14 de março de 2019

Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos


Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos

Deu um gole no chá verde gelado e ao descansar a xícara, sorriu; viu-se num lago novamente o guri que um dia brincou com seus sonhos alados. Congelando o momento foi trajando o futuro, luz no fim do túnel do incerto predestinado; no amanhã um apogeu deveras absurdo é a essência madura que utopicamente nasceu. Viu-se feliz com o viver protegido, viu-se ungido com o suor de mil anjos. Na boca pequena um grandioso sorriso e os ouvidos docemente arranhando violinos de Vivaldi em arranjos; faz-se adulto, pecante e andarilho, com rugas no rosto e prantos arquivados. É trem de carga que não carece de trilhos; abandonou seu abrigo, sem culpas e mágoas. Chegou o tempo das convicções positivas, de amores desatados por mãos limpas e lavadas com o suor da procura. Eis mais um desafio no meio do povo  “de andar semelhante”: - barba bem feita, o sapato novo e alma nada desnuda. Eis o semblante guerreiro, os filhos na escola e hora na labuta: - comida na mesa e nove talheres para apenas duas mãos. Chegou o tempo de desprender-se do básico e não se sentir um traste por nada ter de praxe.

Fugindo da história: 

Foi convicto à feira no domingo e comprou seu peixe... Subiu no velho caixote e disse a todos os ouvintes: é bendito e bem-vindo o tal de Benvindo Nogueira. (Deputado do povo, eleito por ser homem oprimido).

Voltando à história: 

No arraste das horas a barba crescendo e o sapato mais velho; vê-se esotérico ao som erudito de um novo critério; agora homem simples, Sicrano da vida em um mundo baldio. A vida estava por um fio, mas as nuvens se foram e  tempestades sumiram. (o chão é o limite)
O tempo chegou, o clarão é mais vivo das asas no apoio e o voo continuo. (o céu é o limite). Há estradas fáceis que levam ao pecado, mas há também caminhos íngremes que estendem o tapete vermelho pro nada. Ao final da tarde as flores enfim se mostram (mais dela) submissas, num colorido real e pétalas como olhos famintos de belo. Ela, dama, atravessa os jardins, os passos tímidos e sutis, abrindo os lábios e deixando brotar as próprias cobiças; um artista do amor sorri, aponta seus dedos magros, (outrora gordos e inebriados de nanquim): - Ai, ai, ai, é o fim, ela não me notou... Choram eu, ele, você e os jardins. E o chá, um sopro para esfriar; vem aqui – foi lá.  A fumaça do tabaco profana a luz que atravessa a janela adentrando o quarto, trazendo a beleza que há, aos olhos abertos, no limpar das remelas, no sonhar – realizar e fazer jus. Beltrano dos Santos é uma figura; já foi profeta, mas não se mostrou... só ele sabia; nas alquimias que os anos trouxeram, a derradeira ainda estaria porvir; mas ele não tem pressa, o amor não tem pressa e o que só interessa é o acreditar sem fim.

Andre Anlub







Enlace das almas



Enlace das almas

Deu início aquela conversa; eu o ensejo com a fuça de lua cheia; no bule o café bem fresco, na mesa o bolo, a maça e a ameixa.
Na troca de vocábulos transpõem-se os obstáculos; surge um oráculo inócuo no enleve dos versos leves. O dia rasgando com o sol no arrebate da torra; a noite fica sem jeito e deseja que escuridão se entregue. Nada daquilo é fracasso se o ocaso se vestir de amarelo; largar um breu quase eterno, e com isso também foi o tédio... Há de parar com os remédios e vestir uma sunga e calçar um chinelo. Para todos a areia está fofa, o mar bem calmo e a brisa a contento; o inesperado não é tão enigma, pois temos a insígnia de um nobre guerreiro. O cabelo castanho vai ficando branco; o branco dos olhos, vermelho. O ano já está quase acabando, e depois de um espirro, já é novamente janeiro. Vem uma luz no final do túnel, arrasando a desesperança, criando a salutar aliança de aceitar o escuro, mas ver a clareza. Dizem ser indelicadeza – mas assim a vida tem mais futuro; dizem que estão em cima do muro – mas o muro é puramente adereço. Deu-se o fim da conversa com um sorriso em todas as faces. No bule o café ainda quente, na mesa um vazio e nas almas os enlaces.
Há lençóis em que se repousa, que se sonha, que se voa, que se doa e se pousa... E quaisquer lençóis em que tu estejas comigo, estarei aquecido, envaidecido... Em plenos amor e abrigo. 

Seda pura na pele

- O corpo foi na onda, forte e firme em direção ao sossego. O medo caminhava longe, descalço e bêbado.
- O abraço (prévia do beijo) fez-se ao relento: onde mais poderia ser? 
- O trabalho, mais que merecido, aparecido, beirava um milagre; amizades afiadas, a moeda separada para o possível troco do pão.

Suadas mãos... Na toada do tempo que diz ainda haver o intento, esse movimento e em todos, para toda criação.
Tintas aquecidas: fervem, borbulham, tremulam, brilham...  

Tantas esquecidas, agora ressuscitam. Por trás dos pesadelos estão as musas com seus corpos tatuados de desejo e despudor. São cordeiras com seus contornos que deslumbram, preparando os retratos dos fetiches do sonhador... E posam quase nuas, apenas a peça de seda pura de paixão.

Não nasci cá nem acolá, nem além ou aquém; sou melhor e pior que ninguém. Vivo o amor e a arte e
assim sou do mundo... quiçá limpo ou imundo, mas de nenhuma parte.

Andre Anlub

Pombas felinas



Pombas felinas

Ela eternamente chamará atenção:
Holofote faz parte de todos os tempos.
Tudo lamento, intento, comemoração;
Tudo emancipação, afeição, fomento.

Nas ondas dos mares,
A solidão em sal, doce e tais;
Tudo jaz e renasce
Com o passar dos segundos.

Nos submundos da pera podre;
Nos céus das abóbadas celestes;
As vastas vestes dos reis
E os depilados reis desnudos.

Em todos os horizontes surgem poesias ecléticas;
Esféricas feras que circundam mentes nada ocas.
Falam todas as línguas,
Beijam todas as bocas.
São loucas e caóticas felinas,
São pombas brancas e éticas.

André Anlub®


12 de março de 2019

Excelente terça aos amigos


Foto 1: 2014
Foto 2: Frase do dia (by Anlub)
Foto 3: Sobre o que é "puta"

Gosto demais de Pernambuco
De Recife, Olinda, Porto de Galinhas, Caruaru...
Gosto de sarapatel, praia, carambola...
E mesmo sendo Flu
Gosto de ver o Sport jogar bola,
Comer carne de sol e sururu.

E mesmo vivendo no belo Ceará,
A distancia não é mal que há!

Por estranho que pareça
Antes que eu me esqueça,
Vejam que incrível:
Estou a um passo de Pernambuco,
e cem mil de Fortaleza...
Como é possível?

André Anlub®



10 de março de 2019

Excelente domingo aos amigos


Releituras de mim

A realidade concorre com minhas vertentes, e elas céleres e insanas sempre chegam à frente. A tempestade não me assusta, e nem deveria! Já tive dias terríveis de sol.

Se algo me causa temor é perder a inspiração e alegria, quando o sol toca e aquece meu rosto; quando a água cai do céu no meu corpo.

A vida pode ser farpa entre unha e carne, um bambu que não quebra com o vento que varre ou estrelas que brigam com o raiar de um dia.

Acordei com uma lágrima. 
No sonho bem claro o rosto,
De pronto sorriso me olhava.
Amigo de praias e farras,
Que o vento levou sem aviso,
Deixando a doce lembrança,
Momentos que não amarelam
E regam o verde singelo
Desse jardim da saudade.

Adversidades acontecem: muita luta e pouco caso.
Sensações se perdem: o rabo abana o cachorro
O choro do velho solitário.
Mas há de se ter esperança, no coloquial, na criança, nas palavras que amadurecem. 

Releituras de mim²

O verde vivente evidente,
Fez nuance nos raios dourados do sol,
Que surgiam e sumiam
Ao bailar de folhas,
No cair de sementes,
Da jabuticabeira.

Relembro promessas, vi-me em outras épocas, remetido ao passado - meu caminhar já caminhado. 
Esperei te achar, por detrás dos arbustos, arbustos de pele no cheiro de capim limão. 
No núcleo de cada ideia há uma pequena, mas poderosa explosão. 
Fico por aqui calado, mas digo por dentro: até amanhã. Seguro a mão do meu guia, sinal de aceitação. 
O que procuro? O que me falta? O que me farta? Em que me incluo?

São animais indiscretos e contemplativos
Na mansidão imaginária e cada vez mais.
No hipotético paraíso na zona de conforto
Vai chegando, vai vivendo outros desafios...
Pés que não cansam de andar fora dos trilhos.

São animais de cegos charmes
E quase sempre atrapalhados.
Na obsessão que alguém os agarre,
Salvando-os do fortuito afogamento,
Dos salgados e amargos mares. 

Releituras de mim³

Falam de bailarinas,
De estrelas cadentes e flores.
Falam de amores,
De destinos, esquinas,
Borboletas e odores.
Mas poucos falam do artista,
Em seu mergulho no meio,
Sem medo e sem freio,
Num oceano de caos.
E ao unir os extremos,
Teremos, sem pressa,
A composição de um poeta,
Que beija na cópula,
O corpo e a alma
Do bem e do mal.

Ficaríamos a eternidade,
Ponderaríamos em múltiplos dialetos: 
Esperanto, mimica, outra louca,
Canto do anjos, sinais de fumaça,
Em puras línguas e raças,
Dos baldios ou espertos
Até além da imortalidade.
Mas salivas não seriam gastas à toa,
Expondo as qualidades extremas
Da força da inteligência,
O poder do ventre e da cria
Ecoando ao vento e ao sempre.
A voz que nunca é pendente,
Nesse momento presente
Agarra a unhas e dentes
O direito de expor ao planeta
O que das mulheres pertence.

Releituras de mim (final)

Fotografei a vaidade
Na antiguidade saudosa
Num 35 mm
Revelo o verso e prosa.
Fiz foco no amor verdadeiro
Fiz macro nos pequenos detalhes
Vendo na semente uma rosa
E na gota d’água meus mares.

Fotografei a vida nova,
Mas dessa vez no digital.
São conquistas, são presságios
Os naufrágios de uma nau.
Com a exposição mais longa
Sem delongas de uma prosa.
No contraste se comprova
Que a nossa bossa nova
Mistura-se ao rock clássico
É fantástico, abre a roda.

A gente pode até se divertir nesse mundinho mundano, imundo, ineficaz e efêmero da vaidade.

Tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina.

Vi minha vida indo embora enquanto esperava o café passar pelo coador.

Administra-se o bom humor porta afora para que sobre ao retorno porta adentro.

André Anlub

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.