25 de março de 2017

No meio do lago


As gaiolas se abriram, voam os pássaros, rumo à vida.
Falham as bombas e pombas de branco se pintam.
O mundo esquece seu eixo, gira em toda direção
e pira - sem nenhum desleixo - sem a menor ambição.

No meio do lago sossego meus remos (18/11/13)

lanço a vara com a melhor das iscas.
Espero o peixe
faço figa.
Em tempo ameno
mordeu a Tilápia.
Depois do alvoroço
num pensar parco
devolvo-a pro lago.
- No meu lar tem almoço
Já ganhei meu dia
vou puxar meu barco.

André Anlub®

Sonhador


Sonhador (6/11/13)

Ressurreição dos grandes,
Dos poderosos deuses,
Que repousavam e sonhavam,
Apenas sonhavam.

Ao longe se ouve os gritos,
Preparativos da paz.
Entram pelos tímpanos
Os novos tempos dos templos
E as novas terras, moças naves.

Há de surgir o maior dos maiores,
Fim das catástrofes,
Princípio dos versos e ventos...
Bons.

Ouçam as trombetas!

Mas é assim, nesse momento,
Onde a festa tem brilho,
Tem som, tem ritmo,
Onde pipocam as estrelas
Abrindo passagem aos cometas
Que trarão a verdade.

Seriam cometas?

E ao cair das pedras e dos astros,
Ilustrando o céu
Em frenéticos rabiscos;
Vemos uma nova era
Atmosfera de segurança,
Benevolência e compreensão.

Como num desejo e sonho,
Ao chão o cajado,
Ao sol o rebanho,
Na utopia e visão.

André Anlub®

24 de março de 2017

Advogado do Diabo

Advogado do Diabo (Letra de 2009)

Se for pra prender ele prende
Se for pra soltar é urgente
Tira o culpado de uma cela
Coloca um inocente nela.

Não tem chifre
Não tem rabo
Advogado do diabo.

No Brasil estão camuflados
Nas polícias, no Senado
Não querendo ser julgados
Pelo povo abandonado

Estão no governo americano
Que diz defender a igualdade
Mostrando a cara real 
Na verdade do Iraque.

Não tem chifre
Não tem rabo
Advogado do diabo.

E o rabo abanou o Capiroto
No rito, no ralo, no arroto;
E o rabo caiu nascendo outro
Sem cor, sem odor, semimorto.

Se for pra prender ele prende
Se for pra soltar é urgente
No Brasil estão camuflados
Nas polícias, no Senado.

André Anlub®

Finalidade da arte


Livro (capa, contra-capa, orelhas): ABC Tríade Poética  de André Anlub, Beto Acióli, Carlos Marcos Faustino 

Finalidade Da Arte  

Abraço o pincel como se fosse meu pai
Chega de despedida, chega de adeus
A inspiração chegou, a timidez se foi
Sou Netuno, Odin, Zeus.

Faço um traço, entro em ação
Cores dimanam do meu pensar
Encéfalo explode, ogiva nuclear
Arco-íris, cogumelo, refração.

Começam a germinar imagens
Transpor o que tinha na gaveta da mente
Minhas passagens, viagens incoerentes
Saem absolutos, imponentes, pelas mãos.

Os "nãos" e os "sins" de outras épocas ou horas
Conspurcam a tela branca 
Formam uma figura que desbanca
A imaginação do artista, sua história.

E pronto, o rebento lindo e bem-vindo
Ali, à sua frente, imaculado
É mais uma obra, quase do divino
Da verve, alento, do artista amado.

Gosto de pintar, gosto de poesia, de escrever e tocar bateria; gosto de viver longe da vida vazia, faço das artes minha orgia.

André Anlub

Aurora


Ainda mergulho de cabeça em uma paixão; mas checo a profundidade e a temperatura da água, coloco touca, tapa ouvidos e ai sim, penso duas, três, quatro vezes e (quase sempre) vou.

Aurora (12/12/08)

Chegou agora
Chegou a tempo
Fagulhas do amor.

Do chão que pisa
Do chão que beija
Aurora da vida.

Sentimentos
Desencantos
Sofrimentos.

Uma promessa 
Um tudo que é bom
Doce mentira.

André Anlub®

23 de março de 2017

Manhã de 7 de junho de 2015


Imagem: Mensagem subliminar - Subliminal message

A conotação disse pra denotação que ela tinha um coração de pedra, a denotação acreditou e morreu de infarto!

A arte e o tempo se vão – vontades e desenhos de pele ficam. 
(Manhã de 7 de junho de 2015)

Trouxeram-me os Anjos alguns rabiscos nessa madrugada. Eram folhas sem nada, em branco, mas tudo ali continham. Foi o mundo ao avesso no desapresso das pressas. O pensamento ligeiro deixava nas nuvens rastros de onde nunca passou enquanto o mar, meu amigo, me aguardava em uma próxima e breve visita. Os olhos fechados em sonhos iam aquém e além do tempo presente; pude ver tão claramente um fato nunca consumado. Por onde estaria um quadro chamado “chupa cabra” que pintei e presenteei uma amiga? Onde estaria essa amiga? Pois é. As flores belas nos cantos da sala, as velas queimando e perdendo seu corpo; as flores ainda com cheiro delicioso e as velas ainda tinham muito a queimar. Um poço de água doce e limpa em formato de lembrança... Uma água nunca bebida e uma sede que sempre houve. Vejo agora elegantes elefantes com seus passos gigantes, pesados e lentos... Em um santuário que faz qualquer santo voar. Versos me rodeiam e anseiam serem pegos e “usados”. As pedras, cá para baixo – pedras duras e cascalhos – lisas e pontiagudas – formam dores antigas e novas e, como não poderia deixar de ser, também fazem parte do cenário. A peça de teatro já – já irá ao ar. Em um abre/fecha de cortinas, rotineiras rotinas e acasos em novidades... Tudo para alegrar a alma. Vou pensar sobre o assunto e tirar minhas próprias conclusões (novamente). Expus o que era para ser exposto, e com gosto. Pus-me o que era pus e cicatrizou em uma casca mais forte e duradoura. Escrevi somente para fazer graxa e engraxar o texto... dar brilho. As cachoeiras me chamam (sejam elas quais forem), as águas me chamam, o sol está no ponto e o céu bate seu ponto... Ainda mais azul do que nunca. Canhões e soldados sedentos, tempestades e terremos (querendo), chuva ácida – frio e gelo. O frio perdeu a guerra, mas ainda não se deu conta disso (ainda bem). Agora dou uma puxada forte no meu inalador Vick, cheiro de cânfora e mentol... O tempo ficou lento e o som no mínimo, lamentos enterrados e lamúrias aos ventos... A distância entre o entrosamento e o ensejo é um breve momento... As cortinas de todas as cores e formas se fecham... Hoje houve sonho, como sempre há. 

André Anlub

Congelando os laços


Congelando os laços

Tu estavas bela na mente
com aura brilhante dourada
emanavas energia tão quente
aquecias minha alma acamada.

Destilavas o amor no teu sumo
o perigo da peçonha na veia
que desvirtua o coração em teu rumo
pondo fogo na paixão que incendeia.

Perdido, me entrego em teus braços
na cadência tempero a canção
expondo o sentimento em oração.

E, enfim, congelamos os laços
o sonho, o céu, a realidade
no fino gelo eterno da fidelidade.

André Anlub®
(26/03/13)

22 de março de 2017

BOa nOite

Hipnotiza-me sem a mínima hesitação
E com a carcaça não tem perdão
Me molda e muda
Me desvenda e desnuda
Aperta tanto meu coração
Que em seu transmuta.

Dos antolhos

Quero um apropriado escudo Celta
Pois há lanças voando sem rumo
Almejando ébrias mentes sem prumo
Mas por acidente a mesma me acerta.

Quero o melhor dos virgens azeites
Pois nas saladas só tem abobrinhas
Na disparidade de várias cozinhas
Todos adotam a mesma receita.

Quero ver e ler o que outros registram
Sem antolhos nem cínica mordaça
Sem caroço impelido na garganta
Faz o engasgo que mata na empáfia.

Mas não só quero como também ofereço
Meus singelos poemas com terno adereço
E com pachorra e olhos modestos
Vê-se admirável o que era obsoleto.

André Anlub

Flechadas e frio


Flechadas e frio

Foi empregado o legado de um suculento argumento roliço.
Que seguia uma torta linha tênue, porém eficaz.
Trouxe um conflito mutante, embora antes travestido de paz;
Havia formado o paradigma doce – posto que agora migrasse ao mortiço.

Chove fraco lá fora; enquanto dentro é tempestade e naufrágio;
Queimam árvores pela cercania; enquanto dentro jaz o incendiário.

Foram cantadas doces, dançantes e melosas melodias
Que balançavam as pessoas e espalhavam as cinzas.
Nomes escritos em pedras; nos rostos pinturas de guerra;
Bocas rubras dentadas – orgias que giram a esfera.

Sol quente na cachola de uma gente; somente aos que estão fenecidos;
Encharcam e transbordam os rios – em sonho, em rebanho e em delírio.

Reminiscências e larvas das palavras que nunca foram ditas;
Atuações sem ações, sacrifícios que se inundam e escorrem nos orifícios.
Tudo foi lenda, arrepio – presunção de um viver e sua glória,
Agora é frente de desapontamento – e costas, flechadas e muito frio.

André Anlub
(22/3/17)

Ode a ela


De toda a imensidão do planeta
só quero estar nesse mar belo
de Iemanjá, Iracema, Otelo.
Mar de perfeitos sonhos
folclores, tesouros e viços
dos nautas, vikings, corsários
navegadores fenícios.
Mar de amores lendários
imaginários, antigos
concretos, ambíguos
de interminável poesia
que em toda alma habita.

Será que sou ave em seu sonho? (Ode a ela)
– Até coloquem palavras em minha boca... mas que nasçam poesias.

Tempo malvado, malvisto e infausto. Muitas águas tumultuosas – marés nervosas – ventos de inverno e inferno astral: sei de pessoas idosas com extrema dificuldade em andar/nadar.
Vejo algoritmos de vaivéns escritos sem nitidez em pergaminhos; peço ajuda a estranhos e fico aborrecido por desconstruírem meu ninho.
Desenterrei meu tesouro e veio-me você – assim – num estouro –, deixando o que pode no poço e empossando-se agradavelmente do espaço.
Hoje sou o mesmo Eu, mas mais suave; sou velho, menino e sou ave.
Voei – vou e fui bem longe: larguei a máscara de mau moço, pois é mau demais para onde vou – é mau demais para tudo isso (que está por vir).
Jocoso – o sorriso largo do lagarto ao ver nascerem suas pernas na saída do lago.
Viçoso – saber que foi sonho ao ver do lagarto um lacaio atropelado na estrada. O tempo é intenso, anda com pressa e sente medo e se sente vivo; faz ideia que loucura é isso?
Ganhei a confiança da mudança, estou voando e procurando a janta: salmão, garoupa, lagosta?
Tudo tem sua hora e tem o espaço a ser ocupado e tem regaço e tem aurora.
E no sonho temos o céu, não somos cegos e citamos metáforas: ajeitei a cozinha, voltei da vinícola, me espere pescar... você fisgou seu peixe, é de praxe, mas odeia comê-lo cru e sozinha; bom apetite – vou cozer para nós.

André Anlub

21 de março de 2017

Canguru vagabundo no fiofó do mundo


Canguru vagabundo no fiofó do mundo

Vislumbro ambientes tranquilos e meio a ermo;
E ainda com amigos ou sozinho sinto-me o mesmo.
Há ventania que não me carrega e me agrada,
Há maresia que me liberta e me afaga.

Minha janela deságua num mundo inteiro;
Minha solidão em vão é vista no nada.

Chamam-me em segredo para uma fina festa;
E sem medo usei o meu rabo de lança
Acertei o desabrigo – o inimigo que me resta;
O vi chorar na ponta da lança como criança.

Há fogueiras, zoeiras, intrigas, folguedos;
Esqueci o meu tempo no fundo de uma gaveta,
Pois dar conselho não há ninguém que se atreva,
E dancei com lobos, tolos, deuses e meus medos.

Sou um sujeito feito um feliz canguru:
Carrego uma pochete feito bolsa na cintura;
Gosto de boxe e caminho em pé ao natural;
Tenho um rabo comprido – invisível – vermelho,
E com uma afiada ponta de lança no final.

Sou um sujeito canguru em meus sonhos,
Acordei querendo ser novamente.
A distância criou meu nefasto enredo,
O meu voo levou-me a reconhecer os estanhos.

André Anlub
(21/3/17)

Embaixada da Poesia


Inteiramente a favor de sempre persistir neutro. Até mudar de posição. 
(Madrugada de 15 de maio de 2015 -)

Acho que a era das raspadinhas passou. Ontem fui tentar a sorte e não achei nenhuma à venda. Não, não é trocadilho... Foi real. Cheguei à lotérica e não havia uma raspadinha sequer colada no vidro do caixa ou pendurada na banca de jornal logo em frente. Simplesmente sumiram! – Mas vamos ao que interessa, ou nem tanto... Hoje no trivial banheiro matutino fiquei pensando em quantas estradas escolhemos ao longo de nossas vidas; quantos caminhos dentro dos caminhos, quantos atalhos, ruas desertas, muros altos e baixos tivemos que pular... E os posicionamentos? Alguns rápidos em escolhas difíceis, alguns difíceis em longas escolhas, os lugares que dividimos e amizades que escolhemos ou que escolhem a gente. Algumas escolhas que adotamos nas nossas andadas nessa roda gigante alucinante chamada vida (na verdade está mais para montanha russa) têm implicações eternas, cicatrizes agudas que nos lembram todos os dias de tais fatos (lembro-me que já escrevi um poema sobre isso) – (esse papo de roda gigante lembrou-me do Tivoli Park que eu ia quando guri). Só você conhece tão bem suas estradas passadas, seus prantos feliz e triste, seus gigantes e anões abatidos, seus problemas sem solução e os solucionados, seus sonhos mais íntimos e pesadelos bizarros, gostos e desgostos, agradecimentos e revoltas. Só você conhece essas coisas tão bem. Mas mesmo assim poucas pessoas realmente se conhecem. Andamos em círculos quando não aceitamos aquele arrepio na nuca, aquele medo de tal passo, aquela ausência da zona de conforto. Para cada temor que haja comedimento; para cada angustia que haja paixão. Havia anteontem um belíssimo desenho em um muro que seguia e acabava ao longo do meu quarteirão, até a minha esquina. Ontem me deparei com tudo cinza, pois pintaram por cima – não entraram no clima. Hoje irão demolir o tal muro para construir uma enorme oficina. É o fim da linha; é o rabo abanando o cachorro. É quase um truque do destino, uma peça pregada pelo tempo que tem pressa em cima do fadário etário do velhinho de outra era. Já era! A criação faz de tudo para estar absoluto para o criador; no dia seguinte tudo é hoje e o amanhã é amanhã, mas o ontem sempre será passado. Duas vezes as estradas se cruzaram, uma no inicio e outra no fim; por duas vezes a vi desvairada, antes do início e antes do fim. É loucura, mas nunca foi dito o inverso; é sonho, mas nunca se acorda para saber. Dou uma dentada no meu sanduiche no pão doze grãos com alface, rúcula, manjericão, camarões médios fritos, queijo ricota e um pouco de açafrão. Açafrão é extraído dos estigmas das flores, do sexo delas; tem gosto aprazível e é um excelente tempero... A meu ver. Pão de maluco às uma e meia da manhã. Vou pintar meu corpo para a guerra, levar minha melhor espada e preparar meu grito. Preparo também o palpite e aposto todas as minhas fichas no inimigo... Perdendo ou ganhando eu ganho. É estranho? – realmente é! Já ouvi falar em alma que fica vagando sem poder pertencer a lugar algum. Ficam presas na lama do limbo, sem esperança e destino... Apenas ficam. Amanhã vou atrás das raspadinhas lá pelas bancas do centro. Quem sabe por lá tenho sorte.

André Anlub

Orbe longínquo

Ensaio NIF Magazine




Encontra-se num orbe longínquo
meu ego prófugo e inútil 
degredado pela poesia
encalçado pela humildade
pois sendo maior de idade
bateu em retirada
ferido e cansado da vida.

Encontro-te casualmente em um escrito
na lágrima escorrendo no rosto.
Tu não és desgosto
tampouco amor imposto.
Não és, sequer, tempo perdido;
és perfeita inspiração minha
ao longe ou ao longo de um sonho
fruto do meu imaginário ativo.

André Anlub®

20 de março de 2017

Romero e Julita


Romero e Julita

Romero conheceu Julita em um luau na cidade de Arraial do Sana, distrito de Macaé no Rio de Janeiro. Era semana santa, a fogueira queimava forte, as salsichas assando e o calor espantava quem ficava a menos de dois metros do fogo. Romero chegou cedo, bem antes de Julita, e ao vê-la foi em sua direção com a caneca de vinho em uma mão e na outra seu revolver trinta e oito refrigerado. A princípio todos ficam em silencio e um ar de interrogação invade a noite. Romero, ainda em pé, olha para todos e todos lhe olham; ele agacha e diz: 
– Querem ver um verdadeiro idiota estragar a fogueira e a noite?
Então ele abre o tambor de seu revolver, tira uma bala, dá um sorriso maroto e a joga na fogueira. Chega a levantar umas pequenas brasas e a fazer um ruído rápido; mas não tão rápido como o levantar das pessoas de suas cadeiras, agoniados com o acontecido. 
– Meu deus, quem é você? Parece que comeu estrume! – Com os punhos cerrados, protestou em tom forte Julita. Havia ficado bastante nervosa, com os olhos esbugalhados de pavor e a pele arrepiada. 
– Pode até matar alguém quando ela estourar – diz Mario, que já era um conhecido de longas datas de Romero. Então, ele em um gesto rápido, toma a arma da mão de Romero, a joga no chão, e eles ensaiam uma briga – não chegando a vias de fato. Mario pega a arma de volta e realmente confirma que estava quase inteiramente municiada – faltando justamente um projétil. A galera então se exalta, uns se retiram rapidamente, outros vão encher baldes de água, quando Romero tirando algo do bolso enfim se entregou: 
– Calma gente, eu joguei uma pedrinha. Olhem a bala aqui! – Abrindo a palma da mão e mostrando a maldita que quase estragou aquela noite poética.
Julita pensou que jamais poderia ser amiga de alguém tão insano. Mas o destino iria dizer outra coisa. 
Romero acordou junto com o sol naquela fria manhã de domingo, colocou um bom jazz no seu som, abriu a janela e deu de cara com um colibri que o fitou com olhar de ‘bom dia’. Lavou seu rosto e lembrou de seu estranho sonho com uma amiga antiga, Julita, a qual ele já não a via há cinco anos. Eles eram muito amigos, e a reciprocidade era tão evidente que gerava comentários maldosos de terceiros. Sempre pensou que existia algo mais naquela afeição e doar mútuos; mas até os tempos de hoje nunca se atreveu a perguntar a ela. Lembrou de sua maneira distinta de se vestir: adorava um moletom e chinelo de dedo, camiseta feminina com alguma estampa interessante e a corriqueira ausência do sutiã. Certa vez, pela manhã, ela bateu em sua porta usando uma longa bermuda cinza escuro, uma sandália preta bem fechada, rasteirinha, uma camisa de manga comprida cinza claro, com decote em ‘v’ e a foto da Minie sorrindo estampada. Mas o que arrematou o brilho nos olhos de Romero foi ela estar usando um pequeno boné preto, óculos escuro e seu belo sorriso que afinava seus lábios carnudos. O convidou para passear pela orla, olhar o mar, comer um sorvete e trocar uma ideia... Era tudo que ele queria; aliás, ela sempre sabia o que ele desejava a cada momento (quase mágico), até quando o desejo lhe faltava. Era uma menina simples, porém com os cabelos muito bem tratados, lisos, longos e pretos, um corte com franja reta, olhos vivos e belos, levemente caídos, nenhuma maquiagem e um sorriso cativante e sincero, porém raro. Eles ficaram amigos, pois por ironia do destino, na volta da viagem de Arraial do Sana, em uma festa local descobriram que moravam no mesmo bairro. Romero nunca se perdoou de não conseguir se recordar com perfeição de como essa bela e enigmática amizade começou... pois em Sana, e na festa que se encontraram, eles trocaram pouquíssimas palavras e olhares. Mas como jamais poderiam imaginar, com o tempo ela haveria de se tornar uma espécie de confiável confidente, também uma espécie de escudeira a quem poderia pedir auxílio e também prestar com uma enorme desenvoltura e todo o encanto possível – estavam sempre prontos um para o outro. Mesmo com um “rolo” na época, um quase namoro de Romero com uma menina muito jovem de nome Maria Rita; ele não abriu mão de ver Julita com frequência, pedir seus conselhos, querer sua companhia e demonstrar seu afeto – penso até que aumentaram os encontros – o que gerava conflitos com Maria Rita. Mas uma mudança brusca de cidade de Romero acabou os separando, deixando-os anos distantes. Romero se casou com sua namorada nova, enquanto Julita pulava de namoro em namoro que duravam pouco. Certa vez em uma manhã bucólica, na cidade de Itaipava, onde Romero havia se mudado, ele recebe a visita de Mario, o qual lhe conta em segredo notícias de Julita – antes mesmo de Romero perguntar.
– Sabe, meu amigo Ro, Julita “colocou a viola no saco”, foi morar no exterior; ela se casou com um Francês e viajou assim que a filha nasceu.
– Nossa, por que você não me ligou avisando?! – Disse Romero abaixando a cabeça.
– Antes de pegar o avião, ela me pediu encarecidamente para me despedir de você por ela; também deixou um recado que sempre o teve no coração e em sua alma, e te esperou o quanto pode.
Romero deu um profundo suspiro, seus olhos marejaram e ele segurou a dor para mais tarde, em sua cama que é lugar quente – como diz o ditado popular. Por fim foi ao quarto e pegou o livro de Shakespeare ao qual estava lendo; o mostrou a Mario e sussurrou:
– Vejo, Mario, que minha história com ela tem um pouco a ver com esse livro, só que às avessas. Subestimei meu amor e não abri espaço para receber o dela. Sinto-me fadado a sofrer até meus últimos dias.
Mario vai em direção ao amigo e desfere um longo abraço apertado nele. Vai ao seu ouvido e diz bem baixinho: 
– Sim meu caro amigo, foi uma história triste, mas de final previsível. Sinto por vocês.
Naquele exato momento Romero e Julita cruzaram pensamentos, e os dois – como por milagre – chegam a uma terrível conclusão: é inquestionável que os dois estão vivos; mas não há dúvidas que com seus corações fenecidos. 

André Anlub

Lendas verdadeiras

Lendas verdadeiras

Indo esperto, sendo longe, médio ou perto;
Frio tipo espeto, noite longa de outono.
O cheiro é evidente, o barulho estrondoso,
Faca nos dentes e o corpo solto e impetuoso.

Quem foi e voltou feliz, não se esquece...
O melhor dos melhores é somente reflexo;
Quem é saudoso às vezes se aborrece,
Pois imerge fundo no indiscreto sem nexo.

De certo modo torto anda-se reto (sempre esperto)
Com a mente dormindo, e o ideológico ereto.
A vida é louca varrida, empurrando com a barriga,
Os pés num céu encoberto de uma tempestade vadia.

Tudo firme e fato; tudo filme e teatro;
Nada falso e forca; nada Fausto e diabo;
Nas lendárias escrituras – imaginárias rebeldias,
Perde-se o talento de Goethe, se ganha de jeito à poesia. 

André Anlub
(20/3/17)

Dos Outonos

Relembrando uns antigos:


Dos Outonos

Já é outono...
Já é beleza.

Natureza com realeza e seus adereços
O endereço com a maior certeza...
É não esquentar cabeça com nenhum transtorno.

Há uma cidade com um parque no centro...
Não é o Central Park!

O amarelo e o carmim abrem o caminho
E mesmo sozinho nunca me perco.

Há uma casa com uma árvore muito cheia
No outono ela emagrece, fica mais bela
Pela janela, estupefatos, todos emudecem...

Contemplando perguntam aos quatro ventos...
“Merecemos viver essa formosura?”

Já é outono...
Já é loucura.

André Anlub®

Mesmo que anjos tenham umbigo

Esvazie-me – preencha-me
conheça o verso e o avesso,
rima após rima,
sabe que'u deixo!
E depois,
ao acordar sozinha,
vá viver se estou na esquina.

Mesmo que anjos tenham umbigo (2013)

Mudei de século,
Moldei o crédulo,
e passei a sonhar com as Valquírias.
Vi um mundo sem máscaras,
sem muita diplomacia.

Eis as tardes que caem
afogadas em grandes bacias.
Eis as mães com suas filhas
fazendo de alvo o profícuo.

Delineei o passado
no caso mais que perdido.
Etiquetei os bandidos
ao som de música clássica.

Para um espanto em vão,
bandeiras viram fogueiras,
e as duras madeiras de lei
amarrotam o nosso irmão.

As fidúcias rasteiras,
já velhas, trapos manchados,
silenciam os zangados,
servindo de panos de chão.

No auge da contradição
os ouvidos não ficam entupidos,
ecoam os belos grunhidos,
do cão são da imaginação.

Eis o século moderno
de horizontes pintados,
em pergaminhos eternos,
e jovens audaciosos e belos:
- nos banquetes,
nos sovacos,
as baguetes.

Haverá um menino
e tornar-se-á bem sabido,
verá tudo se repetindo:
- sem dono o umbigo quer briga.

Sorridente - indiferente,
e a alcunha de sobrevivente,
sentará feliz lá na praça
jogando milhos pras garças:
- o umbigo no meio da barriga.

André Anlub®
(4/10/13)

19 de março de 2017

Ótimo dia aos amigos!

Focamos a vida em construir. É o que nos norteia e nos faz levantar e lutar a cada dia. Temos uma conotação ruim à palavra “desconstruir”, pois vemos um cenário negativo, desqualificativo e nocivo nela. A questão é que crescemos nos moldando com o tempo, ganhando corpo/conhecimento como um castelo que nunca ficará pronto. Vamos sendo construídos tábua por tábua – pedra por pedra – cimento – areia, e influências externas. Nesse processo de construção, nessa massa, nessa essência, coloca-se também estigmas sociais, preconceitos, teimosias e arrogâncias. É salutar aceitar, reconhecer e aprender a desconstruir tais sentimentos, a fim de sermos mais tolerantes e justos.

O RUIM

Vivendo a vida como se disputasse corrida
Lavando a alma e enxugando o corpo
Entrando no ringue e comprando briga
Largando obrigações e segurando o copo

De marcha ré ele vai para frente
Reclamando de tudo que possui
Fazendo tudo que está na mente
Sendo pior que o próprio ruim

Muito chifre e pouca fé
Deixando sua marca em todo lugar
Muito longe ele vai a pé
Todo esgoto é o seu lar

Ri do circo pegando fogo
Quer ver o padre virar pedófilo
Aposta e ganha em qualquer jogo
Dá tapa na cara de tudo que é óbvio.

André Anlub

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.