9 de novembro de 2018

A brisa, o sorriso e o medo


A brisa, o sorriso e o medo

Brisa que abre o portão
Vem do vai e vem das ondas
Ultrapassando o varal
Acalentando as roupas.

Moveu o barco pesqueiro
Mudou de lugar uma duna
Fez levitar uma pluma
Dispersou o nevoeiro.

Brisa gélida de inverno
Alegrou o dente de leão
Soprou ao rosto
Encheu o pulmão
E, nas manhãs, corriqueira
Espalhou o aroma do pão.

Dê-me seu melhor sorriso
Aquele intenso, meio sincero
Todo lero, mero siso
Que mexe com meu brio
Benevolente, incandescente
Que eu admiro.

“Medo de ser feliz”
Isso não é verossímil 
Não existe o invencível.
Se a tristeza persiste
Persegue-me e não desiste
Eu ponho meu dedo em riste
Pois se é preciso temer algo:
Tenho medo é de ser triste.

André Anlub


Morrem as abobrinhas

Venha, chegue mais perto,
Quero sentir seu hálito delicado e forte. Sopro de amor.
Agora chegue ainda mais perto e cole seu nariz no meu.
Quero entrar nos seus olhos, no mar infinito
E no universo negro e mágico onde tento ver o meu rosto.
Digo em alto e bom som como é bom.
Quero sempre fazer parte dessa história. É salutar.
Mas periga ser um vício.
É no início, na essência, onde bulo e reviro a memória.
Vejo que nessa guerra vale a pena lutar.
Ninguém vai nos dizer o que devemos fazer,
Nunca mais - não, não!
Com o certo ou o errado deles. Dos ralos, dos reles...
Limpamos o chão.
Acabaram-se as abobrinhas nas nossas mentes.
Nem se falarem hipoteticamente
Só verei as bocas mexendo. Sem som.
Agora há o costume de seguir o próprio caminho,
Escolher as pontes e portas.
Ficar frente a frente com o vendaval,
Sem o aval alheio, sem olheiro,
Sem frase feita e sorriso banal.

André Anlub

8 de novembro de 2018



Foto: Na simplicidade de ser #tbt #Interior

Das Loucuras (Ela, Elaine e a adrenalina de Adriane)

Bocas se mexem juntos com suas mechas do cabelo...
Crespo, comprido, vermelho.
Meticulosamente as mãos são dadas – sem pretexto;
Mas suadas, sem querer
Pressentem o subsequente texto.

Há um terceiro amor entre elas,
O colorido pode se tornar ainda mais aquarela.
A anuência é que há de se fazer janela no lugar de grade...
Sorrisos à parte, os lábios se beijam sem queixas,
E estala então o aval da reciprocidade.

Elaine é mulher guerreira, tem a alcunha de Lorein...
No reino é povo, rainha, rei – cem mil mulheres em uma.
Ficariam o ano enumerando seus predicados – mas em suma:
Forte, decidida, olhos vivos, mãos e pernas “de matar”.

Também fiel, fêmea de alma linda, excelente filha e mãe exemplar.

Adriane é um pouco insegura, traz a alcunha de Andja
Mulher felina, sagaz, com fé, heroína que transborda paz.
De dia é camaleão de cores; a noite se camufla na escuridão...
Roga sonhos, rega amores, rasga o céu que lhe apraz.

Ainda é andarilha e relutante, com um pé à frente e o outro atrás.

E Ela? 
Ela é um segredo que com o tempo varia...
Pássaro que chega com a minhoca no ninho.
Um dia caminha comendo pitanga,
Pode ser flor, pode ser espinho...
Às vezes voa sob os olhos de Maria.

É nuvem branca que ninguém alcança,
Sabor doce nas línguas mais azedas;
Pega a separação e demuda em aliança,
Água que escorre descendo alamedas.

Vive em tempos novos e flerta com os antigos...
É Stevie Nicks, Sosa, Joplin, Joni Mitchell;
É Roberta Sá, Pitty, Elza, Alice Phoebe.

Mulher de porte e de sorte – todas numa só...
Contornos, carícias, fetiches – haja nó.
Constrói o próprio norte – tem poder para isso...
Vivem juntas, bocas conjuntas – alguém com isso?

O amor em explosão atômica, aliança sem cobrança,
Derrubando preconceitos, espalhando esperança,
Ela pode ser Ella, Nina, também Esperanza,
Diane Krall, Julie Byrne, Alice Coltrane...
Pode ser trem, pode ser zen, Billie Holiday.

André Anlub®
(08/11/2018)

A epopeia de Denise (caixa de Pandora)


A epopeia de Denise (caixa de Pandora)

Como se começa uma história?
Algo que pode ter acontecido...
E se a mesma não existe na memória,
Posto que seja um fictício ocorrido:

Denise caminha em uma praia 
E mesmo que o sol não raia
Sua alegria insiste.

Depara-se com uma caixa,
Um baú velho e pequeno...
O abre, deixando escapar um veneno.

A caixa...

Dentro havia um sonho,
Que a remeteu a outros lugares,
Voava por entre vales,
Sentia na face leve brisa gélida.

Despiu-se de todos os seus disfarces,
Reviu todos que já se foram,
(todos que por ela eram amados e ela por eles).

Viu a morte que passou tão rápida e inexpressiva 
Que na verdade poderia se tratar de uma nuvem negra...

(nuvem pequena e inútil)

(...) Essa nuvem que não faz chuva,
Mas dependendo do ponto de vista,
Pode fazer sombra e tirar o reinado do sol.

Ela voou sobre a ilha de páscoa
E sorriu para seus mistérios.
Atravessou alguns deltas de rios,
Do Parnaíba ao Nilo.

Ao anoitecer viu paris,
Sentiu seus perfumes.
Por um momento os odores a levaram a campos,
Como se ela estivesse presa numa redoma de vidro...

Foi testemunha do nascimento
De uma pequena aldeia:
África.

Os lugares voltavam no tempo,
Homens pré-históricos surgiam em grupos,
Perseguiam mamutes,
Comiam com as mãos...

(descobriram o fogo, a violência e a pretensão).

Ninguém podia vê-la, sequer ouvi-la,
E tantas coisas para dizer, ensinar e aprender.

E assim, de repente, tudo foi simplificado a um só casal de humanos,
Voltando em segundos ao atual e normal.

Pode ver tanta coisa e estar em tantos lugares,
Mas ao retornar desse sonho tão real,
A realidade maior a esperava...

Ela não pode encontrar quem seria prioritário:

Quem responderia suas recentes
E antigas perguntas?
Quem a acolheria
E daria afagos e força?

Quem a conhecia como ninguém...

Ninguém mais que, talvez...
Talvez, ela mesma.

André Anlub





5 de novembro de 2018

Das Loucuras (trato, teta, tesão, tilibra e outros “tes”)



Das Loucuras (trato, teta, tesão, tilibra e outros “tes”)

Sonhei com o Tibet!
E pra quebrar o tabu, sem quebrar a tíbia...
Vou tocar tuba, dentro de uma taba,
Deitado em uma tumba.*

Trato desfeito – eu falando comigo próprio;
Escrevo pensamentos numa enorme resma.
Resta-me o livro denso, pronto,
Fragmentos como doses de ópio...
Opiáceos de aço e de extrema clareza.

Jogo meu eu ao mundo,
À disposição dos olhos...
Exibo fraqueza e força,
Minha vaca louca,
Lagos seco e deserto alagado
Geminados com minha zona de desconforto.

Esqueço-me dos meus limites – sorte às divindades;
Universos e formigueiros...
Lembro-me do infinito – azar dos palpiteiros;
Não ter fim é a finalidade.

Se o ali é meu fim, o além é o recomeço,
Emendo o apreço e rasgo a identidade e o endereço...
A caneta segue calma, a meta da estima me equilibra...
Viso à escrita e compro dez cadernos Tilibra.

*fragmento de "Sonhei com o Tibet" de André Anlub

André Anlub®
(05/11/18)

Animal do bem e o tal



Animal do bem e o tal

São animais indiscretos e contemplativos
na mansidão imaginária e cada vez mais.
No hipotético paraíso na zona de conforto
vai chegando, vai vivendo outros desafios
pés que não cansam de andar fora dos trilhos.

Vê-se os trilhos do bonde
no pé das frutas do conde
no entorno do misto dos milhos
com as doces e tortas espigas
do conde de monte cristo.

Na ré do trépido bonde
tudo trepida e o vinho vai longe
entorna, esguicha e mancha
a roupa de linho da moça
que o pranto fez poça
a olhos vistos.

São animais de cegos charmes
e quase sempre atrapalhados.
Na obsessão que alguém os agarre
salvando-os do fortuito afogamento
dos salgados e amargos mares.

São animais como nós
com nós nas vis ventas
que inventam o ar atroz
logo após se lamentam.

André Anlub®
(28/05/13)

Das Loucuras (trato e trator)


Das Loucuras (trato e trator)

Trato feito, no jeito, e olha a treta:
Como uma tarântula traçando a teia,
Coisa nada feia, arquitetando o terreno.

Volta-se no tempo, com mais empenho...
São voltas e voltas à compreensão.
Dá-se um suntuoso desenho, show de mural,
Uma bela pintura: Helena Almeida
Pelas alamedas de Portugal.

Volta-se agora à contramão:
Adão nas nuvens, a ver navios...
E o ofídio, mesmo sem pé, tem o pé no chão...
A serpente vê a válvula da vida, vê Eva...
Usa-se o fruto, talvez a erva-plena, parto sombrio
Da ilusão.

Emoções à mesa; tem sobremesa...
Porque ninguém é de ferro.
Psicoterapeutas dando bandeira...
Também dão palestras de graça, 
E desgraças sendo expostas
Juntas com postas de calabresa.

“Lázaro, levanta-te e anda...”
A imaginação faz cartuns,
Formas marginais e magistrais...
Nenhum por todos; algumas por uns.

Nos canos das veias passam sangue, águas...
Calham as mágoas e os anais.
São inconsistências bem traçadas,
Que transcendem nossa inocência
Que se organiza no “quero mais”.

André Anlub®
(05/11/18)


Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.