Dueto CXLVIII (André Anlub e Rogério Camargo) Era uma lua muito tímida que amava seu sol com pai-xão fervorosa. Afeição desastrosa, mas real e recíproca que lembra o filme “O feitiço de Áquila”. Um não pode, o outro não pode e os dois querem. A lua ama o sol na lua. O sol ama a lua no sol. E o céu assiste. Daqui de baixo é contemplação, aplausos e uma nova fábula; falar nos dois é corriqueiro, mas como disse o poeta: “quais são as palavras que nunca são ditas?”. Nunca são ditas as palavras que não cabem nas pala-vras. O que não é palavra e as luas dizem que não é palavra dizendo que não é palavra. Dizer muito falando pouco, ou coisa nenhuma... Eis ai um dilema/teorema antigo que bate de frente com o prolixo e enfrenta no braço o banal. A timidez da lua, o ardor do sol: tudo a dizer calado, tu-do calando aos berros. E nos enterros os prantos em sutis silên-cios; e nos incêndios as chamas que queimam inquietas. O céu desce do céu nessas horas e estende as mãos para colher a precariedade. Colhe, aconchega e volta a subir aos céus. A lua e o sol tomam conta da “casa” enquanto vagalu-mes de pedra passam com a pressa de sempre. A lua lava roupa no córrego da súplica; o sol arreia o cavalo no celeiro da inquietude. O céu não se mexe mais: já fez a sua parte. Na coxia o cochicho dos atores, o cenário inédito e a peça são improvisos; as cortinas da manhã se abrem; vai come-çar o espetáculo. Não se sabe quem vai estar presente para aplaudir, criti-car, ir embora, voltar para a próxima sessão. Lua, sol e céu tam-bém não sabem. Mas é com eles. Os ingressos foram entregues, mas as portas e janelas ficam abertas; não há reprise – não há cancelamento, e quando alguém não pode mais estar presente é porque já faz parte do elenco.
Dueto CXLIX Vejo-te diante das flores e não sei mais quem é quem. E nem importa. Mesmo que importasse, não importaria. Mesmo que soubesse, não saberia: há sempre algo além do quem é quem. Este amor teu me faz menino; me nina, me guia e orien-ta o meu olhar à tua formosura e para o que há de formoso no mundo. Vejo as flores diante de ti e não contenho a onda de ter-nura. Nela surfa meu coração encantado. Certo que às vezes revivendo o passado crio um presen-te paralelo, um mundo ainda mais belo caso escolhesse por outro caminho. Seria então um egocêntrico ainda mais feliz. Tu ris disso, às vezes. E às vezes gargalhas disso. Mas agora não. Agora me olhas como se quisesses adivinhar o que adivinho. Tu choras comigo, quase sempre, para me fazer compa-nhia. Sei que de nenhuma melancolia é composto teu ser. Eu também choro comigo. Mas é por não ver o que sei estar lá, contigo e com as flores que são tu o tempo todo em meu jardim de angústias. Quero viver tempos de dança e de bajulo com a vida, pois tu já és banhista, sambista, alquimista que larga a terra e se embrenha no oceano sem engano e sem economia. Quero e fico querendo. O que é teu é teu e não posso avançar sobre. Pratico o que me permito praticar: praticamente, o reconhecimento da nossa distância. Percebo-te como uma bela ilha que fito com os olhos, é fato em meus sonhos, mas, pela distância, impossibilita o meu nado. Não me afogo porque nem tento. Atento para o impulso e tomo pulso de mim: Sei onde estamos quando quero estar onde não posso estar. És ilha que amo cercada por tudo que amo – céu e mar; fazes da deselegância da minha total entrega o teu porto aos barcos outros, ao barco meu e a quem desejar. Se isto não é suficiente, nada mais é suficiente. É quan-do a insuficiência senta a meu lado para olhar-te diante das flores e ambos vemos.
Os balões estavam cheios, a banda afinadíssima, aperitivos e drinques em dia e os convidados a caminho. Talvez fosse a festa. A intenção era de que fosse a festa. Mas seria a festa? A pergunta ecoava pelo silêncio e o vazio do salão, onde de antemão a banda havia ensaiado. Uma tensão de expectativa percorria os olhares, crispava as mãos, entesava as costas. E um sorriso tremia nos lábios. A projeção era tamanha que a cabeça foi pouca para tantas suntuosas, perfeitas e interessantes imagens: O perfeito fracasso, a perfeita frustração, o perfeito insucesso, o perfeito fiasco, a perfeita decepção... A insegurança há tempos ultrapassou o pessimismo – saiu em disparada –, fez a curva do desespero e deixou lá trás o talvez que queimou a largada. São noites dentro de dias. Algumas com lua cheia. Outras cheias de luas minguadas. Em quanto isso, a música espera. São dias fora de dias. Alguns com sol sedento. Outros com fome de mingau salgado de sol. E por agora nada de música. Afinados instrumentos que desafinam intenções, que descompassam objetivos. Atentas leituras fora da pauta, diapasão desconexo. Para a alma inteiramente encabulada e o ar que queria o banho da música só resta aceitação; todas as energias junto à doação ficam bem guardadas para a próxima ocasião. Talvez amanhã, talvez ano que vem, ou mesmo agora, que as pessoas começaram a chegar e parecem tão felizes...
Dueto da tarde (L) A porta aberta para o quarto vazio deixava olhar mas não deixava ver, À meia luz tudo era repentino, tudo era tênue e curioso, de uma curiosidade ansiosa, expectante, que procurava esclarecimentos onde só havia hipóteses. Com o passo à frente ouve-se o som de um sino, no esticar das mãos sente-se uma leve chuva. Já não é mais apenas a porta de um quarto vazio aberta. É a porta de um mundo vazio aberta, Como uma passagem incerta sem seta indicando direção; um vigente vão vazio cheio de interrogação. O olhar trêmulo, as mãos fixas, os passos suando, a pele tropeçando, eis o avanço inevitável para quem quer saber, Entra com ar de orgulho, como um mergulho profundo em parca iluminação, tateia com receio, meio que afasta teias de aranha, sentindo a sensação estranha de não estar sozinho. Há mais coisas num quarto vazio de porta aberta do que os olhos não enxergam quando não enxergam; há a inspiração voando, a paixão deitada, o ódio debaixo da cama, o tempo descompassado. E há o também. Incorpóreo também. Sem forma, sem nome, sem CPF, sem RG, sem NET, sem tablet, sem chiclete, também há o também. Com ele vem o além, o aquém, todo o universo e ninguém; naquele passo à frente se sentiu um rei vivo, pois pode ver com clareza seu reinado no presente, largando de vez – de repente, seu passado maldito. Rogério Camargo e André Anlub (30/1/15)
Fui criado na cidade grande, mas sempre frequentei os "interiores". Andei muito a cavalo; eu mesmo buscava no pasto, selava, montava e ao retornar dava banho. Ordenhei vacas e até aprendi a fazer queijo; pesquei muito em mar e rio, e como também não sou de ferro me rendi e entreguei-me à vida simples. Vez ou outra há um milagre só pra tal pessoa; Não há registro, palavra, pintura, período, motivo ou à toa; Não há contorno ou qualquer som que ecoa. Os olhares e bocas insanas em agonia Sequer saberão o que realmente houve, e se houve... Não importa a vil lamúria
Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)
Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas
Livros: • Poeteideser de 2009 (edição do autor) • O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas) • A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014 • Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015) • Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017) • Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte (Janeiro de 2019)
• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015) • O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)
Amigos das Letras: • Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95 • Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ) • Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63 • Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT) • Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha
Trupe Poética: • Academia Virtual de Escritores Clandestinos • Elo Escritor da Elos Literários • Movimento Nacional Elos Literários • Poste Poesia • Bar do Escritor • Pé de Poesia • Rio Capital da Poesia • Beco dos Poetas • Poemas à Flor da Pele • Tribuna Escrita • Jornal Delfos/CE • Colaborador no Portal Cronópios 2015 • Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas
Antologias Virtuais Permanentes: • Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal) • Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal) • Revista eisFluências (Brasil/Portugal) • Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)
Concursos, Projetos e Afins: • Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”. • Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”. • Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”. • Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere • classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas) • 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”. • indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA). • indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP). • indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete • indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII • Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas • Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões". • Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte
André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.
Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe. Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros. Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.