24 de janeiro de 2017

Ótima tarde


"Indicada pela vigésima vez ao #Oscar, Meryl Streep bate recorde. Premiada semanas atrás com o nono Globo de Ouro de sua carreira, em um discurso brilhante Maryl celebrou a diversidade em Hollywood e fez críticas ao presidente eleito Donald Trump.
Acompanhe:
DISCURSO NA ÍNTEGRA DE MERYL STREEP
Muito obrigada, muito obrigada. Sentem-se, por favor. Obrigada. Amo vocês. Vocês vão ter que me desculpar. Perdi a voz gritando e me lamentando no fim de semana. E perdi a cabeça em algum momento neste ano. Então terei que ler.
Obrigada à Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood. Para seguir linha do que disse Hugh Laurie, nós, todos os presentes, pertencemos a um segmento vilipendiado da população. Pensem nisso: Hollywood. Estrangeiros. E a imprensa. Mas quem somos nós? O que é Hollywood? É um grupo de gente que vem de todas as partes. Eu nasci, cresci e me eduquei nas escolas públicas de Nova Jersey. Viola [Davis] nasceu numa cabana da Carolina do Sul e cresceu em Central Falls, Long Island. Sarah Paulson nasceu na Flórida e foi criada por sua mãe solteira no Brooklyn. Sarah Jessica Parker era uma de sete ou oito filhos em Ohio. Amy Adams nasceu na Itália, e Natalie Portman, em Jerusalém. Onde estão suas certidões de nascimento? E a linda Ruth Negga nasceu na Etiópia, cresceu em Londres. Não, na Irlanda, me parece. Está aqui indicada por fazer o papel de uma garota de um povoado da Virgínia. Ryan Gosling, como todas as pessoas mais amáveis, é canadense. E Dev Patel nasceu no Quênia, cresceu em Londres e está aqui por fazer o papel de um indiano que vive na Tasmânia…
De modo que Hollywood está cheia de estrangeiros e forasteiros, e se querem expulsar todos nós vão ficar sem nada para ver além de futebol americano e artes marciais mistas, que NÃO são artes… Me deram três segundos para dizer isto… O único trabalho de um ator é entrar na vida de pessoas que são diferentes de nós e deixar você sentir como é isso. E houve neste ano muitas atuações poderosas que conseguiram justamente isso. Um trabalho assombroso e feito com compaixão.
Mas houve uma atuação neste ano que me impactou, que mexeu com o meu coração. Não por ter sido boa, não tinha nada de boa, mas era eficaz e funcionou. Fez a plateia a que se destinava rir e mostrar os dentes. Foi aquele momento em que a pessoa que pedia para se sentar na cadeira mais respeitável do nosso país imitou um repórter deficiente. Alguém a quem ele superava em termos de privilégio, poder e capacidade de se defender. Isso me partiu o coração. Ainda não consigo tirar aquilo da cabeça, porque não era um filme. Era a vida real.
E esse instinto de humilhar, quando modelado por alguém na plataforma pública, por alguém poderoso, se filtra na vida de todo mundo, porque de certa forma dá permissão para que outras pessoas façam o mesmo. Desrespeito atrai desrespeito. A violência incita a mais violência. Quando os poderosos usam sua posição para abusar de outros, todos perdemos…
Isto me leva à imprensa. Precisamos que a imprensa com princípios exija responsabilidade do poder, que o chame às falas por cada atrocidade que cometer. Por isso, os fundadores do nosso país protegeram a imprensa e suas liberdades na Constituição. Assim, só quero pedir à rica Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood e a todos que pertencemos a esta comunidade que se unam a mim no apoio ao comitê para a proteção dos jornalistas. Porque vamos precisar deles daqui por diante. E eles vão precisar de nos para salvaguardar a verdade.
Só mais uma coisa. Certa vez, eu estava parada num set de filmagem me queixando de alguma coisa, horas extras, algo assim. Tommy Lee Jones me disse: “Não é um privilégio, Meryl, simplesmente ser ator?”. Sim, é mesmo. E precisamos recordar uns aos outros sobre o privilégio e a responsabilidade do ato da empatia. Devemos estar orgulhosos do trabalho que Hollywood homenageia nesta noite.
Como minha querida amiga, a recém-falecida Princesa Leia, me disse certa vez: “Pegue seu coração partido e o transforme em arte”. Obrigada."




Rock pesado


(Madrugada de 21 de junho de 2015) 
Um pouco frio, mas tiro de letra. Temperatura caiu bastante; acho que pela noite marcou vinte e um graus, e agora, na madruga, deve estar uns dezessete. Para aqui, no Ceará, já é frio. Estou com os fones de ouvido ouvindo Coda do Led Zeppelin. O silencio “lá fora” está assustador; nem os gatos, os sapos e os grilos pisaram para fora de casa. É, o rock está pesado. Lembro-me de quando comprei esse disco, ainda era LP, “bolachão”; comprei na Modern Sound da Rua Barata Ribeiro em Copacabana. Era freguês da loja, passava quase todos os dias para saber as novidades, pois eu morava há muito tempo bem perto da mesma. Apesar de ser cliente assíduo comprava pouco, pois sobrava tempo, mas faltava grana. Lembro-me de ter escolhido este álbum porque estava “fresquinho”, havia acabado de chegar no Brasil. Comprei e ele fez moradia – ficava direto na vitrola do meu quarto –, se eu ou os amigos fossemos escutar outro disco, colocávamos por cima dele (uma espécie de obsessão púbere insana)... Mas, voltando ao real, ao aqui e agora, ao frio que não é frio: são duas da manhã e nem me arrisco a ligar a televisão (vai que tem um filme bom), prefiro escrever, escrever e escrever... pois o sono forte está chegando, e se eu me arriscar a ler irei dormir e babar no livro. Para mudar de assunto assumo um pequeno problema: cai em um dilema entre dois amigos (estou dividido e mal pago); os dois brigaram, um acusou o outro de uma coisa um pouco grave. Bem, seria fácil resolver: cada um com seus problemas... Mas sou amigos dos dois, sendo que de um deles acho que a amizade ficou mais do meu lado (mas ele ainda me trata muito bem); ele é aquele tipo de pessoa que necessita de bajulação, de que as coisas sejam bem próximas só do seu agrado, mas já havia me acostumado com isso e aceitado os seus defeitos (até porque os meus são bem piores). Por outro lado o outro amigo é mais flexível, mais direto e a amizade sempre foi mais franca. Os dois eu conheço há mais de vinte e cinco anos; os dois são parentes entre si e meus irmãos de coração; os dois me remetem a um passado maravilhoso, com um vínculo, um leque, uma chuva de outras amizades magníficas que vieram juntas e que jamais esquecerei. Ela, e sempre ela... E sempre assim... Bela.

André Anlub

Gurufim


Gurufim (6/5/14)

Principiou-se o gurufim do fim das horas,
E príncipes negros, índios e gurus aplaudem fora.
Já foi tido o caminho com trilhas fáceis
E tão hábeis são ditos sábios ao atravessá-las.

Leram em pergaminhos com preconceitos,
O mito e o medo, a carne e o osso são peças frágeis.
Alguns quiseram viver em museus de idos tempos,
E oprimindo seus inimigos se sentem bravos.

Lá no alto, bem no alto, da mais baixa montanha
Avistaram o ser importante com sandálias velhas.
Descia lento e cantava baixo um antigo mantra,
Sentindo a brisa, notando o novo, suando o samba.

E caem as primeiras gotículas álgidas das chuvas,
De uma nuvem única que bailou com o sol arriscando a luta;
Voaram as aves brancas, negras, pardas e as aves raras,
E ao se verem vivas e ralas – ao se verem importantes e análogas...
Tornaram-se plumas.

André Anlub®



No círculo de fogo com deleite ao jogo


No círculo de fogo com deleite ao jogo

Já não era cedo e se foi; o vento levou sem demora.
Coagula o sangue no corte e na constatação do momento.
O coração pulsa forte; ainda mais depois de um forte
Café grande expresso com grãos moídos na hora.

A tarde chega com o cheiro da resistência do Eu oprimido;
A escrita tremida já fixa terreno; a inspiração já brada o alento.
Sabemos que por algum tempo vem o silêncio.

Pinta a sombra selvagem dos dois meses que calham;
Abstinência devassa, cutucando a pele, falando aos ouvidos.
Em um largo estalo – do ato falho –, o mais perto torna-se longe;
No meu “encaro”, o hábito não faz o monge.

Por enquanto é resistência de resiliência do que foi,
Com elixires, pílulas mágicas, leituras, coisas práticas...
Mas nenhuma cobiça que saísse da preguiça e fosse apropriada.

Do último combate vejo-me totalmente reconstruído,
Sigo no intuitivo, pois a “kryptonita” mais uma vez fracassou.
Conto e canto as horas, mas imploro ânimo e astúcia ao além;
No mais é mergulho, é mendigo obtendo abrigo, eu e meus vinténs. 

André Anlub
(24/01/17)

23 de janeiro de 2017

óTima semana

Sobre o ombro dos homens contemporâneos, a lua minguante; sob o arcabouço da aura, a alma minguada. Enfim o afã da nova era; ao fim da quimera que assaz já era.


Brinco - choro - rio
Enxoto para longe a morte
E com sorte ela vai e não volta
Impossível é perder o meu brio
Queria mesmo ver o mundo
Cicatrizando os seus cortes.

André Anlub®

22 de janeiro de 2017

Na saliva da vida


Na saliva da vida (06/04/13)

Sem rumo, faz do instinto sua bússola
Anda com a cara e a coragem
Não mata um leão por dia
Mas encara a besta macabra.

É dono dos prós e contras
Um pé na frente e outro atrás
Constrói seus moinhos de vento
Ao som de um clássico do jazz.

A cada lua minguante
Pinta um cômodo da casa
E rega o jardim das camélias
Que vibram, nas águas, dançantes.

O cachorro deitado num canto
E o canto dos pássaros belos
O pica-pau e o trinca-ferro
O bem-te-vi e um melro
Dão mais vida ao montante.

O voo da tranquilidade
Num céu azul de espaço
Abraço da vida em liberdade
É o beijo na sede no riacho.

Não mais submerso em vil fachada
Brinda os versos da mãe natureza
Em aquarelas muito além das janelas
Que atravessa seguindo as pegadas.

Agora, não são mais quimeras
Novas paixões o esperam
Sem sonho, sem pouco, sem mera
Nas mil opções de chegadas.

André Anlub

21 de janeiro de 2017

Dueto CXXIX

Dueto CXXIX

A lâmina da espada reluziu ofuscando os olhos inimi-gos.
O mesmo brilho partiu do escudo e do peitoral, abrindo estradas na escuridão assassina.
Caiu à tarde escarlate com uma flecha atravessada no sol de um domingo.
A marcha do olhar determinado avançou sobre a covardia infame, fazendo da fama a foice e da fome a sina.
Batalhas não são fáceis e guerras são batalhas após batalhas. Quando desembainha sua espada o guerreiro sabe disso.
Os brilhos se apagam enquanto o sol dorme na colina. O sangue fica fosco, o rosto fica triste, o poço é fossa e cova para os guerreiros que perderam seu viço.
É dor, é grito de dor. Mas não é grito de socorro nem de piedade. É a guerra da vida, cotidiana e implacável. E é a vida da guerra.
Uma fera que nasce todos os dias – noites, se cria – cresce, se defende – ataca, se maltrata – achincalha, se descobre – se enterra.
Morre e renasce. Renasce e morre. Nem sempre pela espada do guerreiro. Mas ela está sempre ali, a espada do guer-reiro.
A lâmina futuramente pode ficar sem fio, pois amolarão somente à paciência alheia; na lâmina poderá não haver mais luminescência e assim perder a ciência e ganhar certo mistério:
Como conseguiu vencer a guerra, se as batalhas conti-nuam? Como vive em paz, se ainda é um guerreiro?
A fera ouve a pergunta e se resguarda na incoerência de uma possível resposta torta; em silêncio e apavorada ela ouve o som da paz e da inexistência de cobrança; ela se desfaz e se delicia.
Ele também se desfaz e se delicia. Ele é a fera. Ele é a luta e o campo de luta. Ele é a morte e o que resulta da morte, num brilho que é sol mais do que sol.
Agora vemos a lâmina ainda mais afiada, ainda mais frenética e sedenta – porque está em (merecido) repouso.

Rogério Camargo e André Anlub

Poemas à flor da Pele


Em tempos de whatsapp e afins, já não é considerado falta de educação falar de boca cheia.

Dueto CXXV

Em uma imersão no azul o Anu faz graça de graça aos olhos nus.
Nudez cheia de encanto que, por enquanto, vale mais que qualquer moda.
Em algum lugar do país, todos os anos, o Anu come seu angu com anis.
Separa o caroço, sem alvoroço e guarda do almoço para um descansado jantar.
Está na roda essa ave, rondando os engenhos no entorno das pequenas cidades e todo o seu corriqueiro.
Gira com ela o passeio dos olhos atentos, descobridores de pequenos desvãos onde acomodar a curiosidade.
Anu de nós poéticos para todos nós; Anu preto e Anu branco, de cantos melódicos que atraem curiosos patéticos ten-tando pegá-los. E voam girando...
Imersão no azul: indo buscar o que já tem na alma porém na alma não voa assim. Ou voa, sim, mas não com este fim.
Nas anuências do Anu entram sua breve vida, sua esta-da simples de labuta ingênua e ímpar: come – dorme – acorda – voa – canta e encanta.
O Anu anuncia em silêncio: a nuvem diz “vem, Anu” e ele vai, a terra diz “fica, Anu” e ele fica.
É um ser metódico, mas pode deixar de ser; é um ser próspero, e sempre será. Há a derradeira biografia alegre nos seus voos e pousos simplórios. Está lá e é só ver.
Dentro do ciclo, o círculo. Fechado é o olho que não abre. Aberto, o olho vê mais que um circo no ciclo, no círculo.
“Boca fechada não entra mosca”, mas olhos fechados não veem a pedra. A pedrada acabou com a festa, enevoou o céu, silenciou a canção e cerrou as asas.
Uma inversão no azul – o Anu fazia graça de graça aos olhos nus. Não faz mais.


Rogério Camargo e André Anlub

Dos desafios


Dos desafios (2/8/12)

Sentinelas do mais profundo amor, vejo pela janela as folhas e pétalas que caem pintando o chão... 
formam os tapetes dos amantes, síntese da emoção de todos os seres vivos. Já tentei deixar de ser romântico, ver o mundo em branco e preto, lavar bem lavado meu despeito e organizar minha semântica.
Pego a massa e faço o pão, uso a farinha que vem do trigo; existe aqui dentro um insano coração que se materializou tão somente por você.
Vai dizer que me embriago por não tê-la, sons antigos na vitrola e deito-me em posição fetal... estou fraco para o viral e depressões e forte para construir minhas teias. Em absoluto desafio... quero ser chefe dos meus desatinos levantando e regressando à caminhada, vestindo minhas melhores roupas e colocando meus anéis... (fazendo o que sei fazer de melhor).

Enlace das almas (20/8/14)

Deu início aquela conversa; 
Deu o ensejo com a fuça de lua cheia;
No bule o café bem fresco,
Na mesa o bolo, a maça e a ameixa.

Na troca de vocábulos transpõem-se os obstáculos,
Surge um oráculo inócuo no enleve dos versos leves;
O dia rasgando com o sol no arrebate da torra,
A noite fica sem jeito e deseja que escuridão se entregue.

Nada daquilo é fracasso se o ocaso se vestir de amarelo,
Largar um breu quase eterno, e com isso também foi o tédio...
Há de parar com os remédios e vestir uma sunga e calçar um chinelo.

Para todos a areia está fofa, o mar bem calmo e a brisa a contento;
O inesperado não é tão enigma, pois temos a insígnia de um nobre guerreiro.

O cabelo castanho vai ficando branco; o branco dos olhos, vermelho.
O ano já está quase acabando, e depois de um espirro, já é novamente janeiro.

Vem uma luz no final do túnel, arrasando a desesperança,
Criando a salutar aliança de aceitar o escuro, mas ver a clareza.
Dizem ser indelicadeza – mas assim a vida tem mais futuro;
Dizem que estão em cima do muro – mas o muro é puramente adereço.

Deu-se o fim da conversa
Com um sorriso em todas as faces.

No bule o café ainda quente,
Na mesa um vazio
E nas almas os enlaces.

20 de janeiro de 2017

Olhos e mãos

Olhos e mãos (4/9/11)

Olhos que fitam o azul celeste,
Pensando em um dia desvenda-lo.
Olhos que veem vultos por detrás de ideias
E sabem da capacidade do poder imaginário.

Ousadia das mãos...

Plantam e criam,
Remetendo os seres ao mais adiante mundo:
Ser que fica desnudo;
Ser que fica vestido;
Todo e qualquer atributo.

Olhos que mergulham em longínquas profundezas,
Tirando o corpo físico do lugar comum.
Olhos que trafegam no vão e vêm de letras,
Na mão e contramão de amores e lendas.

Mãos de um ser...

Rápidas, elas desvendam segredos,
Revelam medos da mais delicada forma.
Mãos que transmitem
O que dos olhos já foram vistos... 
Ou até mesmo o que gostariam de ver.

André Anlub

18 de janeiro de 2017

Na viagem!



Das incongruências (2012)

Se estiver frio reclama do frio
No calor se sente no inferno
Quando vai à praia sonha com banho de rio
Tudo está contra sua interação.

De um jeito terno, busca consolo e paixão
Vendo os sonhos como eternos objetivos 
Em cores explodindo em sensações multicoloridas
Reclama ser na vida o moribundo mais vivo.

É um ser brioso com demasiada descompostura
E na altura dos fatos nem precisa ser rigoroso
Todos já conhecem seu jeito nativo
É um poeta afetuoso, mas de extrema agrura.

Adora escrever torto com suas linhas certas
Um personagem morto de um Shakespeare atual
Mescla a inspiração como uma vira-lata pura
Fecha-se em ostracismo com as portas abertas.

Das inspirações (2012)

Veio assim de repente como essa brisa gostosa que corta o vale
A lembrança recente que se faz nascente no amor que ainda insiste em você.

Eu, sentada aqui nesse tronco velho de eucalipto...
Os pássaros dando rasantes, bebendo água no lago
Vendo, lá do outro lado, o vento batendo e fazendo no dossel das árvores um balé formoso.

Sinto uma enorme saudade que me aperta o peito feito um torno sem controle
Tento escrever algumas linhas no meu bloco, só saem rabiscos e o seu nome.
Meus pés descalços tocam nas folhas secas, marrons.
O som que elas emitem me remete à uma época em que eu ainda me arriscava com a velha máquina de escrever.

Tempos remotos e maravilhosos
O velho cesto de lixo, lotado de folhas amassadas
Pensamentos que saiam já amarrotados da minha cabeça
As imagens que só vinham à noite, como fadas ou almas aladas.

Inspiração é assim... Um mistério em frente e verso
Quando a verve lhe toca é como um empurrão...
Um mergulho no buraco nada negro do universo
O colorir da emoção.

Das lamúrias (2012)

Existe “aquele um” que só resmunga
Não movimenta, não vai à luta...
Latente insignificância de um filhote de pulga
Mas sabe muito bem o que deseja.

Coloca a culpa no país, nos pais, no governo, no moderno, na igreja
É uma peleja que sustenta com esmero e prazer
E o que fazer se a esta só quer que a vejam?
Pois ação é perigosa... pode resolver.

Tem também o cabisbaixo e pessimista
Que sai na “pista” procurando um parecer
Minimalista, oportunista e acessível
Mas o horrível é não ter nada a resolver.

Reclama do aumento da gasolina...
Do preço do material escolar
Queria um menino e nasceu menina
Tem piscina, mas nunca aprendeu a nadar.

Reclama que o salário é deveras pouco
E o sufoco de viver só para ter tédio
Diz que um dia acaba ficando louco

E não sobra um troco pra se dopar nem com remédio.

Dos anátemas (2012)

Rouba alento de quem é mais anêmico
E pouco antes do mesmo fenecer 
Pisa, cospe e sorri.

Achincalha a falta ou a existência da fé alheia
E quem cai na sua teia, destino - sucumbir.

A condição “sine qua non” para sua existência é macabra
Chifre de cabra, língua de serpente e asa de morcego
Seu amor é cego... arrancou-lhe os olhos.

Nesse holocausto é só mais um fausto
Fato verídico que poucos notam
Na ponta da faca escorre uma gota
Podendo ser sangue ou suor ou pranto.


André Anlub®

É somente mais um dia fantástico


É somente mais um dia fantástico (8/6/13)

Apaguei o abajur
a cama ainda está quente.
O sol surgiu ao leste
e o sorriso nos teus lábios.
Tudo que dizem sobre o amor
não é nada, nem um pouco, exagero.

Fiz um peixe assado...
aquele, esperto.
Coloquei as velas acesas na mesa
abri um ótimo vinho
e adivinha: 
achei frescura, mas tá valendo.

Tem sido poesia que invade
e em alarde e envaidecido
sigo saciado na tua maestria.

Tragam vozes e resmas.
Tragam versos e temas.
O meu amor pela praia passeia
na orelha uma açucena
e o olhar de sereia.

hasteei nossa bandeira
com os escritos bem claros
arranjos nada raros
de um amor que vale a pena.

André Anlub®

Hora ou outra...

E vem...
Os olhos mirando o bloquinho,
Sou zanho, sou zen, sozinho.
Quebrou-se o silêncio,
No barulho do meu copo.
O gelo frenético batendo,
No fino e fanho vidro,
Ao ser mexido pelo dedo.
E vem o convite à escrita...
-- x --
Ontem nem sinal de uma ideia
Mesmo com choro e com vela
Com água que encharcou a janela
Respingou nas minhas pálidas folhas.
-- x --
Os meus sonhos são bucólicos pleonasmos
são os estágios dos amores em nuances
nas andanças são os passos nas estradas
nas errâncias são meus corpos que levantam.
-- x --
O mar me ganha assim:
de jeito, de repente, de encanto.
E mesmo eu envelhecendo
e aos poucos ficando mais longe
o amor e o respeito só aumentam.
É o mesmo que acontece
em relação a vida.
-- x --
O medo pinta o corpo da cor que lhe convém
trata a chama com desdém.
Não deixa mais se aprofundar na fábula
Sobra o raso e alimenta a mágoa.
-- x --
O mestre em yoga
Com a força de vontade ensinou-me o yin-yang;
Agora sei que tudo vai e volta,
Na vida e na verdade (como um bumerangue).
Viver não é uma “suruba” em Aruba,
Tampouco um “ménage” em Laje.
O mestre Yoda sem pretensão
Ensinou-me a força,
Por livre e espontânea vontade.
-- x --
O meu dó
de ver sua ré
sem mi mi mi
de lua a sol
de cá e lá
fala por si
sem fã, sem fá.
-- x --
O orvalho brinca de tobogã,
Em uma enorme folha de taioba.
Sei, sei que ainda necessitava de mais música,
Música boa, aquela apreciada pelos pássaros,
Que dançam valsa com o vento.
-- x --
O poeta foi assaltado
Por duas letras “A”
Que saltaram de sua folha
Repentinamente,
E era dia de semana
Em plena Copacabana.
Levaram-lhe a inspiração
Lembrou-se das casas com luz e pessoas sem ler
Lembrou-se das mentes criativas censuradas pela lei
O poeta tocou a face e enxugou o pranto
Sabendo que tem muito mais da mesma...
Passou agora a distribuí-la.
-- x --
O próspero havia recebido conserto
e a velha flecha no seu peito
enferrujou e ruiu.
Os olhos caçam felicidade, agora mais secos
e a sombra não mais se encontra por aí, vagando...
Meramente sumiu.
-- x --
O sol está sempre penteado, perfumado, bem vestido...
Também muito cortês e fotogênico, sempre amigo.
Ao se pôr, diz: “Jusqu'à demain, bonne nuit!”
-- x --
O tempo é sua Nêmesis
Levante
Percorra
Vá a qualquer direção
Saindo do ostracismo
Saindo do falso abrigo
Imersão no lirismo
Admitindo a paixão.
-- x --
O tempo passou e passa
semente que germinou e germina;
som das boas ondas.
Vi e vejo as ondas de beleza, simples como a natureza.
A vida segue sentinela,
olhando por onde anda e onde pisa.
Na minha essência... Isso é de praxe.
-- x --
O tempo se esgota, é a gota d’água
que desagua na grota e no vento
pois invento a lorota da mágoa
por não encontrar meu contentamento.
-- x --
Olho no olho
dente por dente
É coerente
os opostos se atraem.
Na beira do abismo
um passo à frente
mergulho fundo
só o amor constrói.
-- x --
Olho-te e já não vejo só o teu rosto...
Vejo uma aquarela de intermináveis possibilidades.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.