21 de dezembro de 2019

A arte e o tempo se vão – vontades e desenhos de pele ficam


A arte e o tempo se vão – vontades e desenhos de pele ficam. 
(Manhã de 7 de junho de 2015)

Trouxeram-me os Anjos alguns rabiscos nessa madrugada. Eram folhas sem nada, em branco, mas tudo ali continham. Foi o mundo ao avesso no desapreço das pressas. O pensamento ligeiro deixava nas nuvens, rastros de onde nunca passou; enquanto o mar, meu amigo, me aguardava em uma próxima e breve visita. Os olhos fechados em sonhos iam aquém e além do tempo presente; pude ver tão claramente um fato nunca consumado. Por onde estaria um quadro chamado “chupa cabra” que pintei e presenteei uma amiga? Onde estaria essa amiga? Pois é. As flores belas nos cantos da sala, as velas queimando e perdendo seu corpo; as flores ainda com cheiro delicioso e as velas ainda tinham muito a queimar. Um poço de água doce e limpa em formato de lembrança... Uma água nunca bebida e uma sede que sempre houve. Vejo agora elegantes elefantes com seus passos gigantes, pesados e lentos... em um santuário que faz qualquer santo voar. Versos me rodeiam e anseiam serem pegos e “usados”. As pedras, cá para baixo – pedras duras e cascalhos – lisas e pontiagudas –, formam dores antigas e novas e, como não poderia deixar de ser, também fazem parte do cenário. A peça de teatro já já irá ao ar. Em um abre/fecha de cortinas, rotineiras rotinas e acasos em novidades... Tudo para alegrar a alma. Vou pensar sobre o assunto e tirar minhas próprias conclusões (novamente). Expus o que era para ser exposto, e com gosto. Pus-me ao que era pus e cicatrizou, em uma casca mais forte e duradoura. Escrevi somente para fazer graxa e engraxar o texto... dar aquele brilho. As cachoeiras me chamam (sejam elas quais forem); as águas me chamam, o sol está no ponto e o céu bate seu ponto ainda mais azul do que nunca. Canhões e soldados sedentos, tempestades e terremotos (querendo), chuva ácida – frio e gelo. O frio perdeu a guerra, mas ainda não se deu conta disso (ainda bem). Agora dou uma puxada forte no meu inalador Vick: cheiro de cânfora e mentol... O tempo ficou lento e o som no mínimo, lamentos enterrados e lamúrias aos ventos... A distância entre o entrosamento e o ensejo é um breve momento... As cortinas de todas as cores e formas se fecham... Hoje houve sonho, como sempre há. 

André Anlub

19 de dezembro de 2019

Decapitação à francesa



Decapitação à francesa

Por entre muros altos de pedras de arenito,
Esquivando-se das cruéis flechas em fogo,
Vejo-me invadindo a comarca inimiga,
Na insensatez de um lúgubre rito.

Somente digo quem sou...
Abrindo mão de descer por um ralo depravado.
Minha pulcra essência estará à mercê,
Sei que só assim farei parte do seu legado.


Tenho a alma transbordando nesse doce momento,
Um palpável amor que vai ao alto tormento.
A devoção é promessa que nunca se viu abalável,
Amparo é a certeza de jamais ser recusável.

Derramarei meu deleite ao máximo desatino,
Seguirei suas pegadas nas areias quentes do destino.
Em meus sonhos um querubim me confidencia...
“por trás dessa máscara negra há um mortal amável.”

Por fim verá uma decapitação à francesa,
Minha cabeça rolará por sobre o gramado,
Na minha boca um sorriso estampado,
Piscarei os olhos para a nobre condessa.

André Anlub®

15 de dezembro de 2019

Excelente semana aos amigos



O corpo se contorce nas belas curvas do mistério
e meu universo se entorpece em um minuto.
Vejo minha vida, sua verve - seu externo.
Rogo amor eterno e me completo absoluto.

Na tela do cinema da esquina
já se viu esse filme antigo
de um multicor lírico
com tons de pura boemia.

É no amor, e não há impossível...
No verossímil da batalha à vitória.
Fez de fulgentes momentos, o invisível...
E na equação da paixão, a auréola simplória.

Sobre o amor?
- Sim, eu conheço, sei bem dessa fábula
sei qual o seu curso, bons e maus imprevistos.
Falam de alguns vícios, falam de absurdos
mas não provaram na língua o que dizem amargas.

André Anlub®

13 de dezembro de 2019

Veneno ‘chumbinho’ é encontrado na comida do brasileiro

Via: pragmatismo político AQUI!

Veneno ‘chumbinho’ é encontrado na comida do brasileiro
Resíduos de veneno ‘chumbinho’, para matar ratos, são encontrados na comida do brasileiro. Confira os alimentos mais infectados

Imagem: Tuane Fernandes / Greenpeace

Produto muito vendido de maneira ilegal para matar ratos em várias cidades, o “chumbinho” está em muitos dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Resíduos de carbofurano e terbufós – substâncias muito usadas na produção desses raticidas ingeridos até por humanos, em desesperado ato suicida – foram encontrados em amostras analisadas no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), divulgado na quarta-feira (11) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Proibido pela Anvisa em 18 de outubro de 2017 por causar danos ao sistema nervoso, como a morte de neurônios e suas consequências, o carbofurano está entre os agrotóxicos mais detectados em amostras de alface, laranja, goiaba, uva, chuchu, pimentão e batata doce. De acordo com o relatório do PARA, a presença da substância pode ser decorrente de aplicações de carbossulfano, que se converte em carbofurano. O uso do carbossulfano é proibido nas culturas de citros, arroz, batata, coco, feijão, mamão, manga, tomate, trigo e uva devido a potenciais riscos à saúde da população.

O terbufós foi encontrado em amostras de alface, cenoura, pimentão e tomate. Mas o agrotóxico é muito usado como inseticida em lavouras de banana, café, cana e milho. Segundo a bula do produto, causa intoxicações manifestadas por tremores e câimbras, hipertensão arterial, fibrilação muscular e flacidez, eventualmente morte por parada respiratória. Entre os efeitos mais comuns sobre o sistema nervoso central estão a ansiedade, dor de cabeça, perda de memória, tremores, convulsões e eventualmente paralisia do aparelho respiratório, que pode leva à morte.

“Na prática, pode-se dizer que o brasileiro está sendo cronicamente contaminado por ‘chumbinho’. Coisa que o relatório da Anvisa parece tratar como irrelevante, e claramente não é”, aponta Marcos Pedlowski, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e colaborador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Universidade de Lisboa. Entre outras coisas, ele tem se dedicado a mapear as liberações de agrotóxicos pelo governo Jair Bolsonaro em menos de um ano: até o final de novembro já somavam 467.

Omissão
Segundo observa Pedlowski, as amostras analisadas pelo Para foram coletadas em apenas 77 municípios brasileiros. E o estado do Paraná , um dos campeões de uso de agrotóxicos no Brasil, não cedeu sequer uma amostra porque se retirou do Para em 2016.

Há outros problemas, segundo ele: o relatório omite informações sobre os limites aceitáveis de resíduos que são praticados no Brasil em relação, por exemplo, à União Europeia (UE). “Como já foi demonstrado pela geógrafa Larissa Bombardi em seu “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, os limites brasileiros são muito mais ‘generosos’ para uma série de agrotóxicos que já foram banidos na UE por estarem associados a uma série de doenças graves, incluindo o câncer”.

Da mesma maneira, despertou atenção que dos 20 agrotóxicos mais detectados na análise, seis estão banidos na UE, como o Carbendazim e o Acefato –o terceiro e o sétimo, respectivamente, mais detectados.

“Um aspecto que ainda deverá ser analisado é a negligência óbvia sobre a saúde dos trabalhadores rurais e de todos que entrem em contato direto e indireto com esse número aumentado de substâncias altamente tóxicas que estão sendo colocadas no mercado brasileiro. E há que se frisar que isto ocorre para atender as necessidades dos grandes latifundiários que hoje controlam a exportação das commodities onde está fortemente concentrado o uso dessas substâncias”, ressaltou Pedlowski.

“Os problemas causados pela contaminação ambiental e humana decorrente da transformação do Brasil em uma espécie de piscina tóxica deverão ser sentidos nas próximos anos e décadas, visto que muitos dos produtos que estão sendo liberados ou possuem alta persistência ou geram metabólitos ainda mais tóxicos do que o produto ativo original quando são rapidamente degradados no ambiente.”

Distorções
Dirigente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e integrante da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, o agrônomo Leonardo Melgarejo lamentou que, após três anos, a Anvisa venha divulgar “informações distorcidas em relação aos próprios achados” nas análises de arroz, laranja, tomate, cenoura, manga, abacaxi, alface, batata doce, manga, uva, goiaba, alho, beterraba e pimentão.

“A agência afirma que dos produtos avaliados, 49% não contêm resíduos de agrotóxicos. Portanto, seriam seguros. Mas afirma que em 23% – quase ¼ deles – o número de irregularidades, como a presença de resíduos acima do limite, não seria tão relevante assim. Porém, está falando de segurança a partir de 270 agrotóxicos avaliados, sendo que há no Brasil mais de 500 ingredientes ativos”, afirmou.

Segundo ele, a Anvisa omite “o fato de ter encontrado um número 17% maior de amostras irregulares do que na realizada antes do golpe de 2016”. “E esconde que nesse período aumentou o número de registro de intoxicações por agrotóxicos no Brasil segundo o Ministério da Saúde. E disse que encontrou apenas 1% de alimentos que poderiam causar intoxicação aguda – que pode causar da diarreia à morte. Pouco relevante desde que nossa família não estivesse incluída nesse percentual”.

Melgarejo criticou ainda a recomendação da Anvisa quanto à lavagem dos alimentos, como se fosse possível retirar o resíduos e resolver o problema. “E desconsidera o fato de que devemos nos preocupar com o consumo a longo prazo. Nega que haja intoxicação crônica em pessoas com mais de dez anos. Não sabemos como a agência consegue chegar a essas conclusões. Precisamos de agroecologia, evitar o contato, a exposição e proteger os órgãos de comunicação que trazem alerta sobre os riscos que estamos todos submetidos”.

Ontem, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida divulgou nota sobre o relatório da Anvisa, em que critica o tom da publicação, em que os alimentos vegetais são considerados seguros, e que abusa de frases de efeito, como “Os resultados não apontaram um potencial risco crônico para o consumidor“, ou “As inconformidades não implicam, necessariamente, risco ao consumidor”. Para a campanha, “o tom foi de uma peça de propaganda política para um relatório que, lido atentamente, traz grandes preocupações para a sociedade”.

Via: pragmatismo político 

10 de dezembro de 2019

Perdido no espaço





Lilliana Bowrey Akalil

Perdido no espaço

Viajo por entre galáxias, centelhas,
Centenas de estrelas cadentes, extremos,
E buracos negros, na velocidade da luz.

Espelho-me em vastas veredas, grandezas,
Aonde verdadeiros olhares se vão:
No infinito, no elo, no bonito,
No fim de infindas certezas
Inclusas no tempo e na imaginação.

Contudo em disfarce me acho,
Me perco, desfaço, perdido no espaço,
Sem pé nem cabeça e com muita incerteza
De um ser que retorna de volta ao chão.

Vejo-me inseguro, sem ano, sem hora,
Agouro e agora, tonto em perigo,
Meu próprio inimigo, meu mar de amar
Em poeira estelar.

E em um eco obscuro, anéis de Saturno,
Construo um abrigo em um planeta vazio...
Sumo, choro, amo, chamo... 
De meu lar.

André Anlub®

Das Loucuras (ama as borboletas, mas mata as lagartas)


Das Loucuras (ama as borboletas, mas mata as lagartas)

De repente tal coisa não seja incompreensível,
Apenas sua capacidade de cognição não a alcance.
Doa os joelhos, pois dor de cotovelo é tão démodé...
Crer para ver, ver e crer e acreditar que na cartola há coelho...
É saber que tudo é cru e verossímil, inclusive esse lance.

Adaptar textos, ouvir vozes,
Gritar em seitas, abrir exceções...
Não fazem nascer coerência,
Tampouco te redime às transgressões.

O amor é tão simples, belo e fulgente,
E não cabe em oportunas moldagens;
A dor que dói em outro e na gente
Faz parte da vida e suas engrenagens...

Assim, a luta deve ser respeitada e entendida,
As mãos devem ser estendidas – não às palmadas...
Mas para oferecerem abrigo e coragem,
Para serem irmãs, mães, amigas.

Tudo bem e tudo firmeza em suas majestades,
Já vou-me tarde, vomitei no carpete.
Lá vem bronca – Bronco Billy no oeste...
Eastwood está velho, mas já deu suas cacetadas.
------------------------------
Sempre fui caçador;
Foi para isso que me presto
E é isso que me resta,
Agora chegando ao patamar da vida
Com as soluções nas mãos,
A visão ligeiramente cega
E tudo corretamente bem resolvido.
Morrerei lapidando meus olhos 
Olhos de um pretenso poeta;
Visão de um “auto absolvido” 
Miragem que erra e acerta*. 
-------------------------------
*Fragmento modificado do poema  “Soi-disant”, do autor.

André Anlub®


8 de dezembro de 2019

De encontro à vida (25/1/15)



De encontro à vida (25/1/15)

É, é missão, é; 
É improviso, concepção, papel e caneta na mão...
Deixem estar,
Deixem “star” – noite escura e quente de verão.

Vejo as nuvens brancas e cinzas,
Em degrade – jazem no céu...
Aqui jazo eu,
Caso continue o branco desse funesto papel.

Há um estalo!
Sobe pelo ralo o cheiro de uma fragrância estrangeira;
Há frequência, talvez de rádio,
Talvez aquela vizinha louca indo ao bordel...

Ela vive sozinha,
Aparando seu Bonsai – (vejo pela janela),
Vez ou outra ela acende uma vela e reza nua em pelo 
– (vejo pelo basculante do banheiro).

Ensaio todos os dias uma conversa (estilo Sartre),
Pode até ser perversa, se for para me tirar do ostracismo.
Quero passar a conhecer mais a mim,
Dar-me bem mais importância;
Quero escalar a parede desse abismo
Que mergulhei e não tem arremate.

É, foi missão;
É, foi de supetão;
Preenchi o papel em branco,
Enterrei o ranço,
Sendo franco e fui de encontro à vida.

Lembra? 
Vale ressaltar: até se derramam as tintas; 
Até se misturam as cores;
Até não se pintam amores,
Mas a tinta não pode acabar.

André Anlub

7 de dezembro de 2019

Foste na terra sem fim!



Foste no preto e no branco
E trouxeste na mente
Aquela ideia de mim.
Há dez anos
E os sorrisos benfeitos
Nos olhares, trejeitos
E o coração nada ardil...
Apego de zero a mil
É paixão até o fim
Amar tim-tim por tim-tim.
Foste no branco e no preto
E nesse apreço, nesse adereço, nesse apego
Lembrou-se de mim.

Dentro dos olhos 
(26/03/13)

Nos teus olhos pareço escutar
O amor que ecoa sem fim.
Há de abafar o sombrio
O nublado e o vazio
O banal e chinfrim.

- Teus olhos me dizem a senha
De todos os cofres e portas
Das caixas de aço ou madeira
Que guardam respostas...

Então venha,
Dê-me mais, querida...
Quero respostas da morte e da vida
Que usamos de lenha.

Fogueira pertinente
De insistente clamor
No real e nos sonhos...
De onde viemos
Para onde vamos
E quem somos?

Olhos agora vidrados
Cálidos e seguros
Olhos com extrema audácia...
Oportunos.

- Teus olhos me dizem a senha
De todos os cofres e portas
Das caixas de aço ou madeira
Que guardam respostas...

Olhos de afeição
De infinitos “eu te amo”
De muitos outros planos
Muito além daquela simples galáxia.

Olhos que jamais sucumbem
De finos “douros”
Nunca desbotam
Galgando brilho
Em pleno arco-íris...
Baú de ouro.

- Teus olhos me dizem a senha
De todos os cofres e portas
Das caixas de aço ou madeira
Que guardam respostas...

Olhos que agora se fecham
Entram num breu infinito
Festejam o absurdo vazio
De silencio profundo
Pois sonham comigo.

Teus olhos me dizem a senha
A resenha de todos os livros
Os abrigos de todas as guerras
Que se encerram em ligeiros gemidos
Pois já sabem a resposta correta.

André Anlub®

Excelente noite de sábado aos amigos

Verdadeira falácia

Se o portão for aberto – é certo – não mais se verá a paisagem;
Foi-se essa esfera, o limbo é o que sobra – à vontade!
Libertinagens, concupiscências, castas e cartas marcadas;
Tudo em vão, falsa mão, o blefe era um flerte com as mágoas...
Sobrou a esperança nos olhos castanhos da criança desarmada;
Faltou a empatia, noite e dia, na vida abrupta do adulto de verdade.

André Anlub







6 de dezembro de 2019

Mesmo que anjos tenham umbigo


Mesmo que anjos tenham umbigo

Mudei de século,
Moldei o crédulo
E passei a sonhar com as valquírias.
Vi um mundo sem máscaras,
Sem muita diplomacia.

Eis as tardes que caem
Afogadas em grandes bacias.
Eis as mães com suas filhas
Fazendo de alvo o profícuo.

Delineei o passado
No caso mais que perdido.
Etiquetei os bandidos
Ao som de música clássica.

Para um espanto em vão,
Bandeiras viram fogueiras,
E as duras madeiras de lei
Amarrotam o nosso irmão.

As fidúcias rasteiras,
Já velhas, trapos manchados,
Silenciam os zangados,
Servindo de panos de chão.

No auge da contradição
Os ouvidos não ficam entupidos,
Ecoam os belos grunhidos,
Do cão são da imaginação.

Eis o século moderno
De horizontes pintados,
Em pergaminhos eternos,
E jovens audaciosos e belos:
- nos banquetes,
Nos sovacos, 
As baguetes.

Haverá um menino
E tornar-se-á bem sabido,
Verá tudo se repetindo:
- sem dono o umbigo quer briga.

Sorridente - indiferente,
E a alcunha de sobrevivente,
Sentará feliz lá na praça
Jogando milhos pras garças:
- O umbigo no meio da barriga.

André Anlub®

5 de dezembro de 2019

‘A polícia mata e depois finge prestar socorro’: Entrevista com médico l...

Aquele outro Eu




#tbt 
Como é bom gente simples, leal, aberta, que às vezes acerta e muitas vezes erra; gente que é o que é, e faz o que vier na telha; gente que bebe água ou uísque ou cachaça ou café, no copo velho de geleia.

Aquele outro Eu

Olho de soslaio o tempo perdido,
Abrasado e abraçado ao tempo achado
Que tenta fazê-lo de lacaio... 
Mas é em vão.

Olho o respeito dizendo ao “dito e feito” 
O que deverá ser feito e refeito, 
E futuramente refazê-lo, se preciso for...
Tendo em vista que é de antemão.

Pego o timão do barco e desbanco a maré vazia,
Enquanto no mar vazio esvazio um tonel de rum...
Arruinando o meu remoto céu azul que agora é somente ruim.

Mas sempre faço vista grossa à contramão.

Ganho plena confiança na mudança nebulosa,
Junto o Eu à suntuosa espada forjada em ouro branco
(meio metida à besta, confesso, mas bela e bem desenhada)
Com imagens bárbaras, baldias, poemas e frases sagradas.

A jornada é cenário – visual – a sentinela – visual –, nada anormal;
O verde ligeiramente me sorri com seus divinos dentes brancos, 
Solta seus cabelos crespos e sua abastada voz rouca;
Solta seu jeito afetuoso que faz pouca qualquer incoerência... 

Sorrateiramente encontro nesse ermo
O Eu mais bem escondido e verdadeiro.

E o verde...
Dá-me “bom dia”...
E agora posso quieto e atinado voltar ao ermo breu. (1/4/15)

André Anlub




3 de dezembro de 2019

Das fagulhas


Conheça-se, permita-se, tolere-se, quebre o gelo, gaseifique o fogo, tenha a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina. 

Das fagulhas

As fagulhas da vida
Acendem as fogueiras mais esquecidas
Aquelas que pareciam extintas
Renascem reabrindo feridas.
Com o andar certeiro e sereno
Atravessa-se a estreita ponte;
Olhos firmes através do nevoeiro
E nas mãos um livro de poesias.

Dentes que querem morder;
Pesadelos que querem morrer;
Os músculos não são minúsculos;
Ainda resta muita coisa a fazer:
Sinto e conto os segundos...

Estabelecido os limites,
Os lamentos derramam-se aos litros;
Criando inícios,
Possíveis meios e novos fins.
Há enfim o vulcão que explode por dentro e queima por fora...
Foi-se a aurora:
Põem-se ao por do sol as sublimes asas... 
E que asas.

Tempos de açúcar e sal,
Mel e alguns temperos destemperados...
Mas a solução na contramão do tempo,
Sem lamento ou consentimento.
Atrelado no meu sonho de ter um barco
Há um poder colossal;
Ponho no papel – em primeira pessoa –,
A brincadeira que faço com as palavras.

André Anlub

Das Loucuras (mecanismo de anticitera)


Das Loucuras (mecanismo de anticitera)

Busco na essência os amores em qualquer molde
O que pode ser feito e deixar o tempo esculpir.
Resgatando do acaso a aura da vida no tudo pode,
E afrouxando, enfim, o melhor o melhor que há em mim.

Entenda-se que meu “circo dos horrores” é mera distração,
Alucinação sóbria que crio para dar graça ao percurso,
Pois é um pós-louco, intenso intruso
Que disfarço naquilo que me desfaço e refaço na ocasião:
Chutado na mobilete, comer salmão com o urso,
Linhas escritas, sons de trompete, mão e contramão.

Contudo, no fundo – e nem tão fundo assim –, me intensifico...
Plagio o “dia do fico” e também “digo alô ao inimigo, encontro um abrigo”,
Mas faço tudo com respeito e louvor.

É justo que se viva nessa saia justa, não é mesmo?
E a esmo, tampouco me escondo de mim mesmo
Quando o maior dos objetivos é decifrar-me sem rancor.

Por completo e aos poucos, de um modo e de outro, realizo-me.
E se por acaso faltar aparar as arestas afiadas e caricatas,
Deixo feliz que elas mesmas, numa vida próxima, infernizem-se.

Por fim, na colina, avisto o profeta que tem como meta trazer boa nova...
A mesma de sempre, porém é novidade aos que agora pensam diferente.
A vida segue num ki-suco de uva; a morte uiva, e aos que secam – uma ova! 
Todo esse absurdo na mais perfeita ordem à mente ilimitada e abrangente.

André Anlub®
(3/12/19)

2 de dezembro de 2019

Das Loucuras (os Sumérios, os sumidos)


Das Loucuras (os Sumérios, os sumidos)

Vivendo no ostracismo,
O seu trabalho é dar a si trabalho
E sempre foi muito bom nisso.
Espera por soluções com otimismo,
Mas também corre atrás do prejuízo.

A vida lhe dá coices
Mas permite que se monte nela.
Mesmo com chuva, sol, balas perdidas,
Deve-se sempre arriscar abrir as janelas.

O excesso ou a falta de dinheiro,
Costuma enlouquecer as pessoas...
E ele já viu essa cena centenas de vezes.
Seu coração pode ser de pedra, de pó ou amigo,
É só ter compaixão, empatia, zelo.

Mudando de pau para cavaco:
A vida a todo o momento se repete
E as coisas vão bem para seu cavalo...
Nesse instante está curtindo Andrea Motis no trompete
E anda com motivos de querer ficar apaixonado.

Amores vão; amores vêm; amores ficam...
São como sonhos bons
Que acabam e te fazem querer bis.

A vida dói e afaga,
A faca amolada corta, fere,
Mas também prepara delirantes pratos – é o que se diz.

André Anlub®

29 de novembro de 2019

Excelente sexta aos amigos



O valioso tempo dos maduros (Ricardo Gondim)

Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora.
Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces; O primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado.
Não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram.
Meu tempo é muito curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa … Sem muitos doces no pacote…
Quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas. Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas, com seus triunfos. Que não se consideram eleitos antes do tempo. Que não ficam longe de suas responsabilidades. Que defendem a dignidade humana. E querem andar do lado da verdade e da honestidade.
O essencial é o que faz a vida valer a pena.
Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas… Pessoas a quem os golpes da vida, ensinaram a crescer com toques suaves na alma
Sim … Estou com pressa … Estou com pressa para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar.
Eu pretendo não desperdiçar nenhum dos doces que eu tenha ou ganhe… Tenho certeza de que eles serão mais requintados do que os que comi até agora.
Meu objetivo é chegar ao fim satisfeito e em paz com meus entes queridos e com a minha consciência.
Nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe que você só tem uma…

28 de novembro de 2019

Esperanza Spalding: Live at BRIC | NPR MUSIC FRONT ROW

Velho reinado do jovem Rei


Velho reinado do jovem Rei

O sorriso para as aves que chegam do infinito;
Novo abrigo para os que preferem vir pelo mar.
Osso para o cachorro ficar, brincar e esconder,
Caneta para escrever, vitimar e tirar cera do ouvido.

A nuvem escura chegou – nuvem prometida;
Traz chuva, traz vida, regando sedentos.
Cá estamos em casa nos embriagando de música;
Braços e pernas presos, agarrados aos instantes,
E “Mutantes” na vitrola dos hiantes amantes.

Nas mãos o punhado de flores colhidas,
Nos vasos o intenso cheiro puro da terra;
O aquário o clichê de peixes dourados,
Adorados por exporem a todos suas vidas.

Quadros amarelados, pelas paredes, espalhados,
Cansados da vida no mesmo cenário;
Atrás deles escondidas, alvas e frias lagartixas,
Devorando todos os insetos devidamente desavisados.

Está tudo certo – absolutamente sob controle:
A vida segue o norte que se deu e que se dá...
Num grande sacolejar, quase virando o barco,
Uns morrem, uns porres, uns nadam, uns nada e uns vivem de molho.

Chamuscaram a loucura no incêndio da alma,
Pois ela vive na externa, na espreita da cura;
Absurda é na artéria sem medo correndo vermelha
A paixão suntuosa e frenética, carnal, corriqueira.

Seu corpo no meu colo – pode ser agora?
Já traço; é o meu rolo...
Faço um bolo de amora para o lanche
E o lance é você trazer a Coca-Cola.

Vimos todos deixando de ser guiados por outros,
Vimos tolos pensando em falar a língua dos anjos;
Lapidamos a escultura da nossa personalidade,
Amparados, juntos e separados; cada qual no seu trono.

André Anlub®

27 de novembro de 2019

Velho reinado do jovem Rei


Minha consciência é extremamente leve, 
mas não há maleficência que leve.

Pousa para dar pé, pausa para um café;
Asa em construção – voo em atuação;
Ao distante a verve chamando, pois...
Incitante é a vida entoando.

Conseguiu riquezas, ostentações,
Ultrapassou a barreira do som;
Foi na Lua, dormiu em Marte
E como se não bastasse
O mundo virou ouro com o toque de suas mãos...
Mas de volta ao real – natural – importante,
Como se por um instante
Acabou-se a loucura;
Deu-se conta que está sozinho,
É estranho no ninho,
Na ilusão da fortuna.

Velho reinado do jovem Rei

O sorriso para as aves que chegam do infinito;
Novo abrigo para os que preferem vir pelo mar.
Osso para o cachorro ficar, brincar e esconder,
Caneta para escrever, vitimar e tirar cera do ouvido.

A nuvem escura chegou – nuvem prometida;
Traz chuva, traz vida, regando sedentos.
Cá estamos em casa nos embriagando de música;
Braços e pernas presos, agarrados aos instantes,
E “Mutantes” na vitrola dos hiantes amantes.

Nas mãos o punhado de flores colhidas,
Nos vasos o intenso cheiro puro da terra;
O aquário o clichê de peixes dourados,
Adorados por exporem a todos suas vidas.

Quadros amarelados, pelas paredes, espalhados,
Cansados da vida no mesmo cenário;
Atrás deles escondidas, alvas e frias lagartixas,
Devorando todos os insetos devidamente desavisados.

Está tudo certo – absolutamente sob controle:
A vida segue o norte que se deu e que se dá...
Num grande sacolejar, quase virando o barco,
Uns morrem, uns porres, uns nadam, uns nada e uns vivem de molho.

Chamuscaram a loucura no incêndio da alma,
Pois ela vive na externa, na espreita da cura;
Absurda é na artéria sem medo correndo vermelha
A paixão suntuosa e frenética, carnal, corriqueira.

Seu corpo no meu colo – pode ser agora?
Já traço; é o meu rolo...
Faço um bolo de amora para o lanche
E o lance é você trazer a Coca-Cola.

Vimos todos deixando de ser guiados por outros,
Vimos tolos pensando em falar a língua dos anjos;
Lapidamos a escultura da nossa personalidade,
Amparados, juntos e separados; cada qual no seu trono.

André Anlub®

26 de novembro de 2019

Excelente tarde de terça

Elizabeth Bishop em carta a Robert Lowell:

"Manuel Bandeira é delicado e musical e tudo o mais - nada parece sólido ou realmente 'criado' - é tudo pessoal e tendendo para o frívolo. Um bom poema de Dylan Thomas vale mais do que toda a poesia sul-americana que já vi, com a exceção, possivelmente, de Pablo Neruda."

Das Loucuras (estoico, apostador, caótico, profano)


Das Loucuras (estoico, apostador, caótico, profano)

Ecos do provisório do cabelo escovado
E o corpo com cheiro de talco.
No papel o roteiro com o fim e o meio esperando o início.
Pés aquecidos em sapatos italianos bico fino...
“Pisantes” comprados de um índio.
O sal na boca e o céu acima,
“Biloucos” com o sangue cheio de álcool.

A plateia aperta o cinto,
Pois o espetáculo vai durar mais uns dias...
Uns dizem se tratar de rebeldia,
Outros se tratam com remédio num terreno baldio.

Cascalhos pelo chão e cães magros no pedaço compõem o cenário.
Sim, tem algo estranho no ar! 
Alguém levanta uma placa pedindo gás do riso.

Na sequencia a consequência de não ter se separado do seu vício:
Viveu sua vida de vidro, tomou chá de presença e de sumiço.
Gritou nu pelas ruas, pois o silêncio o fazia deprimido.

Nunca esteve sozinho,
Meio mundo copiava seus caminhos.

Na rebeldia do seu tempo, na inércia da solidão,
Desvendou criptogramas, leu dicionários, diários, Bíblia, Alcorão.

Apostou em si mesmo, perdeu tudo que tinha;
Fez-se rico com pouco, conheceu sua sina.
Olha no espelho com orgulho, vê o quer encontrar...
Perdeu a necessidade inútil de sempre sorrir e agradar.

André Anlub
(8/7/18)

25 de novembro de 2019

Entrevista com o escritor André Anlub (2012)


November by Aleksey Zuev

Entrevista com o escritor André Anlub (2012)

(1) Pergunta da amiga Roberta F Souza – No início, que tipo de escritor/livro te influenciou?

Na minha época do colégio, por orientação e ‘obrigação’ do mesmo, li e conheci os livros de Maria José Dupré, Orígenes Lessa e Monteiro Lobato. Tinha em casa uma coleção inteira do TinTin que eu saboreava somente as imagens (era toda em Francês). Sempre busquei uma leitura alternativa em bancas de jornais, nas famosas revistinhas do Mauricio de Souza entre muitas outras disponíveis na época. Lembro-me, mais velho, comprando as revistas MAD, Playboy, Chiclete com Banana e os HQs do Sandman (Neil Gaiman), que tão logo tornei-me fã e um leitor assíduo. Há escritores que influenciam nossas vidas de forma saudosa e afetiva, pois um tal livro deixa sua marca em tal época que foi lido. Há escritores que deixam influência não somente por suas obras, mas contudo por sua maneira de ser e viver. É o caso de Manuel de Barros, Jorge Amado, Vinicius de Moraes e também obras fantásticas temperadas com vidas conturbadas como Sylvia Plath, Virginia Woolf, Ana Cristina Cruz Cesar e Leminski (entre outros). Há poucos anos dois livros foram quase que duas epifanias em minha vida: Canto Geral (Neruda) e O evangelho segundo Jesus Cristo (Saramago). A literatura é fascinante, seja como aprendizado, hobby ou distração para passar o tempo; para quem escreve, ler muito torna-se essencial, pois a leitura – a meu ver – deve ser uma rotina satisfatória, corriqueira e indispensável ao longo do seu dia a dia.

(2) Pergunta da amiga Cínthia Moretti – Você segue uma rotina de horário pra escrever?

Não! No computador há sim uma rotina, mas mais de organização e arquivamento do que da escrita propriamente dita. Tenho em casa diversos bloquinhos espalhados pelo quarto, escritório, sala, banheiros e varanda. Quando saio levo no bolso ou na bolsa, mas nunca saio sem; certa vez esqueci o celular; mas o bloquinho ainda não. Sou uma pessoa rotineira, quase pragmática em relação com minha saúde: faço meditação, corrida, preparo minha alimentação e afins; nos meus hobbies: escultura, escrita, pintura, leitura, filmes, boxe, música e afins sou aventureiro e deixo-me levar conforme queiram os ‘deuses’ (sem da minha parte impor normas, horários e regras)... Não tenho restrições de horários nem dias ou meses para a arte... Nunca aconteceu, mas acho que posso ficar meses sem escrever ou pintar que não entrarei em ‘alerta’, nem tampouco em pânico. Aproveitando a deixa, Cinthia, pego o gancho e tomo a liberdade de deixar um escrito sobre o assunto:

Letargia
- André Anlub

A depressão lhe caía ao corpo, lhe corroía as entranhas, doía todos os músculos, juntas e ossos, cegava os olhos e secava as artérias e veias; a depressão o fazia um tudo tardio e torto, era nua, vil e absoluta, era o toldo à chuva, era de tudo um nada e daquilo e daquele inquilino mais tosco e fosco, um todo; a depressão lhe subia senil do chão ao alvo que era o alto, bem no alto da ponta da cabeça; sugava-lhe o sangue, o suor, a saliva da boca, a seiva do sexo, e desbotava todos os brilhos, os bagos, os beiços até que escureçam; a depressão já chegou a tempo e lhe tapou os tímpanos com seu tampão tempestuoso; arrancava-lhe as pálpebras, os pelos e cabelos, desmascarava suas ilusões, seus enganos e seus festejos, o bolinava e brochava ao extremo, o fazia enfermo, ínfimo, verme, vesgo; a depressão podia até ter boa intenção, mas bem no fundo à esmo; era verduga, verruga e veneno. Mas e a garrafa? – A garrafa acabou e o copo secou. Não sobrou sequer um comprimido amigo, um som de piano, um ano pela frente, ou um enterro decente com carpideiras e enchentes; nada... nem um pano sujo com éter ou clorofórmio... nada, nem os coliformes fecais sobreviveram... nada, nem a cola de sapateiro, nem o padeiro gritando: pão!; nem o leiteiro gritando: flor!; nem o mendigo pedindo esmola e nem a bola do guri João. O dia rasteiro veio à sua busca, dar-lhe um sorriso sem anistia e lhe cobrir com um manto negro e tão grosso que asfixia... A noite vem chegando, mas não vai dar tempo de vê-la em vida, pois a sofreguidão é tamanha que lhe come a pouca e qualquer expectativa. É o fim do mundo: a depressão já fez outra vítima, endureceu a carne e enrijeceu a língua; a depressão abandona o corpo e voa sem sina na brisa... Mas soa um aviso à redondeza: não fechem as janelas – não temam as feridas.

(3) Pergunta da amiga Poliana Marques – Você prefere escrever em primeira ou terceira pessoa? Por que?

Estou no meu primeiro romance, ele é fictício e autobiográfico ao mesmo tempo. É um misto de coisas que realmente aconteceram com pitadas de ébrios devaneios e de sóbrias inspirações. Garanto de antemão que será um bom livro, uma leitura salutar e uma grande viagem de fácil compreensão (mesmo para quem não me conhece desde novo). O curioso é que comecei e assim segui escrevendo em terceira pessoa (será um livro grosso, já escrevi muito e acho que ainda estou em 1/4 dele), e um amigo leu e me confidenciou que ficaria melhor em primeira pessoa. Ainda estou na dúvida se farei a troca, pois vai dar um trabalhão – caso mude –, mas continuo escrevendo em terceira enquanto fico na indecisão... O que realmente importa é a evolução do mesmo.

(4) Pergunta da amiga Daya Maciel – Como foi a decisão de começar a escrever profissionalmente?

Ainda não me considero – nem sei se quero – um profissional! Na verdade penso pouco no assunto. Acho que em um futuro próximo, por causa da acessibilidade da internet, poderá surgir uma enxurrada de pessoas dividida em três grandes vertentes: a primeira enxurrada de talentos ocultos que serão revelados, arrebatados pela literatura, acorrentados pelo salutar vício e ofício de ler/escrever (farão sucesso e, caso queiram, venderão igual pão quente); a segunda enxurrada de escritores frustrados, que ambicionaram em demasia e focaram em um objetivo muito além de seu alcance... Esquecendo-se da essência das letras – a mágica da escrita –, causando assim desistências ou excesso de contingente no limbo literário (espero que não caiam em depressão); a terceira enxurrada de amantes das letras, que continuarão com suas mentes voando, sentido prazer em escrever, vagando entre o real e o imaginário, felizes por serem o que são e sem a menor pretensão de pretender. A meu ver o ideal é a gente só se frustrar quando quer... só para fugir da rotina! - Encaro a escrita como um hobby arrebatador – quase divino –, um divisor de águas que completou minha maneira de ver e viver a vida, desbastou minha alma e coloriu minha história.

Escrever é expressão, é dar pressão e se exceder; é no viver levar o mesmo com mais emoção. Aos que temem a caneta: que fiquem imbuídos de lançar a flecha, e terão a certeza de acertar, pelo menos, um coração.

(5) Pergunta da amiga Ana Fernandes – Qual foi sua inspiração para escrever?

A inspiração surge do cotidiano, do acordar de bem (ou não) com a vida, do corriqueiro, da novidade, da vaidade e humildade de ser um eterno aprendiz nesse mundo. Costumo dizer: escreva à tia, escreva às tantas, escreva à toa. No ano que resolvi escrever e lancei meu primeiro livro de poesias e textos, em 2009, eu só contava com uns vinte rabiscos... Alguns impublicáveis. Comecei então uma produção descomedida pois não queria um livro fino, queria algo com mais de 200 páginas, com desabafos sobre o cotidiano, política, vida e amores... queria lançar para o Natal e tinha menos de 8 meses para me inspirar, criar, escrever, editar e mandar para a editora (que no meu caso foi uma gráfica). Escrevia no ônibus, no taxi, no consultório dentário, no banheiro e até dormindo (acordava na madrugada com poesias que havia sonhado). Consegui! Mas para variar, e não fugir do de quase praxe, a gráfica atrasou e o livro foi-me entregue no comecinho de 2010. Costumo dizer que vendi mais de 100 livros ‘Poeteideser’ de 2010 até meados de 2011 só pelos correios (devo ter sonhado). Depois esfriou! – Agora, tempos depois, se somados todos os meus outros livros seguintes (livros com um pouco mais de maturidade, técnica e desenvoltura) mesmo assim só chego aos pés desse feito.

Se me permite, Ana Fernandes, lembrei-me disso:

Já arredei minha veste preta, vou vestir branco; demiti as carpideiras e com muito pesar darei "tchau" ao querido espaço Orkut; sinto-me muito triste, pois foi por lá que comecei meus primeiros rabiscos "online"... Lá vendi muitos livros ‘Poeteideser’ e fiz diversos amigos... muitos deles extravasaram para uma amizade mais perto, cá fora, com mais cheiro de verso e de gente; felizmente pude partilhar das rimas pessoalmente com alguns poetas e amantes das letras também fora das redes sociais e muitos ainda estou para conhecer. Bem, contudo, novas redes sociais vieram e virão, e a nau poética jamais afundará (nem se tacarem fogo em todos os livros e meios de divulgação), pois a poesia é eternizada no universo de cada ser vivo.

Em tempo, vão-se os papéis, drivers, pen drivers, nuvens e véus... mas ficam os enredos.

(6) Pergunta da amiga Laura Jane Silva Na sua opinião, qual é o maior obstáculo que um escritor enfrenta? saber o que mais agrada os leitores e conquistá-los, ou a falta de recursos e oportunidade de expor às suas obras?

Com certeza a falta de recursos. Acho que começar a escrever para agradar, é começar com o pé esquerdo (e dar um tiro no mesmo), é começar tonto e torto! Temos que focar em escrever para nós mesmos, às vezes o que gostaríamos de ler e às vezes até não... mas apenas escrever o que nos dá prazer. A escrita focando no que está em voga, no que é modinha é inevitavelmente reservar para o futuro a pá e o cal.

O lado bom da vida é fazer o que gosta
Não pingar colírio em olhos alheios
Viver para ser invejado é tiro no pé
É egoísmo com a própria alegria
É fazer com a falsidade parceria
É ser Zé Ruela, Zé Mané.

(7) Pergunta da amiga Mariana Moschkovich Athayde – Quantos anos você tinha e sobre o que era seu primeiro texto literário?

Eu e o pessoal da minha turma (Bairro Peixoto – Copacabana (RJ)) fizemos um jornalzinho de rua em 1983 chamado Jornal da Banche. Era um jornal voltado ao esporte, em especial ao skate e surf. Escrevi algumas matérias, textos pequenos e muito mal escritos que contavam nossas aventuras nos ônibus em buscas das ondas nos litorais fluminense. O Jornal era mensal e vendido ao preço simbólico de poucos centavos (uns 25 na moeda atual). Chegou a ter 4 edições. Se não me falha a memória, foram os meus primeiros rabiscos direcionados a outra pessoa (sem levar em conta as cartinhas de amor).

Imagem do jornalzinho:

(8) Pergunta do amigo Luiz Amato – O que você acha da situação da cultura em nosso país?

Opa Luiz, antes de tudo quero lhe agradecer pelo convite. Fiquei muito feliz. Bem, sobre a situação já fui mais pessimista e não faz muito tempo! Atualmente (de uns 4 anos para cá) tenho visto museus lotados, novamente surgir gente boa na música, nas letras e nas artes. Vejo feirinhas de artesanato com obras fantásticas... e o principal: vejo crescer leitores (pelo menos em meus círculos), gente que se dedica e estuda, que se aprofunda e com o coração mergulha, não visando lucro com o banal – dentro do raso e vil (sempre existe tal pessoa, mas a gente se esquiva e segue nosso caminho). Vejo também os amigos de antologias se conhecendo; vejo surgirem academias e associações unindo os escritores e artistas de forma real e amiga, saindo da preguiça inerte do virtual, do escritor de sofá e divulgador que se limita em comunidades de redes sociais... Não somos de outras galáxias, temos como nos unir na carne e osso, sairmos um pouco da zona de conforto e darmos um abraço ao vivo sentindo o cheiro da poesia exalada pela aura do amigo. Atualmente temos as ‘armas’ da internet (para chegar a todos), mas é salutar também o contato ao vivo. De uns anos para cá vejo isso acontecendo com mais frequência. Agora, no início de dezembro, estarei em um enorme evento, com diversos amigos, no lançamento de duas Antologias em Salvador (BA)... Tem tudo para ser uma maravilhosa festa.

(9) Pergunta da amiga Sabrina Oliveira – Eu já vi leitores dizendo que um autor deve ser conhecido por um só gênero literario. Eu discordo. Pois se vc gosta de ler de tudo pq não pode escrever de tudo um pouco? Seguindo esse pensamento, vcs acham que tem preconceito dos leitores quando um autor gosta de variar os gêneros em seus livros? Acham que o autor seria mais reconhecido se focasse em um tema apenas?

Excelente e complexa pergunta! Nunca pensei nisso, pois quando leio apenas leio. Muitas vezes nem sei se o escritor variou de estilo e tem flertado com novos temas e/ou escreveu algo novo dentro de seu universo.

(10) Pergunta da amiga Vivian Santana Todo escritor gosta de ler. Quais os tipos de livros que vcs mais gostam e quais autores preferidos???

Gosto de poesias, sou um devorador inquieto, metediço e entusiasta. Leio os clássicos, mas leio muito também os amigos poetas; desde a época do bom e velho Orkut. Gosto também de ler os romances, principalmente quando escritos por pessoas complexas na vida real. Tenho uma curiosidade mórbida por suicidas, loucos e escritores controversos. Gostei muito de ler os livros ‘quase biográficos’: Confesso que vivi e Canto geral de Neruda, Ariel e A redoma de vidro de Sylvia Plath, A medida da vida de Virginia Woolf e Poética de Ana Cristina Cruz Cesar. Não são biografias diretas; são sutis, enigmáticas e perspicazes.


Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.