18 de abril de 2020

Abril em festa?

Abril em festa?
Pela fresta
infesta o olhar da inveja.
Com a porta semiaberta
ela observa
não há mais breja
não há igreja
queimou-se a floresta
abril banal.

André Anlub®




17 de abril de 2020

A ilha em êxtase


A ilha em êxtase

A vida não é um coito de Fadas!

E agora, estava mais que na hora, o ânimo veio,
No veio sumido e assanhado de quem somos;
No envelhecido clichê de quem deveríamos ser.

No abstrato da tela, em aquarela, aquela ilha...
Confiando no absinto para encarar o abismo;
Na retrospectiva da vida, um céu de bel prazer:
A perplexa perspectiva a nosso ver.

Somos quem somos, fomos e seremos (os tais)...
E já estava na hora do abrigo de um alento amigo.
Publiquem nos anais e jornais, em letras garrafais: 
Nossa vultosa vida vivida não é particular...
Então, s'il vous plaît, mostrem o que há de divertido.

Exponham em íntimos olhos de ourives:
Tudo de todos tarda, e sempre soará peculiar...
Então tão assim – e assado – é para se mostrar.

O tempo alçou e alcançou o próprio tempo,
Como a serpente doente comendo seu rabo.
Na frase eu me acabo; no vento você me inventa;
Eu como a cobra com pimentão, pepino e pimenta.

Fecho os olhos e vejo um mar na nossa avenida;
Obro os olhos e vejo que sou um belo peixe...
Largue o preconceito e ao meu lado deite-se;
Deixe-se levar e leve a todos para sua ilha da vida.

André Anlub






15 de abril de 2020

Dueto CLXX



  Dueto CLXX

Um dia depois de um dia que não precisaria ter acontecido.
Um dia para entender que qualquer dia pode acontecer.
Hoje cabisbaixo e desgostoso não consegue se olhar no espelho.
E o espelho era o mesmo ontem, vai continuar sendo o mesmo amanhã.
Brigou com sua vida, tentou entender e não entendeu, ficou de mal com o mundo e em um surto desfaleceu.
O mundo não foi juntá-lo. Ninguém do mundo foi juntá-lo. Teve que se reerguer sozinho.
Organizou o que restou de suas forças, ergueu a cabeça e foi encarar seu juízo no espelho.
Não era um juízo final, nunca será. Também não era o perdão, a remissão, a condenação afastada. Era apenas olhar. E ele olhava.
No inicio não gostou do que viu, mas logo veio um discreto sorriso. Ficou corado... Não se sabe se por vergonha ou a força que voltou.
Do chão ninguém passa. E só os fracos fecham os olhos ou viram as costas para o espelho.
Um dia depois de um dia que mais parecia uma noite. O sol e seus olhos voltam a brilhar.
Reconhece. Já viu o sol antes. Já foi o sol antes. Mesmo que também seja noite quando é noite.
Contentamento de ter perdido uma luta, mas ganhou o duelo e aprendeu uma lição. Só que novas lutas, lições, espelhos e dias difíceis virão.
Amanhã é amanhã. Hoje é hoje. O espelho também diz isso, mas é preciso ouvir o que ele diz, não o que ele dirá.
Pensou em quebrar o espelho para evitar o conflito; pensou em consertar a si mesmo para evitar o conflito.
Pensou que só com o espelho intacto pode consertar o conflito. Então sorriu – para si, para ele e para o mundo – e foi preparar um café.

Rogério Camargo e André Anlub

“Bora nessa”



“Bora nessa”

Vou caminhando com total certeza:
No fundo, no fundo, você está em mim.

Não a vejo, entretanto consigo ver o belo,
Os olhos fracos ainda enxergam.

Ouço tal música (aquela nossa)
Os ouvidos estão indo bem;
Mesmo sem você escrever uma só linha,
Como nunca, sinto sua poesia,
Pois ela também é minha...
(admiração eterna).

No fundo, no meio e no raso,
Meu escuro – meu escudo
Meu jardim – meu cenário;

Nos olhos de janela,
Cada casto colorir de aquarela,
No vácuo, no vasto, no espaço,
Em cada música,
Em cada arte que faço
Em, absolutamente,
Todos os meus passos e traços...

Você está em mim.

André Anlub®

14 de abril de 2020

Excelente terça a todos


Poemas de Carlos Marighella

Via: Porta Geledés -->  Geledes

Canto para Atabaque
Ei bum!
Qui bum-rum!
Qui bum-rum!
Bum! Bumba!

Ei lu!
Qui lu-lu!
Qui lu-lu!
Lumumba!

Ei Brasil!
Ei bumba meu-boi!

“Mansu, manseba,
traz a navalheta
pra fazer a barba
deste maganeta.”

Lá vem beberrão,
lá vem Bastião,
tocando bexiga
em tudo que é gente.

O engenheiro medindo,
empata-samba empatando,
cavalo-marinho
dançando, dançando.
O boi requebrando,
o boi ‘stá morrendo,
o boi levantando,,,

Ei Brasil-africano!
Minha avó era nega haussá,
ela veio foi da África,
num navio negreiro.
Meu pai veio foi da Itália,
operário imigrante.
O Brasil é mestiço,
mistura de índio, de negro, de branco.

Bum! Qui bum-rum! Qui bum-rum! Bum-bum!

Quem fez o Brasil
foi trabalho de negro,
de escravo, de escrava,
com banzo, sem banzo,
mas lá na senzala,
o filão do Brasil
veio de lá foi da África.

Ei bum!
Qui bum-rum!
Qui bum-rum!
Bum! Bumba!

Ei lu!
Qui lu-lu!
Qui lu-lu!
Lumumba!

Canto da Terra
A terra tem tudo
e plantando é que dá.

E plantaram e plantaram
ou já estava plantado.
A floresta amazônica,
o rio e os peixes
e o balacubau.

A caatinga existia
com a braúna,
o mandacaru
e o gravatá cariango.
As coxilhas do Sul,
o maciço do Atlântico,
a Serra do Mar,
os pinheiros erguidos,
o rio Amazonas,
o rio São Francisco,
o rio Paraná…

Canaviais assobiando,
cortina verde estendida
sobre imensa extensão.

E plantaram café
e cacau e borracha…
E plantaram erva-mate…

Com o escravo e o imigrante
tudo se fez.
Comidas meu santo,
a mulata, a morena…
e até a loura surgiu.
A índia já havia,
a gringa veio depois.
Quem atrapalhou
foi gente de fora
que não trabalhou.

Eu canto a terra…
Todos sabem que outra
mais garrida não há…
“Teus risonhos, lindos campos têm mais flores”…
Bom! Lírios já houve,
mas agora é que não.

Eu canto a terra,
eu canto o povo…
Cantam os poetas
e cantando vão…

Liberdade
Não ficarei tão só no campo da arte,
e,  ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.
São Paulo, Presídio Especial, 1939.

A Alegria do Povo

Uma grande jogada
pela ponta direita,
o balão de couro
como que preso no pé.
Um drible impossível…
Garrincha sai por uma lado,
e o adversário se estatela no chão.
Gargalhada geral,
o Maracanã estremece…
Lá vai o ponta seguindo,
os holofotes varrendo de luz o gramado,
o balão branco rolando,
seguro nos pés do endiabrado atacante.

Voa Garrincha,
invade a área contrária,
indo até à linha de fundo
para cruzar…
E as redes balançam,
no delírio do gol.

Garrincha! Garrincha!
A alegria do povo,
no balé estonteante
do futebol brasileiro.

Rondó da Liberdade
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
O homem deve ser livre…
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir até quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Capoeira
Capoeira quem te mandou,
capoeira, foi teu padrinho.

O berimbau retinindo
na corda retesa,
cadência marcada
da ginga do jogo.

Zum, zum, zum,
capoeira mata um.

A perna direita
lançada pra frente,
o peso do corpo equilibrado na esquerda,
os braços jogando
de um lado pro outro…

Capoeira quem te ensinou?

De repente uma queda,
o capoeira na terra,
o aú,
de cabeça pra baixo,
as pernas no ar,
a rasteira varrendo
como foice no chão,
o corta-capim, o rabo-de-arraia,
e o inimigo caindo
de supetão,
ao puxavante
da baianada.

Luta africana
que o mestiço encampou,
que os guerreiros da mata,
quilombos, palmares,
souberam jogar.
Que o angolano nos trouxe,
que o mestre Pastinha nos soube ensinar.

Coreografia. Jongo do povo.

Zum, zum, zum
capoeira mata um.

Poemas cedidos por Clara Charf

13 de abril de 2020

Esgrimas


Esgrimas

Há pontiaguda palavra que em parte perfura e penetra,
Amor não correspondido, angústia crua de outrora.
Florete de fogo, cremação de uma alma antiga no agora.
Peso e preso são pesadelos; sigilo interno é grito que alerta.

Novamente foco sua boca, dessa vez pintada,
Doutrinando-me na rotina e na retina, fazendo-me nada.
Amplifico o amor, assim – de gosto - me ecoarei na salvação.
Toda ação volta, abafa os medos, nada e tudo são em vão.

Explode, explode-me; corro e corroí-me feito uma coriza.
Ácido, assediado e assíduo assim sou seu então.
Você e eu e lume e breu e o sol e a lua nos abriga
Faz-me antiga cantiga, ciranda com fogueira e paixão.

Fujo, finjo desejo, chego... Luz se mostra colorida...
Choro feito criança; rio ouvindo besteiras,
Descendo pelas pedras com limo, entre margens floridas,
Molhando as roupas quase limpas das lavadeiras.

André Anlub

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.