6 de abril de 2016

O Tempo Seca o Amor



(Cecilia Meireles)

O tempo seca a beleza, 
seca o amor, seca as palavras. 
Deixa tudo solto, leve, 
desunido para sempre 
como as areias nas águas. 

O tempo seca a saudade, 
seca as lembranças e as lágrimas. 
Deixa algum retrato, apenas, 
vagando seco e vazio 
como estas conchas das praias. 

O tempo seca o desejo 
e suas velhas batalhas. 
Seca o frágil arabesco, 
vestígio do musgo humano, 
na densa turfa mortuária. 

Esperarei pelo tempo 
com suas conquistas áridas. 
Esperarei que te seque, 
não na terra, Amor-Perfeito, 
num tempo depois das almas. 

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'

Ótima quarta

Nua em pelo, no pulo e num palco
(André Anlub - 28/11/13)

Nadando no gélido lago foi encontrada
(Feliz e pelada)
Com os pelos arrepiados,
Seus belos cabelos negros cacheados,
E como seria imaginável...
Cantarolando aquela lacônica balada: 
“...you can’t always get what you want...”

- olhos esbugalhados, olhar simplório.
Perfil de romântica rebelde
Com a sensação de estar nada errado.

- Seria assim que eu a descreveria
E é assim que ela é!

Entre os dias que se passaram em sua vida,
Estão de um lado algumas horas que se petrificaram
Na sensação de não seguir um vil modelo.

Na outra ponta da história (não menos importante)
Fica o momento: 
- replay - déjà vu
- oposto de um pesadelo.

Quase sem querer, de repente por estar mais magra,
A aliança caiu no ralo.

(num estalo a lágrima sem jeito a seguiu).
O próspero havia recebido conserto
E a velha flecha no seu peito
Enferrujou e ruiu.

Os olhos agora mais secos
Caçam felicidade;
E a sombra não se encontra
Por aí, vagando.

(meramente sumiu)

A alma quer plateia, quer zelo, nada de estar sozinha; ela quer que outros olhos curtam seu curto vestido decotado, o sorriso do rosto com duas covinhas... E todos (mas todos) os seus pelos eriçados.

De longe, longe, chegaram os berros de amor:
Profundo, nobre e precioso... 
Abraçaram as nuvens, beijaram o sol,
Tiraram as ferrugens, criaram a mudança...
Fizeram valer o desafio, o anseio por um fio... 
E um coração frio, novamente, tomou-se de esperança.

Tenho seus poemas tatuados para meu longo conforto (às vezes os leio a esmo), desmanchando possível mácula, dentro de uma garrafa de fino gargalo torto, com as letras distorcidas que renasceram de um cálido aborto. Leio um romance barato que se tornou simpática fábula.

5 de abril de 2016

Corações inteligíveis



Corações inteligíveis       
(André Anlub - 9/6/13)

Ah, nesse amor descolado, desnudo
Das mais gostosas traquinagens;
Organizando as engrenagens
Desorientando meu mundo.
Acordo afogado no pranto,
Praticamente um tsunami violento
Que fez-me lembrar dos tantos encantos,
Que migraram para o desejo vagabundo.
O tempo se esgota, é a gota d’água...
Que desagua na grota e no vento.
Pois invento a lorota da mágoa
Por não encontrar meu contentamento.
Perco a razão do vivente
Mas no convívio, dentro de um conto:
Lapido do meu jeito o sonho
E à francesa, saio pela tangente.
Ah, sei que o seu pensamento é só meu
E num breve instante em branco
Escorrem os pigmentos mais francos
E colorem todo o nosso apogeu.

4 de abril de 2016

Pequena grande história de Glorinha


Pequena grande história de Glorinha     
(André Anlub - 26/5/14)

A carne de sol recheada com queijo coalho
A mesa farta de tudo que é local.
Da seca ao céu, do pó ao pó,
Glorinha fez as malas, afinou as falas...

(...) abraços a Caicó.

O ontem ficou refletindo agorinha
Quando a Glorinha arteira chegou pela primeira vez à areia,
Fincou a faca de pão refletindo seu rosto risonho
Realizou seu sonho e desmaterializou todo o mal...

(...) em frente ao mar.

Glorinha de glórias, de prantos e preitos,
Rosto delicado, nariz fino e trejeitos.
Andar leve que faz breve um prever alegre
Desertos de frutas, de nuvem e de sal...

(...) Macau, seu novo lar.

Glorinha rainha, concubina dos livros...
Fixando seus olhos na nova leitura,
O café requentado esfriou novamente,
Fez claro, evidente, o interesse escondido.

Glorinha agora gosta de revista em quadrinhos
Devoradora assídua e sonhadora gritante
Lê, aprende, escreve e ensina
Fez disso sua sina, levou pra sua terra distante.

Tempo de ser servido


Tempo de ser servido
(André Anlub - 2/3/12)

Quero me doar ao máximo:
Perder (por livre e espontânea vontade) a liberdade.
Quero a salutar realidade de um amor:
Aos quatro olhos, eterno.

Quero ter filhos, ou não
Quero repartir e debater nossa opinião.
Ser servido e servir,
Ser a ilusão mais verdadeira e óbvia.

Vamos nos fartar em mesas fartas,
Comer salmão ou sardinha,
Beber vinho oneroso ou sangria,
Juntos, tudo será sempre o melhor.

A taça fina, que ao rodar do dedo canta,
Ouço o som mais doce e apaixonado;
Junto ao seu cálice que me acompanha
Fecho os olhos, embarco e me entrego.

3 de abril de 2016

Fulano da Silva


Fulano da Silva (3/2/14)

Deu um gole no chá verde gelado
E ao descansar a xícara, sorriu.
Viu-se num lago novamente o guri
Que um dia brincou com seus sonhos alados.

Congelando o momento foi trajando o futuro,
Luz no fim do túnel do incerto predestinado.
No amanhã um apogeu deveras absurdo,
É a essência madura que utopicamente nasceu.

Viu-se feliz com o viver protegido
Viu-se ungido com o suor de mil anjos.

Na boca pequena um grandioso sorriso,
E os ouvidos docemente arranhando,
Violinos de Vivaldi em arranjos.

Faz-se adulto, pecante e andarilho,
Com rugas no rosto e prantos arquivados.

É trem de carga que não carece de trilhos;
Abandonou seu abrigo, sem culpas e mágoas. 

André Anlub

Turbilhão do viver



Turbilhão do viver
(André Anlub - 24/2/14)

Tudo é paixão na terra de Alice,
E quer um palpite?
- a mesmice rasteja no chão.

Tal qual chão quente e infrutífero,
Faz a vida um sonífero
E forra de interrogação.

Que chapeleiro ou não
Tornar-se-ia importante
E levantaria num instante
O punho cerrado em ação?

É, é bem mais fácil o “aceite”,
Que sempre em quatro paredes,
Pendura quadros de enfeite
E convida pra comunhão.

Não, nem tudo é poema!
Seja lá qual for o terreno,
(branco, mulato ou moreno)
A vara enverga com o vento
E se quebra num turbilhão.

2 de abril de 2016

Dia Mundial do Autismo

O que é AUTISMO ou TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA? 

Saiba sobre o Autismo clicando Aqui.

A cena da vida



A cena da vida
(6/10/12)

Relembro promessas vi-me em outras épocas remetido ao passado, meu caminhar já caminhado.
Esperei te achar, por detrás dos arbustos, arbustos de pele no cheiro de capim limão.
No núcleo de cada ideia há uma pequena, mas poderosa explosão. fico por aqui, calado, digo até amanhã. Seguro a mão do meu guia (sinal de aceitação). o que procuro? o que me falta? o que me farta? em que me incluo? 
Retorno no tempo, ao jovem velho que sou, com lapsos de clareza, com raptos de coragem, absoluta certeza na direção da cena que outrora centenas... cena da minha vida.

II
A condição “sine qua non”
Para sua existência é macabra; língua de serpente, asa de morcego e chifre de cabra; seu amor é cego... arrancou-lhe os olhos.
Nesse holocausto é só mais um fausto, fato verídico que poucos notam; na ponta da faca escorre uma gota podendo ser sangue, suor ou pranto.

III
A dialética do homem atual é transformar em filosofia coisas simples, óbvias e deixar de lado o que é de suma importância ser debatido. 

IV
A impunidade é como um patrono para a contravenção: apoia - encobre - estimula.
A lei com seu longo braço fica sem mão:
Impotente – descrente - nula.

V
A lua saiu com frio e tão pálida, pensamos que estivesse acamada. Veio a nós pelo mar com seu belo reflexo, tremendo, até chegar à praia...
E assim deu-se o beijo.

VI
A sedução existe em várias formas e a diplomática será sempre a mais fascinante.

VII
Abril em festa? Pela fresta infesta o olhar da inveja. Com a porta semiaberta ela observa, não há mais breja, não há igreja nem festa...
Queimou-se a floresta... abril banal.

VIII
Através do olho mágico da vida, vejo o amor que mais uma vez bate à porta do meu coração.

IX
Bromélias se encheram com as águas
E as mágoas se apagaram com as velas.
Um pássaro pousou na minha janela,
Deixou seu canto e prometeu primavera.

X
Em nosso caminhar...
Cada passo é sombra verdadeira,
Cada selva é clarão e clareira.
No azeite dos anjos,
Que desce pelos ombros.

XI
Cada um com a sua teimosia,
Só não vale a utópica teimosia
De querer corrigir um teimoso.

XII
Até mesmo os artistas porcalhões,
Não deixam jamais sua arte de lado.
Preferem lugares com clima úmido,
Para esculpirem melhor suas melecas.

 XIII
A moradia na emoção
é o botão de liga/desliga
de uma alma incendiária.

1 de abril de 2016

Mais uma mentira de amor



Mais uma mentira de amor
(André Anlub - 5/8/13)

Anote o código para ingressar na minha alma...
Sem bater - sem pegar leve.
Tudo funciona do seu jeito no colossal universo do eterno ou no do breve.

Agora o sol despontou no oceano, só porque você quis assim. Os raios vão cozinhando em fogo brando, desentupindo os enganos, só porque você está a fim.

Eu já sei, e meu grito ecoa. 
Ah, na boa, parei com os versos – mentiras...
Por ironia versei.

Nem sei se tive a sensação de já ter tido a impressão do canhão fazendo mira... em mim.

Sou mentiroso por gosto e agora tenho você por inteira, preenchendo meu interno, na mente e corpo; no externo somente a vejo, é só um carnal desejo... Enfim, já disse: sou mentiroso!

Tal ovelha negra se desgarrou do rebanho, conseguiu sua liberdade e desfrutou do assanho. E agora com mais maturidade continua ovelha negra, só que feliz e arteira dança com o namorado na luz da fogueira.

31 de março de 2016

Uma excelente quinta a todos


Ó Capitão! meu Capitão!
Walt Whitman

Ó Capitão! meu Capitão! Finda é a temível jornada,
Vencida cada tormenta, a busca foi laureada.
O porto é ali, os sinos ouvi, exulta o povo inteiro,
Com o olhar na quilha estanque do vaso ousado e austero.
Mas ó coração, coração!
O sangue mancha o navio,
No convés, meu Capitão
Vai caído, morto e frio.

Ó Capitão! meu Capitão! Ergue-te ao dobre dos sinos;
Por ti se agita o pendão e os clarins tocam teus hinos.
Por ti buquês, guirlandas... Multidões as praias lotam,
Teu nome é o que elas clamam; para ti os olhos voltam,
Capitão, querido pai,
Dormes no braço macio...
É meu sonho que ao convés
Vais caído, morto e frio.

Ah! meu Capitão não fala, foi do lábio o sopro expulso,
Meu calor meu pai não sente, já não tem vontade ou pulso.
Da nau ancorada e ilesa, a jornada é concluída.
E lá vem ela em triunfo da viagem antes temida.
Povo, exulta! Sino, dobra!
Mas meu passo é tão sombrio...
No convés meu Capitão
Vai caído, morto e frio.

Fonte: Whitman, W. 2006. Folhas de relva. SP, Martin Claret. Poema publicado em livro em 1867.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.