22 de outubro de 2020

Do livro "Beltrano dos Santos"

 




Do livro "Beltrano dos Santos"


Divagações:

Não nasci cá, nem acolá,

Nem além ou aquém;

Sou melhor e pior que ninguém.


Vivo o amor e a arte,

Assim sou do mundo,

Quiçá limpo ou imundo,

Mas de nenhuma parte.


O meu Dó 

De ver sua Ré

Sem mi mi Mi,

De lua a Sol,

De cá e Lá,

Fala por Si, 

Sem fã, sem Fá.


Ao ver e ouvir um sabiá

Ponderei: 

- Qual outro tamanho encanto

Faz minha boca calar-se

Acarinhando meus olhos,

Cantando aos ouvidos,

Tão doce e frágil, tão inesperado,

Que voa pelos quatro ventos

E pousa sem alarde conquistando os corações?


Nos olhos que nos cercam

Existem ínfimos enigmas,

De víveres e insígnias,

De fulgor ou opaco.


Olham às vezes de lado,

Com chama de sentimento,

Com claro entendimento,

Visando serem domados.


Castanhos, verdes, azuis,

Pretos, negros, camuflados;

Delatam com movimento

Os desejos carnais incubados.


Brinco - choro – rio 

Enxoto pra longe a morte

E com sorte ela vai e não volta;

Impossível é perder o meu brio!

Queria ver o mundo

Cicatrizando os seus cortes.


Voa minha pombinha,

É carnaval - Nos salões, nas ruas, marchinhas...

(hinos e gritos).

Leva nas asas a festa, o belo rito.

É pomba da paz,

Alegria dos espíritos.

Sabe que a alegria tem fim.

Passou todas as horas em transe,

Sonhou em puro êxtase,

E viveu um paraíso interior.


Cicatrizes me lembram

De que algumas memórias não foram sonhos!

Mas de certa forma foram... 

(e se realizaram).


Cicatrizes gritam:

- Você foi uma criança arteira!

Mas de que também sou um adulto... 

(que ama e amou).


Cicatrizes podem deixar mágoas,

Mas sempre, todas, foram ensinamentos.

(ou nem tanto).


Uma Cicatriz pode não lhe recordar nada,

Mas mostra, de alguma forma,

Que você sobreviveu a ela.

(às vezes não)


Agora, mais velho,

Mais maduro, 

“mais valia”.

Descobri que aquilo não era esperteza,

E sim, covardia.


Se ler é exercitar o cérebro,

Ler poesia é “anabolizá-lo”.


André Anlub®


21 de outubro de 2020

As Moedas Na Rua E O Dia Intenso No Álcool


As Moedas Na Rua E O Dia Intenso No Álcool

Acordou de um porre, tomou uma ducha boa para tirar a catinga de ontem, colocou uma boa bermuda, camisa de Hering branca; colocou o tênis com meia grossa e a carteira no bolso com apenas dois reais. Saiu na secura, na abstinência pura, mão trêmula e olhos acirrados nos bares do caminho. Pegou a rua Siqueira Campos lá em cima, bem na boca do túnel... Veio descendo... Deu bom dia a uns porteiros, a um rapaz que trabalhava de bicicleta triciclo em entregas; deu bom dia ao dia e bebeu sua primeira logo no primeiro boteco:

- Bom dia Reinaldo, meu caro! Hoje estou mal, a cabeça parece um sino! Coloca um real de pinga, no capricho aí, por favor.

- Bom dia André, você está sempre assim – disse Reinaldo abrindo um sorriso discreto e parando de enxugar um copo americano com um pano velho e já rasgado. – Tem uma mineira nova e boa que chegou ontem; já vendi uma garrafa em menos de seis horas - 

Bebeu, já se foi um real, e seguiu seu rumo... Passou em um bar conhecido, logo ao lado do que havia acabado de sair. Procurou algum amigo de copo, nada. Afinal eram oito da manhã de um dia quente de segunda. Bebeu seu segundo real:

- Fala seu Carlos, como vai essa força?

- Tudo em paz meu jovem!

- Coloca um real da forte ai. No capricho, por favor.

Por um momento lembrou de como tudo começou, lembrou de pequenos goles nas bebidas quentes no Natal e nos sorrisos estampados nos rosto sob o efeito corrosivo e impulsivo do álcool. Tudo era festa na terra do Deus dará. Lembrou-se de um dia, ainda muito novo, voltando da praia e encontrando uma turma mais velha bebendo chope em uma birosca local; parou e lhe deram uma tulipa, logo depois todos beberam uma ‘branquinha’ e o embalo acabou por ai. Não foi correr atrás de mais, tampouco deu secura, foi para casa assistir um bom filme e desmaiar na cama quente. Mas, voltando ao bar:

E então o copo quase cheio... Essa talagada demorou um pouco, foi em longas bicadas, pois veio logo o que já estava a prever: o enjoo. Respirou fundo, foi para a porta do bar quer o tempo fosse curto, quer o efeito da cachaça não fosse ligeiro e o vomito viesse. Inspira – expira –, deixa o álcool ir para o sangue... Em trinta segundo já começa a vir um falso bem-estar, a ansiedade cai repentinamente e ele se alegra, e ele abre um tímido sorriso e puxa assunto com o velho Carlos (dono do Bar). O assunto estava bom, mas a luta continua. Tinha que ir à caça de mais álcool, de mais antídoto do mal-estar, da abstinência, da sensação ruim de estar sóbrio. Desceu a Siqueira Campos e passou em outro bar, do outro lado da rua. Lembrou-se que já andou muito por ali a pé e de bicicleta, quando era guri e mesmo depois de mais velho. Entrou no boteco e não encontrou ninguém conhecido. Havia um rosto conhecido, bebendo no fundo do bar, mas como não gesticulou e não reparou nele, ele deixou para lá. Desceu a rua pensando se ia à praia ou voltava para casa e descansava. O dinheiro estava zerado e sua última esperança era um barzinho que frequentava com afinco entre as ruas Ministro Alfredo Valadão e Joseph Block. Antes mesmo de chegar ao destino, na esquina da Alfredo com a Siqueira, bem em frente à travessa Santa Margarida, viu um carro saindo da vaga e surgindo aos olhos um brilho intenso; era como uma alucinação momentânea, algo surreal; de repente era como se estivesse em um sonho, quiçá pesadelo, muito bem-vindo. Estavam ali, no chão, várias moedas espalhadas; moedas de dez, vinte e cinco e cinquenta centavos; achou também quatro moedas de um real... foi catando uma por uma, olhando para os lados, desconfiado...

(continua)




 

Manhã de 16 de junho de 2015

 


Se sabia o sentido da vida, pegou o caminho contrário... Só para se divertir.
(Manhã de 16 de junho de 2015)

Ele pode discorrer à vontade; na verdade, até o sol raiar... Caso queira! Ele pode ver o resultado de todos os meus pensamentos, até os que ainda não tive. Pode fazer julgamentos e entreter-se comigo, correr na minha frente nas minhas corridas triviais, chorar ou rir das minhas palavras banais, e nos anais da minha assistência, onde reside minha paciência... me persuadir. Ele pode mas não faz; está cá e lá, foi a Noronha e nem me chamou. Safado! Contou-me da onda batendo no rosto e no corpo, da água gelada, da mulher de topless e o tempo mais que maravilhoso. Fiquei com inveja, confesso. Fiquei com remorso de pela manhã não ter aberto a gaiola da mente e deixado, pelo menos, ela ir com ele. Assim me sinto inaudível, quase que aquela famosa gota no oceano; mesmo assim tenho voz – pouca – mesmo que seja um murmúrio... Pois tenho a mania de ter o sestro de ter o hábito – moda – rotina de ter a impressão de que conhecê-lo foi minha epifania. Vai ver foi... Vai ouvir foi... Vai cheirar foi... Vai tocar foi e é. Já vejo as horas e as nuvens passando, e meu argumento sobre ele, outrora colosso, agora vai se esvaindo em fumaça inofensiva e inocente, misturando-se as nuvens e ao tempo, como um breve sonho ou a suave, turva e inexata visão de um ébrio no pico do efeito. Vá e vai logo, quero voltar ao meu bloco de anotações sem sua presença. Ele me intoxica, travando minha escrita e viciando-a no seu próprio ser. É como um andar em círculos; é como uma rua sem saída que até tem saída, mas é nela mesma; é como arremessar o horizonte ao seu espaço e tentar aparar suas arestas; é como uma festa sem sonho, lago sem margem, um banho sem água e a arte sem sua libertinagem. Puxei fundo o ar que cheguei a sentir cheiro de mar, e agora com força e imaginação pego o beco... Quem sabe há alguém para ler-me um poema; quem sabe essa rua vai dar em algum lugar. Caso não dê, caso nem chegue a lugar algum, nem chova ou faça sol, valeu o passeio; pois lá no final sei que ele sempre me espera. 

André Anlub

Manhã de 6/4/16

Obstinado pelo obscuro, fecho os olhos e tudo fica mais claro; Como a marca de ferro quente no lombo do boi, deixando a cicatriz do ‘V’ de vitória. Ouço um canto, e todo canto causa curiosidade; torna o verde mais verde, os pássaros não tem nem metem medo; fui e voltei, junto a eles, em lugares perdidos, terras de zés achados e zés ninguém. Exercitei as alegrias, aqueci as salvas de palmas, alegrei almas em fantasias... no cinema da vida tudo é replay, mas é sempre novo e mais deleitoso o rever. Há pessoas exibindo sorrisos (talvez sinceros; talvez de ocasião). E vai vento, é vento na venta, o ar mais puro, pulmão limpo, incenso de maça, oxigênio, alegrias, amigos, poesia... tudo para se dizer: vivendo. Voei por cima da angústia, sobre a rua Augusta focando no Caos; voei como nunca havia voado antes; voei em pêndulos retos e traços tortos; voei agora pelo Bairro Peixoto, em Copacabana. Nada mais que eu fale narraria com merecimento a emoção; talvez levantar as mãos ao alto e – num gesto ingênuo e sincero – pedir perdão. 

André Anlub


Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.