14 de março de 2020

É a tal


É a tal

Por favor, aguardem contato,
Anunciaram a chegada na hora,
Cheira forte e choca os olhos,
Queima a pele e dá até barato.

A caça do homem no largo lago,
Um peixe e a saudade no prato,
É a lágrima que chega mansinha
No sorriso da boca na esquina.

Fez louca a agonia do peito
E a merecida alegria no tato.
Fez da arte gato e sapato,
Do seu jeito, só nesse feito.

Alguém pergunta o que sugerem pra hoje,
O cardápio está em letras gregas.
Vejo estátuas sem todo o braço,
Ouço o voo de moscas varejeiras.

Vem bom humor e o pavor de perdê-lo,
O problema é mais que emblemático.
Vem matemático e fica cabreiro,
Vem o cosseno, o seno e o quadrado.

E nos porta-retratos a verdade,
A neurose que não faz sentido.
Indo à toa, à tona e a esmo,
Não é o mesmo que felicidade.

André Anlub®

13 de março de 2020

Cria da realidade


Cria da realidade

Sonhei com calçadas vazias e as ruas pelos carros lotadas,
Estranhos corpos ocos vagando em terras sem fim.
Havia um ar carregado e viscoso, tóxico de tão ruim...
Que entrava como pimenta pelas narinas pré-fabricadas. 

O vazio corria ligeiro pelas artérias e veias
Enquanto aranhas trabalhavam multiplicando suas teias.
Aos ratos, museus, escolas, teatros abandonados...
O mundo ressecado ao aguardo do fogo imaculado.

Sonhei com um horizonte invisível,
O sol apenas à serventia da vaidade.
Do homem, a alma nem sequer “a ver navios”...
A lua vive na insônia da inutilidade.

Podres parede e pele descascando
Clamando por uma demão de tinta,
Rios limpos de sorrisos nunca foram descobertos,
Estão cobertos por mágoas em esgotos ao céu aberto.

Sonhei que havia sonhado que tudo não seria sonho
Só ponho minha mão no fogo pelas chuvas de amores
Encaro meus pavores em sopros como uma toda verdade...
Esbarro no trágico fato de tudo ser cria da realidade.

André Anlub
(15/6/18)


10 de março de 2020

A chuva bem-vinda




A chuva bem-vinda

A chuva que cai agora me soa como profética:
Ação assim – assada, assumidamente estratégica;
Feita para exteriorizar minhas lembranças e andanças,
Numa aliança em quimeras de utopias herméticas...

Tudo e todos na combustão do interno,
Que afasta e expurga do externo o inferno.

O tempo em vai-e-vem permanecerá quadrado,
Com o meu casco cascudo que circunda em círculos;
O ciclo do vento bate na face em ritmos,
Gelando também a pele do outro Eu ao lado.

A loucura é minha cura que me morde e me acaricia,
É minha avó, é minha mãe, é minha irmã, é minha filha;
Absolutamente abastada, dissolvente e disponível,
Agora dorme serena com os vinhos na vinícola.

A tempestade banha suavemente o meu mundo;
A água é a verve no vértice, minha saliva viva...
Quando mordo o mundo num amargo absurdo,
A vida torna-se viva, afortunada e faminta.

Tudo se mistura na língua, debaixo da língua...
Sólido elixir do existir que traz calmaria.

O tempo se desconserta num concerto de cordas,
Onde a corda das forcas se desenlaça e afrouxa.
A alma nua na areia; a aura arrumada no arrimo;
É meu sobrinho, é meu irmão, café com pão, é meu primo.

A loucura e a chuva são como um cavalo-marinho;
Misto geminado de paixões; ações: escrever, estar sozinho.
Envergo versos e rimo, brinco com runas, feitiço e patuá;
Sorrio e escorrego no limo de uma cachoeira em Mauá.

André Anlub

9 de março de 2020

Papo de fim de tarde, ou melhor... começo de noite.


Papo de fim de tarde, ou melhor... começo de noite.
(fim de tarde de 3 de junho de 2015)

Nem posso explicar como é uma tarde chuvosa e silenciosa; ao cair o abacate levante-me e sambei... Lembrou-me da piada de Juca Chaves sobre a banda de música que tocava em uma festa, e era tão ruim, mas tão ruim que quando o garçom deixou cair a bandeja todos se levantaram e dançaram. Tarde de ventilador ligado e agora pássaros cantando, tarde bucólica que me fez mergulhar na leitura e ouvir o ensurdecedor som do silencio por alguns minutos. Agora aquele pão com queijo e presunto, um café bem quente e já para o banho gelado. Nem os cães latiram para os micos que passaram na árvore. Hoje uma atípica quarta-feira, véspera de feriado e com fuça de domingo pós-réveillon. Abro um sorriso para meu cão Van Gogh fazendo charme com a barriga para cima e a língua caída de lado... Tirei uma foto. Meu braço tenta tocar o inesperado feixe de luz que desponta pela fresta da porta da varanda. Queria senti-lo quente, pois agora o sol resolveu dar seu “boa tarde”. Mas nada de quente, a luz parece até vir fria e sem graça. Vou jogar uma água na alma e voltar à leitura. Logo mais ver um bom filme e deitar-me cedo, sonhando acordado e esperando o amanhã. Quem sabe escrevo algo logo mais. É quase certo, todo noite o faço. Quem sabe preparo uma massa de pão de alho – deixo-a descansar – e meto-a no forno para o filme da noite. Acho que vou finalizar esses rabiscos e preparar a massa. Fim de tarde às vezes é assim quando estou sem nada a fazer. Fim de tarde não tem nada de fim, pois é, a meu ver, o começo da noite. Sou uma pessoa mais do dia do que da noite. Já fui notívago, até os 25 anos eu era. Mas mesmo assim acordava cedo. Depois o corpo foi acalmando e fui procurando a cama mais cedo e acordando um pouco mais tarde. Nunca fui bom em coordenar minhas horas de acordar e dormir. Se fosse trabalho ou estudo eu sempre acordava com sono. Sempre querendo ficar mais tempo debaixo das cobertas. Se fosse surfar ou viagem era um pulo da cama, com o corpo energizado e renovado de qualquer possível noitada “caliente” na noite anterior. A gente é assim: quando é assim quer assado; quando é assado quer assim. 

André Anlub

8 de março de 2020

Das Loucuras (vapt vupt, zen, zap, zolpidem)


Das Loucuras (vapt vupt, zen, zap, zolpidem)

É, assim o céu abriu, as nuvens caíram fora e saiu o sol
Mesmo olhando relógio do pulso e constatando ser onze da noite 
Na loucura a cura faz coro, pinta cartazes e vai às ruas em prol
De ter com os deuses um relacionamento aberto e menos distante.

O sigilo foi quebrado, nada por agora terá mais importância...
Nos sonhos sempre um ônibus e a falta de um destino concreto.
Mas não há pânico – pelo contrário –, vejo uma calmaria em constância...
E assim brotam amigos antigos, dentro de um devaneio ambíguo, porém reto. 

De repente a situação muda e surge a narrativa incoerente,
Dentro de uma percepção confusa entre o fidedigno e o mutante.
Há coragem de todos em enfrentar o perigo iminente...
Fazendo um verdadeiro abrigo que nos tira da cena num instante. 

Subidas e descidas íngremes, em caminhos estreitos e de barro,
E assim a vida brinca de casinha com que está flertando com essa prosa.
Sorri a todos nós, acaba para alguns e de muitos tira sarro...
É debochada, é de brochada, é inteiriça, brincalhona e impecavelmente valiosa.

André Anlub®
(8/3/20)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.