
O Sertão vai virar Céu
Com os pés na terra ele se sente em casa
Enxada na mão, sol como irmão
Na fome, sede, cedo e na raça
Dá bom dia pra cactus, filho do sertão.
Na luz do lampião lê histórias de lampião
No chão rachado, passado e presente na guerra
Sabedoria lhe dizendo, sempre alcança quem espera
Uma massa de gente pobre que nem sempre luta em vão.
Enquanto descansa pouco, pouco ganha pão
Alguns calangos o observam, outros vão pro fogo
Assim se vai levando dia sim sem dia não
Não se pode dar ao luxo de perder esse jogo.
Nessa vida em aberto, todos os dias são incertos
No milho na cana, na cana e rapadura
Muitos pés descalços na chuva de insetos
Tendo a força, garra e solidão como armadura.
André Anlub
Seus Olhos
Nos seus olhos...
Vejo-me com escassez de prantos
Nunca há sombra de desenganos
No frio, todos os mantos
No calor, o nosso banho.
Nos seus olhos...
O reflexo da seda dos seus braços
Que se estendem ao longo do meu corpo
Que me despe, reconstitui meus pedaços
Prazer quente, doce, em sopro.
Nos seus olhos...
Vejo a grandeza do mundo
Espelhada da mais bela forma
Amor claro, sem bula, sem norma
Desarmado de espada e escudo.
Seus olhos...
Espelhos do meu sorriso mais sincero
Logradouros do azul celeste do céu
Chamas de dar inveja a Nero
Fazem embriagar-me do seu mel.
André Anlub