6 de março de 2015

Parabéns Gilmour (parte II)



Limpeza (Um quê de Bovarismo)
(André Anlub - 11/11/13)

A realidade concorre com minhas vertentes,
E elas, céleres e insanas, saem na frente:

- Ouvi dizer que sempre vale a pena.

Faço roleta russa com o imaginário
E nesse voar de um total inventário
Castram-se cobiças e integra-se a pena.

Vozes tendem o som do trovão,
Apocalíptico pisar no vil tédio.

Letras brotam num mata-borrão,
Curam, inebriam quão doce remédio.

- Tenho certeza que vale a pena.

Estouram paixões sempre aludidas,
Cantam canções, danças nas chuvas.

No certo e no cerco um céu de saídas,
Arte que inspira expurgando áureas turvas.

Dueto da tarde (LXXXV)






Dueto da tarde (LXXXV)

Aquele corpo delineado – no sol suado – contornos perfeitos que ainda carrega no íntimo uma imensa inteligência, 
Tomara, Deus queira, queira Deus não seja apenas imaginação de quem o deseja.
Com o psicológico inalterável e a certeza de vestir-se mulher maravilha, vive de bem com a vida e os olhares discretos alheios são apenas olhos bem-vindos.
Com os olhares indiscretos faz uma sopa e dá aos pobres.
Aquele corpo delineado foi envelhecendo, perdendo as linhas certas, retas, mas ganhando ainda mais brilho.
A indiscrição dos olhares talvez não perceba. Não importa. A dona do corpo não se importa. Nunca foi catequista, e todas as suas conquistas deram-se pelo completo, irretocável, delineado e nada velho e acabado intelecto.
Quem a levou para a cama reclama créditos. Ela simplesmente desconsidera e espera que desconsiderar seja suficiente.
Quem a levou ao nirvana de nada reclama, pois sendo experiente procurou além da cama, a companheira, a respeitosa faceira que faz sexo interna e externamente.
Sexo complexo para quem não percebe, sexo reflexo para quem atravessa as espessas camadas da bruma e só vê o sol.

Rogério Camargo e André Anlub
(6/3/15)

Vídeo: Raul de Souza é, sem dúvida, um mestre da arte musical, mas se insere também na de inventor, no sentido literal: criou um tipo original de trombone, com direito a patente e tudo, o Souzabone, descrito como "um trombone em dó de quatro pistos, com dois gatilhos de correção de afinação e um registro para mudança de tessitura para notas mais graves; tem ainda um captador eletrônico e pedais que permitem vários efeitos como wahwah, delay, chorus e oitavador". Show de lançamento do projeto "O Universo Musical de Raul de Souza", que inclui o primeiro DVD do músico (gravado ao vivo no SESC Vila Mariana) e o CD inédito "Voilá", pelo SeloSesc. Com Raul de Souza (trombone e souzabone); Glauco Solter (baixo); Serginho Machado (bateria); Mario Conde (guitarra) e Fábio Torres (piano).
Participação especial Hector Costita - saxofone - Gênero: Jazz

Parabéns Gilmour

David Jon Gilmour, CBE (Cambridge, 6 de Março de 1946) é um guitarrista e cantor britânico, vocalista da banda inglesa Pink Floyd, tendo também editado álbuns a solo bem como colaborado com outros artistas. Depois da saída de Roger Waters a meio da década de 1980 tornou-se a principal figura da banda. Foi considerado o 14º melhor guitarrista do mundo pela revista norte-americana Rolling Stone.


ROESIAS

Tenho nas mãos
o que não tenho nas mãos
e os olhos muito olhando.

..........................

A distância não se mede em cansaço.
Fazer o possível não é fazer o impossível
em esforço.

..........................

Nos teus olhos eu leio
que teus olhos leram
e ainda vão ler
o que não escrevi.

..........................

O vento tem ouvidos
para a música que o vento leva
e nunca mais.

..........................

Farei do que não farei
tudo que possa
para esquecer que fiz.

..........................

Hoje é apenas uma sombra.
Quieta, calada sombra
que ontem brincava de sol.

..........................

Meus temores vão até a porta,
abrem, fecham,
passam a chave.

..........................

É mais fácil perguntar o que foi.
Mesmo que ninguém responda,
é mais fácil perguntar o que foi.

..........................

Rosa flutuando num mar de sonho.
Sonho que criou
o roseiral.


(Rogério Camargo)

Trago e sinto as soberbas lanças



Trago e sinto as soberbas lanças
(André Anlub - Março – Maio/2012)

Trago-lhe um arranjo de vidas,
Colhidas nos jardins das saídas,
Nesse exato momento.

Espero alegrar o seu dia,
Quebrando a evidente desarmonia,
Dando luz ao asilado encantamento.

Sinto muito quando meu coração aperta
E nesse aperto ele grita, se expõe e seca.
Compreendo pouco quando fingem indiferenças
E nesse embuste são vítimas de seus próprios estratagemas:

- Assim não sana a ética
- Assim que sangra a estética.

Na despedida da justa causa da vida,
Com raro aroma de quero mais:
Faço da presunção inimiga
E digo ser gratificante a paz.

Uma nebulosidade me persuade
E fico com receito de satisfazer meu arroubo:
Mas meus pés nesse solo quente que arde...
Não conseguem permanecer sem meu voo.

Sabendo que tenho como objetivo o empíreo,
Muito além que os olhos dos normais alcançam:
Quero deixar aos mortais o extermínio
Que provem das minhas soberbas lanças.

5 de março de 2015

ALGUNS MINICONTOS

- Eu acho tudo isso um saco!
- Já eu acho tudo isso muito interessante. Até isso de você achar tudo isso um saco.


Precisando desabafar, Pulino contou coisas suas, íntimas, a Caluffo. Caluffo era seu amigo de confiança. Mas comentou o que ouviu com Matella, sua esposa, sua amiga de confiança. E Matella comentou o que ouviu com Sunira, sua amiga de longos anos, sólida amizade, de confiança. Mas Sunira não era amiga de Pulino. A ela Pulino jamais contaria coisas suas, íntimas.


Ankaldo achou sua cabeça rolando no pátio, para lá e para cá. Ralou com ela. Estou te procurando há horas, disse. A cabeça de Ankaldo deu uma gargalhadinha satisfeita, de menina coquete que conseguiu chamar atenção. Ele, pelo menos, percebeu.


- Não, obrigado, não é pra mim.
- Mas você não disse que deseja tanto?
- Desejo. Mas desejar é uma coisa, Obter o que não é pra mim é outra.


- Foi muito feio.
- Foi mesmo?
- Mesmo. Nós nos dissemos horrores.
- E vocês já conversaram sobre isso?
- Não. Desde aquele dia não nos falamos mais.
- Talvez isso seja o mais feio de tudo...


Menino ingênuo, facilmente enganado pelos outros nas brincadeiras de esperteza, sempre ludibriado nos trotes e nas tretas, jamais vencedor em nada. Menino ingênuo a ponto de confundir ingenuidade com deficiência e estragar-se em autoacusação. Grande trabalho, mais tarde, para recuperar a inocência. Mas um trabalho que valeu cada gota de suor, pois lhe devolveu não apenas o que já tinha como acrescentou muito mais.


- Você me ama?
- Claro, claro.
- “Claro, claro” não é resposta!
- O que é resposta? “Muito, muito”?
- Se eu te disser, não tem graça. Vai, responde, você me ama?


Uma gota de luar caiu distraidamente nos olhos da rosa e ela despertou de seu perfume noturno para o sol que havia na imaginação de suas pétalas.


- Você nunca me disse que dava pra fazer assim!
- Você nunca me perguntou.
- Mas você podia ter me dito!
- Podia. Se você me perguntasse.


- Como se te faltasse alguma coisa!
- Claro que falta: o principal.
- E o que é o principal?
- Achar que não me falta nada.


Somos três e o tempo todo nos vigiamos: eu, a felicidade e a desconfiança de que a felicidade vai acabar em seguida. Somos três e poderíamos ser apenas eu sem vigiar o que não precisa de vigilância.


Vamplérgio caminhava solitário por uma trilha na montanha de seus desejos. Nada havia que confirmasse um destino – nem tampouco uma desistência. Vamplérgio não parecia conhecer ou recear o ambiente, que também não parecia hostil ou amistoso. Era apenas uma forma de ir. E Vamplérgio ia, até porque nada o convidava a parar.


Antípio cumprimentou a morte de um jeito que ela achou muito engraçado. Tão receptiva foi que o cumprimentou de volta utilizando seu próprio senso de humor.


Ernídio cobrava de Fanteka:
- Você me fez de trouxa!
- Fanteka respondia a Ernídio:
- Até pode ser. Mas você também se fez de trouxa.
- O que você está dizendo? Eu me apaixonei por você!

- É exatamente disso que estou falando.

ROGÉRIO CAMARGO 

Dueto da tarde (LXXXIV)



Dueto da tarde (LXXXIV)

O bicho mau, que come as folhas do jardim, olha pra mim e diz: hoje o banquete está farto, vou terminar e parto.
O bicho mau por vezes demonstra educação e gentileza. Mas quando bota a mesa ele age com rigidez; quer encher a pança pois pode não haver "outra vez".
Voracidade, determinação. Tudo para ontem, sem compaixão. 
O bicho lá de baixo vê o mundo bichado dos "lá de cima"; então sorri, entra no clima e segue a trilha antes da tempestade.
Tempestuoso, intempestivo. Temperamental: bicho mau. Mas do seu ponto de vista é apenas passar em revista as oportunidades.
E assim segue até o próximo quintal, bicho mau é "o bicho", é do bem, não do mal; gosta de luxo, não come lixo nem perde tempo com homem mau.

Rogério Camargo e André Anlub
(5/3/15)

4 de março de 2015

Dueto da tarde (LXXXIII)



Dueto da tarde (LXXXIII)

Nenhuma represa detém as águas do sono. Elas vêm com a determinação dos sonhos, nos permeiam com um toque do “homem da areia”.
Tudo se desmancha, como o homem de areia, quando o sono toma conta. E o sono sempre toma conta.
Houve um tempo que seu sono era em branco, era um vulto de nada da hora de dormir até o acordar; tempos ruins para quem ama sonhar.
Ele até sorri lembrando disso. Um sorriso que vai adormecendo como a pedra em que recosta a cabeça.
Embarca numa barca no sono ao som do oceano de águas claras, aparentemente rasas e lotadas de peixes; e aqui, ele e sua vara de pescar sem isca e sem pressa.
A brisa passa por ele e imagina sonhos de brisa. Mas apenas porque é generosa. A pedra é mais dura: tem convicção nos sonhos de pedra.
São contrassensos: dorme-se como uma pedra para acordar feito brisa, sonha-se com nada para sonhar mais quando estiver acordado e pesca-se sem isca para alimentar a consciência.
No mundo que há por trás do muro, as possibilidades são todas. De todas, os olhos fechados veem nenhuma, do lado de cá do muro.
É o mote diplomático de encarar a barreira, emoldurar o muro, seguir os rastros da serpente, ultrapassando a fronteira entregue a seu inconsciente.

Rogério Camargo e André Anlub
(4/3/15)

3 de março de 2015

Dueto da tarde (LXXXII)



Dueto da tarde (LXXXII)

Não há problema: saiu à francesa fazendo corretamente o esquema, pegando a viola e pondo no saco.
Sair sem ser notado e não haver problema são sinônimos em algumas línguas.
E falando em línguas: distraído esqueceu-se de esquecer o gosto da língua dela que ainda permanece na sua boca.
Tinha sido bom. Queria que continuasse bom. Talvez até a próxima esquina, quem sabe. 
Mas o caminho até em casa é longo.
Tão logo se esqueça, mesmo que não mereça, outras línguas virão; antes mesmo da vitamina ao chegar em casa, depois de dobrar a próxima esquina, outras línguas virão.
Por enquanto, o prazer de meia hora tem aspecto de eternidade. Mas... O que era mesmo para trazer do mercado?
Seria o leite das crianças? Mas ele não lembra nem mesmo do preservativo! Só lembra de inventar um pretexto evasivo.
A distração no brinquedo ainda vai fazer a brincadeira acabar mal. Mas por enquanto é esse gosto, esse perfume, essa lembrança.
E vão-se as casas de luzes vermelhas, voam as abelhas empanturradas de mel; no seu mudo céu de estrelas salientes se sente um errante violeiro e infiel.
Assobia estridente, finge estar contente. Talvez esteja mesmo, feliz a esmo, de graça, porque tudo passa – menos este gosto, pelo menos até o lado oposto da calçada.

Rogério Camargo e André Anlub
(3/3/15)

Barco



Ele é barco à deriva,
com pernas já cansadas 
olhos que veem pouco
a voz que é quase nada.
Mas ainda joga o jogo
tem asas para o voo
e aposta sempre alto
num farto salto solto...
Ele pode ser eu
ser você
e ser todos.

André Anlub®
(5/2/14)


Líquido sagrado de Baco


Líquido sagrado de Baco
(André Anlub - 15/5/13)

Rigoroso esse tempo bom na tela do céu azul,
Enorme pingo quente dourado, 
Mas amargurado ele caminha sem norte (também sem sul).

Só esperou o cair da noite e foi-se frenético abraçar a boemia:
Nas mesas bambas dos piores bares sentiu-se bem, satisfeito,
Era aquilo ali (Alá, a luz, além) que ele queria.

Com as paredes descascadas e encardidas, 
Banheiros de intolerável cheiro ruim;
A meia luz...
A farra no garrafão de vinho barato que esvazia:
Todo feio se faz tolerável;
O detestável é a alegoria da vida.

Com três palitos de dente se faz um xadrez psicológico,
De deixar Freud confuso e Confúcio fã de Pink Floyd.

O que eu faria em uma atmosfera assim? 
Além do porre corriqueiro:
De janeiro e meu aniversário;
De ver estranhos saindo do armário;
De tudo que é falso tornar-se verdadeiro.
O que eu faria?

Largaria o último copo e voltaria ao primeiro,
Desde onde a mente vai demudando,
O tom de voz aumenta, palavrão atroz vira salmo,
E enterra-se qualquer tormenta.

O que eu faria?
Vou voando – bem calmo ao terreno estrangeiro.
A insanidade das horas perdidas no líquido sagrado de Baco:
Com uma mão vai afundando o barco
E com a outra fornece o salva-vidas.

2 de março de 2015

Bloquinho de papel de pão



Bloquinho de papel de pão
(André Anlub - 22/3/14)

Viagens na forma e na cor,
De contornos vê-se a alvura das nuvens 
E o livre leve nacarado da flor.

Esparramando nas entranhas,
Eis entranhas que fulgem:
De paixão e luz tamanhas
Que aqui e ali nomeamos de amor.

Sonhos que voam e pousam num flash,
Longínquas dimensões são transpostas
Nos pífanos porretas do agreste.

Segurando um ínfimo lápis mal apontado,
Com a borracha aos pedaços no outro extremo
- Desenha a clave de sol - escreve um belo soneto
Num papel de pão amarelado.

Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos


Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos

Deu um gole no chá verde gelado e ao descansar a xícara, sorriu; viu-se num lago novamente o guri que um dia brincou com seus sonhos alados.

Congelando o momento foi trajando o futuro, luz no fim do túnel do incerto predestinado; no amanhã um apogeu deveras absurdo é a essência madura que utopicamente nasceu. Viu-se feliz com o viver protegido, viu-se ungido com o suor de mil anjos.

Na boca pequena um grandioso sorriso e os ouvidos docemente arranhando violinos de Vivaldi em arranjos; faz-se adulto, pecante e andarilho, com rugas no rosto e prantos arquivados.
É trem de carga que não carece de trilhos; abandonou seu abrigo, sem culpas e mágoas.

Chegou o tempo das convicções positivas, de amores desatados por mãos limpas e lavadas com o suor da procura. Eis mais um desafio no meio do povo  “de andar semelhante”: - barba bem feita, o sapato novo e alma nada desnuda.

Eis o semblante guerreiro, os filhos na escola e hora na labuta: - comida na mesa e nove talheres para apenas duas mãos.

Chegou o tempo de desprender-se do básico
E não se sentir um traste por nada ter de praxe.

Fugindo da história: 
Foi convicto à feira no domingo e comprou seu peixe... subiu no velho caixote e disse a todos os ouvintes: - é bendito e bem-vindo o tal de Benvindo Nogueira... deputado do povo (eleito por ser um homem oprimido).

Voltando à história: 

No arraste das horas a barba crescendo e o sapato mais velho; vê-se esotérico ao som erudito de um novo critério; agora homem simples, Sicrano da vida em um mundo baldio.

A vida estava por um fio, mas as nuvens se foram e  tempestades sumiram. (o chão é o limite)
O tempo chegou, o clarão é mais vivo das asas no apoio e o voo continuo. (o céu é o limite).

Há estradas fáceis que levam ao pecado, mas há também caminhos íngremes que estendem o tapete vermelho pro nada.

Ao final da tarde as flores enfim se mostram (mais dela) submissas, num colorido real e pétalas como olhos famintos de belo. 

Ela, dama, atravessa os jardins, os passos tímidos e sutis, abrindo os lábios e deixando brotar as próprias cobiças; um artista do amor sorri, aponta seus dedos magros, (outrora gordos e inebriados de nanquim): - Ai, ai, ai, é o fim, ela não me notou... choram eu, ele, você e os jardins. E o chá, um sopro para esfriar; vem aqui – foi lá. 

A fumaça do tabaco profana a luz
Que atravessa a janela adentrando o quarto, trazendo a beleza que há, aos olhos abertos, no limpar das remelas, no sonhar – realizar e fazer jus. 

Beltrano dos Santos é uma figura, já foi profeta, mas não se mostrou... só ele sabia; nas alquimias que os anos trouxeram, a derradeira ainda estaria porvir; mas ele não tem pressa, o amor não tem pressa e o que só interessa é o acreditar sem fim.

- André Anlub

Dueto da tarde (LXXXI)



Dueto da tarde (LXXXI)

É um rapaz criativo, mas que usa palavras repetidas, tidas como ingênuas e nuas no sentido implícito; cito um exemplo conciso:
Informação nunca é demais. Você fala, ele ouve. Ouve mesmo. Mas você nunca vai ficar sabendo o que ele “criou” com elas.
E nas mazelas elas se reinventam, tamanha incoerência exposta, posta aos olhares e ares.
É um rapaz super ativo, mas você não percebe a super atividade dele. É um rapaz que dá voltas em torno da terra, mas você não percebe seu corpo se mexendo.
Camufla-se em árvores, em peixes, pássaros e tudo; cresce galgando espaço e faz do externo seu núcleo.
Certo dia uma nuvem lhe perguntou por onde andava. Ele respondeu. A nuvem não ouviu. Certa noite uma lua lhe sorriu. Ele retribuiu. A lua não viu.
Se o núcleo fosse o centro, a nuvem ouviria, a lua veria e com o sol também conversaria. Mas o núcleo não é o centro.
O núcleo é um embuste, é como um busto em praça pública que ao “João ninguém” representa.
Fora é fora. Dentro é dentro. Dentro fora é nada. Mesmo para um rapaz criativo que use palavras repetidas, tidas como ingênuas.

Rogério Camargo e André Anlub 
(2/3/15)

1 de março de 2015

Dos desafios



Dos desafios
(André Anlub - 2/8/12)

Sentinelas do mais profundo amor, vejo pela janela as folhas e pétalas que caem pintando o chão... 
formam os tapetes dos amantes, síntese da emoção de todos os seres vivos.
Já tentei deixar de ser romântico, ver o mundo em branco e preto, lavar bem lavado meu despeito e organizar minha semântica.
Pego a massa e faço o pão, uso a farinha que vem do trigo;
Existe aqui dentro um insano coração que se materializou tão somente por você.
Vai dizer que me embriago por não tê-la, sons antigos na vitrola e deito-me em posição fetal... estou fraco para o viral e depressões e forte para construir minhas teias.
Em absoluto desafio... quero ser chefe dos meus desatinos
levantando e regressando à caminhada, vestindo minhas melhores roupas e colocando meus anéis...
(fazendo o que sei fazer de melhor).

Dueto da tarde (LXXX)



Dueto da tarde (LXXX)

A lembrança mais querida de uma infância muito feliz bateu à porta,
Tempos de rodas de ciranda, rodas de bicicletas, rodas de leitura e a vida rodou na estrada.
A porta abre para a lembrança e para o que a lembrança não tem nem pode ter:
Rebobinar a fita e viver tudo novamente – claramente – calmamente – em HD.
Pela porta aberta o que entra, com pantufas de melancolia e passos nostálgicos vai em busca de um abraço e acaba achando a ironia, os braços ocupados no futuro, segurando a nova vida.
Suspira, abre a geladeira, pega uma cerveja, pensa em guaraná, em coca light, em fanta uva, dá um sorriso torto e deixa cair uma faca dos dentes. Faca? Lembra-se de que não sabe como surgiu ali, de onde veio, não sabe seu nome, nem o início – o fim, nem ao certo o meio.
A faca quase atinge seu pé. Cai cravada rente. Não há nenhuma lembrança igual, nem parecida, entre as lembranças mais queridas de uma infância muito feliz.
A loucura sobe à mente e novamente a faca volta aos dentes; há controvérsia em seus pensamentos e há indiferença em seus esquecimentos. Sem saber o que fazer: ajoelha, reza, chora e sente.
Sente e ressente-se. Senta-se, levanta. Levanta, senta. Tenta outra coisa. Não consegue. Pensa em usar a faca para cortar os pulsos. Mas vê que ela pode ter outra utilidade:
Corta um peixe, tempera, acende o forno e espera... enquanto isso abraça sua criatividade, pois seja qual for sua idade, em seu sonho – sua mentira – sua verdade,  ela sempre impera.

Rogério Camargo e André Anlub
(1/3/15)

Por onde andei? - oficina de lirismo do Balcão de Poemas

Mais uma vez entre os amigos da NOP - http://inspiraturasbooks.blogspot.com.br/2015/03/por-onde-andei-oficina-de-lirismo-do.html

Das lágrimas



Das lágrimas
(André Anlub - 24/5/14)

Preciso de versos certos
De encaixes precisos,
Que construam uma obra prima
Da mais bela e enigmática.

Preciso da ideia no foco,
Estar sedento e famélico,
Lutando contra o branco do vazio
Sem armas ou mapas,
Sem asas endurecidas
Ou velas furadas.

Quero ouvir a verve gritando
Ao mundo, ao pouco,
Como louca rara
Que absorve a vida aos poucos.

Preciso da sua leitura
De corpo nu em noite tão escura
Que nem as estrelas deram as caras.

Preciso do deleitar dos olhos vexados,
Umedecendo e emudecendo,
Abertos, fechados,
Deixando cair suas lágrimas.

Rio 40° - 450 anos

28 de fevereiro de 2015

Ponderações



- Tenho mente clara e aberta, alma e aura brancas e corretas, ninguém me desbanca. Não importa a cor da minha casca, sempre serei “camaleoa”; não me avalie, gosto de pessoas raras que não existem à toa.

- A vida é muito curta para entre uma rotina e outra ficarmos preocupados com hábitos rotineiros.

- Não vim ao mundo para durar; quem dura é pilha de marca e conselho de avó; vim ao mundo para fazer o que gosto, ser feliz e ter qualidade de vida à minha maneira. Vivo sem me preocupar com o tempo de estadia. 

André Anlub

Dueto da tarde (LXXIX)



Dueto da tarde (LXXIX)

Cavalo selvagem procurando o vento da liberdade na liberdade do vento.
Campos verdes em ares puros tendem à sensação inócua de nada ocorrendo.
Nada ocorre mas tudo corre: as patas do ansioso devoram o chão de pedras, o chão de lama, qualquer chão.
No agito da passagem a calmaria afoga-se, o fogo envolve a cena da vida e enfoca-se no céu o pleno escarcéu.
As narinas nervosas perscruta: há sempre um mais além que pode ser o definitivo. Correr a ele, pois.
E o galopar antes e depois, ontem e hoje: há sempre a necessitada marchada, com a parada, descanso, sono e sonho.
A dança das crinas no ritmo irregular e nos beijos do vento cortante chega a seu corpo como uma carícia áspera.
Num relance saí da várzea um laço errante de moléstia e desatino, que se lança em alvoroço ao alvo no pescoço do equino.
Coisas do destino. Num desatino, ele quer ainda galopar, ginete dono de si mesmo, bebendo espaços com a força dos músculos jovens.
Mas o laço laça-lhe a pretensão, amarra-lhe a ousadia e ele sucumbe ao desleixo do homem mundano em desengano, tentando domar o mundo quando não doma nem a si mesmo.

Rogério Camargo e André Anlub
(28/2/15)

Da arte


Engatinho na escrita e na arte, feito criança sapeca, levada; 
vou de encontro ao bolo ou a bola, entro de sola; 
mergulho no sonho totalmente cego e sem ego, sem pretensão de ser nada.
Lá no final de tudo, onde o grito é mudo, quem sobrevive é o talento.

Da arte
(20/3/12)

Primeiro marquei meu horizonte
Em um traço negro em declínio,
Deixo a inspiração fazer domínio
E depois me embriago na fonte.

Pintores são fantoches e fetiches,
Sobem em nuvens, caem em piches;
Respiram a mercê de sua cria,
Bucólicos profetas à revelia.

Tudo podem e nada é temível,
Nem mesmo perderem o dom,
Sabem o quão infinito é o tom.

Seus corações de loucos palpitam
E no cerne que eles habitam
Saem às cores do anseio invisível.

A arte é muito além do coerente, é avesso e infinito, 
é forma ou desforma; 
a arte não se envolve com quaisquer opiniões, 
existirá de qualquer forma.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.