9 de junho de 2016

Folhas que voam


Na insistência do derradeiro amor
(André Anlub - 14/9/12)

Nas areias da praia inabitada de sua alma,
Caiu de súbito aquele imenso raio;
Transformou-se no mais resistente vidro:
Ninguém vê - ninguém pisa...

Ninguém quebra!

A perspectiva de um admirável amor
Faz bater o peito num ritmo frenético;

E é diurético no sangue que corre ligeiro
Feito um vírus bom, que espalha e entorpece.

Como uma cena em um teatro, à meia luz,
O espectador levanta e ovaciona...

Palmas ecoam por toda a realidade,
Fazem ondas que sorriem
Pelos mares, areias, pelos lençóis.

Sentimento inquestionável - inquieto
Incluso e visível até no breu mais profundo;
Transformou-se e foi transformador,
Agigantou-se - tocou o céu.

Ao menos um vento traz a verdade
Segredo de algum guerreiro antigo;
No céu o azul mais novo e amigo
Que exprime a valentia de apenas ser admirado.

Assim passou o dia,
Deixando só a memória
De mais um belo momento...
Ficam a saudade e o lamento,
Ficam o saber da busca e a brisa... 
Mas também por pouco tempo. 


Não é só ser feliz e ponto... 
É ser feliz e ponto, ponto e ponto;
Ser feliz com reticencias!


De toda a imensidão do planeta,
Só quero estar nesse mar belo
De Iemanjá, Iracema, Otelo. 
Mar de perfeitos sonhos,
Folclores, tesouros e viços;
Mar dos nautas,
Vikings, corsários
E navegadores fenícios;
Mar de amores lendários, imaginários, antigos...
Amores concretos, ambíguos
E de interminável poesia que em toda alma habita.

7 de junho de 2016

Vai, que pega no tranco!


Manhã de 27 de outubro de 2015
Em tempo, vão-se os papéis, drivers, pen drivers, nuvens e véus... mas ficam os enredos.

Da minha boca sai dublagem, mesmo calada é dublagem; sai dublagem feito fuligem da minha seca boca. Inerte, costurada, sonífera, boca que sai poesia e fala às avessas, aos maltrapilhos e aos ‘becados’ de fraque e relógios de ouro. Línguas estranhas, saídas frenéticas, a ansiedade torna o indivíduo impaciente e até mesmo antissocial e egoísta; há de se não ter vergonha de assumir o problema, buscar tratamento e assim melhorar o convívio com o próximo. Mas a língua continuará por lá, em ‘stand by’ aguardando o tiro de largada. Os lenços estão limpos, novamente brancos, com nossas iniciais bem no cantinho. Comi uvas, cenoura crua e picada, atum delata e pepinos frescos, milhos, tomates cerejas... sujei meu divino divã imaginário... mas já limpei; contei meus segredos segregados... mas já espanei; já suguei todo sangue dos malvados... mas ainda não regurgitei. Palavras já ditas e frases feitas vindas de um louco menino. Algo do meu feitio pode ser feito, feio e fechado, arquivado em meio aos mistérios, fino no meio fio. Ponho-me a explorar o Cosmos, algo assim: desconhecido. É estranho, é ambíguo... é verdadeiro, sadio verdureiro e bem antigo... coisas de feiras livres. Saudade das feiras livres, do pescado, das frutas frescas e da xepa com hora certa... Amo o Brasil, beijo-o e flerto com suas mulheres, suas praias, maresias, suas poesias, favelas e botecos; apesar de muitas vezes concordar com os complexados vira-latas que bradam contra o Brasil – até achar que eles podem estar sendo sinceros – acho que o que dizem pode soar um misto de oportunismo, auto vanglorização, ingratidão e evidente menosprezo com o lugar onde nasceu. É aquela história de comer aipo: foi provado cientificamente que a energia gasta na mastigação é menor que a energia que o aipo lhe dá. Da minha boca não só sai dublagem... na fala se gasta energia... então, ao menor sinal de insatisfação tento melhorar a coisa, tento opinar para uma evolução, pois sei que apontar dedos de nada adianta. Super simples, acho que escrevi algo assim, a boca no transverso e no travesso e em anexo, o verbo; bebo e verto, inverto o abeto, embebo, indexo e enlouqueço... planto a árvore e grito com a voz rouca sem fim, o mesmo lamento em asas de um anjo jovem. O que foi feito foi nada feio (aliás, foi belo). As ruas limpas, os rios descem rapidamente sob o sol quente e brilhante. Era assim, é assim e acho que será assim no futuro próximo e também no bem longe. Todo dia a noite me beija quente e me desafia – fico feliz; toda noite o dia me grita doce e baixo que me espera para limpar a baba do beijo da noite. Se isso será sempre assim, arrumadinho? Não sei dizer! Morcegos amigos, asas negras, orelhas compridas, olhar certeiro na cegueira bem vista. O interlocutor se perdeu, gaguejou, borrou as calças e desencantou... aquela fala pormenor até queria ser entendida, ai de mim – por bem, por mal, ai de ti... e quem fica? Só fica bem na praia da Boa Vista (em Paraty). 

André Anlub

#MeuAmigoSecreto

Livro ‪#‎MeuAmigoSecreto‬ do Coletivo 'Não Me Kahlo' (Prefácio de Djamila Ribeiro).



Amar é uma arte, mas o correto é tender mais para a poesia do que para o teatro.

Aqui dentro (André Anlub® - inspirado no escrito “lá fora” de Ana Cristina Cesar)

Há um amor
que trabalha arduamente
por tudo e todos
por dias e anos
e até no sem fim.
Existe o rugido 
de uma fera risonha
que toca e cura, 
enxerga e expurga
a semente obscura.
Há a melancolia 
de cartas queimadas
amores deixados 
em tempos partidos.
Há foto no porta-retrato
sempre alterada
do preto e branco
ao colorido sem brilho.
O ontem no calendário
transtornado e aflito
por fazerem dele
um amanhã vazio.
Há boatos de sorrisos
também falos umbigos
de mentes mecânicas
e corpos esguios.
Na uva, na ameixa, na seda
na beleza completa
da mão que acaricia
um rosto pelas manhãs.
Sem esquecer-se do elemento
Esticando as curvas
em linha reta de traço
rompendo dimensões
no ingênuo abraço.
Tem limão e tem dente de alho
e o pagão reservou seu lugar
para o paladar em sacrifício.
Agora sai em desafio
correndo no meio fio
e folhas deixadas voando
dos livros de Ana Cristina
de Sylvia e companhia
para outros olhos no cio.

Cristais no breu total


O verde vivente evidente
Nunca está de 'saideira',
Faz nuance nos raios dourados do sol,
Que surgem e somem ao bailar das folhas
E no cair das sementes da jabuticabeira.

Os motores aos ouvidos em dores;
Os odores do carbono a calhar;
O cruzar de mil pernas;
As janelas com visão limitada
A fumaça, o fantasma, o aforismo, a falência
E a empreitada de ser e estar.

O Dono (do livro “Poeteideser”)
(André Anlub - 16/5/10)

Pulando de nuvem em nuvem,
Jogando bola com o sol;
Pintei o arco Iris de preto
E mostrei a língua pro furacão.

Usando um vulcão de privada,
Canal do Panamá de piscina,
Posso estar em qualquer estrada,
Posso dobrar qualquer esquina.

Eu uso a Itália de bota,
Bebo a Via Láctea no café;
Sou Deus que troca Vênus pela Lua
E depois me escondo onde quiser.

Tudo posso e faço
Tudo com minha criação
Poeta da tinta e do espaço
Sou dono da imaginação.

Buscando plenitude e paz no dia a dia,
Nas águas límpidas do saber viver,
Achando sempre muito mais,
É assim que tem que ser.

Choro por muitas vezes sem motivo,
Posso chorar por você!
Estendo a mão a qualquer inimigo,
Simplesmente por não aguentar vê-lo sofrer.

A Lua e o Sol se completam,
Mesmo sem se tocarem;
Faço inimagináveis incógnitas,
Sou vultos por todos os lugares.

Quebro a barreira do som,
Posso fazê-lo ou não,
Mas mostro o poder maior
Que é grande nesse meu dom.

Falo em línguas estranhas,
Olho por todos os ângulos,
Dono de todos os tesouros,
Mestre de todas as façanhas.

O som das ondas é meu grito,
Refugio das manhãs tristes,
Um vulcão que sangra com meu sangue,
Dias mais que felizes.

Deito-me devagar vendo a terra tremer,
Sempre ao levantar, meu suor, orvalho.
Piso na neve para fazer planícies
E com poesia choro chuvas sem querer.

Na escuridão de um fechar de olhos,
Pensamentos voam como falcão,
Vagueiam em um amor que nunca existiu,
Falhas de canyons, rachaduras do coração.

Estar irritado é impossível,
Extinguirá a vida e o mundo;
Sou totalmente previsível,
Nunca serei um moribundo.

Acordei um pouco cansado,
Pensei em apagar o sol;
Dei um sorriso mal humorado,
Fui caminhar dormindo acordado.

Bebi toda água do rio Negro,
Usei uma nuvem como espuma de barbear,
Subi no cume do Everest buscando sossego,
Mas já havia gente por lá.

Com uma pirâmide palitei meu dente,
Usei o lago Ness como espelho d’água,
Fui para o Aconcágua, mas também havia gente,
E lá rio Tâmisa afoguei minhas mágoas.

Posso ser o dono, mas mesmo assim sou gente,
Crio o universo, mas também me enfastio.
Vou já indo para Marte como um indigente,
Gritar feito louco como uma gata no cio.

6 de junho de 2016

Arquivo Morto


Arquivo morto*
(André Anlub - 19/2/13)

Enlouquece, tonteia;
Entorpece, abala.

No coração, na veia;
Emoção enigmática.

A coisa é séria, muito séria!
Vai um, vem outro...

É uma constância,
Por isso não faz sentido.

Pela manhã tudo estará bem,
É mais ou menos assim:

- No íntimo ficam as lesões,
Escapam os heróis
Para encararem um novo amor.

Entupindo o coração de ideias,
Cachoeiras de avejões;

Nesse amor de veracidades
Suas pegadas, espaçadas,
Na areia limpa e macia...

Pegadas de danças e festividades
Da mais pura devoção.

Quando esse sentimento aflora
Há a "refrescância"
No coração, na língua, na alma, no corpo...

Mas nem se sabe se essa palavra existe:
- não se encontra em dicionários...

Refrescância...
É morta – torta
É arquivo – morto.

Rumo à outra!

*publicado no livro Sicrano Barbosa e em diversas mídias


Poemas à Flor da Pele


Poemas à Flor da Pele sempre lançou novos poetas.
Passados 10 anos muitos falam, felizes e agradecidos, do fato de terem divulgado seus textos pela primeira vez conosco, isso é uma honra imensa! Eu quando leio me emociono.
Muitos fazem parte de Academias, Associações, já tem livros publicados e se destacam no cenário literário nacional. É uma alegria! Deixo por conta deles revelarem-se.
Este ano temos novos autores publicando, a história é outra, muitos pela primeira vez, mas outros são oriundos de flertes poéticos de muito tempo, e, enfim estão namorando com a Poemas, aceitaram participar pela primeira vez, obrigada a todos por engajarem-se em nossa caminhada poética!
A inscrição é até 31 de julho, venham....

Soninha Porto

1. ANA LUCIA ROLLO - primeira vez divulgando seus poemas;
2. ELIANE TONELLO 
3. IARA SCHMEGEL 
4. IVANETE DOS SANTOS - primeira vez divulgando seus poemas;
5. MARINÊS BONACINA 
6. MARIZA SORRISO 
7. MATUSALEM DIAS DE MOURA 
8. ONEIDA DOMENICO 
9. ROZÉLIA SCHEIFLER RASIA 
10. TIAGO VARGAS
Todos os participantes.
1. ADÉLIA EINSFELDT
2. ADROALDO BORBA 
3. ANA LUIZA CONCEIÇÃO
4. ANA LUCIA ROLLO 
5. ANA MELLO 
6. ANDRÉ ANLUB
7. ARLETE TRENTINI DOS SANTOS
8. BASILINA PEREIRA 
9. CLAUDETE SILVEIRA
10. CRIS MB BRANCO 
11. DORONI HILGENBERG 
12. DOROTY DIMOLITSAS 
13. DYANDREIA PORTUGAL 
14. FATIMA DE ROYES MELLO 
15. ELIANE TONELLO 
16. GLADIS DEBLE 
17. GLAUCO SILVA 
18. GLORINHA GAIVOTA
19. IARA PACINI
20. IARA SCHMEGEL 
21. IVANETE DOS SANTOS
22. JAIR PAULETTO
23. JC BRIDON
24. JORGE DU BARBOSA
25. KARLA JULIA
26. MANU DIJIN CRISTINA 
27. MARDILÊ FRIEDRICH
28. MARIA HELENA MATTOS
29. MARINÊS BONACINA 
30. MARIZA SORRISO 
31. MARY LOVELY
32. MATUSALEM DIAS DE MOURA 
33. ONEIDA DOMENICO 
34. PINHEIRO NETO 
35. REGINA LYRA 
36. ROGÉRIO GUARALDI 
37. ROSÂNGELA DE SOUZA GOLDONI 
38. ROZÉLIA SCHEIFLER RASIA 
39. SONIA MARIA GRILLO 
40. SONINHA PORTO 
41. SIGRID SPOLZINO 
42. TIAGO VARGAS 
43. TELMA MOREIRA 
44. VANY CAMPOS 
45. VANNE F. MARISCO 
46. VERLUCI ALMEIDA
47. ZAIRA CANTARELLI 
48. WANINHA MONTEIRO

5 de junho de 2016

Uma excelente semana aos Amigos!


Noite de 20/4/15 – poética e orgulho das conquistas

Iniciava-se: há ditadores querendo salgar a carne do churrasco. Isso é inadmissível! Fiz aniversário no começo do ano; não tinha bolo, mas tinha bala! E da boa, e bem doce. Não sou mais um consumidor assíduo de doces, só os mais “light”. A criação atualmente é meu carboidrato, minha glicose, minha paçoquinha, meu doce de leite com suco de amora (vou comer torrada com ricota de leite de búfala e, de sobremesa, trufa de chocolate). Agora vi na televisão: mulher deu a luz a cinco crianças; agora olhei para o céu e cinco estrelas se destacaram. Medianamente o meridiano escolhe uma ponta; espontaneamente o espontâneo fica indeciso. É muito siso para um inciso nessa pouca boca; é muito oca para se construir uma oca e ocupar todo espaço preciso (vou tocar Blues pesado na minha gaita de boca e pegar pesado no semblante de louco). Farei aniversário no começo do ano que vem. Talvez tenha bolo, talvez tenha bala! E, de boa: nada de doce.  

Cotidiano
(André Anlub - 28/11/10)

Com idade de ser um homem feito
E com defeito que carregamos no peito,
Faço uma rima com carinho e verdade
E não imagino como seria de outro jeito.

E não aceito essa tal desigualdade,
Com respeito durmo tranquilo no meu leito.
Acordo às cinco horas com muita vontade,
Faço um verso para alegrar o meu dia.

Vou correndo pra bendita labuta,
Não vou xingado igual uns filhos da truta.
Vou contente sabendo que mesmo tardio,
O meu salário aparece no bolso.

O meu esforço jamais é a esmo,
Minha índole continua um colosso.
Por um momento paro e escrevo,
Por um segundo paro e te ouço.

Dá-me um abraço e me deseje bom dia;
Pego a marmita e encho de novo,
Carne moída e um bocado de ovo,
Para dar sustância e também energia.

Logo às seis horas largo esse batente,
Vou ao dentista arrancar mais um dente;
Chego em casa com uma fome danada,

Marco presença com minha doce amada.

Não é filósofo, tampouco profeta.

Trem de perfume e fumaça       
(André Anlub - 25/03/13)

Não se sabe se o perfume se espalhou
Pelos bosques coloridos e imagéticos.
Na nossa aldeia, logo, logo, deflagrou:
O colírio, canto lírico e poético.
A proeza dos sãos bardos atracou
Lá no cais latem os cães dos letrados.
Viu-se o verso no reverso - só versar.
Fez-se a música que alindou o ser amado.
Bela a rima morro acima – No luar.
Brilho forte do sorriso – A majestade.
O vai e vem ao som do trem deixou saudade.
De joelhos o anel da união, juramento que testemunha
A branca garça.
Iluminou o casto amor do sim sem não.
E foi-se o trem - longa estrada... fica fumaça...

4 de junho de 2016

3 Contos da Luz e o Diamante

Por André Anlub e Rogério Camargo

CXXIII
As manhãs presas no bucólico doentio, arrepiador nu-blado infindável e sombrio. Há dias assim! O sol às vezes surge à tarde e não apraz para meu majestoso sorriso.
As manhãs ficam presas no que poderiam ser, lá longe, como a névoa que engoliu a caravela.
Dói à saudade dela – a poesia e ela –, a vida e ela. Dói a liberdade de estar sozinho, de fazer o que quiser, sem cárceres e ninhos.
Caminhos ébrios de vinhos ruins. Tonteira. E tropeços. Cair, chorar a queda – que arremeda a vida – e tentar de novo.
A cobra comendo o rabo não pode pôr o ovo; então sol-ta-se o calor e salta-se o frio, absorve o pavor aquecendo o café frio.
Minha vida é um amanhã agora. Desencapo a harpa que não sei tocar, ponho os dedos na harpa que não sei tocar e toco.
Troco umas notas – ré por mi. Ando de ré, mas para a direção sensata para mim.
O som me embala e cala a voz atroz do “tudo por nós , nada por eles” – sendo que eles são os todos outros que também sou eu.
O bem me fala e me segreda que o bom é vê-la em so-nho, vê-la em vida, vê-la em tudo em todos, sobretudo em mim.
Mas é manhã ainda, o sol continua não cumprindo o que prometeu (ou acho que prometeu) e por entre o cinza da neblina brilha apenas uma esperança de que se dilua.
Se nada acontecer ainda terei a lua, e com ela a visão sua, nua, como sempre há de ser.
Se tudo acontecer, terei a lua ainda, e com ela a revisão crua, nua como sempre há de ser.

CXXXIV
Chega da rua com as mãos carregadas de outras mãos
Os pães ficaram na padaria, os cães na esquina.
Ainda tem olhos de perguntar: onde estão os pães? On-de estão os cães? Que mãos são essas?
Esqueceu as histórias que iria contar: quem é Mrs. Dal-loway? Quem é Daenerys? Quem é Cinderela?
Tem olhos que perguntam mas não tem olhos que res-pondam. Então chega da rua carregado e descarrega.
O coração, a cabeça, a alma, a voz de esquizofrênico há tempos não dizem nada.
De frente para si mesmo está de costas para si mesmo.
É meio torto, mas o espelho só tem valia de frente a ou-tro.
Chegou da rua e não foi procurar um espelho. Chegou da rua sem pensar que espelhos existem. Chegou da rua carre-gado e descarregou.
As mãos que carregava carregavam sonhos; e os sonhos largados ao chão foram se espalhando por toda a casa.
As mãos que carregava e carregavam sonhos bateram palmas, pedindo urgência, pedindo muita urgência.
A imagem sem alguma inocência avivou a memória, remetendo ao palco e a outras histórias.
Não iria contá-las. Não para si mesmo. Mas sonhos que caem de mãos trazidas da rua não eram novidade no chão da sua casa.
Suas mesa e cama estava há tempos vazias de fantasias. Todas as suas musas e seus mousses ficavam na nostalgia.
Vivia pelo sonho dos outros. Chegava da rua com as mãos carregadas de mãos carregadas deles. Elas o incitavam a juntá-los. Ele os mirava do alto da apatia.
Nunca teve medo de carregar mãos vazias, de levar uma tapa ou até ser morto.
Seu problema não era falta de coragem. Seu problema era falta de si mesmo.
Deu-se então um abraço tristemente desconsolado e prometeu no dia seguinte ir em busca dos cães e trazer pão quente para casa. Nem que fosse o da véspera.

CXXV
Em uma imersão no azul o Anu faz graça de graça aos olhos nus.
Nudez cheia de encanto que, por enquanto, vale mais que qualquer moda.
Em algum lugar do país, todos os anos, o Anu come seu angu com anis.
Separa o caroço, sem alvoroço e guarda do almoço para um descansado jantar.
Está na roda essa ave, rondando os engenhos no entorno das pequenas cidades e todo o seu corriqueiro.
Gira com ela o passeio dos olhos atentos, descobridores de pequenos desvãos onde acomodar a curiosidade.
Anu de nós poéticos para todos nós; Anu preto e Anu branco, de cantos melódicos que atraem curiosos patéticos ten-tando pegá-los. E voam girando...
Imersão no azul: indo buscar o que já tem na alma po-rém na alma não voa assim. Ou voa, sim, mas não com este fim.
Nas anuências do Anu entram sua breve vida, sua esta-da simples de labuta ingênua e ímpar: come – dorme – acorda – voa – canta e encanta.
O Anu anuncia em silêncio: a nuvem diz “vem, Anu” e ele vai, a terra diz “fica, Anu” e ele fica.
É um ser metódico, mas pode deixar de ser; é um ser próspero, e sempre será. Há a derradeira biografia alegre nos seus voos e pousos simplórios. Está lá e é só ver.
Dentro do ciclo, o círculo. Fechado é o olho que não a-bre. Aberto, o olho vê mais que um circo no ciclo, no círculo.
“Boca fechada não entra mosca”, mas olhos fechados não veem a pedra. A pedrada acabou com a festa, enevoou o céu, silenciou a canção e cerrou as asas.
Uma inversão no azul – o Anu fazia graça de graça aos olhos nus. Não faz mais.

Ótima noite



"Muhammad Ali: Flutue como uma borboleta, pique como uma abelha - 4 de junho de 2016 - Ontem, aos 74 anos nos deixou Muhammad Ali. Mais que um grande atleta, um grande boxeador, ele foi um ativista do combate ao racismo.

Morre um líder que fez de toda sua vida uma luta contra o racismo, contra as injustiças sociais." Fonte: Revista Forum

Coruja divina

É gente simples na vida
E complexo no si próprio!

Está aí o andarilho solene
Que faz de outros momentos
As paixões e excitações.
Deixando o vil preconceito
Que persevera em ser perene.

Dia de sol ardente que valha
A muralha que por baixo é gigante...
Não protege seu corpo franzino,
Num palco de versos ululantes
De bons bordões qual malária.

Afiando a ponta da língua, anabolizada ao som de sereias
Poemas escritos em areias, e músicas e rosas e tintas.

Vê-se a razão que não mingua
Fala-se em matrimônios – mistérios
Infindos sem afins nem começos
(assim dá-se o nome de vida)

E lá se foi solene andarilho
Buscando a grandeza que ensina,
Fazendo da vivencia uma causa

Na cauda da coruja divina.

Nua em pelo, no pulo e num palco


Nua em pelo, no pulo e num palco 
(André Anlub - 28/11/13)

Nadando no gélido lago foi encontrada (Feliz e pelada) com os pelos arrepiados, seus belos cabelos negros cacheados, e como seria imaginável... Cantarolando aquela lacônica balada: “...you can’t always get what you want...” - olhos esbugalhados, olhar simplório... perfil de romântica rebelde com a sensação de estar nada errado. - Seria assim que eu a descreveria! E é assim que ela é! Entre os dias que se passaram em sua vida, estão de um lado algumas horas que se petrificaram na sensação de não seguir um vil modelo. Na outra ponta da história (não menos importante). Fica o momento: replay - déjà vu - oposto de um pesadelo. Quase sem querer, de repente por estar mais magra, a aliança caiu no ralo. (num estalo a lágrima sem jeito a seguiu).

3 de junho de 2016

As velas acesas e as chamas apagadas


As velas acesas e as chamas apagadas
Madrugada de 22 de maio de 2015

Noite sabotadora. Bocas falantes que nada dizem atrás de um vidro falso que em breve o apagarei. Espadas reluzentes e sombras de guerreiros antigos duelam ao não sei o que, briga por não sei quem. Deve ser pela tal da esperança. Abomináveis os serem que caçoam da simplicidade dos outros, dando-lhes alcunhas fúteis e pejorativas, com pitadas de um deboche piegas de quinta para uma noite escura e fria de quinta. Talvez eu seja herdeiro do dom de poetar; muitos já disseram isso. Mas esse não é problema; o problema é eu não me importar com títulos. Ainda engatinhando, confesso, mas já aprendi o mais importante nesse caminho: humildade. Não somos melhores que ninguém e não pretendemos ser; se caso fossemos não assumiríamos tampouco abraçaríamos a arrogância que nos tenta. Palavras voam e somem; homens ficam (ou nem sempre); amigos ficam (ou nem sempre); parceiros ficam (ou nem sempre)... mas o caso é que as palavras sempre se vão... E o que pode valer mais do que quem está ao seu lado como fiel escudeiro, como amigo verdadeiro, quem é dos males o coveiro e o leitor fiel e assíduo de seus rabiscos? Nem mais uma palavra.
Segure minha mão e sinta minha pulsação, fortíssima. Ao seu lado suo, tremo, sinto-me como quem vai adoecer, sinto medo e coragem, paradoxo em combate dentro do meu Eu. Quero sua ajuda, seu cafuné – seu café – tudo seu. Deite-se comigo esta noite, me esquente e me aguente o tempo que for. Farei o mesmo a você. Hoje e sempre. Nosso leito está arrumado com lençóis de seda pura, travesseiros de penas de ganso e uma pequena luz fraca na cabeceira. Tudo mentira! Bem, a luz não... Cobertas de pelos de leopardo esquentam muito. A lareira está acessa e caso queira aumento o fogo (sem trocadilhos). As velas estão acessas e chamas balançam tortas com o vento frio que entra pela fresta da porta. Minha cabeça entorta e meus olhos saltam assustados com a imagem que vejo. O imaculado. Onde está você? Não o corpo de carne e osso, mas sim a sua alma que com a minha fervilhava ao som do silêncio.

André Anlub

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.