16 de maio de 2016

Balé dos estorninhos


Balé dos estorninhos
(André Anlub - 14/10/13)

Vá falar aos quatro cantos desse enorme mundo vadio,
Fale logo, vá!
Fale aos ouvidos trancafiados, cimentados e mal acostumados.
Grite com todo o pulmão, todas as forças,
Até se esvair o ar.

E aquela velha inocência descabida? 
Deixe-a ir:
Já estava sufocada com sua maturidade,
Com seu desenvolvimento e sucesso,
Com o balé dos estorninhos.

Os passos largos, de gigantes dinossauros, são seus;
As impurezas das palavras impensáveis nunca existiram;
O seu barco naufragado é passado, ou pode até ter sido um sonho;
Ria, pois com o mar é casada e vive à vontade com os golfinhos.

E agora rebobinou sua idade ao azul bem vasto,
Fixado no fundo da sua íris.
Poderá observar os loucos abutres
Que voam por cima de um extenso deserto
Deixando a sombra de rastro,
Com a sede e a fome,
Que os escoltam de perto.

A sedução existe em várias formas...
A diplomática será sempre a mais fascinante.

De ínfima palavra é feita o amor...
Não tem vírgulas, pontos, nem mistério no ar.
Não é soneto ou acróstico - trova ou cordel.
Não há essência ou engano - acertar ou errar.
Não há contras nem prós...
É somente, e tão somente, “nós”.

Meus versos são libertos,
Não há musa nem mordaça
Nem há alvo que se faça;
Às vezes eles voam
E são de quem os pega,
São de quem os abraça.

Quem viver verá verão


Quem viver verá verão
(13/5/11)

Flutuam ainda mais doces os seus vocábulos,
Pairando sobre o ar quente de versos corretos
E rimas concretas.
Os projetos
Leio em nuvens, fuligens, leio em lagos.

Num simplório paraíso é o começo do estalo;
Vejo no “big bang”, bela rosa – você...

Bem-te-vi - bem-me-quer - bem-querer.

Eis a paixão que arde por toda a esfera,
Afronta a tormenta, enfrenta a fera,
Vai além das vidas - além de eras
Escalando muros - largas heras.

Quente no conforto, no forno do sentimento,
Cálido se for de gosto, assim querendo.

Sempre adiantando os passos, céu de brigadeiro,
O vento varre as névoas, intenso lixeiro,
Espanta as chuvas fortes, a insensatez,
E a sequestra de vez num amor inteiro.

É dia primeiro, é verão.

15 de maio de 2016

Sopro


Sopro

Fica tão óbvio...
Mas por que não falar de amor?
Mesmo o ópio que entorpece,
Que se lembra; que se esquece...
Faz do momento um próprio vício
De eternidade.

Fica tão certo...
Quanto o martelo que acerta o prego 
Na construção da casa.
O extremo fogo que queima a casa
Na maldição do tempo que deixa as cinzas
Ao vento...

O ontem que já foi...
Correu ligeiro;
Como já foi o que o ontem alimentou...

Hoje resta a fome de hoje;
Fica tão hoje o desejo
De repetir o que passou.

Fica tão perto...
Na criança que desce o escorrega,
Calhando em segundos – sua alegria;
São elas, absurdamente elas...

E homens correm suas vidas
Essas – que não tiveram;
Correm, correm e correm.

Por fim brincam, choram,
Nunca alcançam...
E seguem bem-aventurados 
Na utopia.

André Anlub
(13/5/16)

Há 130 anos morria Emily Dickinson.

Há 130 anos, no dia 15 de maio de 1886, morria a poeta norte-americana Emily Dickinson.


Estava flertando com a Bahia,
E comigo, comedida, sempre a poesia,
Num leve livro de Emily Dickinson
e no vai e vem do mar que assistia.

Madrugada de 27 de abril de 2015 (com uma enorme saudade do amanhã)

Sempre me flagro longe, pensando na minha velhice, na minha careca reluzente e no meu coração ainda batendo e amando, pescando em águas calmas e fartas de peixes e inspirações; é recorrente. Penso no meu futuro barco simples, azul turquesa, nas águas de uma cidade do nordeste. Um barco com aquela tradição de um nome feminino escrito em letras simples e sóbrias nas laterais da embarcação... Há um tempo eu colocaria alguma pintora que gosto, que simbolizou algo em mim: Tarsila ou Djanira ou Haydéa ou Malfati ou Lia Mittarakis... Mas hoje em dia mudei e o mais provável é que seja algum nome de uma das escritoras que também me marcaram, nas leituras e/ou nas respectivas histórias: Emily Dickinson ou Sylvia Plath ou Ana C. ou Carolina de Jesus ou Virginia Woolf ou Beauvoir... Ai, ai, ai, as mulheres... De repente seria melhor escolher uma deusa de alguma mitologia. Mas não! Ficarei mesmo com as escritoras que são/foram/serão deusas reais e eternas. Em sempre: (Ainda mergulho de cabeça em uma paixão; mas checo a profundidade e a temperatura da água, coloco touca, tapa ouvidos e vou). Estico a mão para o céu e peço força captando alguma energia silenciosa. Na varanda, na minha cadeira, os cães deitados ao meu lado e um ar gélido, um céu limpo e os insetos em minha volta me observam. Estico os pés e apoio na minha escultura, “O tronco”, dou uma talagada no suco gelado de maracujá. O gelo aqui derrete em segundos, é quase um milagre sair da cozinha, sentar em uma cadeira e ainda vê-los boiando no copo. Meu corpo estala e já pede cama, meus olhos cansados, ardentes e coçando me convidam ao sono. Vou-me ao repouso, repousar o corpo, a mente, o bloquinho e a catarse que adoro, pois me persegue nos momentos mais curiosos, mais gráceis, carrancudos e impressivos. Em nunca: (agora estou satisfeito, debaixo de uma coberta fina o ventilador me banhando em ventos com o silêncio que a noite presenteia). Não há o que temer quando se tem como companheiro uma garrafa de saquê. É um paradoxo, pois se foge da luta encarando a fera. A verdade é que não está mais ali quem segura o quarto copo. Ele já se foi embriagado, alto em voo sem bússola sem tempo, o corpo físico presente, o espiritual enfermo sem intento e localização nos mapas. Mas o corpo que fica ainda tem força, tem luta, tem truta e maneja uma faca de caça e um punhal. É um perigo, arriscadíssimo, perigo descomunal. 

André Anlub

14 de maio de 2016

Imaginação mestiça


Imaginação mestiça

A imaginação dentro de seu raro aço,
Desembaraço das peças da adivinha,
Das vinhas – o vinho e o ‘barato’ – num corte
Espadas, esporas, gumes de facas
Os escárnios dos abstêmios, todavia...

Faz louca e bem-vinda toda a vida,
Sua moradia em peles ambíguas:
Branco no brando do plácido coelho;
Ao réu e aos ratos é cingido na cor cinza...
E impura e sinistra e baldia.

Bombas ao baixo, mãos ao alto, bom dia
Violência chorando na esquina chuvosa...
O touché na esgrima fez pontada na costela;
Eu e ela, vale a rima do nosso arrimo, nebulosa,
Sutileza e sangria e doce e vinho – melancia.

De aprontado feitiço nascem como hortaliças,
Nas ruas as nuas imagens em paragens insanas;
São fálicas e frígidas, finas piolas nada pulcras.
Tudo ao teor do amor e do terror da fantasia.

Esculpidos e arrazoados vemo-nos em vigília 
Ao renascerem belas múmias e inspirações extintas 
No horizonte o assombro de um alto monte 
Ao montante o tanto não vale a sombra no vale...
A imaginação eclode da sua armadura mestiça. 

Prosas loucas


Manhã de 1 de janeiro de 2016

Nada como um peixe após o outro... um anzol no meio... e nada bem. Depois dos percalços vividos ficam calos e vestígios... carrego os ossos do ofício, com mais cálcio e cuidado; cuidado... na minha vida não entre sem aviso! Já na estrada, na esteira estreita do caminho desconhecido; voo de encontro ao mar e a mim mesmo; vou mergulhar nos mistérios de algo novo que na verdade é eco presumidamente vivido e esperado. Talvez absolvição, quiçá apenas passo à frente, colocando um tijolo na parede e milhões de batidas no coração. Chegou minha vez, outra vez, já é quase sempre; sorriso de orelha a orelha no misto de querer a vez com a poesia em excelência e essência. É bom demais, é gratidão, é usufruto, é ‘usufarto’. Olhar por cima do muro é xarope de bom humor concentrado, em estado sólido, massageia a alma e retoca a alegria; é o presente que se auto desembrulha. No final das contas, quando acabar o espetáculo, as lonas forem recolhidas, o circo enfim desarmado, a mulher barbuda faz a barba, o mágico erra a mão em fim trágico, o elefante faz dieta e fica magro, o leão domesticado, o equilibrista inebriado com a garrafa de vodca no sovaco, o anão vira rei num seriado, o atirador de faca é esfaqueado; no final do espetáculo... o único risonho é o Palhaço. Minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; a vida é um teatro e faço de tudo para valer a pena; vivo na coxia, mas de quando em quando entro em cena. O Sol canta de galo; a lua canta de Gal. Não se fala em outra coisa; pelo menos aqui dentro da cachola redonda em cima desse pescoço cilíndrico, em cima da boca falante, sem educação; em cima das tatuagens matreiras, do corpo que já foi magro, foi trato, foi gordo; e assim roubou o sonho que havia sonhado, o bando bandido de aves que se diziam bem-vindas, traídas e atraídas ao céu enevoado. Estavam ligadas ou não no lance? Metendo o bico aonde não foram chamadas? Aves tudo podem! Há uma crença do cresça e apareça, depois meça sua largura, some com sua altura e esqueça o resultado... apenas descubra se o lago transborda... e quando as águas rolarem e os peixes sufocarem, apenas exponha se ainda é bem quisto ou preferia continuar sendo menino. Vê-se o translouco atravessando a ponte; só se é louco de perto, pois de longe se é pouco – não se importuna – ou se é monge, ou se ruge a face, rubra o rosto, range os dentes ajeitando os dedos: não se fala em outra coisa; pelo menos nesse passar das horas de supernovas, de supernovos, que seja pouca, mas a voz até que sai; no início fez-se o sacrifício de ser tudo sem nada ser; no meio tempo eram máscaras que caiam, disfarces, Descartes e sua filosofia certeira; no fim o grito não saiu vazio, o som se fez em música indo à noite, indo à cama, na farra, no banho sem sonho, sem rumo e sem par. Minha base é estar voando parado em tudo quanto é lugar; não se pensa em outra coisa.

André Anlub

Prosas loucas


– Madrugada de 1° de maio de 2015 
(como onda só – assaz bela, mas só)

De quando em vez é melhor parar de pensar chatices. Na árvore da vida nunca se sabe qual galho segura o fruto, qual está podre e qual segura o fruto e se quebrará em podre. De qualquer maneira se deve adubar sem o adubo dúbio do mais fácil, trivial e raso.
O abajur aceso ilumina meu conhecido bloquinho. E as sombras feitas na parede dos objetos que se mexem pelo vento do ventilador desafiam minha imaginação. Taparam meus olhos para uma futura surpresa; desataram minhas mãos para as verdades do mundo. Os ouvidos voam atrás de boa música enquanto o corpo clama pela sobremesa. Agora não há mais tempo; não desisto nem do que já desisti. Pois vivo a remoer velhas charadas... Há tanta história dentro desse prólogo que eu poderia até parar por aqui. Mas vou além, o voo e as nuvens me aguardam nos vales querendo minha companhia. 
A língua está solta como nunca, a mente tinindo de alegria, e a sensação de nunca mais ir dormir sozinho. Há mares esperando meu barco adentrando, meu delicado mergulho e minha pescaria; não quero temperar demais o peixe – deixa-lo muito tempo no sal – apenas o necessário à língua... Meu amor, meu amar, estou indo. 
O que será que acontece quando a aranha tece sua melhor casa, sua zona de conforto? O sono vem arriando, dando gancho psicológico de direita; agora é fugir do lógico e ir ao básico do mundo. Desligar o tri e o bifásico. 
Nesse mundo incógnito – do ontem do amanhã do agora – ninguém é rico ou ferrado, pois não importa aos olhos do Deus que o governa. Como também não deveria importar nesse mundo aqui fora.

13 de maio de 2016

(como “hoje desafio o mundo sem sair da minha casa”)


– Tarde de 29 de abril de 2015 
(como “hoje desafio o mundo sem sair da minha casa”)

Veio um cheiro de sopa, aquela que a avó fazia nos tempos de criança. Geralmente quando eu adoecia. De repente é psicológico: o cérebro me pregando uma peça. A solidão agora é momentânea – é tempestade – que passa rápido e me dá até gosto – até gosto – pois refresca. Aprendi a lidar com a solidão não sendo solitário, pois às vezes a escrita pede reclusão e às vezes a leitura o isolamento; há tempos havia muita companhia, mas também um vazio importante a ser preenchido e isso me tornava só e sempre disperso. Achei à escrita, achei o meu Norte. Hoje tenho poucas, mas importantes e essenciais companhias: escrita, companheira, cães e alguns amigos, e sinto-me completo... Acho que amadureci nas carências, pois hoje em dia me conheço melhor; conheço meus defeitos e os assumo sem medo e piedade (é no assumir que se dá o primeiro passo para a correção). Desfoco as certezas (pois já estão certas, o que há de se mexer?) medito e foco absoluto nas incertezas; desconstruo o que me faz mal, pois tudo que faz mal pode e deve ser desmontado e não destruído. Se você destrói algo, acaba deixando destroços que podem vir a atrapalhar no seu caminhar, fazendo-o tropeçar e, por conseguinte, ter que remover do caminho - fazendo novamente um elo com aquilo. Em poética: Sinto sempre que há o toque da aquarela, há o tom certo para cada olhar, fazendo de cada olha a paisagem de gosto. 
Vidas ambíguas acontecem e não é a falta de tinta, pois nada deve mergulhar ininterruptamente no colorido e/ou no preto e branco. Até porque um e outro são cores. Vidas de umbigos também aparecem, e temos que saber lidar/liquidar/adestrar o ego. O ego é uma das armas mais perigosas existentes no mundo, até mais que o dinheiro. Ele se camufla, se mascara, se maquia, transmuta, diminui e cresce conforme sua penúria de existência, ostentação, parasitagem e sugação/destruição. 
Quem domina o ego tem total domínio da imagem, das vitórias e derrotas, dos sentimentos crus e da convivência salutar perante a sociedade. É algo que foge do diálogo raso, de fofocas e intrigas, de manipulações e insolências. O modo mais rápido, fácil e democrático que encontrei para domesticar meu ego foi no autoconhecimento, na meditação e no espelho eterno que crio diante de mim. 


12 de maio de 2016

Prosas loucas (parte 6)


Manhã de 6/4/16

Obstinado pelo obscuro, fecho os olhos e tudo fica mais claro; Como a marca de ferro quente no lombo do boi, deixando a cicatriz do ‘V’ de vitória. Ouço um canto, e todo canto causa curiosidade; torna o verde mais verde, os pássaros não tem nem metem medo; fui e voltei, junto a eles, em lugares perdidos, terras de zés achados e zés ninguém. Exercitei as alegrias, aqueci as salvas de palmas, alegrei almas em fantasias... no cinema da vida tudo é replay, mas é sempre novo e mais deleitoso o rever. Há pessoas exibindo sorrisos (talvez sinceros; talvez de ocasião). E vai vento, é vento na venta, o ar mais puro, pulmão limpo, incenso de maça, oxigênio, alegrias, amigos, poesia... tudo para se dizer: vivendo. Voei por cima da angústia, sobre a rua Augusta focando no Caos; voei como nunca havia voado antes; voei em pêndulos retos e traços tortos; voei agora pelo Bairro Peixoto, em Copacabana. Nada mais que eu fale narraria com merecimento a emoção; talvez levantar as mãos ao alto e – num gesto ingênuo e sincero – pedir perdão. 

André Anlub

11 de maio de 2016

Prosas loucas


Prisioneiro Deposto no Líquido sagrado de Baco

Rodei pelos bares e espeluncas da vida, em puteiros falidos e mulheres de esquina; já me vi na latrina, na obscuridade do ser, e seguindo nas vozes o que devia fazer. O corpo e a alma, tão visível ameaça, cicatriz ao lado das tatuagens; e quentes miragens se fundem na carcaça, fazendo graça sem ao menos me conhecer. Me camuflo e prossigo adiante, o coração é imundo, mas não carece de morrer. Morto por dentro, um desfavor de outrora, e morto por fora em vários prévios instantes. Um adendo: na roleta russa do desgosto vejo seu riso no alvedrio da bala. Gritos e falas em minutos se calam, apontado ao ouvido ao som do breve estampido. Rigoroso tempo na tela do céu azul, enorme pingo quente dourado, aflito caminho sem norte (também sem sul). Espero o cair da noite e vou-me frenético abraçar a boemia: mesas bambas dos bares sinto-me bem, é aquilo ali que quero. Paredes descascadas, lavabos de intolerável cheiro ruim, o garrafão de vinho barato: todo feio se faz tolerável; o detestável é alegoria. O porre corriqueiro: Janeiro, meu aniversário, tudo que é falso torna-se verdadeiro. Larguei o último copo e voltei ao primeiro – onde a mente vai demudando, o tom de voz aumenta e enterra-se a tormenta. Voo bem calmo ao terreno estrangeiro. A insanidade das horas perdidas no líquido sagrado de Baco, com uma mão vai afundando o barco e com a outra fornece o salva-vidas.

Prosas Loucas


– Manhã de 29 de abril de 2015 
(com um quê de barba feita)

A animação acorda junto! Coisa rara atualmente, mas sempre muito bem-vinda.
Abri meu jornal eletrônico e li sobre política. É, politica. Aquela coisa que muitos odeiam, alguns participam e muitos não entendem. Todas as vezes que faço uma postagem com algum cunho político me arrependo! Acho que realmente fica complicado quando se fala o que as pessoas não querem ouvir (até mesmo quando se está do lado delas). Vou me ater em escrever meus singelos rabiscos e continuar me expondo politicamente somente no meu voto e no boteco da esquina onde bato meu ponto, jogo gamão e derramo meus copos. Lavo o rosto e vejo aquela cara de ontem, meu cabelo está carecendo de um corte curto, é mais prático e o calor abranda. Escovo meus dentes, lavo novamente o rosto, faço meus alongamentos e vou-me ao banheiro de fora, da área dos fundos. Lá já tem um livro me esperando e o meu trono que adoro. Agora vamos falar em poesia, em algo romântico que me toca, me desmancha e me conserta, me dobra e desdobra, me faz feliz e moleque. Já estou pintado de guerra, já ouço tambores e ao fundo a água cai de um céu pardo e enterra meu otimismo. A espada é das Cruzadas – a roupa de soldado negro – botas de couro bem grosso – olhar de quem já morreu de véspera. Dilacerei meus fantasmas em praça pública ao som de Björk, a luz de holofotes com canapés diversos e uma vodca da boa. Era uma manhã como a de hoje, quarta feira; era Maomé indo à montanha e Maria indo à feira; um carro avança um sinal, outro estaciona erroneamente em vaga de deficiente; uma criança cai muito doente e de repente cai meu astral. Fui caminhar e me deparei com um belo castelo de cor púrpura, com um capacho enorme na porta escrito: “Essa casa é sua”.  

(com poética, dialética aritmética e dislexia)


– Manhã de 12 de setembro de 2013 
(com poética, dialética aritmética e dislexia)

É a tal: por favor, aguardem contato, anunciaram a chegada na hora; cheira forte e choca os olhos, queima a pele e dá até barato. A caça do homem no largo lago (um peixe e a saudade no prato) é a lágrima que chega mansinha no sorriso da boca na esquina. Fez louca a agonia do peito e a merecida alegria no tato. Fez da arte gato e sapato, do seu jeito só nesse feito. Alguém pergunta o que sugerem pra hoje: o cardápio está em letras gregas. Vejo estátuas sem todo o braço, ouço o voo de moscas varejeiras. Vem bom humor e o pavor de perdê-lo, o problema é mais que emblemático; vem matemático e fica cabreiro; vem o cosseno, o seno e o quadrado. E no porta-retratos a verdade, a neurose que não faz sentido; indo à toa, à tona e a esmo, não é o mesmo que felicidade. 

10 de maio de 2016

Utópico tempo


Utópico tempo 
(André Anlub - 5/7/10)

Disseram-me para dar tempo ao tempo!
O mesmo passou...

Sóis e luas, estações, os anos,
Rugas, cabelos brancos.

Perdi alguns amigos,
Ganhei alguns zunidos.

Não soltei pião,
Nunca aprendi violão,
Jamais namorei de mãos dadas,
Tampouco chutei latas.

Perdi praias e cachoeiras,
Ganhei cataratas.

Dar tempo ao tempo?
Eu o fiz...
E ainda não fui feliz!

Tenho alma em aquarela,
Alma fundida, misturada, afável e zen;
Alma branca, negra, amarela... 
Às vezes com tons de cinza,
Mas não só cinquenta!
São pra lá de cem.

Prosas loucas


– Madrugada de 27 de abril de 2015 
(com uma enorme saudade do amanhã)

Sempre me flagro longe, pensando na minha velhice, na minha careca reluzente e no meu coração ainda batendo e amando, pescando em águas calmas e fartas de peixes e poesias; é recorrente. Penso no meu futuro barco simples, azul turquesa, nas águas de uma cidade do nordeste. Um barco com aquela tradição de um nome feminino escrito em letras simples e sóbrias nas laterais da embarcação... Há um tempo eu colocaria alguma pintora que gosto, que simbolizou algo em mim: Tarsila ou Djanira ou Haydéa ou Malfati ou Lia Mittarakis...  Mas hoje em dia mudei, e o mais provável é que seja o nome de uma das escritoras que também me marcaram, nas leituras e/ou nas respectivas histórias: Emily Dickinson ou Sylvia Plath ou Ana C. ou Carolina de Jesus ou Virginia Woolf ou Beauvoir... Ai, ai, ai, as mulheres... De repente seria melhor escolher uma deusa de alguma mitologia. Mas não! Ficarei mesmo com as escritoras que são/foram/serão deusas reais e eternas. – Em sempre: (Ainda mergulho de cabeça em uma paixão; mas checo a profundidade e a temperatura da água, coloco touca, tapa ouvidos e vou). Estico a mão para o céu e peço força captando alguma energia silenciosa. Na varanda, na minha cadeira, os cães deitados ao meu lado e um ar gélido, um céu limpo e os insetos em minha volta me observam. Estico os pés e apoio na minha escultura, “O tronco”, dou uma talagada no suco gelado de maracujá. O gelo aqui derrete em segundos, é um milagre sair da cozinha, sentar em uma cadeira e ainda vê-los boiando no copo (exagero). Meu corpo estala e já pede cama, meus olhos cansados, ardentes e coçando me convidam ao sono. Vou-me ao repouso, repousar o corpo, a mente, o bloquinho e a catarse que adoro, pois me persegue nos momentos mais curiosos, mais gráceis, carrancudos e inesperados. – Em nunca: agora estou satisfeito, debaixo de uma coberta fina o ventilador me banhando em ventos com o silêncio que a noite presenteia. Não há o que temer quando se tem como companheiro uma garrafa de saquê. É um paradoxo, pois se foge da luta encarando a fera. A verdade é que não está mais ali quem segura o quarto copo. Ele já se foi embriagado, alto em voo sem bússola sem tempo, o corpo físico presente, o espiritual enfermo – sem intento e localização nos mapas. Mas o corpo que fica ainda tem força, tem luta tem truta e maneja uma faca de caça e um punhal. É um perigo, arriscadíssimo, perigo descomunal; lembrou-me: “É a tal”. 

Prosas loucas


 – Tarde de 26 de abril de 2015 
(com esse bagulho que é o barulho)

O silêncio pega pelo pé; por isso sempre estou em companhia da música; tomei gosto por expor o que ouço ao escrever... É um toque, é um tique, é uma marca. Agora escuto “Poles Apart” do Pink Floyd, e com ela rabisco algumas ideias. O barulho, no ar, solto, solta minha alma. Mas tem que ser um bom barulho – o meu barulho –, e não precisa ser alto. Se não houver música volto-me ao barulho dos pássaros ou das ondas ou dos latidos ou dos gemidos ou da leitura que imerge no silêncio de todos os sons. Sou flexível aos sons naturais e sou extremamente austero aos sons do homem; chego a ser o chato que beira o caricato; chego a ser um pouco incoerente, pois sou o moderno de fones no ouvido que saem de um aparelho minúsculo com mais de duas mil músicas de outro século. Mentira! Há sons novos no repertório... Bem poucos, mas há. – Saindo do assunto: esse bagulho que faz um “barulho” bizarro que voa sem direção e aterrissa sem hora marcada; que toca no coração e na alma e (muitos dizem) na inspiração; que acende e queima em um cigarro ou em um cachimbo, sem ou com ritmo... E faz estrago, ou não – dá barato, ou não –, custa caro, ou não – pode custar vidas e causar mortes, ou não –, mas sempre cria muita polêmica e discussão.  Mas é outro assunto, para outro dia, outra estação. – Voltando ao assunto: peguei carona na leitura alheia que bateu na veia e tirou à teia e atiçou a aranha a fazer outra, futuramente. 
Os versos me saem famintos e querem mergulhar no branco da folha ou na tela alva do computador, quiçá na orelha da amada, arrepiando a nuca e os braços, ou simplesmente ser falada ao vazio do ar. Esqueço que os meus versos querem navegar (mas metaforicamente) – pelo menos os meus; todos os meus escritos, versos e até desenhos voam (mas metaforicamente²), pois na verdade saem em um veleiro, em um barco atraente (mas metaforicamente³); às vezes pega um mar de calmaria marmórea, sem brisa, sem onda, só aves que soltam sons baixíssimos e passam famintos dando mergulhos certeiros. Saem com aquele peixinho no bico e o sorriso implícito. Mas outras vezes é um mar agitado, assombroso, terrível, com uma bela ilha ao fundo e um sol acanhado que aguardam a chegada das letras. 
Ando lendo muito (além do corriqueiro) e nesse período estou devorando: “Confesso que vivi”, também o livro de uma amiga e Ana Hatherly... Fora as leituras digitais e de notícias. Acho que engessei um pouco a mão (apesar de estar há meses mergulhado em duetos com um grande poeta e amigo) e “desengessei” meu tempo comigo: estou orando mais (do meu jeito insano) e tentando aumentar minha constância na meditação; há tempos mudei de maneira drástica minha alimentação, focando o natural e comendo peixe e frutos do mar seis dias da semana; tem um ano e meio que venho correndo todos os dias (para ter direito a um dia de folga), sem escolher dias ou criar normas e horários, apenas o próprio tempo da corrida. O silêncio agora será quebrado pelo fim de tarde que chega e meu mergulho na piscina, uma cerveja sem álcool e um bom filme. Vamos atualizar os minutos, vamos fazer diminuta essa noite que chega rasgando – despedaçando meu tempo que foi devidamente aproveitado nesse domingo acabado, nesse sol que se foi... Amanhã já é nova semana e nova incidência da inspiração. 

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.