14 de fevereiro de 2015

A cena da sina em cinco tempos



A cena da sina em cinco tempos
(André Anlub - 19/3/14)

Deixei um abraço pro lago Paranoá,
Fim de tarde dos mais belos,
E o sol batendo o ponto pra descansar.

II

Se não fosse a paixão, simples,
Teria outro nome:
- Fez-se atração ao limite do suportável.
Mais uma vez grito! E o grito sai assim:
- Meio confuso, meio dominado.
É a saudade, é o deslumbre;
É o lume da liberdade...
São pontos, luzes da minha cidade;
Vejo o mar com imponência e atitude.

Olho pela janela do avião e concluo:
- Será uma enorme coincidência de também meu corpo físico estar nas nuvens?

Não há tempestade que me atinja;
Não há cor ou mancha alguma que me tinja.
Hoje - agora - amanhã...
Sou camaleão!

III

Olhos cheios d’água,
É noite e as luzes refletem na minha íris.
Vejo minha terra, minha mãe
Desse filho adotivo, birrento,
Que amamentou em seu seio,
(ama de leite)
Banhou-se no seu mar
E no seu sol aqueceu-se
De um acaloro que vem de dentro
Expressivo – decisivo – poetar.

IV

Agora é êxtase de lisonjeio e satisfação;
Pus a mão na arte, na autoridade de uma academia;
Animo de energia – passo a frente – mira ativa.

Fiquei maravilhado aos pés de Iguaba...
E não me gabo desse flerte;
Como diria Caê:
“Adoro ver-te...”.

V

No retorno, e torno a teclar nessa tecla;
Abraço deuses, mestres e magos.
Ponho-me à mercê da alegria,
E a vida me fecha em afagos.
Novamente sobre outros lagos
E largo sorriso ecoando.
Saudade da casa e entornos,
Contornos de tempos mais calmos.

Saudade dos bons e maus que com o sol fazem a lua;
Saudade da música sua, e a língua dançante dos cães.
Quero a água gelada, as bocas recitando versos,
Novos escritos discretos e poças com estrelas nuas.

A nuvem negra se foi no horizonte,
Tempo que a fez merecer.
Meio termo, temor inteiro,
Do dilúvio que não irá acontecer.

Da sombra se faz um poeta
Da seta de mão/contramão.
Do sonho no rabo do cometa
Se meta, poeta hei de ser.

Dueto da tarde (LXV)



Dueto da tarde (LXV)

As cores fundas da noite aguardam que o sol aqueça alguns amarelos;
Opções de tons à mercê do pincel; mesclados de vermelho e laranja acendendo o sorriso de Van Gogh no céu.
A sombra aguarda o momento de dançar a dança dos fogos impossíveis; o verniz espera sua vez, inquieto, enquanto o matiz sobe ao quarto com a pálida e cálida meretriz.
Ela não se oferece facilmente. Ela tem seu preço em luzes da manhã que ainda não chegou, pois muitas vezes cobra caro: querendo um eclipse que cale a boca do sol.
O sol fala muito e alto, com sua boca de incêndios; a lua é educada, silente, e mesmo com boca mutante, nem por um instante aumenta o tom de voz.
As cores fundas da noite conhecem a lua como um filho conhece sua mãe. E aguardam os amarelos do sol como quem espera o pai voltar do trabalho; sabem que os amarelos se perdem nos atalhos das cores, nos rubores dos primeiros raios, passeiam pelo ateliê do artista, beijam o cume do Everest, e sem que se apressem chegam aos olhos de quem admira.

Rogério Camargo e André Anlub
(14/2/15)

Sempre vivo

Dai o sujeito pensa (ou vomita): "O exemplo vem de cima" - mas isso é a pura e vil transferência de culpa! Dois erros não fazem um acerto!



Sempre vivo
(André Anlub - 4/1/13)

Precisamos de dias mais longos,
Cheios de ar, aves; árvores por todos os cantos,
Cantos açucarando os pesares.
(Afagando os ouvidos)

Ouvi dos sinceros seus sins,
Som de detalhes...
De talhes simplórios,
Corpos notórios, 
Felicidade - gemidos.

Precisamos de larga boca
E nada oca a mente.
Mente aquele que no medo,
Em segredo,
No paladar do azedo, 
Expõe que não ama
E não segue passo à frente.

Por aqui, por ali,
O sol nasceu mais vivo;
Vi você de repente,
Menos breve e arredio
Arrepender-se contente.

Na trilha do som e do cheiro, 
entre outros planejes, 
já havia o longo tempo de um asilo 
- E saiu, enfrentou, 
nisso e naquilo 

foi certeiro.

Pendura e perdura


Pendura e perdura
(André Anlub - 20/9/10)

Verás os varais pelo planeta afora,
Alguns dependuram difusas histórias:
- Toalhas sujas, lençóis manchados,
Burcas, fardas, camisolas...

Verás secarem farrapos:
- Roupas de seda e algodão egípcio.
Algumas despontam sacrifícios,
Pintam os adornos nubentes.

Verás os varais internos
Que penduram o ódio retido:
- Enxuto, infecundo, rachado...
Como as rugas do envelhecimento.

Também verás os que penduram amores...
De diversos calibres e cores,
Sem importância do enxuto ou ensopado
Vale o corpo que aqueceu algum dia.

13 de fevereiro de 2015

Dos bardos*



Dos bardos*
(André Anlub - 11/2/12)

É pensante, mas sóbrio poeta insurgente,
Daqueles que anseiam tirar poesia de tudo;
Menos do que o toca no absoluto profundo,
Pois nele o mesmo é extremamente faltante.

Precisos são seus pontos, vírgulas e aspas,
Às vezes palavras ásperas que consternam o humilde.
Notória sincronia com o público que aclama;
Forca em praça pública com linchamento e chamas.

O bardo é liberdade, Ícaro que deu certo,
Sem normalidade, sem torto e sem reto;
Equidistante do mundo mora no cerne da alma
E com doação e calma, conquista os sinceros.

Mas há poeta que grita abraçado ao berrante;
Só vê perfeição nos seus soberbos espelhos,
Pois narciso é conciso e sem siso é errante,
Cai por terra, dúbio, e vê-se de joelhos.

* “Menção honrosa no 2° Concurso Literário Pague Menos, a nível nacional, ficando entre os 100 primeiros e assim participando do livro “Brava Gente Brasileira”".

Dueto da tarde (LXIV)



Dueto da tarde (LXIV)

Com seus olhos precisos e nada discretos fotografou as belas pernas que passavam na calçada.
O álbum que tinha cabeça inquietou-se com a chegada de mais um exemplar.
Fazia cálculos milimétricos, dísticos, anatomia disso, daquilo, era de viver, era de matar – olho clínico e olho indisciplinar.
A folha em branco da sua imaginação logo se coloriu de formas nervosas, via-se novamente a luz na sua grande eterna cabulosa casulosa caverna.
Alguns estertores se pacificaram, algumas placidezes estertoraram, houve uma alucinação sóbria seguida de uma prece ébria.
Se as belas pernas desconfiassem, desconfiariam muito: há olhos de demais para o que elas menos querem; há olhos de menos para o que elas mais desejam.
E assim deixam o ensejo: querem um afago, querem uma caminhada na praia, querem uma meia-calça, querem duas calças Levis, querem que as levem para qualquer lugar.
Mas os olhos que fotografam nada lhes dão e tudo lhes tiram, na sua fantasia de possuir, de prender eternamente; pode parecer incoerente (e é), mas são olhos gulosos, talvez insaciáveis, talvez perfeccionistas.
A imagem passa, finalmente, e a imagem fica, finalmente. As pernas vão, a prisão da imagem não. E na galeria mental insuficiente tudo acontece enquanto nada acontece com o que já foi.

Rogério Camargo e André Anlub
(13/2/15)


Algumas histórias (I - III)
(André Anlub - 12/02/12)

Cheiro de madeira queimada,
Na ponta dos espetos - salsicha e queijo
Sicrano tocava um blues na viola
E eu tirava um som da minha velha gaita.

Fulana cantava melodiosamente no ritmo,
Enquanto Beltrano arrepiava nas latas de Nescau.
Os animais, com o barulho, já haviam corrido,
Era uma calma e bela noite logo após o Natal.

O show já estava frenético e sem rumo,
Vaga-lumes embriagados rodeavam o local.
Em uma nuvem se escondia a lua minguante
E não havia qualquer luz artificial.

Na sombra da fogueira imagens curiosas
Dançavam com a música nas árvores e arbustos.
Deu-se uma imagem sombria de um corvo,
Logo se transformou em uma flor formosa.

São momentos inesquecíveis na mente
Que nem mesmo o garrafão de vinho conseguiu apagar,
Transformadas anos depois em alguns versos e prosas
E essa história ocorreu em Visconde de Mauá.

Depois retorno para falar das cachoeiras...
Ah, as cachoeiras...

Parte II
(2/3/12)

Estava cá com meus botões,
Rememorando velhos bordões.
Pensando em épocas remotas,
Concupiscências e efígies mortas.

Lembrei-me de amores perdidos,
Esquecendo-me de dores achadas,
Pessoas que foram imaculadas
E demônios travestidos de amigos.

Recordo dos conhecidos porteiros
Nas calçadas com seus banquinhos,
Sentados o dia inteiro
Ao lado dos seus radinhos.
Vozes agudas dos rádios a pilha,
Diversão do seu dia a dia,
Hoje atrás de grades e guaritas,
Entregues a sorte e a morte,
Sem segurança...
(à revelia)

Lembrei-me das ruas sem movimento,
Que serviam de campo de futebol.
A ausência maciça de lamento,
Para todos nascia o sol.

O gol feito de chinelos,
A bola “dente de leite”,
Seguia torta em caminhos retos,
Felicidade que compunha a gente.

Parte III
(11/3/12)

Denomino-me um amante inveterado
Dos bons e velhos jazz e blues.
Gosto dos clássicos, dos solos, dos básicos - dois polos.
Ainda tenho uma velha e boa vitrola
E não abro mão de ouvir o que mais me apetece e inspira.

Com fone de ouvido navego em uma nau;
Na minha cadeira do escritório
Entro em um mundo de alvedrio,
O Nirvana auditivo é notório.

Denomino-me também um apreciador do novo suingue,
Das boas bandas e vozes contemporâneas do som...
Serei até redundante ao me exprimir por completo:
- ínfima minoria que obteve o tom.

Em uma casa de shows temos a pureza exata...
Dá para ouvir cada nota - cada entonação.

Em um grande estádio todos num só coração:
- o palco - o espectador
Energia e diversão.

A música sempre me remete a momentos...
Bons – ruins – bem vividos.
Em hipótese alguma motiva lamentos
Pois nada de pinicos são meus ouvidos.

Para pensar e repensar

Texto de Gabriela Moura:

"Eu passei pela experiência de engravidar duas vezes. A primeira não foi planejada, a segunda, sim. Ambas foram muitíssimo desejadas e apoiadas, parceiro, familiar, financeiro, todas as nossas questões nos satisfaziam, estávamos (e estamos, afinal, estou gestando ainda) muitíssimo felizes, empenhados e preparados física e, sobretudo, emocionalmente.
As minhas gestações são as minhas gestações, jamais poderia embasar decisões de mulheres, essas que suas histórias não conheço, essas que seus desejos não conheço, essas que suas dores e delícias não conheço, por minhas experiências felizes na gestação e maternidade.
Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Eu sou TOTALMENTE favorável à descriminalização do aborto, ao respeito às mulheres e suas escolhas e seus corpos. Sou inteiramente solidária às minhas irmãs que são massacradas, estupradas, culpabilizadas por suas gestações, culpabilizadas pela interrupção destas gestações, caso tenham esses filhos, sofram violência obstétrica, sejam culpabilizadas por péssimas condições físicas e emocionais, rechaçadas no trabalho, crucificadas nos meios conservadores e, muitas vezes, sobretudo se forem negras e pobres, mortas sangrando na mão de um sistema cruel, ao coro de comemorações, em um Estado que tem por dever ser LAICO, ou seja, não deve embasar suas políticas públicas em aspectos religiosos.
Mulheres casadas abortam, cristãs abortam, prostitutas abortam, mulheres de mais de 40 anos, mulheres de menos idade abortam e eu jamais vou usar a minha gestação contra elas.
Solidariedade às minhas irmãs mulheres"


Luciana Genro sobre aborto: Eduardo Cunha ‘não se incomoda em passar por cima do cadáver de milhares de mulheres’
Leia aqui: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/02/luciana-genro-rebate-eduardo-cunha-sobre-aborto.html

12 de fevereiro de 2015

Finalidade da Arte



Engatinho na escrita e na arte, feito criança sapeca, levada; vou de encontro ao bolo ou a bola, entro de sola; mergulho no sonho totalmente cego e sem ego, sem pretensão de ser nada.
Lá no final de tudo, onde o grito é mudo, quem sobrevive é o talento.

Finalidade da Arte

Abranjo o pincel como se fosse meu pai,
Chega de despedida, chega de adeus;
A inspiração chegou e a timidez se foi...
Sou Netuno, Odin, Zeus.

Faço um traço e entro em ação,
Cores dimanam do meu pensar;
Encéfalo explode é ogiva nuclear
Arco-íris – cogumelo – refração.

Começam a germinar imagens,
Transpor o que tinha na gaveta da mente;
Minhas passagens e viagens incoerentes
Saem absolutos, imponentes, pelas mãos.

Os "nãos" e os "sins" de outras épocas ou horas
Conspurcam a tela branca; formam uma figura que desbanca a imaginação do artista e sua história.

E pronto, o rebento lindo e bem-vindo,
Ali, à sua frente, imaculado;
Émais uma obra quase do divino...
Da verve, alento, do artista amado.

Gosto de escrever poesia,
De pintar e tocar bateria;
Gosto de viver longe de vida vazia
E faço das artes minha orgia.

André Anlub
(25/8/11)

Dueto da tarde (LXIII)



Dueto da tarde (LXIII)

Os bolsos vazios de mágoas talvez esperem uma justificativa para a felicidade.
O sonho enterrado e o fato de gostar de nadar nas tempestades em copos d’água mostram e demonstram aos monstros a amostra que de grátis não tem nada.
E segue o fluxo do sangue – ralo abaixo; e nega o impulso de ter pulso – ralo abaixo.
Os bolsos vazios de mágoas procuram uma saudade que já se desmanchou como a nuvem que não choveu, e não molha não rega (como um filho que não nasceu ou uma grande lagoa sem peixe) apenas está ali, alimentando a falsa e árdua esperança.
Um passo trôpego na calçada do entendimento? Sonha. Sonha e vai junto com o tombo, essa indefinição é alimento, é alento, é aflição que beira uma obsessão; no fundo (e nem tão fundo assim) há gosto, há prazer criando uma espécie de desenvoltura de viver nesse sofrer.
Os bolsos vazios de mágoas ou os bolsos cheios de mágoas?
Já nem sabe o que cabe em seus bolsos, pois nada fica no ar sem ser tragado pela sua consciência; ele sabe, todos sabem – ele finge indiferença, todos fingem indiferença, mas está escrito em sua aura: há espaço na mente para muito mais.
Até para as justificativas de felicidade, ainda que tolas, superficiais e desnecessárias.
Ele não precisa chegar ao final para perceber que não há o que guardar, é só desculpa, pois a maior incoerência que possa existir é falar em “bolsos” quando sua vida está sempre desnuda.

Rogério Camargo e André Anlub
(12/2/15)
ALGUNS MINICONTOS

- Onde é que está o sentido de tudo isso?
- Na direção, talvez.
- E quem determina a direção de tudo isso?
- O sentido, provavelmente.


Há muito tempo Zulinha já havia dado a causa como perdida. Terça-feira passada Cevérsio apareceu lhe dizendo que a causa pode ser ganha. Zulinha disse obrigada, mas eu estou muito bem sem esperar nada de ninguém. Cevérsio insistiu que era possível ganhar, que ela não deveria desistir assim, que o mundo é dos lutadores, que a glória é dos que não se entregam, que entregar-se é degradante e que não há vitória sem sacrifício. Esta última afirmação foi feita na calçada, depois de Zulinha ter fechado o portão, a porta e ligado o rádio.


Pólquira encontrou a solução dormindo a sono solto na rede à sombra no pomar. Ande, venha, preciso de você agora, já! A solução primeiro  não entendeu nada. Depois entendeu que fôra tirada do sono sem a menor consideração para com seu prazer e seu relax. Por fim entendeu que não tinha nada a ver com os problemas de Pólquira. Como não tem nada a ver, se você é a solução? Uma pergunta que ficou sem resposta, porque a solução reacomodou-se na rede e com fones de ouvido, dessa vez.


Antes que chegasse o zananá a suas mãos, Moroba pensava em fazer duas coisas com ele. Só duas. Mas seriam coisas inesquecíveis. Quando o zananá chegou, Miroba esqueceu tudo que tinha pensado antes e fez quatro coisas com ele, tratando de encomendar um zononó assim que a sua imaginação esgotou as possibilidades. Para o zononó ela tinha dois usos já programados.


- Olha, sinceramente, eu acho que tá muito ruim!
- Sinceramente, olha: você achar que tá muito ruim não melhora nada em coisa alguma.


Uma nuvem boiando pálida entre nuvens brilhantes, viçosas, exalando vigor. Uma nuvem constrangida de palidez entre nuvens coradas, enérgicas, trepidantes. Uma nuvem querendo ir embora e não tendo para onde ir, cercada de nuvens que não a deixam ir embora.


Martino Vech chegou com as mãos carregadas de vento e depositou a carga em cima da mesa. Foi tudo o que consegui, falou, como se pedisse desculpas.  Era muito mais do que a família precisava. Tinha vento ali até a terceira geração. A mãe chorou emocionada, a esposa deu-lhe um beijo apaixonado, os filhos prometeram ir bem na escola. E Martino Vech repetiu que poderia ter trazido mais, mas foi só o que tinha conseguido.


Tudo que Marquinha Tantta não queria era passar vergonha. Achava horrível passar vergonha. Então só usava vergonhas de tecido sintético, que bastava lavar e estavam prontas para o uso novamente.


O crescimento zero olhou para o crescimento mais que zero com muita inveja. O crescimento mais que zero olhou para o crescimento muito mais que zero e pediu sugestões para crescer muito mais que zero. O crescimento muito mais que zero não ouviu, estava prestando atenção aos delírios do crescimento muitíssimo mais que zero.


Pela janela da alma, também o sol da alma, que não pode entrar se ela estiver fechada.


Quando as costas de Rulítio emperraram e ele não pôde mais curvar-se, passou a dobrar os joelhos para apanhar coisas no chão. Quando os joelhos de Rulítio emperraram, ele encomendou um braço mecânico a uma indústria americana. O aparelho não chegou ainda. As coisas que Rutílio tem que juntar vêm ficando cada vez mais no chão.


Casumiro até gostaria de ter sido o herói da cena, descido o penhasco, salvado a moça antes que a tragédia se consumasse. Mas Casumiro não tinha preparo algum para descer o penhasco, trazer a moça de lá e evitar a tragédia. Casumiro só gostaria de ter sido o herói da cena. E isso não o abandonou mais pelo resto de seus atormentados dias.


 Será que isso tem jeito?
- Isso já não tem um jeito?
- Mas tá torto!
- Torto não é um jeito?


Crivinha achava pouco 24 horas. Crivinha queria muito mais do que 24 horas. Um dia precisava durar uma semana. Uma semana precisava durar um ano. E as horas todas deste ano precisavam ser de atendimento àquele fogo que consumia Crivinha, àquela vontade desesperada de estar com Agovílio o tempo todo, que era tão curto. Agovílio olhava, ria e dizia tá bom, meu bem, tá bom.


- Com essa é a oitava já, que droga!
- Bem, então a próxima vai ser a nona...
- Não precisa ser cínico, também!
- Não, não preciso. Nem você precisa ser contabilista.



Úpila saiu de casa sem destino. Não era a primeira vez e a família ficava muito nervosa, porque Úpila sempre estava prometendo um dia não voltar. Até agora não cumprira a promessa, retornando de cada vez que saía sem destino. Demorando mais ou demorando menos, sempre voltava. Mas e se essa vez for a vez de cumprir a promessa? Como fica? Não queriam pensar. Volte, volte, Úpila, não queremos pensar em como fica se você não voltar.

ROGÉRIO CAMARGO 

Quase um suspiro triste



Quase um suspiro triste
(André Anlub - 26/2/14)

E a neve derreteu:
Foi-se à tarde naquele despovoado de ecos,
Suspenso num chão de tacos de pedras:
- Mostrando que sempre existirá a sangria.
O caos e o medo, mesmo em mistério
É qualquer imaginação.

Pois naquela mesma tarde
Veio o escuro - escroto e escrito
Na testa, no tiro, espinha.

Ensaiou um sorriso com o dia,
Estático, no canto da boca: contato!

O dia queria gritar por todos os nomes,
Dos vivos, dos ventos e dos loucos:
- Sabemos que ele derreteu a neve.

Solidão branca e gravida gerou e errou:
O pai não a quer; a mãe corre a esmo,
Sobram os irmãos, somente os irmãos:
- Quaisquer.

Mão de mãe é sofrida e sortuda
E entendida de amor
Segue no colorido na estrada,
Firme e forte caminhando em frio e calor...
Povoará esse seco mundo
Que a neve derreteu.

Cantar pra subir



Cantar pra subir
(André Anlub - 25/6/14)

Da boca só se ouvia aquele timbre suave 
Que soava na nuvem fazendo canção;
O sol sorria rasteiro e olhava cabreiro
Certo campeiro de cabeleira rastafári;

Chegaram o broto de feijão e o camarão
Trouxeram a tatuagem da maresia na pele e a santa festa “al mare”.
No horizonte o vermelho entre dois apreciáveis coqueiros
Que formavam aquele meu e seu (nosso) coração.
Talvez no mundo haja muito de injusto acontecendo,
Mas naquele momento, ali, só festejos;
Nada de ser herói tampouco bandido,
Das bocas agora, ao sol e a sós, só o estalar dos beijos.

A vida estava tão boa que aproveitando a garoa
Todos se desnudaram vestidos:
Eram confissões de pecados insurgentes,
Pensamentos e elos perdidos,
Eram tantos caracteres maus e travestidos,
Que há escassez de caracteres para escrevê-los.
Agora a felicidade foi ao extremo
E conseguiu atenção...

Agora grita quem já foi pérfido:
“Todos nus, todos nus... será que posso?”
A sensação de mais gengibre no quentão,
O balão subindo com o silencio a se esvair.

Vai cantar pra subir sacolejando o corpo
No branco na roupa ao avivado da emoção.
O amor endossa, emboça e adoça a vida.

11 de fevereiro de 2015

Puro Osso – Qu'est-ce que c'est?



Puro Osso – Qu'est-ce que c'est? 

Estou titubeante,
São tantas eufóricas letras voando;
Acho que vou me retirar.
Já sai na mão com minhas ideias 
– quase sempre nocauteado;
O máximo que abiscoitei foi o empate.

É um inocente empata foda
– é poda de poeta com pé de empata.
Estou anacrônico,
Vivendo uma semana em outro tempo...

Já se foram dez rabiscos,
Todos deveriam ter sido feitos
Há vinte cinco anos.
Vivo essa semana em outro Eu...
(mas com as contas pagas).

Apontaram-me torto o dedo
Naquela esquina oblíqua,
Não vou comprar briga,
Mas vi má intenção naquele ato;
Depois uma cochichou algo
No orelhão da Oi da outra;
Orelha enorme e vermelha,
O brinco parecia um bambolê.

Fez cara feia, tipo: 
“pisei na bosta, quem quer ver?”.
Estou incólume:
- Faz certo charme.
As ruas daqui do meu bairro
Remetem-me às épocas dos becos,
Ruelas e travessas do Rio de Janeiro:
- Faz certo charme²

A lembrança surge como uma bruma,
Densa, e lá no alto o Big Ben;
Não, não... 
Agora viajei longe...
Vi foi o relógio da Estação Central do Brasil.
- Faz certo charme³

Vou comer umas frutas com cereal,
E no Carnaval, só no Carnaval...
Chamem-me.

André Anlub®

Mãe dos libertos



Mãe dos libertos
(André Anlub - 10/5/14)

Lá tem tudo e é para quem tudo quer mesmo,
Tem aconchego para moleque travesso,
Também tem o avesso da escuridão.

Tem aquele odor de fruta madura
Que quando ainda verde lhe coube o flerte...

E assim, de repente, pousa contente,
Saborosamente na palma da mão.

Lá tem história com nostalgia,
Tem o poder da cria num belo cordão.

Tem lá o calor e águas de vida,
E intensa ventania, mas só quando há fervor.

Lá tem a mãe, tem a vó e a filha,
Tem a imaculada magia – procriação.

Existe o amor – alegria – harmonia,
Existe o sim e o certo ao ensinar com o não.

Enfim lá tem tudo na fidúcia do afeto
Aos olhos do reto (segurança e abrigo);

Onde prevalece a bonança não há oprimido,
Genitora dos deuses, mãe dos libertos.

Fulano da Silva



Fulano da Silva
(André Anlub - 3/2/14)

Deu um gole no chá verde gelado
E ao descansar a xícara, sorriu.

Viu-se num lago novamente o guri
Que um dia brincou com seus sonhos alados.

Congelando o momento foi trajando o futuro,
Luz no fim do túnel do incerto predestinado.

No amanhã um apogeu deveras absurdo,
É a essência madura que utopicamente nasceu.

Viu-se feliz com o viver protegido
Viu-se ungido com o suor de mil anjos.

Na boca pequena um grandioso sorriso,
E os ouvidos docemente arranhando,
Violinos de Vivaldi em arranjos.

Faz-se adulto, pecante e andarilho,
Com rugas no rosto e prantos arquivados.

É trem de carga que não carece de trilhos;
Abandonou seu abrigo, sem culpas e mágoas. 

Dueto da tarde (LXII)



Dueto da tarde (LXII)

Dia cheio, manhã nublada com cheiro de chuva e sem galo cantando; o moleque já solta versos pelo pomar.
Alguns deles já são frutos colhidos, outros são sementes jogadas; alguns deles falam sobre amores eternos, outros são menos utópicos.
O top dos tops é a inspiração, a respiração da alma, a calma perturbada pela eletricidade, a cidade inteira em sua casa. 
É menino de imaginação fértil, pomar fértil, e não precisa de mais nada; para ele a eletricidade até existe, mas basta ser desligada.
Temores, tremores, tambores, estertores, tudo cessa porque ele quer espaço, e voa ao espaço no compasso longo e largo que será ligado aos futuros amores.
Menino dançante e dançável no ritmo de seus versos inacabados, de sua mensagem procurando destinatário ao acaso.
Tarde cheia, tarde de sol com cheiro de música; a festa anunciada, a mesa farta, e os versos agora soltos pela mata.
O moleque estica a mão em seu pomar de versos, colhe alguma coisa que é mais do que alguma coisa, aproxima dos olhos bem abertos e encontra a “noite”; foi plantada para dar frutos nos dias festivos, mas não estava fazendo muita falta, pois o fim de tarde já despontava direto para o dia.
Era de manhã, era de tarde, era de noite, era de tudo, porque de tudo sempre é no coração que transborda as coisas do coração e há nele o que há nos meninos que vivem seus versos.

Rogério Camargo e André Anlub
(11/2/15)

Águas do sul


Águas do sul
(André Anlub - 22/1/14)

Correm as águas nervosas e frias,
Delas, tuas e minhas, na prontidão da montanha.
Descem céleres, loucas, carraspanas
Que a tua, a dele e a nossa
Menina bonita se banha.
Nas suntuosas curvas dos teus eixos
Levam e trazem histórias.
Despencam, esculpindo rochas,
Lixas de raça que movimentam os seixos.
Do céu são águas de eterno espelho
- Se tem céu azul, dança o azul em ondas.
Do nascente ao ocaso, dá ao acaso
(laranja, amarelo, vermelho).
Ao som de milongas.
Nasceu em águas apaixonantes (disse alguém) a poesia.
Num cenário emoldurado que consagrou a cria.
- Entre cantos, entre tantos, por ironia...
Este poeta de amor sofria.

10 de fevereiro de 2015

Por onde andei?



Por onde andei?

Sufocando-me com palavras de medo,
Pisei em recintos baldios, de escasso oxigênio.
Com o sentimento e o enredo em tormento,
Quase sempre acabava, na rua na vala, em desfecho infeliz.
(desagradável)

Ia de encontro ao trem bala da história,
Ao revolto trem expresso sem nexo,
Em conventos de inventos – Freiras nuas e loucas.
(insonhável)

Na imaginação em reverso de um incesto incerto,
Nunca foi sexo de pretexto, tampouco ultraje de um traste.

Perdia as estribeiras, perdi a linha – o vento e o vinho;
Já sabia que minhas palavras dormiam,
E as alcunhas surgiam
Em mil punhados de disfarces.

Perdi a noção do correto,
Fiz curvas do reto
E do cego um deus.

André Anlub
(10/2/15)

Dueto da tarde (LXI)



Dueto da tarde (LXI)

O sol inclemente fazia a pele gritar por sombra e a boca exigir água.
Na areia cálida, ilusões: cálices de um Château gelado e banhos de chuvas de granizo.
Na calçada escaldante, os pés sonhando com lagoas e os olhos mirando miragens impossíveis.
O mundo gira com o sol acoplado; seu corpo balança e parece flutuar no ar quente, entrando quase em autocombustão.
Os pulmões querem o que os pulmões não podem ter. Mas os pulmões querem, os pulmões querem.
Mente e corpo definhando, grito seco na garganta, olhos vermelhos em braseiros e uma única probabilidade de sair ileso:
Não estar ali. Mas ele está ali. Ele e seu corpo gritando para não ficar. Ele e o desafio à lógica da sobrevivência. 
Sim, ele está em evidência, pois talvez seja um insano andando perdido no destino; não, não está em um manicômio, mas nem ele sabe ao certo; só se sabe que de perto todos são loucos indefesos. 
Não está num hospício mas é um sacrifício viver neste sol louco. Ergue a voz num canto esquisito, vendendo seus picolés, e dentro de um som sustenido o sol se torna amigo, sócio fiel.

Rogério Camargo e André Anlub
(10/2/15)

Teus Cantos



Teus Cantos
(André Anlub - 5/2/09)

Quero agora tocar-te..
Corpo de seda,
Lábios de veludo.

Quero voar em teus olhos azuis,
Trocarmos de línguas,
Fazer-te um filho
Ou só ficar no tentar.

Quero meditar contigo,
Ser o primeiro e o último,
O maior e o melhor:
O mais amado, o menos temido.

Quero chamar-te de meu amor
E por entre carícias, pernas e braços,
Relevos e aperitivos...
Amar-te sem fim.

9 de fevereiro de 2015

Baú de conjecturas



Baú de conjecturas

Eis a questão: abrir aquele baú de memórias, 
Algumas boas, outras nem tanto, outras nem lembro:
(dizem que há lembranças do que não aconteceu).

Deixar a mente recordar – dar vazão na falta de razão,
Embarcar no trem das insanidades e paixões; 
Aquelas que foram feitas nas noites sem dormir,
Nas falas sem sentido, nos botecos e afins.

Lembrar-se de amizades esculpidas com pressa e formão cego;
De esculachos em rixas fartas; de escaladas em rochas altas...
Lembrar-se de ter esperado a nave com os Aliens me buscar.

Agora nós dois:

Passamos por dificuldades e terrorismos,
Andamos e nem sempre sorrimos.
Houve o momento de reflexão – a alma sentia dor;
Corpos enfastiaram, ideias se soltaram e, comumente, se desligavam;
Tudo não estava mais (ou nunca esteve) talvez, assim, pra nós: bem, bom.

Nos controlamos – põe-se freios, iluminações, mesmices,
Vagamos turbinados dentro do turbilhão (talvez seja aquele litro de uísque).
No céu, na época, pequenas estrelas prateadas e felizes,
Vibravam e cegavam nossas vistas – então notávamos o nosso amor.

Lembranças, lambanças, festas, sexos, escudos, elmos e esmos...
O sorriso de lado no ambiente azedo e o deboche no coldre do medo.

Laconicamente o lembrete: o jogo é incoerente – mesmo ganhando se perde. 
Mas ninguém ganha! – nem mesmo quem acha que vence,
Pois para ganhar é preciso não jogar.
E ninguém quer ser um covarde jogado na lama,
Que fica e faz alarde, que já vai tarde, que já veio cedo.

Agora só eu:

Fechei o baú, mas tudo já estava na mente (onde sempre esteve),
O que havia era medo de encarar o fantasma e ter a certeza que ainda o amo.

André Anlub
(9/2/15)

Dueto da tarde (LX)



Dueto da tarde (LX)

A loucura pula o muro do hospício e não deixa nem resquício para contar a história; mas será contada mesmo assim.
A lua registra tudo e não mente. Pelo menos é o que acredita, medita, edita e reedita o aluado.
A loucura vaga pelas ruas, passa pelo meu botequim, veste-se de arlequim e sai comigo rumo à folia.
E é setembro. Não há Carnaval nas avenidas. A loucura quer festa, no entanto, e em cada fresta um canto impõe obediência; e é setembro, mas bem me lembro, ainda prevalece à indecência que nessa hora ainda aquece as nossas almas, pernas, fartas demências.
Não há terreno plano, só há saliência. A loucura salienta-se.  E aguenta-se nas pernas também quentes com a lua companheira conselheira; e a lua abre um sorriso, lá do alto, e ela ilumina, lá ao longe, e influencia.
A ciência da influência faz a loucura mais confiante. Confiante, vai adiante. E com ela vou em frente.
Deixo a loucura aportar no cais do porto, já havíamos visto de tudo: um assalto, um beijo, o rato roubando o queijo, o gato comendo o rato, outro assalto, um parto, um aborto...
Só faltava ver a nós mesmos. E a lua era um espelho. Bastava olhar para cima.

Rogério Camargo e André Anlub
(9/2/15)

Dos desafios



Dos desafios
(André Anlub - 2/8/12)

Sentinelas do mais profundo amor, vejo pela janela as folhas e pétalas que caem pintando o chão... 
formam os tapetes dos amantes, síntese da emoção de todos os seres vivos.
Já tentei deixar de ser romântico, ver o mundo em branco e preto, lavar bem lavado meu despeito e organizar minha semântica.
Pego a massa e faço o pão, uso a farinha que vem do trigo;
Existe aqui dentro um insano coração que se materializou tão somente por você.
Vai dizer que me embriago por não tê-la, sons antigos na vitrola e deito-me em posição fetal... estou fraco para o viral e depressões e forte para construir minhas teias.
Em absoluto desafio... quero ser chefe dos meus desatinos
levantando e regressando à caminhada, vestindo minhas melhores roupas e colocando meus anéis...
(fazendo o que sei fazer de melhor).
ALGUNS MINICONTOS

Dalmério chegou atrasado, rosnou uma explicação qualquer e foi para o seu lugar como se nada tivesse acontecido. Bolívio podia ter deixado assim. Mas Bolívio era implicante e sabia que Dalmério tinha pavio curto. Quando fez a primeira ironia, Dalmério fingiu não ter escutado. Quando fez a segunda, viu o pescoço de Dalmério ficar vermelho e seu rosto ficar roxo. Devia ter parado por aí. Mas Bolívio era implicante. E Dalmério tinha o pavio curto.


- Me viaja?
- Mas eu não tenho teu mapa!
- Não importa. Embarca em mim que eu te levo por mim.
- Temeridade. E se eu não souber pedir informações na tua língua?


O fim da estrada queria ser o início da estrada, não o fim. Mas nunca lhe ocorria dizer “comece tudo outra vez” quando as pessoas chegavam a ele. Talvez não quisesse interromper a festa delas.


Ezépia não ouve ninguém. Mas Ezépia faz perguntas. E as pessoas tentam responder. Como Ezépia não ouve ninguém, as respostas que lhe dão caem no vácuo. E ela não se esclarece. E torna a perguntar.


A cabeça pesada de Molinetto vinha obrigando-o a fazer exercícios especiais com opescoço. Ele, o pescoço, algumas vezes ameaçou pedir demissão, depois exigiu um aumento dse salário, depois décimo-terceiro em dobro, depois um robusto adicional de insalubridade. Só não conseguiu férias. No máximo poderia dar um passeio enquanto Molinetto estivesse dormindo, a cabeça afundada no travesseiro.


Crépizo tinha dificuldade para achar o fim das histórias. O início delas era sempre muito claro, não havia problema para acompanhar o desenvolvimento, mas na hora de ver onde estava o fim Crépizo ficava tateando no escuro. Se fosse um teórico de recursos, poderia desenvolver uma tese polêmica: não há fim nas histórias. Crépizo, porém, era apenas alguém que lia com interesse e atenção, mas não achava o fim das histórias.


Na manhã mais triste de sua vida Mevizaldo viu o seu sonho diluir-se como uma nuvem que o vento desmancha. Em poucos inesquecíveis minutos não havia mais nada do que poderia ser tudo – de bom, de muito bom, de  ótimo. Mevizalfo parou diante do nada que lhe restou, cantou-lhe em silêncio uma canção de adeus e embarcou no longo trem do que lhe restava viver.


Quando Ezézzia trocou de rosto, Aluteu achou muito interessante, embora a tenha reconhecido de imediato pela tatuagem no pescoço. Nem por um rosto novo Ezézzia se desfaria daquela tatuagem. Aluteu quis investigar se ela não havia trocado outras partes também, mas uma expressão bandalha tomou conta do rosto novo dela quando disse:
- Isto é pra depois!


O pássaro do canto estranho pousou no galho da noite e fez uma declaração bizarra, que nenhuma estrela entendeu. Depois o pássaro do canto estranho voltou sua atenção para as promessas que ele mesmo havia feito e jamais cumprido. Promessas que as estrelas entendiam, porque cumpriam todas elas, desde a primeira, que jamais foi um canto estranho.


- Quem vem lá?
- Acho que é a Confiança.

- Mancando daquele jeito? Tem certeza? 

ROGÉRIO CAMARGO

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.