Era um filme
de amador. Mas com certeza foi o melhor trabalho que Elibeu encontrou sobre o
assunto. Elibeu era um produtos poderoso. Mandou fazer uma pesquisa para
descobrir quem era aquele amador e contratá-lo. Não conseguiu.
Orminha, tida
por vagabunda, por imprestável e por marginal estava se divertindo muito. As
pessoas que vigiavam Orminha, que não aprovavam sua vida, que a chamavam de
vagabunda, imprestável e marginal estavam se divertindo muito pouco.
Quando
Norvinha foi a Marte, voltou trazendo um alicate de unhas e um espanador.
Quando Norvinha foi a Vênus, voltou trazendo um urinol e uma caixa de clips. Quando
Norvinha foi a Júpiter, voltou trazendo uma colher de pedreiro e uma
cinta-liga. Norvinha só pensa em coisas práticas.
- Pai, quando é
que nós vamos à Disneylândia?
- Se depender
de mim, nunca.
- É por isso
que te adoro!
Osbaldo era um
homem sério. Mas gostava de rir. Então Osbaldo se organizou para rir nas horas
certas, porque rir fora das horas certas não é coisa de um homem sério. Ele só
sente pena de as horas certas serem tão poucas.
- Acho que é
uma questão de pele, sei lá – dizia Tomínia, tentando explicar à amiga porque
seu romance com Tonalvo não ia bem. - A dele solta escamas e fica toda iridescente.
A minha é tão oleosa que eu nunca precisei comprar azeite. Quando as escamas
dele grudam no meu óleo é qualquer coisa de intolerável. Mas nós estamos tentando,
juro.
- Vô, o que é
talabarda?
- É quando uma
poeta fica encrencada no meio de um poema, não consegue ir adiante: ela fica
numa tala barda.
- Ah, vô,
francamente!
- Ué, que
culpa tenho eu se este negócio de poesia é complicado?
O Muito Depois
queria conversar com o Muito Antes. O Muito Antes até concordou, mas ambos
concordaram que até concordarem com um horário adequado o assunto teria
morrido, reencarnado e morrido outra vez.
Ninguém é dono
de ninguém. Mas se para te sentires dono de alguém concedes para quem se sente
dono de ti, não podes te queixar da falta de liberdade.
- Onde foi que
você botou a minha paz?
- Hein?
- A minha paz.
Você tirou a minha paz, onde foi que botou?
- Se eu
consegui tirar a tua paz, ela nunca foi tua. Eu te tirei o que nunca tiveste.
Crismina não
queria ir embora. Mas não havia mais ninguém ali. Se ficasse, ficaria sozinha. Crismina
não queria ir embora, mas também não queria ficar sozinha. E não havia mais
ninguém ali.
- Desde quando
você não atualiza o Windows?
- Desde 1917.
- Ah, para aí,
naquele tempo não havia computador!
- Pra você ver
como o meu Windows está desatualizado.
Clópis Ventto
pensou que pudesse. Pensando que pudesse, Clópis Ventto tentou. Tentando, Clópis
Ventto viu que não podia. E ficou um tempo sem tentar, pensando no que poderia.
ROGÉRIO CAMARGO