24 de janeiro de 2015

Meu mar é mais melo que marmelo



Meu mar é mais melo que marmelo

Dizem que a inspiração vem pelo ar,
(e é absurdamente bem-vinda, como o amor esvanecido),
E as asas invisíveis já estão batendo, em sintonia...
Distintas criações e influências passeiam pelo ar;

Dizem que surgem e vão-se como uma espécie de epidemia... voejando;
Passam por frestas de janelas, levantam e assentam folhas, poeiras,
Ouvem besteiras da larga e desumana boca da intolerância
Que um dia há de se acabar.

Seguem voando...
Incidem nos cabelos das morenas, das meninas,
Pegando carona em seus luxuosos pensamentos...
Aprofundam-se em sonhos e estacionam (provisoriamente) nas imagens, 
Nascem delas ou as inventam; criam pessoas, situações; 
Criam o mar e canoas – criam o navegante – esculpem a perfeição.

“Queijo coalho, pamonha, acerola, açaí”.
Gritou o vendedor enquanto eu resolvi rabiscar esse texto;
O açaí lembrou-me o mar.

Quero o som do mar, a visão do mar, o sabor do seu sal,
Tombar na monumental percepção de bem-estar;
(mesmo estando longe, e onde mais eu estiver, e hoje, e sempre)...
Quero seus beijos, seu toque, seu banho.

O açaí e o tudo me lembram o mar,
Lembram que o amor foi mergulhar e não voltou,
Pois se transmutou em mar...
E está bom, está de bom tamanho.

André Anlub
(24/1/15)

Herói trágico




Herói trágico
(André Anlub - 14/7/12)

Tsunamis - terremotos
Almas penadas:
- fragmentos de episódios de um cotidiano singular,
Cheiro de eucalipto na cheia banheira da casa,
Banhos de sais e velas acesas só fazem ansiar.
Um amor perdido e desperdiçado
Assusta os ponteiros da vida (montanha russa).
Falam bem alto que o tempo é esgotado,
Aprenderam a lidar com a lida.
Pintam os olhos encharcados com cores de fúcsia,
Relógio antigo na parede carcomida.
É de matar! Sim, de matar...
Já com seus anos vividos e ainda teme paixões;
Burro de carga em estradas esburacadas;
Coração mole de pedra de açúcar;
Herói trágico de sua própria vida.
Deitado em uma cama de vime,
Ou de pés bem calçados no chão,
Pensa que sabe o que é fome,
Cometendo o pior dos crimes:
Ingratidão!

Santos de madeira




Santos de madeira
(André Anlub - 25/12/11)

Pés descalços pisam nas britas,
Que parecem pequenas brasas.
Colher de boia fria na marmita,
Colher de pedreiro nas mãos,
Ensaiando seu karatê. 
(aiá!)
Cheirando cimento,
Colando o pulmão.
O sol fulgente e quente 
Cortando de um lado ao outro
O céu mais limpo.
Rito habitual,
Frito obituário.
Às vezes pisca para a esperança
E o sol ri da sua cara.
E ele, cá embaixo,
Suando em bicas,
Pensa que há uma missão a ser feita.
(e há!)
Nas horas vagas é escultor,
Faz santos de madeira.
Com a ponteira acerta os pontos,
Com o cinzel talha o formato
E a plaina aplana a vida.
(...) E o verniz como o brilho nos olhos
Da lágrima que se mescla ao suor.

Seu chão




Seu chão
(André Anlub - 1/1/13)

Pele morena e queimada de sol
Salgada de mar – dourada de paixão.
Marquinhas brancas em lugares capciosos
Apetecem meu doce paladar.
Cabelo em ondas e o sorriso largo
Perder-me, me encontrar e desfrutar...
Desvendar é vago.
Vou com seus passos e na sua lida,
Vida de beijos e calenturas.
No seu mundo de flores e sonhos
Vejo inenarráveis loucuras.
(p) reparo seu banho,
Aqueço seu corpo,
(a) prendo seu prazer.
E, enfim, desbravo a região...
Sou anão, sou colosso
Errante – jovem – ancião...
Sou amor e pecador
Me perco – me acho
Capacho – seu norte
Sou seu chão.

23 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XLIII)



Dueto da tarde (XLIII)

Passou correndo, comendo vento e, naturalmente, declamando poesia.
Naturalmente, o eco respondia. E ao que respondia o eco ele correspondia:
Venha poesia! - A cada verso solto, o eco, em dueto, soltava outro novo...
De dois em dois, não fizeram quatro nem vinte e dois, mas o que veio depois foi arte, foi ofício, foi o sacrifício em abraços de incondicionais lirismos.
O frenesi da intensidade também era a admiração pela extrema calma que o momento continha.
Assim, fazendo uma pequena continha, de dois em dois davam passos muito além de uma perna, como uma peregrinada eterna pela terna inspiração, moderna/arcaica forma de viver o mundo.
Eram completos em contemplar a candura da natureza; eram distintos, pois tinham a grandeza de apenas ser meramente simples.
Foi simplesmente isso, então. Passar correndo, alimentando-se de vento e expulsando a poesia das veias como se fosse um raio, ou até mesmo um parto raro, algo necessitando plena liberdade, carecendo de ar para tornar-se eco e explodir em sons coloridos, em cores musicais, em formas diluindo-se, em etéreas concretudes, em atitudes e gestos sem protestos e protestando vida até a morte.

Rogério Camargo e André Anlub 
(23/1/15)

Ziguezague e “ziquizira”




Ziguezague e “ziquizira”

Na vida da dama os fulgentes ofícios
Dócil anjo do hospício que tingiu em sua vida:
Guaches, canções, letras, artifícios...
Do repente que trouxe delicada guarida.

Ziguezague de arranque, bucólico sentimento,
Mão dançante e frenética da mente produtiva.
Ziquizira que se rendeu ao faminto fomento
E no momento só enxerga a real perspectiva.

Andarilha no trilho, falcão de voo sucessivo,
Faz do seu trabalho o ato muito mais expressivo.
Do suor do seu couro nesse denso mundo raro,

Faz de seu umbigo somente mais um detalhe.
Que a inspiração não suma, não durma e não falhe...
E se doe doce no eterno, açucarando o seu faro.

André Anlub
(24/8/14)

22 de janeiro de 2015

Um pouco de humor...




Para ponderação




Hoje me lembrei de ondas que surfei
Das "vacas" homéricas
Caldos eternos
Lembrei que surtei em mares no inverno
Em "pelo" no gelo
E o roxo dos lábios.
Lembrei-me de amores perdidos
De dores achadas
Meninas histéricas
Mulheres imaculadas.
Lembrei-me que a vida é um duelo
Dos práticos com os sábios
Do medo e o zelo
Do ter tudo sem nada.

André Anlub®

Resgate (do livro “Poeteideser”)



Resgate (do livro “Poeteideser”)
(André Anlub - 7/3/10)

Resgato minha vida a cada letra que escrevo:
- bela nostalgia, linda poesia,
Um coração e seu adereço.

Mergulho em sonhos,
Romantismo, cárcere;
Abstenho-me,
Choro e obedeço.

Na ponta da língua estão os amores,
No resto da boca, as paixões.
Conjugo verbos de pura magia,
Agarro as orgias e largo orações.

Transmito uma calma por onde transito,
Nas palavras que escrevo confio no meu taco;
Admito no entanto que gosto desse conflito;
Grito não a melancolia e seja bem-vindo ao Baco.

No final das horas escrevi várias linhas,
Levantei castelos de imaginação.
Concedi ao inferno a minha presença
E ao firmamento entreguei minhas mãos.

21 de janeiro de 2015

Anéis de ouro branco




Anéis de ouro branco
(André Anlub - 27/7/13)

Teus anéis de ouro branco,
Brilham como os dourados;
São de dureza feito ferro,
Redondos como o globo.

Anéis como tu és:
Valiosos e únicos,
Carregados com gosto,
Mas que ostentam a penúria
De serem vistos e terem utilidade.

Tu viajas onde divagas,
Devagar, reages.
Vives na teia da aranha que abraça o todo:
O mundo, as pessoas e os desejos.

Na elegância que tens, 
Encontras versos na ponta do lápis.
E todos tem dito:
- como é bom ler-te, cada letra,
cada frase, cada verso...
A união das palavras em coito vivo.

Está ai, pra quem quiser ver:
- a paz e o amor!
Que saem do coração e derramam
Em delírio, em choro e grito.

Dueto da tarde (XLII)


Dueto da tarde (XLII)

Fomos até onde a curva da estrada já não era mais a curva da estrada,
Tornou-se uma nanica quimera desamparada, desejo que foi para o brejo.
Nenhuma vaca atolada (no brejo ou fora dele) poderia contestar: a curva da estrada sumira sem deixar endereço.
Perguntas eram constantes, interrogações que voavam sem rumo, mas havia uma variante: o silêncio inquietante do mais adiante, incógnita gigante.
Algumas bocas falantes – mexeriqueiros que sabem de tudo (até do que não existe), diziam ofegantes em alerta: a curva da estrada não mais existe... tornou-se uma reta.
Perdendo-se no horizonte, perdendo-se no infinito, a estrada, feito a barca de Caronte, pouco se importava com gritos.
Fomos então até à beira de um abismo, bisbilhotar; ele nos encarou, olhar sedento, olhos de Lince aos quatro ventos.
A curva da estrada não-mais passou a ser a profundidade do abismo agora-e-sempre; nada mais ficaria exato, claro e no agrado se não houvesse o fútil e inútil interesse em saber o destino da estrada.

Rogerio Camargo e André Anlub

(21/1/15)

20 de janeiro de 2015

Houve um tempo



Houve um tempo

Um homem saiu para procuras utópicas
Longe de pessoas estigmatizadas 
Com tatuagens internas do interesse e da cobiça;
Focou os fulanos que não apontam dedos,
Vivem livres de julgamentos,
(amores, famílias e conhecidos – pérfidos);
Vivem presos a coisas próprias,
(autoconhecimento).

Houve um tempo que a vida era quente,
Saborosa, bem passada, ou no ponto, ou al dente.

A vida abraçava o fulano, ofertando beijos,
E nesses beijos o vendava;
Ao invés do breu ele assistia a um filme,
Sentia o vento, saboreava vinho,
Vida com ritmo, alegria entorpecente.

Fulano se conhecia muito bem... 
Defeitos – qualidades
Força – fraqueza.

Foi um homem como muitos outros,
Apenas não desistiu, não entregou o jogo.
Cresceu, mas continuou criança,
Seguiu na andança além dos delinquentes.

Fulano gostava dos paradoxos da vida, 
Das antíteses do ser, do estar, do viver;
Gladiava-se com algumas sombrias sombras
Festejava com algumas brancas brumas.

Houve um tempo e esse tempo se foi.
Há o hoje com pintura, com moldura, 
Com belo verniz e cores vivas.
Tela pendurada na muralha,
Com solidez...
Pois há a arte armada de presente.

André Anlub
(20/1/15)

Dueto da tarde (XLI)





Dueto da tarde (XLI)

Em absoluto sigilo o coração transformou-se num ninho e o ninho que o coração era abrigou o que não era
Uma espécie de guerra ente anjos e feras, que formam uma indecência e ferem fincando as fictícias facas nas faces de maleficência.
Era outra espécie de guerra, onde os sentimentos, por momentos, à voz dos ventos, iam de lamentos a euforias.
Se via nas entrelinhas que formavam-se grandes festas que aparavam as arestas nos corações de inocência.
Coisas do coração, diriam os simplistas, conferindo listas e indo para as pistas de corrida fazer apostas.
Coisas da poesia, diriam com ironia, os apaixonados de plantão; achando que não haveria outra resposta à questão.
Enquanto o isso o coração, sem compromisso de antemão, fazia disso a relação de A com B, de B com A sem que o ABC soubesse de mim/você, podendo assim se intrometer, quebrando o verso e fazendo, de resto, com plena satisfação,
O que as satisfações fazem, mesmo insatisfeitas. Desta feita, porém, o ninho aninhava e esperava o que de melhor estaria chegando:
O dia em que o dia traria o dia e a noite juntos, de braços dados como o que se abriga contraditoriamente, complementarmente no coração.

Rogério Camargo e André Anlub
(20/1/15)

Mesmo assim



Mesmo assim

Agora mesmo a alegria passou por uma rua,
Ela estava nua, estava fula, estava atormentada e vadia.
Olhou em todas as portas, portões, porteiras;
Olhou por cima dos muros e em murmúrios
Resmungou algumas asneiras... eram loucuras, coisas cruas...

Ela abriu janelas e meteu a mão nos cestos de frutas
E nas caixas dos correios...
(pegou algumas contas, cartas de amor, maças, peras).

A alegria soprou uma brisa, apagou algumas velas,
Espalhou a fumaça dos charutos e incêndios;
Atrapalhou as preces, os cantos nos terreiros;
Atrapalhou enterros e desacelerou as pressas.

Agora mesmo senti seu cheiro de mato lavado,
Senti seu ar gélido, fresco, encanado;
E como um refresco me afagou por dentro...
Acalentando meu mundo e meus imundos pulmões.

Vi alegria em multidões, senti suas fragrâncias...
Mas novamente vi a dor;
Senti o odor do suor dilapidado
Pelo horror de intolerância.

Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”,
Concomitante que media o tamanho do estrago, 
Tragada e hipnotizada pela hipocrisia
Da constante desarmonia dos cínicos embargos
Nos livres-arbítrios de nossas/fossas vidas.
Mesmo assim a alegria me deu “bom dia”.

André Anlub
(19/1/15)

19 de janeiro de 2015

Dueto da tarde (XL)



Dueto da tarde (XL)

Um vento quente como o hálito de um bêbado bateu no rosto da desconfiança.
Deixou o desembaraço da incoerência, pois ninguém havia desconfiado desse ato.
Ela fazia sozinha o seu melancólico show de calouros, como as bonecas esfarrapadas de uma criança pobre.
Ela é esnobe; talvez pobre de espírito com tal artifício de em nada acreditar.
O vento quente seguiu seu destino e sua tarefa, deixando para trás um espetáculo mal acabado como o esqueleto de um prédio
Esperto! - o vento não para quieto, não esquenta lugar, não cria raiz, família, não constrói lar.
A desconfiança tem todos os motivos para não confiar nele e ele tem todas as razões para não levá-la a sério.
Esse (des) casamento é um mistério! - o vento sempre volta de surpresa (nisso todos confiam) e prega uma peça nos esquecidos, pois ele vem abraçado com o improviso.
O vento passa e a desconfiança fica, enraizada em terra ruim enquanto ele vai plantando inconsistências pelos ares. 
Ela cria seus azares nas consciências em decadências e afins, ele recria liberdades fugazes a cada instante.
São dois opostos da mesma aposta, são o lado de lá e o lado de cá e o lado nenhum, que nenhum quer entregar
Um lado berrante, atuante, que passa com a razão, e um lado sem noção, sem nação, que errante como o passo adiante do bêbado que realmente é.

Rogério Camargo e André Anlub
(19/1/15)
AGUNS MINICONTOS

Custavo recebeu de presente um livro com as páginas em branco e achou ótimo. Esse vai ser bom de ler, exultou. Gláudia observou: Isso tá mais pra um caderno, acho que o tio tá sugerindo que você faça um diário. Custavo repeliu a ideia: Seja tola não, o tio é mais inteligente do que isso!


- No mais, tudo bem?
- No mais, tudo mais pra menos. Mas também, tão bem quanto se esperava não dá mais...


No coração do vento frio uma vontade que não era calor mas quase recitou um poema estranho, falando em coisas que ele nunca tinha pensado. Porque o coração do vento frio só sabia ventar frio e, de repente, aquela vontade.


O céu da Marquesinha desenhou umas nuvens que o céu da Condessinha imitou, para pior, e o céu da Baronesinha nunca deixou de lembrar nos saraus seguinte. O céu da Viscondessinha ria com polidez afetada, mas o céu da filha do jardineiro, aprendiz de bordadeira em casa de sua avó, nunca olhou para essas coisas.


- Vô, se eu fosse rico e famoso o senhor ia ficar feliz?
- A pergunta não é esta, meu bem. A pergunta é: Se você fosse rico e famoso, você ia ficar feliz?


- Você está com a lua atravessada na garganta!
- Eu sei. Tentei engolir inteira. Devia ter dividido em fases. – Ela podia ter feito isso por você.
- Mas aí seria ela, não eu.


- Quem fez este homem aqui?
- Eu não!
- Nem eu!
- Não olha pra mima!
- Deus me livre!
- Não sou tão incompetente!
- Ah, não foi ninguém, então. Vai ver foi o cachorro da vizinha.
Todos puderam ouvir o cachorro da vizinha latindo eu não, eu não!


Fetênia queria sair de si mesma. Sua mãe achava um absurdo. Logo agora que você está pra c sar, que ideia mais absurda! Mas Fetênia não conseguia pensar em outra coisa. Sair de si mesma virou quase uma obsessão para ela. Até o dia em que assistiu o vídeo de uma briga de canários, um furando os olhos do outro e uma boçália masculina em torno, fazendo apostas e babando. Fetênia lembrou que tinha um noivo, bom sujeito, e estava para se casar. Nem ligou quando sua mãe repetiu à exaustão que ainda bem.


- Devagar, devagar!
- Mas eu estou quase parando!
- Isso do seu ponto de vista...


Desde que Rúspilo foi embora, Réspila passa os dias na janela, esperando a volta dele. Mas ele não vai voltar, Réspila! Não adianta, ela não ouve. E de vez em quando se agita toda, arruma o cabelo, passa um batom, troca o vestido...


- Você já vai?
- Mas eu estou aqui há três dias!
- Pois é. E já vai?


Zóquima fez todo o possível para salvar a amizade com Pértila. Como não foi possível, em pouco tempo Zóquima não lembrava mais que algum dia houve Pértila em sua vida.


O diagramador da poesia esqueceu que era dia, esqueceu de molhar a grama, esqueceu da dor de esquecer. Mas a dor de esquecer não esqueceu o diagramador da poesia. E então os seus diagramas, com a dor presente/ausente, surgiam num verde onde os pés pousavam e em plena luz do sol.


- Posso te ler?
- Não. Hoje eu não vou abrir minhas páginas.
- Vou ficar só admirando tua capa, então.
- É, mas com os olhos. Não preciso que me tires o pó.


Quem inventou o pisnoio também inventou a graviranda. Mas, de toda vez que ia falar na graviranda, sua invenção preferida, todo mundo só queria ouvir sobre o pisnoio, seu grande sucesso comercial, responsável por sua imensa fortuna. Voltava então para a oficina e tentava inventar outra coisa.


O verão já ia pelo meio quando Stipérnio deu-se conta de que não precisava mais andar de botas e meias, calça de veludo, camisa de lã, cachecol e luvas. Stipérnio ficou muito admirado de não suar mais e não ter alergias quando se deu conta disso.


O pescoço estava crescendo muito. O que há contigo, quis saber a orelha direita. Eu vi uma girafa e achei a coisa mais linda do mundo, respondeu o pescoço. A orelha esquerda estremeceu de excitação e disse que tinha amado o elefante, quando viu um.


- Às dez e vinte? Tem certeza?
- Sim.
- Mas já são onze e quarenta!

- Então acho que preciso deixar de ter certeza...

(Rogério Camargo) 

18 de janeiro de 2015

Solto os verbos com as rimas




Foi hoje pela manhã
(André Anlub - 7/4/12)

Solto os verbos com as rimas
Loucura sob o céu que observa
Fortes são minhas asas que vão ao vento
Fazendo do meu mundo minha quimera.

Sem bússola e sem direção
Emoção no contato com novos povos
Povos com ritmo, sem inadequação...
Que eternizam a ação do tempo.

Nas paredes descascadas das igrejas 
Visíveis imagens do envelhecimento
Desmascaram as pelejas
Nas esquinas religiosas.

Joelhos ao chão em devoção
Entregam-se ao fado hipotético
Aproveito e solto meu canto poético
Afiada e desafinada oração.

Na saída não apago a luz
Entregue ao provável destino
Com estilo de esporte fino
Nos pés um belo bico fino.

Charuto cubano no boca
Fito no horizonte o disparate
Aceno para qualquer boa pessoa
Quero à toa uma guarida.

Volto do meu voo imaginário,
Toquei o belo azul turquesa,
Preservo com idoneidade e clareza
O que ponho no papel da minha vida.

- Quero ouvir a verve gritando
Ao mundo, ao pouco, como louca rara.

Preciso da sua leitura,
De corpo nu em noite tão escura
Que nem estrelas darão as caras.


Joga sementes por onde passa, por onde pisa;
Roga por mais leitura, mais astúcia e poesia.
Agora, mais velho, se aposentou da correria;
Mas a mente ainda atua, 
A pena apura e a escrita é viva.

Ser modesto e ser medonho




Ser modesto e ser medonho
(André Anlub - 20/1/11)

Os olhos veem, o coração sente;
Palavras soltas – versos obscenos.
A língua passa por entre os dentes,
As mesmas cenas passam a minha frente.
Não me amofino, restou só eu!
Absolvido por um talvez.
Na sua vez, uma ré sofrida,
Que nessa vida pagou o que fez.
Todas as sombras são desejos
E o seu jeito quase assombra.
Há unicórnio com dois chifres
E quero é mais! (aceito a honra).
Nesse mundo alheio,
Ser um ser bem pequeno:
Um pingo d’água,
Uma semente, vagamente, 
Um grão de areia.
O que restou da mágoa?
Por entre o concreto e o abstrato,
Estar perto ou em um sonho,
Ser modesto e ser medonho.
Um gambá ou ser um gato?
Em todo canto procuro,
Bem longe e próximo do mundo,
Ser parte do seu rebanho.

Dueto da tarde (XXXIX)



Dueto da tarde (XXXIX)

Amanheceu com calor extremo e sol quente; gente indo às praias e piscinas,
Gente deixando a pele em casa, para não queimar demais, e alugando outra pelo caminho.
Há pessoas de essência e atitudes frias, sentadas em suas mesas frias onde só o café está quente.
E há pessoas que sustentam estas mesas, como se as carregassem nas costas.
Não seria desatino, se porventura – de repente – afinal, contassem o tempo de trás para frente, como uma contagem regressiva para um funeral.
Amanheceu com calor extremo e o sol implacável fazia fermentar algumas verdades na pele sensível da indiferença
Caiam mitos, ritos e crenças, tiravam as chupetas das bocas de algumas crianças
E o tempo súbito pareceu gelado, embora escaldante. Estar de frente para si mesmo não é tão fácil quanto ir à praia, abrir guarda-sol, passar creme e olhar o desfile dos corpos.
“O hábito não faz o Monge” – um monte de gente indiferente ao que verdadeiramente é por dentro, no cerne, no seu montante.
O sol brilha generoso, mas quase sempre ilumina a escuridão. A luz está sempre ali, mas quem enxerga é quase sempre a cegueira.
A covardia não fica de bobeira (toma posse do corpo feito um espirito de porco) faz do ser um ser oco, e no caminhar do tempo segue destruindo seus dias.
Dias que às vezes amanhecem tão bons de ir à praia, de ir à piscina, de gastar dinheiro tranquilamente, porque há mais dinheiro pra gastar.

Rogério Camargo e André Anlub

(18/1/15)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.