9 de dezembro de 2017

Das Loucuras (nunca andou olhando por cima dos ombros)


Das Loucuras (nunca andou olhando por cima dos ombros)

Saquei, a Lua não gosta mais de mim...
Estou minguante, cheio, com desânimo crescente sem boa nova.
Já sei, falar de amor é uma ova...
Sou página virada, antiga, chego a ser engraçado – Pasquim.

Sentei-me a semana toda na varanda e olhei para o céu;
Ela luzente, sorria contente atrás das nuvens...
Devo estar velho, sem encantamento, entregue às ferrugens.
Ela ainda é moça, quase virginal com seu ego no apogeu.

Agora entendo o porquê da Lua nunca ter medo...
Ela é segura, sem embaraço, mesmo nua... Sei seu segredo.
Devo a paz da noite a ela, sentinela de tudo que aconteceu;
Devo a angústia a ela, pois faz parte do que sou ao meu Deus.

Saquê, a Lua e seu coelho agora, numa “nice”, numa boa...
Estou minguado, saciado, mas trago boas novas:
Peixe assado, pimenta caiena, cogumelos variados e batata-baroa;
Livro da Hilda Hilst, papel e caneta, uma prancheta e muitas trovas.

À beira dos quarenta e sete, menos de um mês e o sorriso largo;
Vivendo meu fato dentro de um faz-de-conta sem rédea curta.
Casa pronta, à mesa com a vida – a poesia embarco e embargo...
É Janeiro, confirmo o vento, iço as velas e vou rumo à permuta. 

André Anlub
(7/12/17)

6 de dezembro de 2017

Cinco Sylvia(s)


Espelho
Sylvia Plath
tradução de André Cardoso

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro –
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.

Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.

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Palavra
Sylvia Plath
tradução de Ana Cristina Cesar

Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

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Outono de rã
Sylvia Plath
tradução de Jorge Wanderley

O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.

As manhas se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.

A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.

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Os Manequins de Munique
Sylvia Plath
Tradução de Claudia Roquette-Pinto

A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero

Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.

Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,

O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu

Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos

Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,

Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata

Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.

Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar

Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,

Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos

Cintilando
Cintilando e digerindo

A mudez. A neve não tem voz.

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Canção de Amor da Jovem Louca
Sylvia Plath
Tradução de Maria Luíza Nogueira

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:

(Acho que te criei no interior de minha mente.)

Das Loucuras (ISO 9001)


Das Loucuras (ISO 9001)

A morte é indolor, é inodora, é insípida, mas tem cor;
A meu ver, a minha é azul-marinho,
Ou só um tom mais denso de azul.
Mas num todo, a todos, é furta-cor...
Fica à mercê da imaginação, à escolha de cada um.

Entre o tempo presente, vivente, e a primeira lembrança,
Há um orbe de cenas, de sons, de sentimentos – flashes;
Nós e eles, nossas falas, cheiros, olhares, vestes...
Tudo na construção sustentado pelo alicerce da esperança.

O muro, entre as coisas ruins e boas, é fácil atravessar...
Tão apoucado, assim, pequeno, mas largo; tão frágil, mas hábil...
Variamos entre aqui, agora, em cima dele e acolá. 

Meu café quente: vários motes metidos a besta,
Nababescas metas, cópulas, copa de árvore, manga, abacate,
Poema que sopra, adequações de tempo, espaço e matéria,
Etérea mente aberta... Arte.

Meu café morno: ponteiro que anda depressa, represa de sentimentos,
Caneta convulsa, conversa, beijos, sexo, nexo, alarme que toca,
Perplexo, a vida ao contrário, torta, o mundo se sabota e aborta.

Meu café frio: montanhas íngremes, realidade do homem, dívida, dúvida,
Da vida, Davi, avalanches, lanches do Mcdonalds, “c’est la vie”...
E requenta o café, requebra o pé, levanta o copo, vai ao escopo...
Toda a canção ouvida, toda vida, poesia lida, linda, preenche o corpo oco.

André Anlub
(6/12/17)

Ótima quarta aos amigos



Dueto V

Eis as primárias linhas do poeta, desabando, gotículas de chuva na vastidão do mar.
Não são as primeiras mágoas, mas são as primeiras águas de um esteta.
Ao longe abandona a solidão com a ambição de companheirismos perfeitos.
Costura as ondas com o olhar, alinhava nuvens, prende gaivotas à liberdade.
Vendo em tudo “qualidades”, aspira e respira respeito como um rei em seu reino...
Eis então as primárias linhas do poeta, afetas a seus afetos, diretas em seus completos:
Visam apagarem suas últimas mágoas, as últimas lágrimas que a sua face banharam.
É uma viagem do sim atravessando os desertos do não
Dando um banho de inspiração na lúgubre escuridão do sem nada.

Rogério Camargo e André Anlub
(6/12/14)

4 de dezembro de 2017

ótima semana


A melhora maneira de deixar a mão de obra barata é ulcerar a educação e/ou não incentivar a leitura (coisa que vem sendo feita há mais de 500 anos)! Com educação ruim e o povo sem o hábito/gosto de ler, criam-se zumbis capitalistas (que acham que o objetivo da vida é ser rico), à merce do Sistema (seja rico ou morra tentando), valorizando e sendo vassalos dos detentores do Capital (seus heróis).

3 de dezembro de 2017

Das Loucuras (mapa do seu céu, do meu mel, do nosso ócio)


Das Loucuras (mapa do seu céu, do meu mel, do nosso ócio)

Improvisando: olhos balançando e pensamento evasivo.
Céu com algumas nuvens cor de mel, de fim de tarde.
A morte peçonha é uma panela, mas a vida é quem come nela;
Pipocam ocas as mentiras, mas o fogo é a fera e é a verdade.

Corpo explosivo! “odeio detalhes!” – ela protesta...
Vê um belo diamante na mão direita enrugada
De uma senhora gananciosa e destra.

Copo impulsivo! “rodeio os retalhos!” – ela atesta...
Vê um elo dominante no não discreto dado
Em uma penhora do pouco tempo que resta.

Com a vida se briga, mas não se brinca não...
Se limpa, adorna e suja o próprio umbigo,
Mas não há como fazê-lo com o de Adão.

Escada pronta para descerem e revogarem os ódios;
Escada sempre pronta para subirem e abraçarem a bondade,
Mas os homens na volta da descida estão enfastiados...
Festejam num novo limbo com seus orgulhos renovados.

A cólera foi vencida, apanhou – merecida...
Mas em breve renascerá nos pódios criados.

Os ninhos estão seguros e as navegações recomeçam;
Jovens terras para usurpar; novos desafiantes que prestam.
Colocam a mão na cabeça do mundo...
Dão bênçãos, afagam e fazem cafunés;
Cremam o mal na fornalha de túmulo...
E ele voa, solto, na fumaça das chaminés.

André Anlub
(03/12/17)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.