30 de março de 2019

Cantinho de paz (Parte IV)


Cantinho de paz (Parte IV)

Brevidades na poética dos seus olhos castanhos claros,
Ficamos em surdina esperando o cantarolar de qualquer pássaro.
Na varanda a rede balança com o peso de nossos corpos ardendo,
O calor contagioso que você emana por fora e por dentro.

Passo a passo o sorriso largo ainda mais se alarga,
Rios correm para o mar num coito de águas.
Trocamos palavras, esculpimos ideias e assim nos amamos,
O tudo que foi fez tudo que é, e no por vir... Sonhamos.

A poesia se compunha no sol que bate na colina,
Faz fácil rima com a natureza que é sempre bem-vinda.
Nem precisaria haver um sonho, mas como não sonhar?
Não há necessidade de haver música, mas sempre haverá.

Quando o amor é presente sempre deixa a deixa,
Transpondo grandes percalços e desfazendo fronteiras.
Faz até os mais céticos verem suas vidas corriqueiras
Através de uma bela moldura de nobre madeira.

André Anlub®
(30/3/19)


29 de março de 2019

Jovem reinado do velho Rei



Jovem reinado do velho Rei 
 respect atteint son sommet quand elle est partagée

É duro, é mau, um trabalho pesado – mal pago e demasiadamente cansativo;
É puro osso, mas é bom... vale a pena tal masoquismo – maniqueísmo. Será?
Se liga que a opção é entrar em ação, largar a ração e comer caviar; vem cá, ver ar e respirar fundo, pois o fundo do poço sobrou ao cinismo.
Achei meu chiclete perdido no fundo da bolsa, amassado, solitário, ainda cheiroso e macio; achei meu clichê perdido na ponta da língua, engomado, acompanhado, ainda leso e embirrado, clamando pela soltura... Por um fio!
E aquela formosa lacuna a ser preenchida? 
– Talvez por um novo amor, um amor verdadeiro, com alma e cheiro – boca sedenta pintada de magenta e um ar de loucura.
E aquele tempo perdido? 
– Talvez um sexo mal feito, um rasgo no peito e o ardo compromisso de não ser omisso e se dar por inteiro enlameando-se no ofício.
Eis um novo reinado de um grande palácio, com mais de cem quartos, sem seios fartos, orgia e folia... Eco solitário na imensidão do vazio.
Quem seria o amor de ontem que ainda toca no hoje com o largo risco de continuar tocando no amanhã?
O Rei é seu amigo: vá comer em sua mesa, devorar seus queijos e se afogar nos vinhos.
O Rei é seu umbigo: não é preciso tirar proveito de quem a ama, esquecer seus beijos e se afogar em outros ninhos.

Velho reinado do jovem Rei – décrit le passé si plus perdu. Tagged les bandits à la musique classique.

O sorriso para as aves que chegam do infinito; novo abrigo para os que preferem vir pelo mar. Osso para o cachorro ficar, brincar e esconder, caneta para escrever, vitimar e tirar cera do ouvido. A nuvem escura chegou – nuvem prometida; traz chuva, traz vida, regando sedentos. Cá estamos em casa nos embriagando de música; braços e pernas presos, agarrados aos instantes e “Mutantes” na vitrola dos hiantes amantes. Nas mãos o punhado de flores colhidas, nos vasos o intenso cheiro puro da terra; o aquário o clichê de peixes dourados e adorados por exporem a todos suas vidas. Quadros amarelados, pelas paredes, espalhados, cansados da vida no mesmo cenário; atrás deles escondidas, alvas e frias lagartixas devorando todos os insetos devidamente desavisados.
Está tudo certo – absolutamente sob controle: a vida segue o norte que se deu e que se dá... Num grande sacolejar, quase virando o barco: Uns morrem, uns porres, uns nadam, uns nada e uns vivem de molho.
Chamuscaram a loucura no incêndio da alma, pois ela vive na externa, na espreita da cura; Absurda é na artéria, sem medo, correndo vermelha, a paixão suntuosa e frenética, carnal, corriqueira. Seu corpo no meu colo – pode ser agora? Já traço; é o meu rolo... Faço um bolo de amora para o lanche e o lance é você trazer a Coca-Cola.
Vimos todos deixando de ser guiados por outros, vimos tolos pensando em falar a língua dos anjos; lapidamos a escultura da nossa personalidade, amparados, juntos e separados; cada qual no seu trono.

André Anlub





27 de março de 2019

Tarde de sábado


Parte II
Tarde de sábado

O estreito furo do observador
A galinha ciscando no quintal
Tal de etc. de afago e dor
Enquanto a enfermeira prepara o mingau.

O que há dentro de nós?
Uma guerra sem fim;
Uma festa uníssona...
Aquele algo além do passível, enfim:
Tudo que se faz combustível.

É como se os verões quisessem sair,
Alavancando novos rumos,
Flertando com o ir e o vir,
Um futuro além de seus túmulos.

Então, enquanto o incenso invade a casa
Falsificando o cheiro puro do jasmim.
Para recomeços sempre será tarde criar asas
Se a cicatriz não se torna tatuagem assim.

Inícios, recomeços, medos, a rocha frágil, veeiros...
A roupa rasgada lavada; o pássaro preso ao viveiro.
De dia aquele clarão que põe à prova a coragem,
De noite a engrenagem que se quebra na cegueira do covarde.

Pés pisando em pequenos cascalhos,
A maresia, a adrenalina, a música e a sacanagem.
O pensar vago enquanto vagueia nas imagens
Numa bela praia do acaso;
Numa pintura de tarde de sábado.

André Anlub®
(27/3/19)


Dueto CVI


Dueto CVI

Na batalha pessoal, um soldado é o exército, o exército é um soldado.
O repente só reflete os aflitos que na linha de frente estão armados até os dentes.
As armas nunca são barões assinalados. Podem ser assassinados, no entanto.
O campo, imaturo e mal iluminado, reflete o pranto seco e inacabado de esperança.
As trincheiras arreganham as bocas, exalam odores de arcadas corroídas e refluxos corrosivos.
Os explosivos são rancores prensados em corações apertados e sombrios... quase todos pouco usados.
A música dos canhões não cessa jamais e quanto mais música é menos música pode ser.
Feridas expostas e cabeças penduradas para enfeiar possíveis belas alvoradas.
Na batalha pessoal, possíveis belas alvoradas são uma piada amarga que os combatentes contam uns aos outros enquanto recarregam os fuzis.
Faces hostis – hóstias de sangue –, mangues de corpos em foscos lamentos, em orações apáticas, em mentes insanas.
Quando o clarim do armistício ecoa lá longe, é lá longe que ecoa o clarim do armistício.
É fatídico, é libertário, é libertino: se é o fim da batalha, é o sepultamento dos que foram e vem o nó à nódoa como uma navalha amolada nas mentes e corações dos que ficam.

Rogério Camargo e André Anlub
(27/3/15)


25 de março de 2019

Inventários




Inventários 
(coup de grace)

Enquanto invade a casa nessa tarde de inverno,
Embelezando todos os cantos e até os pequenos frisos,
Com o canto do tentilhão de fundo
Sinto-me moribundo num amor perdido.

Seu perfume não me dissuade mais
Chega a ser assustador, quase bandido.
Inclino-me e venero, estou entregue...
As coisas são assim: inicio, meio e ‘aqui jaz’.

Nuvens são bem-vindas, tapam o sol e a luz com seu amor...
Passam ou ficam, descansam ou aceleram,
Adornam o cotidiano....
Entra ano e sai ano,
Elas põem a mão em nosso humor.

O tempo mexe com a inspiração,
Dias de sol, mas frios, fazem noites de som, bem quentes.

A alma quente bebendo café quente na beira do rio...
Gente passando a fio;
Passando roupa,
Mostrando pompa...
Aos que ainda tem brios.

Gente passando fofoca adiante,
Diante de um espelho bem limpo,
Vivendo em bolhas e limbos,
Com desculpas hilariantes.

Dentes em sorrisos;
Sem rima ou mimo...
Dentes escondidos,
Em uma grande obediência...

Jazem em uma poça de limo,
Pois vivem em falência,
Mastigando e engolindo o falso rico,
Que sangra pelos poros da tez...

E o tudo, por sua vez,
No infarto do seu coração oprimido,
Farto de ser todo umbigo,
Morre sem saber o que fez.

Andre Anlub®
(25/3/19)

Velho novo dia



Velho novo dia 

O sol surge lá ao longe no horizonte,
E galos cantam nos quintais de alguns casebres.
Pequenas crias nos seus ninhos são nutridas,
O João de barro dá início à construção.
Buzinas frenéticas travestidas de bom dia
Berram e ecoam despertando a multidão.

Pernas caminham para as suas árduas labutas,
Indo à luta sem saber quem vai vencer.
Mil estorninhos fazem balé ao som do vento
No mesmo instante que mil homens estendem a mão.

Olhos abrem e fecham ao tocar de amantes bocas;
As alianças vão fazendo a morada em dedos,
E vão-se brilhos, vão-se os sons e vão-se os medos...
E dá-se o ensejo da sagrada comunhão.

André Anlub®
(18/10/14)


Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.