazio e nas almas os enlaces.


É mágico o mundo literário, colocando asas em nossas costas e convidando ao voo... Assim estamos em mais uma empreitada poética Poemas à flor da pele, onde o escritor tem o direito de sonhar, parir seu íntimo, colocar seu toque e flertar com o abstruso amor e o afeto de quem o cerca, conquistando seus leitores, e seguir desenhando sentimentos. 
Os terrenos inóspitos dos iniciantes na literatura são conquistados aos poucos, e nós, autores, avançamos despretensiosos com idoneidade, talento, com apoio, sabendo que somos aprendizes e a cada dia evoluímos mais, mergulhando com vontade nas letras e rumo ao estrelato de quem é lido, apreciado e ovacionado.
Há tempos noto novos escritores gerando vida e feitiço, graça e sonoridade, avivando o agora, alcançando os ouvidos e bulindo mil verves afora. 
Somos escritores e leitores de sorte, fizemos da literatura um dos nossos “Nortes”, e ela nos adotou de uma forma tão ímpar e constante. A mim, particularmente, me acudiu e me arrancou das mãos maldosas de demônios antigos e internos, enfermos e sombrios; mostrou-me o pôr do sol mais pulcro e despontou-me para uma estrada nova, difícil e íngreme talvez, mas nada negra tampouco gananciosa.
Desde que se dá início a movimentos literários, deve-se ter como objetivo maior o apoio aos que principiam, aos que estão dando seus primeiros passos e durante todo o ínterim nada deve ser perdido, nada deve ser proibido ou de não agrado.
O que a Poemas à flor da pele passa para nós, leitores e escritores? O nosso próprio deleite delirante salutar, quiçá primordial, onde obtemos nosso quinhão poético prometido com mais uma grande pitada da pimenta vermelha da inspiração.

André Anlub – Escritor - Crato/CE

Gatilhos errantes




Gatilhos errantes

Já vai à guerra fazer o que é preciso,
Com esse brioso dom, com esse sétimo sentido,
Breve e incrivelmente leve em tal comunhão;
À sua mente: o grito grato expondo a dor
E o corpo frio que levantam do chão.

A lua untuosa ilumina o caminho,
Pés calçados na chinela velha de um guerreiro nato,
Na mão empunha a espada ao alto 
E a outra que quase esmaga
Um garrafão de vinho barato.

Hilário no seu imaginário
Com muito peixe – com muito lago
Sem vil aquário...

É pescador e nômade,
É gigante navegador,
Senhor de diamantes
Das ricas pedras sem esse valor.

Emblemática a fábula dos seres pensantes,
(no oitavo sentido)...
Bichos do mato abraçados ao calor do amor;
Flutuam como pássaros em palácios de sonhos 
(passam batido)
Esquivam-se dos ínvidos gatilhos errantes.

André Anlub®
(16/6/14)

Poema do livro "Talento Poético" lançado em SP no dia 10/1/15.

Dueto da tarde (XXXVIII)


Dueto da tarde (XXXVIII)

As misérias da Miséria encostaram a testa no muro do desconsolo,
Assistiram com olhos úmidos o contemplar prepotente do mau agouro
Desenvolveram uma reza estranha, uma patranha com os céus, sem muito escopo
E nos copos erguidos, com sangue – com vinho –, brindaram e blindaram o que não tinha vindo.
Estava na imaginação, como num louco delírio, como num delírio louco, e não era pouco, era de tamanho brilho que iluminava o brio escondido no fundo do poço.
Fazia estremecer a esperança que um dia animou aquele destino roto
E, de um jeito torto, com muita ganancia e deselegância, algo despertou de morto...
As misérias da Miséria então reuniram num só todo aquele logro,
Levantaram um estandarte de que a felicidade estaria ao lado delas,
Para dar um tempo no sufoco, uma mão de tinta no reboco, pagando caro e ao menos ficando com o troco.
E veio a anistia, como “Anastácia” ganhando nova biografia; veio a nova chance de deixarem a sombra da Miséria
Parar com o jogo de joão-bobo, drenar o lodo, espanar o mofo, destronar o Rei Momo neste carnaval de falsa folia, de improdutiva regalia, fazendo terapia com um médico louco.

Rogério Camargo e André Anlub

(17/1/15)

16 de janeiro de 2015

Só o sol é feliz sozinho

Foto: Anlub

Só o sol é feliz sozinho
(14/6/13)

Quero voar, mas não ver tudo de cima,
Gosto de ver de dentro, todos abraçados ao vento,
Dentro do sorriso de lua minguante.
Quero o olhar de cão manso, 
Quando quer entender o homem,
Pois desde quando me entendo por gente,
Só compreendo o mar batendo no corpo.

É sim, se encara de pé e de frente,
Com absoluta fé no abc do amor.

As conquistas estão por aí,
Do seu jeito, cada uma,
Nas qualidades, nos defeitos,
Confrontando com os rubros e anjos.

Cada passo de cada vez,
E sempre, e firme, e forte.

A mão da paixão que toca,
Vai arranhando e colorindo corações,
Deixando a voz rala e turva,
Mas com a excelência de um fulgor,
Que vai esculpindo emoções.

Mas não é o amor que fala?
No que valha do tempo,
O gozar dos momentos,
Pois o mesmo cala diante de si,
E assim é agrado e é sagrado
Vendo o sol viver feliz solitário.

São Paulo – SP



São Paulo – SP
(André Anlub - 24/1/13)

De tudo que leio
Que vejo e escuto
Nada e nem tudo
Pode descrever-te.

Sampa é só flerte
É paixão e poesia
Cultura, boemia
Endereço e adereço.

Sampa de apreço
Será que te mereço?

Pois me perco em teu ritmo
Teus ecos, teus signos
Nas noites em delírios.

Sampa da arte
Moderna e eterna
Museus e histórias.

Cidade mutante
Bravos bandeirantes
Lar dos retirantes
Alçada na glória.

15 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XXXVII)





Dueto da tarde (XXXVII)

No alvorecer subiu a montanha mais alta e recitou poesia.
Era um poema velho, parecia ter nascido com ele. Mas naquele momento foi o que veio, foi o que percorreu sua veia e tocou sua verve.
Inflado de emoção, olhou em torno e o contorno das palavras juntou-se à sombra das árvores.
Era de uma beleza rara, estonteante; era de um deleite berrante que contagiava os lugares em que sua memória buscava comparação. 
Não havia comparação: aquilo era único e mágico; a poesia batendo suas asas sem estrada, sem direção.
Se lhe pedissem para dizer, diria. Mas era só viver, então vivia.
Era tudo que se escolhia para bem-viver, e então o alvorecer fez-se melodia no alto da montanha: recolhia em réstias de luz o que a imensidão lhe dava,
Sentia-se um rei que quer dividir o trono, como um dono de alguma coisa que o tem.
Então, como uma tempestade que chega sem avisar, sutil, cinza, ranzinza, para desafinar a orquestra, 
Um outro texto apareceu no horizonte, entre um arco-íris já morto e um por-de-sol doente.
Deixou todos os olhos dançantes, displicentes; deixou a razão doente, sem chance de voltar atrás na decisão de voltar atrás. Queria ser lido em voz alta, em voz muito alta, em voz de ensurdecer,
Queria aparecer, e conseguiu; queria fazer sorrir; mas foi ele quem riu (primeiro); porque olhou para a pretensão do que veio depois e queria ser o que veio antes, olhou para o que desejava espaço apenas para ter espaço
E disse apenas: Não!

Rogério Camargo e André Anlub
(15/1/15)

Olheiros




Olheiros
(André Anlub - 2/4/14)

Em ziguezague, cá e lá, tantos olhos nus,
Aguardando a ponta do sol
Que vai nascer num mote distante...
De um lugar nenhum... não importa!
Como sossegos que assustam morcegos
Escondidos em cavernas,
Companheiros dos sentimentos tímidos;
Alma cálida daquela paixão nada passageira,
Derramando na veia, demudando o que corre no corpo.

Da sola do pé ao topo:
- Vinho tinto - Vinho do Porto... saboreia.

Seu lugar à mesa não está vazio,
É seu disponível - é seu abrigo.
Inimigo e amigo do seu espírito
Em plena consciência da compaixão...
Humildade; venha fartar-se tão breve
Nessa mesa ou naquela
Na panela de quem se atreve...
Venha sentar-se tão logo
Nesse ou naquele colo ou no solo frio do chão.

As torradas estão prontas,
Saltam da torradeira,
Na hora exata de derreter
A manteiga; o aroma intenso do inexperiente mel
Espalha-se pela mesa junto com as tintas
De um novo artista que os olheiros cobiçam.

14 de janeiro de 2015

Limpeza (Um quê de Bovarismo)




Limpeza (Um quê de Bovarismo)
(André Anlub - 11/11/13)

A realidade concorre com minhas vertentes,
E elas, céleres e insanas, saem na frente:

- Ouvi dizer que sempre vale a pena.

Faço roleta russa com o imaginário
E nesse voar de um total inventário
Castram-se cobiças e integra-se a pena.

Vozes tendem o som do trovão,
Apocalíptico pisar no vil tédio.

Letras brotam num mata-borrão,
Curam, inebriam quão doce remédio.

- Tenho certeza que vale a pena.

Estouram paixões sempre aludidas,
Cantam canções, danças nas chuvas.

No certo e no cerco um céu de saídas,
Arte que inspira expurgando áureas turvas.

Gosto é gosto, e gosto que gosto:

Gosto de dizer:
Esvazie-me – preencha-me,
Conheça o verso e o avesso,
Rima após rima,
Sabe que deixo!

(...) e depois, ao acordar sozinha,
Vá viver se estou na esquina.

Há vidas passando



Há vidas passando em lembranças 
Que surgem ao fechar dos olhos
Nos quentes lençóis e frias noites
No embarcar e ilusões.
Há guerreiros, fantasmas internos
Munidos de lanças, espadas
Com a cabeça em redemoinhos
E sentimentos em explosões.

André Anlub

Gostei tanto


Gostei tanto
(André Anlub - 17/3/13)

Gostei tanto que quis vivê-lo novamente.
Se for preciso passar por todos os problemas,
Tentar estacionar nos bons momentos.
Pronunciar diariamente que a amo
- Afagos e abraços corriqueiros.
Gostei tanto que congelei aquele sussurro,
Aquele sorriso, aquele beijo.
Congelei o suspiro, o pão de queijo,
A quiché, a pimenta do reino.
Congelei o licor de menta (ficou uma merda),
Congelei o peixe.
Nadamos na praia e dançamos na chuva,
Rimos juntos e choramos também. 
(ninguém é de ferro)
Digo agora e direi sempre que não posso,
Não posso viver sem!
Nem como amigo - nem como abrigo
Nem louco ou zen.
Gostei tanto que quero mais,
Até tento gostar menos!
Mas é em vão.

Dueto da tarde (XXXVI)


Dueto da tarde (XXXVI)

Quando a primeira luz do primeiro sol beijou a primeira praia
Criou o perdão, colocou a mão nas cabeças pensantes (e não).
Houve um rebuliço entre as estagnações. Criaram mais de quatro estações
E assim deu-se início ao sacrifício, ao precipício, rumo ao ser feliz.
A primeira luz/dificuldade foi saber o que era ser feliz.
A segunda foi reter/manter quem – qual – tal – o que vier.
A terceira foi o próprio sol beijando a primeira praia e não sabendo que nome dar a si mesmo.
O sol estava hesitante, pois nesse instante vinha o receio de que tudo que fizesse seria dedicado ao amor pela areia/praia/mar, tudo que compunha o lugar.
Talvez fosse o momento do vento intervir. Mas ele também estava amando, namorando a brisa, assim como a brisa beijava as folhas, levitando-as e levando-as para seus destinos, seus funerais.
Não foi a última vez que foi a primeira vez. Mas aquela sintonia-sinfonia-sincronia estava formada, estava predestinada a ser o que era para ser, sem precisar de porquês.

Rogério Camargo e André Anlub
(14/1/15)

Dueto da tarde (XXXV)



Dueto da tarde (XXXV)

Quando a luz incidiu no diamante dos teus olhos, coloriu meu mundo
E eu já não era mais um garimpeiro de mãos gretadas, batido pelas decepções.
Ouvi as canções no meu antigo coração surdo; soltei falações da minha boca de mudo
E pude ver o que minha vista cega de procuras falsas ainda não tinha visto, pois já fui um ser oprimido, castigado pela vida e pela lida, e abandonado pelos pais.
Encontrar o que encontrei em ti me encontrou. Das coisas que me disseste vem o mais importante: aceitação do meu pedido de companheirismo na aceitação de ser minha sombra.
Luz e sombra. Garimpo e diamante. Cansaço e renovação do dia-a-dia na voz de um silêncio pura melodia que anima minha alma e alivia e quebra as pedras do meu corpo tirando-me do imóvel.
Contigo sou movimento. E me movimento em tua direção, abrindo meus braços ou ajoelhando aos teus pés, redescobrindo o viés, não importa nenhuma outra importância porque entre nós a distância caiu da bateia.
Agora esta luz que vejo multicolorida não precisa mais incidir no diamante.
Agora a pedra preciosa é nossa vida, a vida nossa construída, desenvolvida de forma assim (pedra) preciosa.

Rogério Camargo e André Anlub
(13/1/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.