18 de julho de 2020

Das Loucuras (valiant thor)



Das Loucuras (valiant thor)

Aqueçam os motores, teorias estão aos ouvidos...
O bugio colocou seu chapéu de folha de alumínio 
Queria encontrar, encantar e fazer futuros amigos,
Em algum lugar estranho, desconsolado e desconhecido.

Bocas se mexiam, em extrema simetria
Os olhos em estrelas cadentes,
Fantasias banguelas com muitos dentes,
A dúvida é persona non grata, bem-vinda...
Tudo em voz baixa estridente 
Axiomas oxímoros vigentes. 

Voam bruxas
Em velocidades absurdas
Em mão e contramão.
Fantasmas cantam opera
E ele escuta
Terra redonda
Invenção da roda
Ação abrupta
Tudo na mais imperfeita perfeição. 

Esfriem os motores, teorias são dessabores
Em um mundo bruto, há maiores preocupações.
Acanhada num canto está a razão
Pensativa, extasiada, fantasiada de bicho cão.

André Anlub®
(18/7/20)

15 de julho de 2020

Castelo violeta


Castelo violeta 

Irmão do céu,
De pé em cima de uma alta nuvem;
Seus olhos aguçados, acuados,
Discretos em suas ferrugens,
Visualizam tudo de errado
E quase tudo de certo...
Mais nesses próximos parágrafos:

A tentação é ar puro,
É astuta e presente em todo o ambiente;
As pernas fortes das corridas
Invejadas pela alma fraca pelo tempo.

Um castelo é erguido
Com o seu aguerrido espírito;
Pulcro, imponente,
Mas cheio de tormentos e de inventivas mentes.

No porão há um covil escondido
Cheio de lobos dentro;
Famintos, sedentos,
Sonâmbulos e carentes de apreço.

Árvores nada raras
Se agitam e se ajeitam com os vendavais;
Nos varais as roupas
Se ensopam com a chuva fina que cai.

Barrancos descem pelas montanhas
Como a manta dos deuses...
Há poder; há alianças;
Há independência e – a ser pago – preço.

Por dentro do corpo lacunas se abrem
Implorando explicações convincentes;
Ações voluntárias,
Inadequações insolúveis – multiplique tudo mil vezes.

No mais, não é aceitável ter um modo de vida que nos têm,
Por muito menos e por muito mais – ao menos –,
Descarrilhamos mil trens.
Cavalos livres descem a montanha
Em uma bela manhã de dezembro...
É o caminho livre, cheiroso e extenso,
é o livre arbítrio para o castelo violeta.

André Anlub
(9/7/17)

14 de julho de 2020

Sylvia Plath



Sylvia Plath
Via: Elson Froes

WORDS
Axes
After whose stroke the wood rings,
And the echoes!
Echoes travelling
Off from the center like horses.
The sap
Wells like tears, like the
Water striving
To re-estabilish its mirror
Over the rock
That drops and turns,
A white skull,
Eaten by weedy greens
Years later I
Encounter them on the road —
Words dry and riderless,
The indefatigable hoof-taps.
While
From the bottom of the pool, fixed stars
Govern a life.
Sylvia Plath

PALAVRAS
Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
traduzido por Ana Cristina Cesar
(in Escritos da Inglaterra, Ed. Brasiliense, Brasil, 1988, p. 173)
Ý

ARIEL
Stasis in darkness.
Then the substanceless blue
Pour of tor and distances.

God's lioness,
How one we grow,
Pivot of heels and knees! — The furrow

Splits and passes, sister to
The brown arc
Of the neck I cannot catch,

Nigger-eye
Berries cast dark
Hooks —

Black sweet blood mouthfuls,
Shadows.
Something else

Hauls methrough air —
Thighs, hair;
Flakes from my heels.

White
Godiva, I unpeel —
Dead hands, dead stringencies.

And now I
Foam to wheat, a glitter of seas.
The child's cry

Melts in the wall.
And I
Am the arrow,

The dew that flies
Suicidal, at one with the drive
Into the red

Eye, the cauldron of morning.
Sylvia Plath
ARIEL
Estase no escuro.
E um fluir azul sem substância
De penhasco e distâncias.

Leoa de Deus,
Nos tornamos uma,
Eixo de calcanhares e joelhos! — O sulco

Fende e passa, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso abraçar,

Olhinegras
Bagas expelem escuras
Iscas —

Goles de sangue negro e doce,
Sombras.
Algo mais

Me arrasta pelos ares —
Coxas, pêlos;
Escamas de meus calcanhares.

Godiva
Branca, me descasco —
Mãos secas, secas asperezas.

E agora
Espumo com o trigo, reflexo de mares.
O grito da criança

Escorre pelo muro
E eu
Sou a flexa,

Orvalho que avança,
Suicida, e de uma vez se lança
Contra o olho

Vermelho, fornalha da manhã.
traduzido por Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
(in jornal NICOLAU nº 15, Brasil, 1988, p. 20 - 21)
Ý

EDGE
The woman is perfected.
Her dead
Body wears the smile of accomplishment,
The illusion of a Greek necessity
Flows in the scrolls of her toga,
Her bare
Feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.
Each dead child coiled, a white serpent,
One at each little
Pitcher of milk, now empty.
She has folded
Them back into her body as petals
Of a rose close when the garden
Stiffens and odors bleed
From the sweet, deep throats of the night flower.
The moon has nothing to be sad about,
Staring from her hood of bone.
She is used to this sort of thing.
Her blacks crackle and drag.
Sylvia Plath
LIMITE
A mulher está perfeita.
Seu corpo
Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade
Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés
Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena
Tigela de leite vazia.
Ela recolheu-as todas
Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim
Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.
A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca
De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.
traduzido por Luiz Carlos de Brito Rezende
(in FOLHETIM Poemas Traduzidos, Ed. Folha de S. Paulo, Brasil, 1987, p. 65)
Ý

SHEEP IN FOG
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the color of rust,
Hooves, dolorous bells —
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stillness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.
Sylvia Plath
OVELHA NA BRUMA
As colinas somem na brancura.
Estrelas ou pessoas
Olham-me tristes, vexadas comigo.
O trem lega uma linha de sopros.
O tardio
Cavalo de cor enferrujada,
Cascos, dolentes guizos —
Toda manhã
A Manhã ficou escura.
Essa flor perdida.
Meus ossos fruem duma calma, os campos
Distantes derretem meu coração.
Ameaçam
Deixar-me seguir pelo céu
Órfão e sem estrelas, água turva.
traduzido por Marcos de Farias Costa
(in DIMENSÃO Revista de Poesia, nº 18/19, Ed. Guido Bilharinho, Brasil, 1989, p. 65)
Ý

MIRROR
I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, just truthful —
The eye of a little god, four cournered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
Sylvia Plath
ESPELHO
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
traduzido por André Cardoso
(in 34 LETRAS, nº 5/6, Ed. 34 Literatura e Nova Fronteira, Brasil, 1989)
Ý

MUSHROOMS
Overnight, very
Whitely, discreetly,
Very quietly
Our toes, our noses
Take hold on the loam,
Acquire the air.
Nobody sees us,
Stops us, betrays us;
The small grains make room.
Soft fists insist on
Heaving the needles,
The leafy bedding,
Even the paving.
Our hammers, our rams,
Earless and eyeless,
Perfectly voiceless,
Widen the crannies,
Shoulder through holes. We
Diet on water,
On crumbs of shadow,
Bland-mannered, asking
Little or nothing.
So many of us!
So many of us!
We are shelves, we are
Tables, we are meek,
We are edible,
Nudgers and shovers
In spite of ourselves.
Our kind multiplies:
We shall by morning
Inherit the earth.
Our foot's in the door.
Sylvia Plath
COGUMELOS
Varando a noite, com
Brandura, brancura,
Silêncio absoluto,
Do artelho aos narizes
Tomamos posse da argila
E do ar adquirido.
Ninguém nos avista,
Nos detém, nos agride;
Evadem-se os grãozinhos.
Punhos suaves insistem
Em brandir agulhas,
O recheio folhudo,
Até o calçamento.
Nossos martelos, marretas,
Sem olhos e ouvidos,
De voz nem um fio
Alargam as gretas,
Ombro abrindo fendas. Nós
Vivevos a pão e água,
Migalhas de sombra,
Com modos afáveis,
Inquirindo pouco ou nada.
São tantos de nós!
São tantos de nós!
Somos estantes, somos
Mesas, somos humildes,
Somos comestíveis,
Aos trancos e arranques
Apesar de nós mesmos
Nossa espécie se expande:
Pela manhã, havemos
De herdar o planeta.
E nosso pé porta adentro.
traduzido por Flávio Quintiliano
(in jornal LEIA, nº 121, Brasil, 1989, p. 50)
Ý

THE MUNICH MANNEQUINS
Perfection is terrible, it cannot have children.
Cold as snow breath, it tamps the womb
Where the yew trees blow like hydras,
The tree of life and the tree of life
Unloosing their moons, month after month, to no purpouse.
The blood flood is the flood of love,
The absolute sacrifice.
It means: no more idols but me,
Me and you.
So, in their sulfur loveliness, in their smiles
These mannequins lean tonight
In Munich, morgue between Paris and Rome,
Naked and bald in their furs,
Orange lollies on silver sticks,
Intolerable, without minds.
The snow drops its pieces of darkness,
Nobody's about. In the hotels
Hands will be opening doors and setting
Down shoes for a polish of carbon
Into which broad toes will go tomorrow.
O the domesticity of these windows,
The baby lace, the green-leaved confectionery,
The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz.
And the black phones on hooks
Glittering
Glittering and digesting
Voicelessness. The snow has no voice
Sylvia Plath
OS MANEQUINS DE MUNIQUE
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu
Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos
Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.
Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
A mudez. A neve não tem voz.
traduzido por Claudia Roquette-Pinto
(in jornal VERVE, nº 14, Brasil, 1988, p. 8)
Ý

MAD GIRL'S LOVE SONG
I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)
The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)
I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)
Sylvia Plath
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)
traduzido por Maria Luíza Nogueira
(in A REDOMA DE CRISTAL, Ed. Artenova, Brasil, 1971, p. 255)
Ý

RESOLVE
Day of mist: day of tarnish
with hands
unserviceable, I wait
for the milk van
the one-eared cat
laps its gray paw
and the coal fire burns
outside, the little hedge leaves are
become quite yellow
a milk-film blurs
the empty bottles on the windowsill
no glory descends
two water drops poise
on the arched green
stem of my neighbor's rose bush
o bent bow of thorns
the cat unsheathes its claws
the world turns
today
today I will not
disenchant my twelve black-gowned examiners
or bunch my fist
in the wind's sneer.
Sylvia Plath
DECISÃO
Dia nublado: dia cinzento
fico
de mãos bobas
esperando o leiteiro
o gato de uma orelha
lambe a pata cinza
e ardem brasas em chamas
lá fora, vão ficando amarelinhas
as folhas da trepadeira
uma fina fita de leite
embaça garrafas vazias na janela
nenhuma glória provém
duas gotas se equilibram
numa verde envergada
haste da roseira na casa ao lado
ó se arca de espinhos
o gato afia as garras
o mundo gira
hoje
hoje não irei
desiludir meus doze engalanados examinadores
nem cerrarei meu punho
na ironia do vento.
Traduzido por Elson Fróes
(in jornal POIESIS, nº 38, Brasil, l996, pag. 7)

Emily Dickinson



Emily Dickinson
Via: Revista Prosa e Verso Arte

A uma luz evanescente
Vemos mais agudamente
Que à da candeia que fica.
Algo há na fuga silente
Que aclara a vista da gente
E aos raios afia.
.
By a departing light
We see acuter, quite,
Than by a wick that stays.
There’s something in the flight
That clarifies the sight
And decks the rays.
– Emily Dickinson – “80 Poemas de Emily Dickinson”. [tradução Jorge de Sena]. Lisboa: Edições 70, 1978.

1

Uma palavra se abre
Como um sabre —
Pode ferir homens armados
Com sílabas de farpa
Depois se cala —
Mas onde ela caiu
Quem se salvou dirá
No dia de desfile
Que algum Irmão de armas
Parou de respirar.

Aonde vá o sol sem ar —
Por onde vague o dia —
Lá está esse assalto mudo —
Lá, a sua vitória!
Observa o atirador arguto!
O tiro mais perfeito!
O alvo do Tempo
O mais sublime
É um ser “ignoto!”

.

1

There is a word
Which bears a sword
Can pierce an armed man —
It hurls its barbed syllables
And is mute again —
But where it fell
The saved will tell
On patriotic day,
Some epauletted Brother
Gave his breath away.

Wherever runs the breathless sun —
Wherever roams the day —
There is its noiseless onset —
There is its victory!
Behold the keenest marksman!
The most accomplished shot!
Time’s sublimest target
Is a soul “forgot!”

(c. 1858)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

2

Sépala, pétala e um espinho —
Nesta manhã radiosa —
Gota de orvalho — Abelhas — Brisa —
Folhas em remoinho —
Sou uma rosa!

.

2

A sepal, petal,Annotate and a thorn
Upon a common summer’s morn —
A flask of Dew — A Bee or two —
A Breeze — a caper in the trees —
And I’m a Rose!

(c. 1858)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

3

Um perde — outro ganha —
Jogadores jogados —
Lançam de novo os dados!

.

3

We lose — because we win —
Gamblers — recollecting which
Toss their dice again!(c. 1858)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

4

Se recordar fosse esquecer,
Eu não me lembraria.
Se esquecer, recordar,
Eu logo esqueceria.
Se quem perde é feliz
E contente é quem chora,
Que alegres são os dedos
Que colhem isto, Agora!

.

4

If recollecting were forgetting,
Then I remember not.
And if forgetting, recollecting,
How near I had forgot.
And if to miss, were merry,
And to mourn, were gay,
How very blithe the fingers
That gathered this, Today!(c. 1858)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

5

O Sucesso é mais doce
A quem nunca sucede.
A compreensão do néctar
Requer severa sede.

Ninguém da Hoste ignara
Que hoje desfila em Glória
Pode entender a clara
Derrota da Vitória

Como esse — moribundo —
Em cujo OUVIDO o escasso
Eco oco do triunfo
Passa como um fracasso!

Emily Dickinson
.

5

Success is counted sweetest
By those who ne’er succeed.
To comprehend a nectar
Requires sorest need.

Not one of all the purple Host
Who took the Flag today
Can tell the definition,
So clear, of Victory!

As he, defeated — dying —
On whose forbidden ear
The distant strains of triumph
Burst agonized and clear!

(c. 1859)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

6

Nossa porção de noite —
Nossa porção de aurora —
Nossa ausência de amor —
Nossa ausência de agrura —

Uma estrela, outra estrela
Que se extravia!
Uma névoa, outra névoa,
Depois – o Dia!

.

6

Our share of night to bear —
Our share of morning —
Our blank in bliss to fill
Our blank in scorning —

Here a star, and there a star,
Some lose their way!
Here a mist, and there a mist,
Afterwards — Day!
(c. 1859)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

7

Tanto júbilo! Tanto!
Se eu errar, que pobreza!
Pobres como eu, no entanto,
Tudo arriscaram num só Lance!
Ganharam! Sim! Temendo embora —
Deste lado a Vitória!

Vida é só Vida! E Morte, Morte!
Ar é Ar, e Alegria, Alegria!
E se eu falhar, enfim,
É doce ao menos conhecer o ruim!
Perder não é mais que Perder,
Não há mais fim que o Fim!

Mas se eu ganhar! Canhões no Mar!
Sinos nas Torres, pelo ar
Ressoem lentamente!
O Céu é muito diferente
Quando sonhado; terra firme —
Poderá extinguir-me!

.

7

’Tis so much joy! ’Tis so much joy!
If I should fail, what poverty!
And yet, as poor as I,
Have ventured all upon a throw!
Have gained! Yes! Hesitated so —
This side the Victory!

Life is but Life! And Death, but Death!
Bliss is, but Bliss, and Breath but Breath!
And if indeed I fail,
At least, to know the worst, is sweet!
Defeat means nothing but Defeat,
No Drearier, can befall!

And if I gain! Oh Gun at Sea!
Oh Bells, that in the Steeples be!
At first, repeat it slow!
For Heaven is a different thing,
Conjectured, and waked sudden in —
And might extinguish me!

(c. 1860)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

8

A salvo nos seus Quartos de Alabastro —
Distantes do Festim —
Dos Sóis e do Verão —
Dormem os meigos mestres da Ressurreição —
Tetos de Pedra — Paredes de Cetim!

Grandiosos vão os Anos ao Crescente —
Os Mundos os seus Arcos circunscrevem —
E os Firmamentos — fogem —
Diademas – decaem — dobram-se — os Doges —
Gotas sem som – em um Disco de Neve —



8

Safe in their Alabaster Chambers —
Untouched by Morning —
And untouched by Noon —
Lie the meek members of the Resurrection —
Rafter of Satin — and Roof of Stone!

Grand go the Years — in the Crescent — above them —
Worlds scoop their Arcs —
And Firmaments — row —
Diadems — drop — and Doges – surrender —
Soundless as dots — on a Disc of Snow —

(c. 1861)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

9

Tive uma jóia nos meus dedos —
E adormeci —
Quente era o dia, tédio os ventos —
“É minha”, eu disse —

Acordo — e os meus honestos dedos
(Foi-se a Gema) censuro —
Uma saudade de Ametista
É o que eu possuo —

.

9

I held a Jewel in my fingers —
And went to sleep —
The day was warm, and winds were prosy —
I said “‘Twill keep” —

I woke — and chid my honest fingers,
The Gem was gone —
And now, an Amethyst remembrance
Is all I own —

(c. 1861)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

10

Senti um Féretro em meu Cérebro,
E Carpideiras indo e vindo
A pisar — a pisar — até eu sonhar
Meus sentidos fugindo —

E quando tudo se sentou,
O Tambor de um Ofício —
Bateu — bateu — até eu sentir
Inerte o meu Juízo

E eu os ouvi — erguida a Tampa —
Rangerem por minha Alma com
Todo o Chumbo dos pés, de novo,
E o Espaço — dobrou,

Como se os Céus fossem um Sino
E o Ser apenas um Ouvido,
E eu e o Silêncio estranha Raça
Só, naufragada, aqui —

Partiu-se a Tábua em minha Mente
E eu fui cair de Chão em Chão —
E em cada Chão achei um Mundo
E Terminei sabendo — então —

.

10

I felt a Funeral, in my Brain,
And Mourners, to and fro
Kept treading — treading — till it seemed
That Sense was breaking through —

And when they all were seated,
A Service like a Drum —
Kept beating — beating — till I thought
My Mind was going numb —

And then I heard them lift a Box
And creak across my Soul
With those same Boots of Lead, again,
Then Space — began to toll,

As all the Heavens were a Bell,
And Being, but an Ear,
And I, and Silence, some strange Race
Wrecked, solitary, here —

And then a Plank in Reason, broke,
And I dropped down, and down —
And hit a World, at every plunge,
And Finished knowing — then —

(c. 1861)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

11

Não sou Ninguém! Quem é você?
Ninguém — Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!

Que triste — ser— Alguém!
Que pública — a Fama —
Dizer seu nome — como a Rã —
Para as almas da Lama!

.

11

I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d advertise — you know!

How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June —
To an admiring Bog!(c. 1861)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

12

Lidamos com o Joio —
Para chegar à Joia! —
Jogamos fora o Joio —
Julgando-nos ingênuos —

Mas a Forma era a mesma —
E a nova Mão bateia
Com Táticas de Gema —
Praticando Areia —

.

12

We play at paste —
Till qualified, for Pearl —
Then, drop the Paste —
And deem ourself a fool —

The shapes — though — were similar —
And our new Hands
Learned Gem-Tactics —
Practicing Sands —

(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

13

Muita Loucura faz Sentido —
A um Olho esclarecido —
Muito Sentido — é só loucura —
É a Maioria
Que decide, suprema —
Aceite — e você é são —
Objete — é perigoso —
E merece uma Algema

.

13

Much Madness is divinest Sense —
To a discerning Eye —
Much Sense — the starkest Madness —
’Tis the Majority
In this, as all, prevail —
Assent — and you are sane —
Demur — you’re straightway dangerous —
And handled with a Chain —

(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.


§
14
Morri pela beleza — e assim que no Jazigo
Meu Corpo foi fechado,
Um outro Morto foi depositado
Num Túmulo contíguo —

“Por que morreu?” murmurou sua voz.
“Pela Beleza” — retruquei —
“Pois eu — pela Verdade – É o mesmo. Nós
Somos Irmãos. É uma só lei” —

E assim Parentes pela Noite, sábios —
Conversamos a Sós —
Até que o Musgo encobriu nossos lábios —
E — nomes — logo após —

.

14

I died for Beauty — but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining room —

He questioned softly “Why I failed”?
“For Beauty”, I replied —
“And I — for Truth — Themself are One —
We Brethren, are”, He said —

And so, as Kinsmen, met a Night —
We talked between the Rooms —
Until the Moss had reached our lips —
And covered up — our names —(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

15

Beleza — não tem causa — É —
Cace-a e ela cessa —
Não a cace e ela cresce —

Tente alcançar na Messe

As Ondas — quando o Vento
Passa os dedos por ela —
Deus do alto vela
Para negar o Intento —

.

15

Beauty — be not caused — It Is —
Chase it, and it ceases —
Chase it not, and it abides —

Overtake the Creases

In the Meadow — when the Wind
Runs his fingers thro’ it —
Deity will see to it
That You never do it —

(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

16

Algumas Borboletas há
Nos Campos do Brasil —
Voam ao meio-dia só —
Depois — cessa o Alvará —

Alguns Aromas — vêm e vão
À tua Escolha, uma só vez —
Estrelas — que à Noite entrevês —
Estranhas — de Manhã —

.

16

Some such Butterfly be seen
On Brazilian Pampas —
Just at noon — no later — Sweet —
Then — the License closes —

Some such Spice — express and pass —
Subject to Your Plucking —
As the Stars — You knew last Night —
Foreigners — This Morning —

(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

17

Eu temo a Fala escassa —
O Homem que fala Pouco —
Falastrão — é oco —
O Tagarela — passa —

Mas O que pesa — Enquanto a Turba —
Ao máximo se expande —
Esse Homem — me perturba —
Temo que seja Grande —

.

17

I fear a Man of frugal Speech —
I fear a Silent Man —
Haranguer — I can overtake
Or Babbler — entertain —

But He who weigheth — While the Rest —
Expend their furthest pound —
Of this Man — I am wary —
I fear that He is Grand — (c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

18

Prazer — vira pintura —
Se visto pela Dor —
Melhor — porque impossível
Ao fruidor —

A Montanha — à distância —
É Âmbar — um véu —
Perto — dispersa-se — a ânsia —
E Isto é — o Céu —

.

18

Delight — becomes pictorial —
When viewed through Pain —
More fair — because impossible
Than any gain —

The Mountain — at a given distance —
In Amber — lies —
Approached — the Amber flits — a little —
And That’s — the Skies —

(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

19

Banir a Mim — de Mim —
Fosse eu Capaz —
Fortim inacessível
Ao Eu Audaz —

Mas se meu Eu — Me assalta —
Como ter paz
Salvo se a Consciência
Submissa jaz?

E se ambos somos Rei
Que outro Fim
Salvo abdicar-
Me de Mim?

.

19

Me from Myself — to banish —
Had I Art —
Impregnable my Fortress
Unto All Heart —

But since Myself — assault Me —
How have I peace
Except by subjugating
Consciousness?

And since We’re mutual Monarch
How this be
Except by Abdication —
Me — of Me?(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

20

A Dor — tem Algo de Vazio —
Não sabe mais a Era
Em que veio — ou se havia
Um tempo em que não era —

Seu futuro é só Ela —
Seu Infinito faz supor
O seu Passado — que desvela
Novos Passos — de Dor.

.

20

Pain — has an Element of Blank —
It cannot recollect
When it began — or if there were
A time when it was not —

It has no Future — but itself —
Its Infinite contain
Its Past — enlightened to perceive
New Periods — of Pain.(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

21

Habito a Possibilidade —
Casa melhor que a Prosa —
De Janelas mais pródiga —
Superior — em Portas —

Cômodos como Cedros —
Impermeáveis ao Olho —
E por Eterno Teto
Os Dosséis do Céu —

De Visitantes — o mais justo —
Por Ofício — Isto —
Só as asas destas parcas Mãos
Para o meu Paraíso —

.

21

I dwell in Possibility —
A fairer House than Prose —
More numerous of Windows —
Superior — for Doors —

Of Chambers as the Cedars —
Impregnable of Eye —
And for an Everlasting Roof
The Gambrels of the Sky —

Of Visitors — the fairest —
For Occupation — This —
The spreading wide my narrow Hands
To gather Paradise —(c. 1862)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

22

Como se o Mar rompesse
Mostrando um outro Mar ―
E fosse ― um outro ― nesse
Mar ainda pré-formar ―

Mares do Mar ― que invade
As Praias singulares
De outros futuros Mares ―
Nestes ― a Eternidade ―

.

22

As if the Sea should part
And show a further Sea ―
And that ― a further ― and the There
But a presumption be ―

Of Periods of Seas ―
Unvisited of Shores ―
Themselves the Verge of Seas to be ―
Eternity ― is Those ―(c. 1863)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

23

Publicar — é o Leilão
Da nossa Mente —
Pobreza — uma razão
De algo tão deprimente

Mas Nós — antes, em Greve,
Da Mansarda ir, sem cor,
Branca — Ao Branco Criador —
Que investir — Nossa Neve —

A Ele nosso Pensamento
Pertence — a Ele Que encomenda
Sua ilustração Corpórea — a Venda
Do Real Alento —

Mercar, sim — o que emana
Do Celeste Endereço —
Sem reduzir a Alma Humana
À Desgraça do Preço —

.

23

Publication — is the Auction
Of the Mind of Man —
Poverty — be justifying
For so foul a thing

Possibly — but We — would rather
From Our Garret go
White — Unto the White Creator —
Than invest — Our Snow —

Thought belong to Him who gave it —
Then — to Him Who bear
It’s Corporeal illustration — Sell
The Royal Air —

In the Parcel — Be the Merchant
Of the Heavenly Grace —
But reduce no Human Spirit
To Disgrace of Price —(c. 1863)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

24

Não podia beber se
Você antes não bebesse,
Por mais que a antecedesse
O Pensar da Sede.

.

24

I could not drink it, Sweet,
Till You had tasted first,
Though cooler than the Water was
The Thoughtfulness of Thirst.(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

25

Corta o Ar do Ar —
Divide a Luz, se puderes —
Eles se acharão
Cubos numa Gota
Ou Grãos num Vaso
Vão
Névoas não anulam
Odores volvem
Força a Flama
E com um Louro impulso
Ante a tua impotência
Voa a Chama.



25

Banish Air from Air —
Divide Light if you dare —
They’ll meet
While Cubes in a Drop
Or Pellets of Shape
Fit
Films cannot annul
Odors return whole
Force Flame
And with a Blonde push
Over your impotence
Flits Steam.(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

26

Esses testaram o Horizonte —
E desapareceram
Pássaros antes de cumprir
A Latitude.

Nossa Retrospectiva Deles
Prazer pousado,
Nossa Antecipação
— Dúvida — Dado —

.

26

These tested Our Horizon —
Then disappeared
As Birds before achieving
A Latitude.

Our Retrospection of Them
A fixed Delight,
But our Anticipation
A Dice — a Doubt —
(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.



27

Mansão malsã de Quem?
Tabernáculo ou Tumba —
Domo de um Verme —
Grota de um Gnomo —
Ou Elfo em Catacumba?

.

27

Drab Habitation of Whom?
Tabernacle or Tomb —
Or Dome of Worm —
Or Porch of Gnome —
Or some Elf’s Catacomb?

(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

28

Me oculto em minha flor,
Que fana no teu Vaso,
Sem suspeitar, sentes por mim —
Quase tristeza acaso.

.

28

I hide myself within my flower,
That, fading from your Vase,
You, unsuspecting, feel for me —
Almost a loneliness.
(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.


§
29

A Dor — expande o Tempo —
Eras se enrolam dentro da
Circunferência
De um só Cérebro —

A Dor contrai — o Tempo —
Num mero Tiro
Milhões de Eternidades
Cabem num Suspiro —

.

29

Pain — expands the Time —
Ages coil within
The minute Circumference
Of a single Brain —

Pain contracts — the Time —
Occupied with Shot
Gamuts of Eternities
Are as they were not —
(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

30

A Morte é um Diálogo entre
A Alma e o Pó.
Diz a Morte “Some” — A Alma “Só
Me cabe ser Crente” —

A Morte — sob a Terra — clama —
Vai-se a Alma
Deixando o seu — prova cabal —
Manto de Lama.

.

30

Death is a Dialogue between
The Spirit and the Dust.
“Dissolve” says Death —The Spirit “Sir
I have another Trust” —

Death doubts it — Argues from the Ground —
The Spirit turns away
Just laying off for evidence
An Overcoat of Clay.
(c. 1864)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

31

O Abrir e o Fechar
Do Ser é igual e
Desigual, se o for,
À Flor no Caule.

Que de mesma Semente
Vão, em igual Botão,
Paralelos, perfeitos
No que já não são.

.

31

The Opening and the Close
Of Being, are alike
Or differ, if they do,
As Bloom upon a Stalk.

That from an equal Seed
Unto an equal Bud
Go parallel, perfected
In that they have decayed.
(c. 1865)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

32

Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —

Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta.

.

32

Too scanty ’twas to die for you,
The merest Greek could that.
The living, Sweet, is costlier —
I offer even that —

The Dying, is a trifle, past,
But living, this include
The dying multifold — without
The Respite to be dead.
(c. 1865)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

33

A Geometria é a maior Magia
Para a imaginação do mago —
Cujos prodígios, meros atos,
A humanidade prestigia.

.

33

Best Witchcraft is Geometry
To the magician’s mind —
His ordinary acts are feats
To thinking of mankind.

(c. 1870)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

34

A Voz que para mim é um Mar
É para outros chã —
A Face que nasce a Manhã
Fana sob outro Olhar —

Que diferença há em Substância
Se o que me é Soma
A outras Finanças só alcance a
Pobreza Extrema!

.

34

The Voice that stands for Floods to me
Is sterile borne to some —
The Face that makes the Morning mean
Glows impotent on them —

What difference in Substance lies
That what is Sum to me
By other Financiers be deemed
Exclusive Poverty!

(c. 1871)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

35

Ruas sem som serviam
Circunscrições de Pausa —
Nem Sim — nem Não — se ouviram
Sem Universo — ou Causa —

Relógios davam Dia —
Noite — Sinos distantes —
Mas Eras não havia
E nem Depois nem Antes.

.

35

Great Streets of silence led away
To Neighborhoods of Pause —
Here was no Notice — no Dissent —
No Universe — no Laws —

By Clocks, ’twas Morning, and for Night
The Bells at Distance called —
But Epoch had no basis here
For Period exhaled.

(c. 1870)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

36

Se o meu Riacho é fluente
Há de secar —
Se o meu Riacho é silente
Ele é o Mar —

Que cresce. Em meu espanto
Tento escapar
Para um (dizem que existe) Canto
Onde “não há Mar” —

.

36

Because my Brook is fluent
I know ‘tis dry —
Because my Brook is silent
It is the Sea —

And startled at its rising
I try to flee
To where the Strong assure me
Is “no more Sea” —

(c. 1871)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

37

A palavra morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.

.

37

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.

(c. 1872?)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

38

O Enigma decifrado
Despreza-se com pressa —
A Surpresa de Ontem
Já não nos interessa —

.

38

The Riddle we can guess
We speedily despise —
Not anything is stale so long
As Yesterday’s surprise —

(c. 1870)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

39

Tanto orgulho em morrer
Que nos humilha. Tanta
Indiferença em ter
Tudo o que nos encanta —
Tão feliz, ao revés,
De ir aonde ninguém quis —
Que a Angústia se desdiz
Em Inveja, a teus pés —

.

39

So proud she was to die
It made us all ashamed
That what we cherished, so unknown
To her desire seemed —
So satisfied to go
Where none of us should be
Immediately — that Anguish stooped
Almost to Jealousy —

(c. 1873)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

40

Nesta Vida tão breve
De que nos dão só um gole
Quanto — quão pouco — está
Sob o nosso controle

.

40

In this short Life
that only lasts an hour
How much — how little —
is within our power(c. 1873)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

41

Ontem é História,
Mas está tão longe —
Ontem é Poesia —
É Filosofia —

Ontem é mistério —
Mas onde está Hoje?
Mal especulamos
O tempo nos foge

.

41

Yesterday is History,
‘Tis so far away —
Yesterday is Poetry —
‘Tis Philosophy —

Yesterday is mystery —
Where it is Today
While we shrewdly speculate
Flutter both away

(c. 1873)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

42

O Cogumelo — à Noite —
É o Gnomo da Floresta — e
De Dia, Trufo-Travesti,
Estaca, um Toco.

Como se lentamente
Em toda a sua Saga
Mais lento que a Serpente
Mais breve que uma Praga —

Malabar vegetal —
Gente do Álibi — tal
Uma Bolha antecede
E, Bolha, se despede —

Como se visse a Grama
Interromper sua trama —
Um sub-reptício enxerto
Do verão circunspecto.

Se a Natureza a um Traidor
Quisesse descompor —
Se Apóstata tivesse —
O Cogumelo — é esse!

.

42

The Mushroom is the Elf of Plants —
At Evening, it is not —
At Morning, in a Truffled Hut
It stop upon a Spot

As if it tarried always
And yet it’s whole Career
Is shorter than a Snake’s Delay
And fleeter than a Tare —

’Tis Vegetation’s Juggler —
The Germ of Alibi —
Doth like a Bubble antedate
And like a Bubble, hie —

I feel as if the Grass was pleased
To have it intermit —
This surreptitious scion
Of Summer’s circumspect.

Had Nature any supple Face
Or could she one contemn —
Had Nature an Apostate —
That Mushroom — it is Him!

(c. 1874)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

43

Se o lábio hábil a sílaba
Soubesse sopesar,
Poderia, surpreso,
Ruir sob seu peso.

.

43

Could mortal lip divine
The undeveloped Freight
Of a delivered syllable
‘Twould crumble with the weight.

(c. 1877)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

44

Um Vão na Pedra Tumular
Faz do feroz Lugar
Um Lar —

.

44

A Dimple in the Tomb
Makes that ferocious Room
A Home —

(c. 1880)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

45

A Fama é uma abelha.
Tem um estribilho —
Um ferrão em brasa —
Ah! também tem asa.

.

45

Fame is a bee.
It has a song —
It has a sting —
Ah, too, it has a wing.

(?)
– Emily Dickinson – ‘Não sou ninguém’. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

****

TRADUÇÃO AÍLA DE OLIVEIRA

606
“Dizem, ‘com o tempo se esquece’,
Mas isto não é verdade,
Que a dor real endurece,
Como os músculos, com a idade.

O tempo é o teste da dor,
Mas não é o seu remédio –
Prove-o e, se provado for,
É que não houve moléstia.

.

606
They say that “Time assuages” –
Time never did assuage –
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age –

Time is a Test of Trouble –
But not a Remedy –
If such it prove, it prove too
There was no Malady –
– Emily Dickinson, em “Emily Dickinson: Uma centena de poemas”. [tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes]. São Paulo: T. A. Queiroz; EdUSP, 1984.

§

701
“Um pensamento me veio hoje à mente
Que já antes me ocorreu.
Não o concluí; foi tempo atrás; que ano
Não lembro corretamente;

Nem para onde foi, nem porque veio
A mim por segunda vez;
Nem, em definitivo, o que ele era
Tenho a arte de dizer.

Mas – em algum canto – em minha alma – eu sei
Que já encontrei Coisa assim –
Foi só um relembrar – foi tão somente –
E já não mais veio a mim.

.

701
A Thought went up my mind today –
That I have had before –
But did not finish – some way back –
I could not fix the Year –

Nor where it went – nor why it came
The second time to me –
Nor definitely, what it was –
Have I the Art to say –

But somewhere – in my Soul – I know –
I’ve met the thing before –
It just reminded me – ‘twas all –
And came my way no more –
– Emily Dickinson, em “Emily Dickinson: Uma centena de poemas”. [tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes]. São Paulo: T. A. Queiroz; EdUSP, 1984.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.