Via: Iconografia da História
A tragédia do Circo Vostok: a morte do garoto de 6 anos, devorado por leões famintos, em frente ao público, que mudou para sempre a legislação sobre animais e circos no Brasil
Era um domingo ensolarado de abril de 2000, quando José Miguel dos Santos Fonseca Júnior, de 6 anos de idade, adentrou o Circo Vostok, junto com seu pai e a sua irmã, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, na grande Recife, Pernambuco. Juninho, como era conhecido pela família e amigos, estava completando mais um ano de vida naquele dia. Seu presente foi conhecer os encantos do circo que estava alocado em sua cidade.
Porém, o que seria um evento encantador, se transformou em uma tragédia que modificou para sempre a história dos circos brasileiros e da vida de seus familiares.
Após as primeiras atrações, o locutor anunciou o grande evento do dia, o número "Domador de Leões”, que consistia em um homem dentro da jaula com vários leões. Durante a pausa de 20 minutos, o domador convidou algumas crianças para tirar fotos em frente à jaula dos leões. Juninho era um deles.
O que ninguém imaginou é que o Leão Bongo, usando a pata, puxaria o garoto de 6 anos para dentro do túnel que ligava a jaula dos leões ao picadeiro. Ao invés de ferrolhos, os espaços entre uma barra e outra da jaula eram cobertos por cordas de Nilon, o que não impedia os felinos de puxarem uma pessoa para dentro.
Esse foi um dos erros crassos que terminou com Juninho dentro da jaula dos leões. Após ser abocanhado por Bongo, o garoto foi levado ao picadeiro pelo Leão, e os outros felinos, que estavam preparados para o número, passaram a devorar o garoto. A cena foi horrível, leões de 200 quilos arrancaram o braço, quebraram o pescoço e dilaceraram o tórax do menino, expondo suas vísceras na frente do público, em uma cena dantesca, que ninguém imaginou ver em um circo.
Após tentativas de retirar o garoto, o que sobrou de Juninho foram apenas pedaços. O pai, em estado de choque, não conseguia nem se mexer, ele e a irmã do garoto assistiram a toda a cena. Quando já não sobrava quase nada inteiro no corpo do garoto, outros dois leões arrebentaram as cordas de Nilon e foram pra cima dos restos mortais de Juninho. A correria no circo foi enorme. A polícia militar foi acionada e matou três leões com mais de 3 disparos. O único animal sobrevivente no dia foi um felino filhote, que faleceu 21 anos depois.
Os corpos dos leões foram levados para a Universidade Federal de Pernambuco, durante a necropsia, descobriram que a barriga dos leões estava vazia, o laudo comprovou que os felinos não comiam há dois dias. Mesmo assim, os peritos concluíram que os leões não capturaram Juninho para comerem o garoto, mas pelo estresse decorrente da fome, o que ativou instintos selvagens de captura nos animais.
Ao fim daquele dia, a mãe de Juninho foi avisada da situação, ela estava grávida de 8 meses e quase sofreu um aborto.
A notícia se espalhou pelo Brasil como pólvora acesa. Até uma equipe da BBC se dirigiu a Jaboatão para documentar o fato.
A tragédia acendeu a discussão sobre animais dentro de circos e tratamentos desumanos dado a eles. Na época, era comum ver animais em circos. Os bichos sofriam maus tratos, ficavam sem comer, eram castigados se não cumpriam o esperado pelos proprietários e domadores. Foi nesse período, que o Congresso Nacional aprovou leis deixando mais rígidos os critérios para manter animais em espetáculos. Pernambuco foi o primeiro estado a abolir a presença de animais em circos, alguns anos depois, o próprio país adotaria posição parecida.
O caso foi julgado pela justiça do Estado, o Circo e a locadora, responsável pela alocação do circo na cidade, foram condenados a pagar 1 milhão de reais aos pais da vítima. O STJ reduziu a indenização para 275 mil. A família que controlava o circo se mudou para os Estados Unidos, o domador fugiu e o crime prescreveu, pois ninguém foi encontrado para o julgamento.
Os traumas causados pela morte da criança no picadeiro não têm um preço fixo para reparação. Não há dinheiro que faça apagar da mente e do coração, o triste fim de um garoto, no dia de seu aniversário, no picadeiro, que deveria de ser palco da alegria, mas se tornou um espaço de tristeza, amargura e irresponsabilidade social.
Texto - Joel Paviotti
Via: Iconografia da História