3 de julho de 2016

[sem titulo]

Beltrano dos Santos (18/5/14)

Ao final da tarde
As flores enfim se mostram
(mais dela) submissas, 
Num colorido real e pétalas
Como olhos famintos de belo.

Ela, dama, atravessa os jardins
Os passos tímidos e sutis,
Abrindo os lábios
E deixando brotar as próprias cobiças.

Um artista do amor sorri,
Aponta seus dedos magros, 
(outrora gordos e inebriados de nanquim):
- Ai, ai, ai, é o fim, ela não me notou...

Choram eu, ele, você e os jardins.
E o chá, um sopro para esfriar;
Vem aqui – foi lá.

A fumaça do tabaco profana a luz
Que atravessa a janela
Adentrando o quarto,
Trazendo a beleza que há
Aos olhos abertos
No limpar das remelas,
No sonhar – realizar e fazer jus.
II
Beltrano dos Santos é uma figura,
Já foi profeta,
Mas não se mostrou...
Só ele sabia;
Nas alquimias que os anos trouxeram
A derradeira ainda estaria porvir;

Mas ele não tem pressa,
O amor não tem pressa,
E o que só interessa
É o acreditar sem fim.

Manhã de 22 de maio de 2015

Boca que se cala – pedaço da história que se vai – fica a saudade
(Manhã de 22 de maio de 2015)

O dia está sem graça? Vem logo alguém e põe graça nele, é só esperar... de repente não. Estou sentindo o arrepio de um amigo que está partindo. Já falo nisso! Sinto-me cada dia mais distante das antigas amizades, mas cada vez mais perto da compreensão das mesmas. É uma sintonia às avessas que me faz mais forte para futuramente abraçar de vez tais amigos. Mas no momento me dói em saudade. Uma confusão de sentimentos que ainda não me atormentam, pois sei lidar inteiramente com eles. Já os coloquei diversas vezes na balança para ter noção quem/qual/quanto vale à pena. A conclusão mais lógica e clara que cheguei é que com uma (re) aproximação mais intensa perderei a análise e ficarei na boemia, no tapinha nas costas, na conversa de boa –, falando o que querem ouvir e ouvindo o que queiram falar. Ficará uma amizade rasa, amizade de esquina, de copo, praia e corpos femininos... Dessas banais que vejo muito por ai. Não é fazendo barganha que a amizade (re) nasce. Não há sacrifício algum em uma amizade criada para terceiros olhos, para Inglês ver, tampouco almejando “lucros”. O amigo nasce amigo e não há nada que o separe; a não ser que a amizade só exista de um lado (muito comum). Vive-se ao lado de uma pessoa dando enorme afeto e consideração, mas na mesma não há reciprocidade. Até ai não há problema algum, pois amizade só de um lado continua sendo amizade. O problema é quando o outro lado carrega esse embuste tão bem que se cria uma armadilha sem fim: os dois lados passam a acreditar na amizade mútua. De um modo ou de outro as complexidades de tais fatos não valem um aprofundamento absurdo e absoluto de quaisquer analises... Pois nunca se chegará a um denominador comum se o outro lado não pondera sobre o assunto. É um Deus nos acuda... Mas que no final de tudo o importante é a consciência limpa. Sinto muito por um amigo que está doente, sinto na pele o medo de quem está indo. Mas não serei hipócrita de falar que sei o que ele está sentido. Não sei! Só digo que foi uma amizade de muitos anos; ele foi parceiro e querido por mim. Mas sempre tive a absoluta certeza que havia algo que nos distanciava. Algo que não irei esmiuçar, pois caso eu descubra não terei como trocar essa experiência com ele. Não mais. Agora ele se encontra nas minhas orações e fora das minhas meditações.
Segue em série a sensação do lápis, tinta, pincéis, ideias e um som para embalar e alucinar como um ópio. Uma volta pela casa na companhia dos cães, o céu lindo observando calado, as nuvens fazendo caminhadas, o abacateiro balançando com o vento e o tempo que estacionou em si próprio. Há olhos para verem coisas que só querem ver... Mesmo sendo prejudiciais a eles. Há luz no fim do túnel, mas também pode haver no início e meio dele. O louco saiu à caça do ambiente mais largado, com menos contrastes e mais matizes e cores; o louco se diz louco e a loucura se diz dele e os outros o dizem louco; muita loucura em um pequeno corpo – muita galinha e pouco ovo. Uma receita de bem-estar é abraçar-se a premissa de que para qualquer assunto abordado pode haver uma chance enorme de você estar errado. Dentro dessa ideia inicial e verdadeira cabe qualquer saída; cabe a aceitação de ser ouvinte e o aprendizado de quem queira transmitir. Saber ouvir é uma arte... Mas poucos artistas a dominam. Pois há alguém que anda de mãos dadas com o atraso, dorme na mesma cama e há anos vem causando mais transtornos do que soluções: a defesa em unhas e dentes da sua ideia. Não ser flexível, não ponderar sobre o que está sendo colocado... Se preciso for, leve o assunto para casa, medite e reflita. Não acredite na primeira impressão. Coloque-se no lugar de todos os “atores” vigentes na fábula: pense – estude – pesquise... Assim volte depois com sua ideia mais sólida ou, quiçá, uma nova e esculpida visão sobre o mote e também a morte.

André Anlub

2 de julho de 2016

Ótimo sabadão


Brincar com o sonhar é brindar com a vida; realizar-se é só uma deleitosa consequência. Existe a disposição natural à boêmia, basta escolher se a quer passiva ou ativa.

(O lugar mais seguro do mundo é aquele que nunca se permanece) 
Madrugada de 24 de dezembro de 2015

Sem febre, mas em chamas; frio e duro como uma pedra de gelo perdida e fenecendo no copo vazio... coração derretendo. Visões tumultuadas e desfocadas de bocas pedindo ajuda em ruas em combustão; é a razão que acaba? É a sensatez que se enterra? Cenouras sem paranoias, senhoras semiloucas, senhores e senhoras, sem roupa, todos roucos e loucos. É ficção, é fração nada ficcional: Na álgebra da minha existência, na soma e subtração de ter e também ser ‘pai’, a matemática errou: três menos um deu zero. Hão de me dizer então, em voz alta e cabulosa que só existe o esperto pela persistência assídua do otário. Mas penso em outra hipótese – é o que me resta –: Nada como um peixe após o outro... um anzol no meio... e nada bem; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça. Sem ofensa, sem rancor, a vida segue e mesmo cega segue em caminhos bons; tenho sorte, tenho mais ou menos um norte, tenho ventos fortes, maremotos e mares ‘flats’, tudo bem! Corto os que são poucos, pois de poucos não me importa; não após, não agora me cabe ou caberá. As pernas e os cabelos incômodos, não secam após o banho e se borram em meus sonhos... uma garrafinha de água azul, com gás; uma garrafinha de água rosa, sem gás. Um beijo louco ao mar, um bem-estar de estar bem, alguém vem ao ouvido perguntar: quanto irá durar? – digo: não sei! Meu nariz escorre, minha barba grossa e meus cabelos tornam-se branco, aos poucos... como filé, como salada, ando a pé e de carro, e nada muda... só a sensação da certeza de que um dia a bateria do relógio da vida se acaba. 


André Anlub

1 de julho de 2016

O silêncio do oprimido só Mata o oprimido


A grande arapuca para o arrogante é que ele sempre será muito aquém do que pensa ser. Pensamento vago, em voga e em vaga para idosos. (noite de 2 de julho de 2015) - É fantástico, e isso não é bordão não. Tenho o corpo em transe e transo bem com isso. Já nas devidas proporções acho que tenho absoluto direito de me alongar. Até porque – atenção – ginastica mental, poesia, versos e prosas, sem aquecimento e alongamento podem causar uma câimbra ou distensão. Hoje demasiadamente cedo vi a mais bela imagem: o dia; ao olhar-me no espelho constatei estar vivo... hoje e sempre... até porque eu só começo a acordar depois de lavar a fuça. Em seguida fui urinar e beber água, comer torrada e beber café (agora sim, acordei). Li as notícias, fiz as coisas corriqueiras e pus-me a escrever – fiz uma coisa e outra – revezando – até a hora do almoço. Nesse ínterim saíram alguns capítulos do meu romance, saíram a prévia dessas linhas, saíram alguns comentários online, saiu meu dueto com o amigo Rogério e também saiu um texto sobre feminismo. Bem, sobre esse último só tenho a dizer que está impublicável; sim, quase obsceno... Pelo simples e direto fato de eu não ter a visão extrema e pessimista de muitos. Mas deixe estar, deixe estando e deixe o estado estagnado. Vou-me para a varanda jogar bola com os cães, costuma desopilar meu fígado, cansá-los e também melhora nossa digestão (não só a do corpo, mas também a da mente). Sobre carecas e maquiagem: tira-se o chapéu com facilidade: aplausos hipócritas e sorrisos rosa com tons de violeta (o amarelo perdeu a graça). Põe-se a máscara com facilidade: aplausos ainda mais hipócritas e sorrisos de costas (daquele tipo: já fui). Chega-se e cega-se a seguinte conclusão: ninguém é mais real! E não por causa de implantes de silicones, cirurgias plásticas, viagras, piercings e tatuagens pelo corpo todo; mas sim por essa armadura – que de dura nada tem – que usamos no nosso dia a dia para tentarmos ser o que não somos e jamais seremos. Eu poderia falar de rosas e prosas (porque rima), de flor e amor (porque rima²); eu poderia colocar uma dúzia de belas palavras, apenas catando-as fragmentadas em um livro de Cecília Meireles... Mas não! Cansei de ler gente assim, de aplaudir falsos moralistas, cansei de bater palmas para maluco dançar (coitado dos malucos). Agora é ferro e fogo... E vou começar apontando dedos desde aos que estacionam em vagas de deficientes ou idosos aos que agridem mulheres (fico fulo); essas coisas são bem mais importante que minhas meras palavras. O rastro, o risco e o resto deixarei para mais tarde e aos mais capacitados e fortes.

André Anlub

30 de junho de 2016

Rumo ao monte

Rumo ao monte

Escoltei o tempo, lado a lado, carne de pescoço de fato.
Fui criar, criei; escrever e ver o que vai dar.
Círculos tornaram-se triângulos; teoria da conspiração?
O velho sendo novo – recriando na absolvição.

Olhos fechados e deixa-se levar pelos ouvidos,
sentimento sequestrado – Síndrome de Estocolmo.
Estou como um velho sábio: abraçando livros.
E os vivos como o diabo gosta: cem perguntas, sem ter como.

As horas são amigas, são teimosas e esportivas;
todos os dias correm lentamente e andam correndo.
Vai um drama, vem um “dream”, ouço um “drum”;
a dama da beleza – dama-da-noite com seu perfume ao vento.

De joelhos faço de coração uma oração ao longe;
vem rebates, vem sons alheios em língua estrangeira azul.
Haverá uma asneira rasteira que deixaremos aos asnos;
há simplicidade suntuosa no grão de areia do monge.

Faz-se maestria, faz-se nada –, de dia ou de noite...
O tempo me escolta, puro e seguro de volta ao invento;
sabendo que normas estão pelo mundo, feito chorume.

Vê-se insistente o sorriso do sol ao morrer do negrume;
livro-me do manto, minto ao lamento e subo ao monte.

[sem título]

Manhã de 10 de maio de 2015 (como hippie que dança Rap sendo “happy")

Resolvi pintar, eram duas e vinte da madrugada. Uma água gelada, uma tela média e nua e rumo à varanda. Noite calma de lua escura, céu nublado e gatos passeando pelos telhados. Noite bucólica trazendo pensamentos com cheiros de saudade e maresia; noite minha extremamente minha, céu meu amenamente meu; sossego absoluto e o som baixo e fleuma do breu. Todavia, por toda vida me entreguei ao vasto. Não existia meio termo, ou era branco ou era preto; o cinza não estaria no meio, pois simplesmente não existia. Atualmente adaptei meu ser no colorido do mundo, como um cego que volta a ver. Posso então tirar pássaros e elefantes da cartola, não só coelhos; posso então abrigar a alma, e ter amigos dentro do coração e não somente mergulhados em boemias e copos. Faço uma amizade menos presente mas mais autêntica, sem barganhas e bagulhos, sem armadilhas de egos, vista grossa ou criação de cobras. A vida se expôs e expôs opções nada parcas... Eu abracei-as com veracidade, gratidão e doação... Então assim pude/quis finalmente me conhecer por quase completo... Por mais terrível que pudesse ser. 
As marcas das pinceladas rápidas começaram a surtir efeito na tela, eram tons dominantes de azul turquesa (que gosto muito) com gradações mistas de marrom, branco e variantes de azul escuro e verde musgo. Tudo isso só para recriar um mar bravio que estava na tela da mente –, na parte por de trás da testa –, como costumo dizer. Em um pesadelo me vi obsceno de cabelo seco, um hippie dançando rap e sendo “happy”... Acordei e reparei que o sonho era bom – talvez até ótimo – pois nele eu estava feliz, realizado, dançando e festejando; penso eu que quando se está alegre a gente se pega dançando e cantando sem saber o porquê, meio – ou inteiro –  “Olhos nos olhos” do Chico.

André Anlub

Talento Poético 2016


Dizem que tudo aquilo deu em nada; mas se deu, já é alguma coisa.
(Madrugada de 15 de junho de 2015)

Olho para um lado e olho para outro; vejo um muro alto – obstáculo – soltando seus tentáculos em um peso morto – não vejo nada novo –; e a essa altura do fato já estou farto do mundo me faltar o respeito e não ter, pelo menos peito, de se retratar. O melhor agora é abrir uma Coca-Cola ou um guaraná. Aceito palpite de quem me quer bem, quem está ao meu lado, dá opinião no meu sapato, na blusa, meus anéis e além; aceito o “spoiler” da próxima peça de teatro, do filme de hoje na sessão da tarde, das minhas contas no fim do mês. Quero sim saber o fim, não vejo problema algum nisso. É comum conhecer o final, é tão comum que o livro mais famoso do mundo funciona assim... Agora senti! É cheiro de jasmim; germina no seu ínterim, dá-se vivo no início imperceptível – abrolha –, e acalenta lentamente a mente, as narinas e a posteriori a alma. Não fazia parte dos planos os roubos no pouco tempo vivido em sacrifício ao nada, ao mínimo, à tumba de um Faraó Egípcio (gosto de Hórus) ou um Rei qualquer da Espanha. Vejo aquele ser dividido com a fé, aromatizado pela busca e automatizado pela brusca obsessão de ser o que já era e sempre foi. Veio o som aos ouvidos e a imagem à retina, e quebrando a rotina veio uma força perversa, atroz e atriz, levando-o com pressa sem ponto e vírgula, sem um minuto a mais; mais célere que o absurdo, como um raio no ímpeto de nem se fazer perceber. A história é longa, muitas linhas para contar, os caminhos muitas vezes são falhos e nos pregam uma peça sinistra e indigesta, incontestável ao clamar. Nuvens negras que aparecem atrapalham o nosso dócil piquenique de domingo. A vida é o assim: sopro. A energia desfaz-se no ar, voa e some na morte que subtrai e soma e come e traga e enterra e é negra, branca, amarela... qualquer coisa que queira ser e é; para vir e se mostrar ou se camuflar; ser bandida ou heroína, ser rainha ou vagabunda de esquina... Nada importa, se faraó, rei, rainha, ou outra coisa... Pois é escolha dela. Aquele pássaro amarelo nos deu bom dia, pousou na árvore, sorriu para a vida e nos fitou com esmero. Hoje as montanhas nos chamam; bocas verdes com hálito afável, olhos negros com visão sem limite. Hoje a vida é aquarela – gengibre – com ocre com pinceladas de azul turquesa. Vou esfriar a cabeça, tirar a mesa, lavar a louça e limpar o fogão... Até o próximo piquenique na sala; até o próximo inverno.

André Anlub

Aquele outro Eu

Aquele outro Eu

Olho de soslaio o tempo perdido,
Abrasado e abraçado ao tempo achado
Que tenta fazê-lo de lacaio... 
Mas é em vão.

Olho o respeito dizendo ao “dito e feito” 
O que deverá ser feito e refeito, 
E futuramente refazê-lo, se preciso for...
Tendo em vista que é de antemão.

Pego o timão do barco e desbanco a maré vazia,
Enquanto no mar vazio esvazio um tonel de rum...
Arruinando o meu remoto céu azul que agora é somente ruim.

Mas sempre faço vista grossa à contramão.

Ganho plena confiança na mudança nebulosa,
Junto o Eu à suntuosa espada forjada em ouro branco
(meio metida à besta, confesso, mas bela e bem desenhada)
Com imagens bárbaras, baldias, poemas e frases sagradas.

A jornada é cenário – visual – a sentinela – visual –, nada anormal;
O verde ligeiramente me sorri com seus divinos dentes brancos, 
Solta seus cabelos crespos e sua abastada voz rouca;
Solta seu jeito afetuoso que faz pouca qualquer incoerência... 

Sorrateiramente encontro nesse ermo
O Eu mais bem escondido e verdadeiro.

E o verde...
Dá-me “bom dia”...
E agora posso quieto e atinado voltar ao ermo breu.

André Anlub
(1/4/15)

29 de junho de 2016

Dos desvelos


Dos desvelos (como som melancólico que segue invadindo) 

Até coloquem palavras em minha boca... Mas que nasçam poesias.
Abrasador ao íntimo – sem dor – toca e preenche e compreende ao completo;
Na mais alta altitude que o anseio ressoa, e é tênue e desconcertante.

Toda uma terra estremece em todo o corpo que balança
E merece o céu no sol e a luz da lua na luz do teto do tato e do tudo.

Namoro e sinto e choro e aprovo e comprovo o sopro e aguardo, e você.
Mas é mais mar que observo e sou servo ao todo... E amo.

Vem, vem como variante, pé e pé, paz e paixão, marcando no solo – selo;
Como ao chão e ao sentimento é um sucinto sinal sagrado, afetuoso,
Pois não censura, nem corta nem cura, o soco solitário do colosso:
O banho ao calor em chamas, supina alma à sua presença... E amo.

Solos secos castigados, que fenderam em frangalhos de raios antigos...
Ficam no aguardo das águas em rios em milagres em lágrimas em circo em cio...
E vieram e vigeram e ficaram e fincaram... E amo.

[sem título]

Baú de conjecturas

Eis a questão: abrir aquele baú de memórias, 
Algumas boas, outras nem tanto, outras nem lembro:
(dizem que há lembranças do que não aconteceu).

Deixar a mente recordar – dar vazão na falta de razão,
Embarcar no trem das insanidades e paixões; 
Aquelas que foram feitas nas noites sem dormir,
Nas falas sem sentido, nos botecos e afins.

Lembrar-se de amizades esculpidas com pressa e formão cego;
De esculachos em rixas fartas; de escaladas em rochas altas...
Lembrar-se de ter esperado a nave com os Aliens me buscar.

Agora nós dois:

Passamos por dificuldades e terrorismos,
Andamos e nem sempre sorrimos.
Houve o momento de reflexão – a alma sentia dor;
Corpos enfastiaram, ideias se soltaram e, comumente, se desligavam;
Tudo não estava mais (ou nunca esteve) talvez, assim, pra nós: bem, bom.

Nos controlamos – põe-se freios, iluminações, mesmices,
Vagamos turbinados dentro do turbilhão (talvez seja aquele litro de uísque).
No céu, na época, pequenas estrelas prateadas e felizes,
Vibravam e cegavam nossas vistas – então notávamos o nosso amor.

Lembranças, lambanças, festas, sexos, escudos, elmos e esmos...
O sorriso de lado no ambiente azedo e o deboche no coldre do medo.

Laconicamente o lembrete: o jogo é incoerente – mesmo ganhando se perde. 
Mas ninguém ganha! – nem mesmo quem acha que vence,
Pois para ganhar é preciso não jogar.
E ninguém quer ser um covarde jogado na lama,
Que fica e faz alarde, que já vai tarde, que já veio cedo.

Agora só eu:

Fechei o baú, mas tudo já estava na mente (onde sempre esteve),
O que havia era medo de encarar o fantasma e ter a certeza que ainda há amor.

André Anlub
(9/2/15)

28 de junho de 2016

Em tempo hábil

Em tempo hábil

Fiz-me um Monge, tornei-me melhor e deduzi:
Tudo sempre esteve aqui, no “inside”.
Agora, mais velho,
Descobri que aquilo não era esperteza, e sim covardia.
Agora tenho o hábito de seguir meu caminho,
Escolho muros e morros e encaro o vendaval...
O aval alheio e o olheiro não me ferem,
E que se ferrem a frase feita e o sorriso banal.

Gente grande que não perdeu o seu ser guri interior;
Com o odor de alfazema fez-se a cama para nós dois.
Há lençóis de puro linho; há o ninho de desatados nós;
Voo das aves livres e os alvitres e os entraves e os sonhos e o etecetera e tal.

Fiz-me de Santo, mas não deu muito certo;
O esperto no ímpeto se envolve no manto preto da cama
Com a amada acalorada e a reciprocidade do fidedigno amor.
Há lençóis de algodão egípcio; há resquício de farelos de pão;
Fotografia antiga na parede, o vinho de safra apropriada na mão
E a janela de vidro me separando do mundo e do mal.

Quero ouvir a verve gritando,
ao mundo, ao pouco,
como louca rara;
preciso da sua leitura,
de corpo nu em noite tão escura,
que nem estrelas deram as caras.

André Anlub
(27/1/15)

27 de junho de 2016

CXXXIV


CXXXIV
(André Anlub e Rogério Camargo)

Chega da rua com as mãos carregadas de outras mãos
Os pães ficaram na padaria, os cães na esquina.
Ainda tem olhos de perguntar: onde estão os pães? On-de estão os cães? Que mãos são essas?
Esqueceu as histórias que iria contar: quem é Mrs. Dal-loway? Quem é Daenerys? Quem é Cinderela?
Tem olhos que perguntam mas não tem olhos que res-pondam. Então chega da rua carregado e descarrega.
O coração, a cabeça, a alma, a voz de esquizofrênico há tempos não dizem nada.
De frente para si mesmo está de costas para si mesmo.
É meio torto, mas o espelho só tem valia de frente a ou-tro.
Chegou da rua e não foi procurar um espelho. Chegou da rua sem pensar que espelhos existem. Chegou da rua carre-gado e descarregou.
As mãos que carregava carregavam sonhos; e os sonhos largados ao chão foram se espalhando por toda a casa.
As mãos que carregava e carregavam sonhos bateram palmas, pedindo urgência, pedindo muita urgência.
A imagem sem alguma inocência avivou a memória, remetendo ao palco e a outras histórias.
Não iria contá-las. Não para si mesmo. Mas sonhos que caem de mãos trazidas da rua não eram novidade no chão da sua casa.
Suas mesa e cama estava há tempos vazias de fantasias. Todas as suas musas e seus mousses ficavam na nostalgia.
Vivia pelo sonho dos outros. Chegava da rua com as mãos carregadas de mãos carregadas deles. Elas o incitavam a juntá-los. Ele os mirava do alto da apatia.
Nunca teve medo de carregar mãos vazias, de levar uma tapa ou até ser morto.
Seu problema não era falta de coragem. Seu problema era falta de si mesmo.
Deu-se então um abraço tristemente desconsolado e prometeu no dia seguinte ir em busca dos cães e trazer pão quente para casa. Nem que fosse o da véspera.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.