Na raiz do dom
A lava incandescente esfriou-se
Deixou seu toque, deixou sua marca...
Na raiz do dom brotou a escultura.
Tornou-se uma espécie de diamante;
Como se habitasse o cerne de um vulcão
Com sua mente até o momento na vadiagem.
A imaginação no foco extremo em reflexão
E é erma a ínfima preocupação,
Pois assim cresce a suntuosa viagem.
Há o segredo escondido nas chamas,
Canção rara, afetuosa e leve,
Letra que derrama em sonho breve
No mistério do império na miragem.
Há o manuscrito de um Deus cintilando aos olhos,
Nas minhas, nas suas e nas leituras de todos.
É o ritmo dos jogos,
Parábolas com flores,
Pássaros pousados em bonecos de neve.
Vem à faísca em inspiração,
Veio o derramamento das tintas
Em mãos poéticas de mentes abertas
Em vozes de alerta.
Foi no ponto final ou nas três letras do “etc.”...
Ainda em algo abreviado de tal ser banal,
Ser errado que jamais o é,
E como transforma(-se)!
Veio novamente em nós,
Fez criação e liquefez na ação
E se tudo der certo em breve retorna.
André Anlub
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Dueto CLXXII
Trago-te um sorriso. Não te posso trazer a vontade de sorrir.
Sonhos, promessas, esmeros estão por ai... Mas deixo-te um sorriso.
Não espero que ele germine. Mas até entendo que ele seja uma semente.
Saboreia-te – deleite. Faze-me sonhar com teu prazer intenso e onipresente.
Pelo menos em minha imaginação. Trago um sorriso para minha imaginação também.
A casa está limpa – portas e janelas abertas; os cães abanam os rabos e a carne assada e os nabos estão na panela.
A simplicidade sabe tudo de ser feliz. Alguns de nós não sabemos.
Vivemos querendo o sopro à frente do vento e apanhando da saudade, nocauteados no tempo.
Trago-te um sorriso que costuma ver essas coisas, quando não vê outras.
Feito um rasgo na boca, os olhos se cerram, a maledicência se encerra no porvir do transbordo.
Se serve para o amanhã, serve para o agora. Porque só temos o agora. Não vou sonhar com sementes germinadas.
O jardim está pronto, a terra disponível, a água potável e o sol e a chuva são sempre bem-vindos.
Mas eu não tenho nada com isso; isso não é problema meu; nem solução minha.
Vejo-te com teu sorriso... Poderia tê-lo guardado para um dia mais conciso. Sinto-te quente... Deveria ser sempre assim, assado, ascendente...
Não buscarei meu fogo no teu. Nem roubarei a água do teu jardim para o meu. Trago-te um sorriso, apenas, não a vontade de rir.
Aqui jazem meus desejos em ti. Se vais enterrá-los, perpetuá-los, absolvê-los... Não me conte, pois cabem somente a ti.
Rogério Camargo e André Anlub