11 de novembro de 2019

Lendas verdadeiras


Lendas verdadeiras

Indo esperto, sendo longe, médio ou perto;
Frio tipo espeto, noite longa de outono.
O cheiro é evidente, o barulho estrondoso,
Faca nos dentes e o corpo solto e impetuoso.

Quem foi e voltou feliz, não se esquece...
O melhor dos melhores é somente reflexo;
Quem é saudoso às vezes se aborrece,
Pois imerge fundo no indiscreto sem nexo.

De certo modo torto anda-se reto
Com a mente dormindo e o ideológico ereto.
A vida é louca varrida, empurrando com a barriga,
Os pés num céu encoberto de uma tempestade vadia.

Tudo firme e fato; tudo filme e teatro;
Nada falso e forca; nada Fausto e diabo;
Nas lendárias escrituras – imaginárias rebeldias,
Perde-se o talento de Goethe, se ganha de jeito à poesia. 

André Anlub

Letargia


Letargia

Esfriou o café! A depressão lhe caía ao corpo, lhe corroía as entranhas, doía todos os músculos, juntas e ossos, cegava os olhos e secava as artérias e veias; a depressão o fazia um tudo tardio e torto, era nua, vil e absoluta, era o toldo furado à chuva, era de tudo um nada e daquilo e daquele inquilino mais tosco e fosco, um todo; a depressão lhe subia senil do chão ao alvo que era o alto, bem no alto da ponta da cabeça; sugava-lhe o sangue, o suor, a saliva da boca, a seiva do sexo, e desbotava todos os brilhos, os beiços até que escureçam; a depressão já chegou a tempo e lhe tapou os tímpanos com seu tampão tempestuoso; arrancava-lhe as pálpebras, os pelos e cabelos, desmascarava suas ilusões, seus enganos e seus festejos, o bolinava e brochava ao extremo, o fazia enfermo, ínfimo, verme, vesgo; a depressão podia até ter boa intenção, mas bem no fundo à esmo; era verduga, verruga e veneno.  Mas e a garrafa? – A garrafa acabou e o copo secou... Não sobrou sequer um comprimido amigo, um som de piano, um ano pela frente, ou um enterro decente com carpideiras e enchentes; nada... Nem um pano sujo com éter ou clorofórmio... Nada, nem os coliformes fecais sobreviveram... Nada, nem a cola de sapateiro, nem o padeiro gritando: pão!; nem o leiteiro gritando: Flor!; nem o mendigo pedindo esmola e nem a bola do guri João. O dia rasteiro veio à sua busca, dar-lhe um sorriso sem anistia e lhe cobrir com um manto negro e tão grosso que asfixia... A noite vem chegando, mas não vai dar tempo de vê-la em vida, pois a sofreguidão é tamanha que lhe come a pouca e qualquer expectativa. É o fim do mundo, é o fim de tudo. A depressão já fez outra vítima, endureceu a carne e enrijeceu a língua, jogando a pá de cal na inspiração! A depressão abandona o corpo e voa sem sina na brisa... Mas soa um aviso à redondeza: amigos, não fechem as janelas – não temam as feridas –, acordem desse pesadelo abatido, dessa batida sem ritmo, dessa mira vil. Acordem! 

André Anlub

Branco no Preto


Branco no Preto

Afiada a faca, corto o rebordo da alma
Grita para ensurdecer o amor
Com absoluta calma enterro o rancor
Um silêncio invade o local.

A janela se abre
O clarão do dia aparece
Sentimentos ruins vão se esmaecer
A felicidade toma lugar.

Ponho-me a pintar
Pensar, anotar, viver.
Ponho-me a questionar
Como, quando, o que.

Mas vem novamente a penumbra
Absoluta certeza de um "desunir".
Largo a caneta, os pincéis e as ideias
Agora minha hora de sucumbir.

André Anlub®

10 de novembro de 2019

Boneco de engonço


Boneco de engonço

Vivia teleguiado pela mídia e suas filiais
Encontrava resposta para tudo nos seus tele jornais
Indignava-se e sozinho resmungava sobre o bem e o mal
Sua opinião mudava conforme ele mudava o canal.

O ibope era o único divisor de águas que havia
As palavras saiam ao vento diante da televisão
Não sabia que era um atrapalhado boneco de engonço...
Nem que estava em cárcere com a corda no pescoço.

O pior cego às vezes é o que quer ver
Regando as mazelas da vida e as vendo crescer
Sem saber que muitas informações são manipuladas
E outros mil escândalos nunca darão em nada.

Temos que esmiuçar sempre o conhecimento
Lendo e relendo o que sabemos ter idoneidade
Saindo dos muros de letras que nos prendem em nossas cidades
Indo voar e se banhar em outras chuvas e ventos.

André Anlub®

A Epopeia de Denise (caixa de Pandora)


A Epopeia de Denise (caixa de Pandora)

Como se começa uma história?
Algo que pode ter acontecido...
E se a mesma não existe na memória
posto que seja um fictício ocorrido:
Denise caminha em uma praia 
e mesmo que o sol não raia
sua alegria insiste.
Se depara com uma caixa.
um baú velho e pequeno
o abre, deixando escapar um veneno.

A caixa...

Dentro havia um sonho
remeteu-a a outros lugares
voava por entre vales
sentia na face leve brisa gélida.
Despiu-se de todos os seus disfarces,
reviu todos que já se foram
(todos que por ela eram amados e ela por eles)
Viu a morte que passou tão rápida e inexpressiva 
que na verdade poderia se tratar de uma nuvem negra...
(nuvem pequena e inútil)
dessa que não faz chuva,
mas dependendo do ponto de vista,
pode fazer sombra
tirando o reinado do sol.
Ela voou sobre a ilha de Páscoa
e sorriu para seus mistérios;
Atravessou alguns deltas de rios,
do Parnaíba ao Nilo;
Ao anoitecer viu Paris
sentiu seus perfumes;
Por um momento os odores a levaram a campos
como se ela estivesse presa numa redoma de vidro.
Foi testemunha do nascimento de uma pequena aldeia
- África.

Os lugares voltavam no tempo
homens pré-históricos surgiam em grupos,
perseguiam mamutes, comiam com as mãos
e descobriram o fogo, a violência e a pretensão.
Ninguém podia vê-la, sequer ouvi-la
e tantas coisas para dizer, ensinar e aprender.
E assim, de repente, tudo foi simplificado a um só casal de humanos,
voltando em segundos ao atual e normal.

Pode ver tanta coisa e estar em tantos lugares,
mas ao retornar desse sonho tão real,
a realidade maior a esperava...
Ela não pode encontrar quem seria prioritário,
quem responderia suas recentes e antigas perguntas,
quem a acolheria, lhe daria afagos e força,
quem a conhecia como ninguém...
talvez, ela mesma.

André Anlub®
(Jun/2010)


8 de novembro de 2019

Sonho meu

Um Eu qualquer



Um Eu qualquer

Me visto à vontade, e em uma culinária delirante me esbaldo;
Desato o laço, galgo espaço, surfo em ondas de rádio;
Me incluo, me desfaço, meu regaço desnudo aos seus braços...
São poliglotas sensações; são cem emoções sem respaldo. 

No alto salto alcanço o lance de imediato;
Entendo o intento profundamente, e passo a filosofar em Alemão.
De antemão nada mais tornar-se-á algo fantástico;
De até então o farto fato é falho no ato.

Um Eu qualquer que se requer em quaisquer situações,
Abundante, quase infinda e bem-vinda tentação... 
Vejo-me em aura clara, calmamente dentro de uma canção:
‘Bennie and the jets’, ou ‘jumping jack flash’, ou só presunção?

André Anlub


7 de novembro de 2019

Estrada Insana



Estrada insana

Não há razão para encarar essa estrada insana, alucinada...
Dizem que vale a recompensa e o amor é tudo.
Se pegar o caminho será apenas de mala, cuia, bota de couro e queixo erguido.
A bota protege das cobras...
Quais? - Cobras travestidas de amizade, segurança e boas intenções.
A princípio não precisará de mais nada, pois se há mergulho é unicamente de cabeça...
variando entre sorrisos e seriedades DURANTE A queda.
Larga-se quietude – pega-se insegurança –, e determinado vai-se seguindo.
A estrada muitas vezes sangra: fortes chuvas que parecem horizontais.
O barro vermelho surge e se acumula nas beiradas formando esculturas de devaneios
que arregalam e alegram os olhos.
Às vezes levam a um sorriso – a uma alegria –, e dão mais força no delírio do caminho.
Às vezes a estrada enche, há a necessidade de nadar e se nada muito.
Sem barcos, sem boias, sem joias, sem glórias, somente com os sonhos.
Às vezes é seca e solo rachado, com inúmeras voçorocas dando a impressão que nos fitam e chamam para transpô-las.
E mesmo com chuva forte, vento, buracos, percalços, se segue em frete com força ou fraco, coragem ou covardia e quase sempre sem perceber.

André Anlub®
(8/5/13)

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.