Feito com palito de sorvete em 1990 na Rua Maestro Francisco Braga (Copacabana/RJ) - até hoje lá!
(Madrugada de 7 de julho de 2015)
Escrever não é terapia, não é parto, não te faz farto tampouco filho. Escrever não é domínio nem domingo, não é sábado nem babado, nem modismo, erotismo macho bosta ou “veado”. Escrever não é descoberta, nem procura, não é ouro, prata ou cobre, não está vestida ou desnuda, não é rua nem avenida, nem voo ou aterrissagem, não é quarto fechado, alcova, escova, pasta, dente, boca, boca desdentada ou a de fumo, ou paisagem, ou passagem ou presumo, não é nada nem tudo, nem pluma, plano, pleito, pleno ou peito pontudo... não é cura ou Kurosawa, nem rei nem vagabundo, o sobretudo lá em Londres, nem o submundo da saudade na saúde; escrever não é fuga nem afago, nem figo nem quiabo, nem o fio desfiado, violino desafinado no ombro desajeitado do corcunda compositor; não traz solução para o problema, nem traz problema ou pessimista, não tem esquema, bula, equação, estratagema; não é longe nem perto, nem aqui, kiwi ou banana; não tem raça, cor e credo, nem cruz credo que ameaça; não trapaça ou joga limpo, não está no limbo, céu ou inferno. Aos olhos postos no céu azul, sem nuvem, podemos ler o verso... nenhum verso estava ali, fizemos/falamos/escrevemos/sentimos para dor ou prazer em nós. Tudo é para si – nem sílaba que entre, nem poemas que saia – tão somente si. De resto fica a impressão da opção de parar ou andar ou correr ao redor do mundo, mesmo sabendo que poderá acabar no mesmo lugar.
André Anlub