15 de junho de 2018

Cria da realidade


Cria da realidade

Sonhei com calçadas vazias e as ruas pelos carros lotadas,
Estranhos corpos ocos vagando em terras sem fim.
Havia um ar carregado e viscoso, tóxico de tão ruim...
Que entrava como pimenta pelas narinas pré-fabricadas. 

O vazio corria ligeiro pelas artérias e veias
Enquanto aranhas trabalhavam multiplicando suas teias.
Aos ratos, museus, escolas, teatros abandonados...
O mundo ressecado ao aguardo do fogo imaculado.

Sonhei com um horizonte invisível,
O sol apenas à serventia da vaidade.
Do homem, a alma nem sequer “a ver navios”...
A lua vive na insônia da inutilidade.

Podres parede e pele descascando
Clamando por uma demão de tinta,
Rios limpos de sorrisos nunca foram descobertos,
Estão cobertos por mágoas em esgotos ao céu aberto.

Sonhei que havia sonhado que tudo não seria sonho
Só ponho minha mão no fogo pelas chuvas de amores
Encaro meus pavores em sopros como uma toda verdade...
Esbarro no trágico fato de tudo ser cria da realidade.

André Anlub
(15/6/18)

Pombas felinas


Pombas felinas

Ela eternamente chamará atenção:
Holofote faz parte de todos os tempos.
Tudo lamento, intento, comemoração;
Tudo emancipação, afeição, fomento.

Nas ondas dos mares,
A solidão em sal, doce e tais;
Tudo jaz e renasce
Com o passar dos segundos.

Nos submundos da pera podre;
Nos céus das abóbadas celestes;
As vastas vestes dos reis
E os depilados reis desnudos.

Em todos os horizontes surgem poesias ecléticas;
Esféricas feras que circundam mentes nada ocas.
Falam todas as línguas,
Beijam todas as bocas.
São loucas e caóticas felinas,
São pombas brancas e éticas.

André Anlub
(13/6/18)

12 de junho de 2018

Ótima terça!


PAPEL
Carlos Drummond de Andrade

E tudo que pensei
E tudo que eu falei
E tudo que me contaram
Era papel.

E tudo que descobri
Amei
Detestei: papel.

Papel quanto havia em mim
E nos outros, papel!
De jornal, de embrulho.
Papel de papel, papelão!


EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS 

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo, 
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do PAPEL... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

Mario Quintana


Balão - Ricardo Azevedo

Podia ser de aço inoxidável como o avião a jato,
mas é de papel colorido, varetas de madeira, cola, barbante e arame.
Podia ser sério e exato como os foguetes teleguiados,
mas é à toa e nem sabe aonde quer chegar.

É frágil, mas o passarinho também é.
Mesmo assim, insiste em cumprir sua missão:

partir por partir,
ser um eterno aprendiz,
viver cheio de fogo,
enfeitar o espaço,
e, por último,
iluminar, mesmo que provisoriamente, a escuridão.


Manoel de Barros, por Lesma.
Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no PANTANAL de Corumbá entre bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o PANTANAL onde sou
abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que
fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer da moral porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

- Manoel de Barros, do "Livro das Ignorãças", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1993, pág. 107.


O homem do campo é
O futuro do País
Não tem calçado no pé
Não tem riqueza e verniz! 

Levanta de madrugada
Despede-se de Maria
Pega a foice e enxada
Trabalha com alegria.

É feliz e não reclama
Do pouco que ele recebe.
Mas ora, e por Deus chama
Que o seu esforço percebe.

Milla Pereira


Ora Até que Enfim
Ora até que enfim..., perfeitamente... 
Cá está ela! 
Tenho a loucura exatamente na cabeça
Meu coração estourou como uma bomba de pataco, 
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima... 

Graças a Deus que estou doido! 
Que tudo quanto dei me voltou em lixo, 
E, como cuspo atirado ao vento, 
Me dispersou pela cara livre! 
Que tudo quanto fui se me atou aos pés, 
Como a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma! 
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta 
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada! 

Graças a Deus, porque, como na bebedeira, 
Isto é uma solução. 
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago! 
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos! 

Poesia transcendental, já a fiz também! 
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram! 
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários — 
Também não é novidade. 
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim... 
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o. 
Com esforço, mas era para bom fim. 
Ao menos era para um fim. 
E assim como sou não tenho nem fim nem vida... 

Álvaro de Campos, in "Poemas"


Segredo 

Andorinha no fio
escutou um SEGREDO.
Foi à torre da igreja,
cochichou com o sino.
E o sino bem alto:
delém-dem
delém-dem
delém-dem
dem-dem!
Toda a cidade
ficou sabendo.

- Henriqueta Lisboa


SONETO DE DEVOÇÃO
Vinícius de Moraes - RJ, 1938)

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um MUNDO! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!


Amigo

1. 
Amigo, toma para ti o que quiseres, 
passeia o teu olhar pelos meus recantos, 
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira, 
com suas brancas avenidas e canções. 

2. 
Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este inútil e velho desejo de vencer. 

Bebe do meu cântaro se tens sede. 

AMIGO - faz com que na tarde se desvaneça 
este desejo de que todas as roseiras 
me pertençam. 

Amigo, 
se tens fome come do meu pão. 

3. 
Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto 
que sem olhares verás na minha casa vazia: 
tudo isto que sobe pelo muros direitos 
- como o meu coração - sempre buscando altura. 

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe 
entregar nas mãos o que se esconde dentro, 
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares, 
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança... 

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido 
é uma rosa branca que se abre em silêncio... 

Pablo Neruda, in "Crepusculário" 
Tradução de Rui Lage


Eis a casa

Eis a casa
menos que ar
imponderável,
no entanto é branca de camélia
e tem perfume de cal

Com seus corredores

O alpendre

As janelas uma a uma

Vê-se o mar. As montanhas. O trem passando
O gasómetro

Vêm-se as árvores por cima com suas flores

A CASA imponderável

Mas de cimento madeira tijolos ferro vidro

A pintura prateada das grades cheira a óleo a fruta a luz

A água a pingar cheira a musgo,
soa metálica, trémula
insetos pássaros líquidos
pequenas estrelas
clarins muito longe

Peitoris gastos de braços antigos
Sombras de borboletas

Eu sei quem comprou a terra
quem pensou nos desenhos
quem carregou as telhas

Passam legiões de formigas pelos patamares

Eu sei de quem era a casa
quem morou na casa
quem morreu

Eu sei quem não pôde viver na casa

É uma casa
com seus andares
suas escadas
seus corredores
varandas
aposentos
alvenaria
muros

imponderável.

Uma casa qualquer.
Cruz que se carrega.
Imponderavelmente, para sempre, às costas.

Cecília Meireles

10 de junho de 2018

Fulano da Silva, o cara cara-a-cara com a cura


Fulano da Silva, o cara cara-a-cara com a cura

André Anlub

Fulano da Silva é um sujeito como outro qualquer, com histórias comuns e corriqueiras, problemas, soluções e determinadas exceções que vamos recortar e expor nas linhas abaixo. Digo “vamos” porque a narrativa seguirá em terceira pessoa, mas se dará pelo ponto de vista de pessoas diferentes e seus olhares e julgamentos subjetivos. 
Primeiramente um longo resumo proposital de quem é Fulano da Silva: ele é amante de jazz, rock, blues e muitas vozes femininas; ele gosta de tocar bateria, arranhar na gaita, curte uma praia, o cheiro de maresia, pés cheios de areia e jogar futebol; também curte comer peixe, lasanha verde, rosbife, massas e folhas em geral. Fulano mora em si próprio, mas costuma fugir de casa; é totalmente anárquico nas suas lucidezes e pragmático nas suas loucuras; tenta quebrar o gelo e gaseificar o fogo, não se vende ao Sistema, pois não aceita ser trem e voa. Fulano tem a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina. A candura cascuda e otimista dele, persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; é um otimista sem utopia e um pessimista sem depressão. Tem como hobbies as artes plásticas, a gastronomia, a fotografia, os cavalos, a escrita, a leitura, o mistério, a música e o boxe; tem como paixões as mulheres, a filosofia, o café, os barcos, os vícios e ritmos de um viver literal e espiritual, diversificado e humilde.
Dizem que tudo aquilo deu em nada, mas se deu, já é alguma coisa. Fulano olha para um lado e olha para outro, vê um muro alto – obstáculo –, solta seus tentáculos em um peso morto – não vê nada novo –, a essa altura do fato já está farto do mundo lhe faltar com o respeito, e não ter pelo menos peito de se retratar. Aceita o “spoiler” da próxima peça de teatro, do filme de hoje na sessão da tarde, das suas contas no fim do mês. Ele quer sim saber o fim, não enxerga problema algum nisso. É comum conhecer o final, é tão comum que o livro mais famoso do mundo funciona assim... Agora sentiu, é cheiro de jasmim; germina no seu ínterim, dá-se vivo no início imperceptível – abrolha –, e acalenta lentamente a mente, as narinas e a posteriori sua alma. Não fazia parte dos planos de Fulano os roubos no pouco tempo vivido em sacrifício ao nada, ao mínimo, à tumba de um Faraó Egípcio (ele gosta de Hórus) ou um Rei qualquer da Espanha. Costuma ver aquele ser dividido com a fé, aromatizado pela busca e automatizado pela brusca obsessão de ser o que já era e sempre foi. Veio o som aos ouvidos e a imagem à retina, e quebrando a rotina veio uma força perversa, atroz e atriz, levando-o com pressa sem ponto e vírgula, sem um minuto a mais; mais célere que o absurdo, como um raio no ímpeto de nem se fazer perceber. A história é longa, muitas linhas para contar, os caminhos muitas vezes são falhos e lhe pregam uma peça sinistra e indigesta, incontestável ao clamar. Nuvens negras que aparecem atrapalham o seu dócil piquenique de domingo. A vida é assim: sopro. A energia desfaz-se no ar, voa e some na morte que subtrai e soma e come e traga e enterra e é negra, branca, amarela... qualquer coisa que queira ser e é; para vir e se mostrar ou se camuflar; ser bandida ou heroína, ser rainha ou vagabunda de esquina.... Nada importa, se faraó, rei, rainha, ou outra coisa.... Pois é escolha dela. Aquele pássaro amarelo lhe deu bom dia, pousou na árvore, sorriu para a vida e novamente o fitou com esmero. Hoje as montanhas chamam; bocas verdes com hálito afável, olhos negros com visão sem limite. Hoje a vida de Fulano é aquarela – gengibre –, com ocre, com eco e com pinceladas de azul turquesa. Ele vai esfriar a cabeça, tirar a mesa, lavar a louça e limpar o fogão. Até o próximo piquenique na sala; até o próximo inverno, céu e inferno: tal espécie de bipolaridade que serve de pilha para a máquina viver. Fulano tem passado por fases boas e ruins em alternâncias incrivelmente rápidas, sem aviso prévio, sem extremismos de alegrias fúteis ou sombras de depressão. É algo incomum ao seu ser, mas ele segue firme e não reclama. Está se tornando rotineiro ao ponto de já fazer parte do seu estado de espírito e também o corpo e o consciente completamente adaptados. É como uma bipolaridade salutar, que em fases “down” o levam a criar mais (Fulano gosta de escrever), não impede suas corridas matinais, até cala um pouco sua boca (coisa que Fulano preza muito), o faz cozinhar ainda mais e procurar abrigo nas leituras. Nas fases “up” ele se embriaga de café, se divirte com a tevê e jogos online; o faz planejar viagens e sonhar alto com o seu futuro; também quer debater todos os assuntos, pintar, fazer recortes de coisas inúteis e brincar ainda mais com os cães – com a noção maior que a morte está perto para eles. Na fase ruim tende a ter um pouco de azia pela manhã, mas logo passa; na fase boa acordo bem, com fome e querendo logo cedo o cheiro do café fresco e dando bom dia (internamente) a todos os deuses. Fulano é de um extremo interessante: o bobo palhaço e o ranzinza bobo palhaço. Ás vezes imagina cavalos apertando o passo em direção ao ocaso... a cada caso de o sol dar “boa noite”. Pelos seus olhos pôde ver além do tempo... com areia da praia construiu castelos mágicos, com portas de palitos de sorvete e com a ideia de que seriam eternos. Pelo menos até a próxima ida à praia. Engenheiro e artesão de tudo que vai esvair-se em poucos minutos. Assim seguiu o vento retirando os grãos; assim seguiu-se a água com a maré cheia e destruindo toda uma obra; assim veio os meninos mais velhos fazendo um campo de futebol e destruindo os castelos. Viu marcas de novidades e metáforas em todos os castelos destruídos; viu um futuro promissor e mais concreto, mais seguro e respeitado. Sente muito e sente muito quando um passado passa e deixa uma razão para ser mais forte, porém com raiva – perda – e olhares cerrados. A crueldade da criança sem seu doce e a doçura da criança sem ser ao menos mais criança. Costuma dizer: Nas mãos dos anjos os dados, quase sempre viciados; nas mãos dos demônios os tabuleiros, quase sempre inalterados. Demônios estendem uma enorme mesa às cartas; Anjos estudam as cartas e as marcam com a mente; demônios roubam por serem demônios e errados; anjos acertam e fazem o bem por terem sempre seus motivos. Sem sombra o mal segue voando ao lado de todos. Anjos criam suas sombras com as mãos... Aves, elefantes, coelhos e tudo que a sombra puder trazer. Fulano acordou num árduo domingo, enfrentou um inimigo fraco e normal para massagear seu ego, pensou no fato de que pequenos e frágeis problemas fortificam para encarar os grandes e fortes desafios; banalizou o banalizado, voou baixo – rasante – e em um levante dentro de um rompante adorou a própria história. Os óculos embasados nas visões embaçaram... não se vê absolutamente nada, tudo é estranho, agitado e vadio; tudo é apocalíptico, paralítico e sombrio. Ninguém mais fala bem da realeza, está falida, carcomida pela inocência descabida, mas que cabia em todos os momentos. Deduções: simples observações; coincidências: análises complexas de costumes. Pensa-se que não! E nas esquinas papéis no chão, nas poças d’águas das chuvas, são anotações importantes, poemas raros e listas de compras de supermercados. Fulano sabe que há algo demasiadamente misterioso nessa magia negra do cotidiano; algo aquém/além que não conseguimos tocar, ver e descobrir. Nada pode ser só o que é só, e ser só o que é muito e ser só seja o que for. Ninguém quer se meter em assuntos disformes, textos escritos em letras garrafais em um idioma extraterreno que se finge não dar atenção. Há um ser melhor dentro do sábio, dentro de todos nós..., mas nem sempre é o ideal usá-lo o tempo todo; assim o cansa, o deixa frágil, previsível e vulnerável. Há o tempo certo de empunhar a espada e o tempo certo de deixa-la oculta; o tempo certo da gargalhada solta e travessa e o tempo para rir por dentro. A animação acorda, coisa rara atualmente, mas sempre muito bem-vinda. Fulano acha que realmente fica complicado quando se fala o que as pessoas não querem ouvir. Vai se ater em escrever seus singelos rabiscos e continuar se expondo somente no boteco da esquina onde bate seu ponto, joga gamão e derrama seus copos. Lava o rosto e constata seu rosto de ontem, seu cabelo está carecendo de um corte curto, é mais prático e o calor abranda. Escova seus dentes, lava novamente o rosto, faz seus alongamentos e vai ao banheiro de fora, da área dos fundos. Lá já tem um livro esperando e o seu trono que adora. Agora vai falar em poesia, algo romântico que o toca, desmancha e conserta, dobra e desdobra, o faz feliz e moleque. Já está pintado de guerra, ouve tambores e ao fundo a água cai e em um céu pardo enterra seu otimismo. A espada é das Cruzadas, a roupa de soldado negro, botas de couro bem grosso e olhar de quem morreu de véspera. Dilacerou seus fantasmas em praça pública ao som de Björk, a luz de holofotes com canapés diversos e uma vodca da boa. Era uma manhã como a de hoje, quarta-feira; era Maomé indo à montanha e Maria indo à feira. Um carro avança um sinal, outro estaciona erroneamente em vaga de deficiente; uma criança cai muito doente e de repente cai seu astral. Foi caminhar e se perdeu no tempo e no espaço, deixou a cabeça divagando até romper em uma dimensão paralela. De repente se deparou com um belo castelo de cor púrpura, cercado por orquídeas raras, uma mangueira alta e com um capacho enorme na porta escrito: “Essa casa é sua”. Foge daqui, dali, e vai fugir do próximo planeta que descobrirem. A opção não é pular do penhasco, tampouco tentar voar sobre ele (em pessoa física); talvez um salto de base-jumping. A opção “fugir” está ligada, o botão colado com supercola e funcionando em duzentos e vinte volts. E agora, será que há um meio de não fugir da questão? mesmo em casa, deitado na cama, bebendo suco de limão e assistindo um show de reggae, a questão o persegue. Ele vasculha as gavetas e deixa recado, abre armários e deixa recado; vai aos potes de tinta, no rolo do papel higiênico, vai à caixinha de remédios, se infiltra nas imagens de santos, nos perfumes e rascunhos de rabiscos. Está em tudo e todos. Fica assustado de pensar na vida que segue; não que esteja ruim, tampouco esteja infeliz, é que cria universos paralelos, mundos possíveis e passiveis de outros finais. O corpo em metáfora emoldurou-se com um toque de filantropia; a alma em pura denotação pintou suas bordas com um toque de nostalgia; assim foi-se o dia, e todo dia assim é assim é que vai. Num linguajar sacolejado por música, que o acompanha onde quer que vá, vive e vive-se o momento como singular, como chuva rara que cai acalmando o calor, matando a sede e convidando-o ao mais verde vivente. Foge daqui, mas não foge de si. Deixe seu cheiro seu rastro sua história e sua garantia de volta (caso queira). A dosagem certa para a sensação é chegar à beira do abismo do absurdo, mas não pular; brincar com ele, zombar dele, tomar um chá.



Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.