29 de dezembro de 2015

Meu Sangue


Meu Sangue
(André Anlub®)

Voo entre a terra e o céu
O sonho que crio na escrita
Lua que derrama no papel
Sol que desbanca na tinta

Vivo em copiosa adesão
Fome e vontade de comer
Tudo é mão e contramão
Auge do exagerado querer

Noto o sangue correr ligeiro
Tragando minhas entranhas
Travestido em mil façanhas

Noto o vermelho em cores
Transformando dor em amores
Poesia é alimento e anseio.

Arte nos olhos


Arte nos olhos

Arte que brinca com a bola naquela velha praça
Bermudas rasgadas, pés sujos e mente limpa
Vento que sopra quente na respiração ofegante
No belo guache que brilha.

Arte que vai a fundo à aventura
Velho barco em velhas águas inóspitas
Meio tombado, marrom e pôr do sol
No óleo sobre tela banal.

Arte que imita um deus
Imagem inebriante de dimensões erradas
Casas pequenas, homens gigantes
Na arte Naif com acrílica.

Arte que joga os dados
Corriqueira, que dá o ar e o tira
Que sustenta um corpo pagão
Pastel seco ou carvão
Na aquarela da vida.

André Anlub®

28 de dezembro de 2015

DIANTE DAS CRISES

Augusto Boal conta deliciosamente, em “Histórias de Nuestra América”, o caso de uma velhinha que foi morar na favela porque o seu maior pavor na vida era o de ser obrigada a ir morar na favela. Conviver com a pobreza extrema apavorava a boa senhora. Então ela foi conviver com a pobreza extrema. Parece extremado, mas não deixa de ser positivamente didático. Enquanto se agarra na esperança de que “talvez não aconteça”, quando está para acontecer, o cidadão morre aos poucos. Feliz daquele que, diante de uma situação de crise, pondera: Bom, o que é que de pior pode acontecer e o que se pode fazer diante disso? Esta pessoa tem os pés no chão e, por conta disso, pode contar consigo mesma. Empurrar fantasiosamente com a barriga é ir morrendo aos poucos. A esperança é a última que morre e a primeira a matar. Muito mais útil a si mesmo é o indivíduo que encara as possibilidades mais agudas com as ferramentas que lhe garantem uma realidade palpável: seja qual for a circunstância ele  prevalecerá.

ROGÉRIO CAMARGO  

Ótima semana


Veio assim de repente, 
como essa brisa gostosa que corta o vale
Uma lembrança recente, que se faz nascente
No amor que ainda insiste em você.

Torta de amora

Renasce com o dia a serenidade
que buliu com o ontem fazendo o momento
esculpindo o hoje de um modo mais tenro
fundindo o amor e rejuvenescendo.

Seduzido no deserto pela miragem
fica quase abolida a palavra “sozinho”.
Mil dentes surgem sem prévia censura
fazendo abrigo no corpo vizinho.

Fez-se vida no horizonte do sortilégio
jogada ao vento no intento da vela.
As águas singelas, um sol amarelo
nos pés os chinelos de couro bem velho.

Há aquela clara linha de guarda e guia
caminho da senhora, do guri, da guria
alegrando o coração no calor da emoção
tornando a ação repleta e divina.

A essa linha tênue se deixa um pedaço
não da paz, não do corpo, da alma tampouco.
O pedaço que nutre, e que fleuma e que flora
com a cor e o sabor de uma torta de amora.

André Anlub®
(14/11/13)

26 de dezembro de 2015

Cantar do futuro


Cantar do futuro

Na trilha do som e do cheiro,
Entre outros planejes,
Já havia o longo tempo de um asilo,
E saiu, enfrentou, 
Nisso e naquilo,
Foi certeiro.

Conhecia um pouco de tudo,
E de todos a prudência do cantarolar,
Mas de cor, tão-somente, do sábio sabiá.

O verde vivente evidente,
Fez nuance nos raios dourados do sol,
Que surgiam e sumiam
Ao bailar de folhas,
No cair de sementes,
Da jabuticabeira.

E a comunhão com a quietude,
Ao chegar o negrume,
O que estaria por vir?

E os motores aos ouvidos em dores;
Os odores do carbono a calhar;
O cruzar de mil pernas;
As janelas com visão limitada;
E a empreitada de ser e estar.

André anlub®
(28/9/13)

25 de dezembro de 2015

Ótimo sabadão...


RECICLAGEM DE MIGRANTES

Um artigo bastante interessante que encontrei na internet fala de programas implantados na Europa, pelos países que estão recebendo migrantes de zonas conflituadas, para que se reciclem no trato com as mulheres. Desacostumados à liberdade que o Ocidente concedeu ao feminino, quem chega da Eritréia, por exemplo, choca-se. Lá, como disse um refugiado, quando um homem deseja uma dama ele simplesmente a toma. A noção de que é preciso respeitar a individualidade, as escolhas e o comportamento das mulheres ainda não chegou a estes cantões. Estudando as causas de uma onda de estupros em seu território, os noruegueses chegaram à conclusão de que é preciso reeducar esta leva de  infelizes que, formados sob uma orientação de valores quase pré-históricos, ainda veem na mulher meros objetos para satisfação sexual momentânea. O infeliz recebe um amistoso sorriso de uma desconhecida em um bar ou no cruzamento de uma calçada e já acha que isso é um convite para a cópula. O fundamentalista cobriu a mulher de alto abaixo, deixando apenas os olhos de fora, como “solução” para este problema. O problema de não saber conviver com suas compulsões, o problema de administrar mal os seus instintos. O ocidental menos obtuso tratou de entender que isso deve ser resolvido na esfera do relacionamento de cada um consigo mesmo. Se a dama, como diz o eritreu, desperta no cavalheiro “desejos bestiais” a responsabilidade por isso é inteiramente dele. Tomá-la à força ou mandar que se cubra para não perturbar seus toscos olhos é inverter completamente a ordem das coisas.

ROGÉRIO CAMARGO  

24 de dezembro de 2015

Feliz Natal

Feliz Natal e que a força esteja com vocês!Créditos: https://youtu.be/R91QF6Xbaow
Posted by IGN Brasil on Quinta, 24 de dezembro de 2015


Elefantes brancos

O que é liberdade para você? E o quanto desfruta dela? Às vezes falta coragem, tempo e até vontade. Mas quem...
Posted by Canal OFF on Quinta, 24 de dezembro de 2015

  
Elefantes brancos

De tudo que li, duvido de muita coisa
algumas eu vivi
mas nem sei se foi um sonho.

As inspirações
ah... as mulheres...
personagens centrais na peregrinada
nós, os homens
somos elefantes brancos.

Aos trancos e barrancos
somos feitos para fazer a diferença
seja ela boa ou ruim.

Algum de nós tem mente delituosa
na fossa, é perigoso demais.
Brancos elefantes, aspirantes a gente
pisando em tudo
pisando em todos
na fossa, é extremante errante.

E quando os pensamentos voam
pura especulação
especulando até os próprios atos
crescendo na imaginação
de tão grande, colossal
vendo o mundo uma pequena bola de gude.

Um menino vê a dor de uma menina
ela está diante do tumulo do pai
ele pega duas tulipas e entrega à ela
uma é de chope
a outra é uma flor.

Por alguns segundos as duas mãos seguram a tulipa
as mãos dela e dele.

Por alguns segundos a vida deles formam uma só
elefante branco apaixonado
de coração errante
flutuante e entregue.

Até poderia ter sido verdade
mas não foi.

André Anlub®


COM TATO

“O tato consiste em saber até onde se deve ir quando se vai longe demais” (Jean Cocteau). Posto que pisar no tomate, por razões várias, qualquer um pode, o que resta é o relacionamento mais lúcido possível com as consequências. Depois de uma burrada, muito pedido de desculpas – às vezes qualquer pedido de desculpas – é completamente inócuo e pode que só sirva para agravar os danos, pelo aborrecimento que causa. A arte de ir adiante é complexa e exige algo que quase ninguém possui: confiança em que, seja lá qualquer for a circunstância apresentava, todo mundo sobrevive. A vida é sempre mais forte do que qualquer das suas configurações. Antes de se formalizar qualquer ambiente, externo ou interno, havia o ser. Ele não existe porque se manifesta: ele se manifesta porque existe. Isso nunca está claro, no entanto, em um momento de medo-pânico diante das consequências de haver “errado”. Seja qual for o tamanho da tempestade, ela não é definitiva. Tudo passa, porque nada é de ficar. E enquanto não vai adiante, acompanhando tudo que passa, aquele que se prende está vivendo uma alucinação. Tato – sensibilidade – é perceber esta alucinação e dar-lhe o destino correto.

ROGÉRIO CAMARGO 

Fulano da Silva


 Fulano da Silva

Deu um gole no chá verde gelado
e ao descansar a xícara, sorriu.
Viu-se num lago novamente o guri
que brincava um dia com seus sonhos alados.

Congelando o momento foi trajando o futuro
luz no fim do túnel do incerto predestinado.
No amanhã um apogeu deveras absurdo
a essência madura que utopicamente nasceu.

Viu-se feliz com o viver protegido
viu-se ungido com o suor de mil anjos.
Na boca pequena um grandioso sorriso
e aos ouvidos violinos de Vivaldi em arranjos.

Faz-se adulto, pecante e andarilho
com rugas no rosto e prantos arquivados.
É trem de carga que não carece de trilhos
Abandonou seu abrigo, sem culpas e mágoas.

André Anlub®
(8/1/13)

23 de dezembro de 2015

Feliz Natal


Outro dia flagrei-me lembrando de certa véspera de Natal, lá pelos idos de 1992, quando encontrei nas areias finas da praia de Grumari, um grande amigo de infância; foi realmente uma enorme coincidência, já que estou falando de uma praia que se encontra numa reserva ambiental, que conta com a presença de poucos “points” e que é brindada com ondas em quase toda sua extensão (2,5 km). O encontro: estava na praia num dia ensolarado, dando minha corrida pela areia e esquecendo-me da advertência do médico a respeito do meu joelho bichado... Advertência esta que eu não deveria correr nem pela areia mais dura, perto do mar, muito menos pela areia fofa... de repente vi aquela prancha fincada na areia, ao lado de uma cadeira vazia e um guarda sol com estampa de cerveja. Reconheci a prancha e já voltei meus olhos ao mar. Lá estava o “brother”, surfando de jacaré, bem ao estilo de nossa meninice... sentei-me na cadeira, meu joelho “sorriu”, olhei novamente para o mar e assobiei... trocamos acenos e me ofereci à poesia. Ele, morador do Bairro Peixoto em Copacabana, era meu vizinho de bairro, andávamos na mesma turma e dividíamos as mesmas praias e namoradas... Ele, que sempre após a ceia na casa dele passava na minha para comer mais um pouco e beber mais um vinho, já avisou que naquele ano não seria diferente, deixando-me extremamente feliz. Nesse dia, nessa cena congelada na hora, e agora se congela na memória, começou meu mergulho no mundo poético, uma de minhas razões de viver. Um poema nasceu, amadureceu e se concretizou anos depois; o poema melhor lapidado e com respingos dos Natais que passamos juntos, sorrisos que dividimos e das opiniões e namoradas que trocamos...
Um poema de saudade, de falta e da sensação que deveria ter ficado mais datas ao seu lado... grande amigo.

O poema:
Acordei com uma lágrima;
No sonho bem claro o rosto,
De pronto sorriso me olhava;
Amigo de praias e farras
Que o vento levou sem aviso;
Deixando a doce lembrança,
Momentos que não amarelam,
E regam o verde singelo
Desse jardim da saudade.


André Anlub
BEM BRASILEIRO

Dois eufemismos bem brasileiros: “Me empresta?” e “Depois falo contigo”. Quando alguém diz me empresta? via de regra está querendo dizer me dá. Como me dá é uma forma pouco elegante, invasiva, quase agressiva e como também ela coloca o pedinte suma situação muito mais fragilizada do que o me empresta, o me empresta funciona como me dá. Legiões de pessoas sentem-se indignadas: Me pediu emprestado e nunca mais devolveu! Ou: Fui pedir de volta e ficou uma fera comigo, onde é que já se viu? Já se viu aqui mesmo, e a toda hora.
Assim o depois falo contigo. Está no lugar do não quero te atender, do isso não me interessa, do não tenho tempo pra isso, do não me aborrece. Fórmulas, evidente, que não dão face para ninguém. E este é o xis da questão: dar face aos envolvidos, para que o grau dos ressentimentos não ultrapassem determinadas medidas, dentro das quais todo mundo pode continuar pedindo emprestado sem devolver ou não querendo conversa sem que os atingidos por isso tomem o rumo norte e não voltem mais.

A experiência foi fazendo com que eu aprendesse. Quando me pedem “emprestado”, meu cálculo imediato é o do prejuízo caso a coisa (ou o valor) não volte mais. Se voltar, tudo bem, é lucro. Mas se ocorrer o “normal”, então eu já sabia que estava perdido mesmo e preparado para isso. Daí que não sou um grande emprestador, evidente. Já quando me dizem que depois falam comigo, dificilmente – a não ser que seja muito importante – volto ao assunto. Sei muito bem o que quer dizer “depois falo contigo”...

ROGÉRIO CAMARGO  

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.