“Os Estados Unidos forçam a democratização
mundo afora porque querem vender coca-cola e instalar MacDonald’s” (Paulo
Francis). Quem quiser acreditar em intenções excelsas que acredite, mas que no
fundo o interesse é sempre financeiro só não vê quem não quer. É um fundo
falso, há um mais embaixo ainda: o poder. Dominar o mercado é ser poderoso. E o
poder é o maior dos afrodisíacos pelo simples complicante fato de que através
dele todo mundo se acredita sendo. Parece que não há como negar existência
(valor, identidade) a quem manda nos outros. Então, desde uma banal conversa na
mesa do almoço a um debate secreto sobre a melhor forma de derrubar Assad, a marcação
de presença está sempre ali. Ganhar paradas é compulsivo. Impor-se aos outros é
compulsivo. Mostrar quem manda, quem sabe, que pode, quem vende mais coca-cola é
compulsivo. (E os exemplos são ótimos porque tanto coca-cola é uma porcaria
quanto a comida do MacDonald’s é uma droga; ambas detonam com a saúde física,
assim como os demais recursos detonam com a saúde psicológica.) Nos Estados
Unidos estas redes de fast-food não têm mais como crescer. Quando surge uma
nova se impondo, alguma das estabelecidas quebra. Para atender à sanha do crescimento,
então, é preciso espalhar-se mundo afora. Economias fechadas impedem – no mínimo
atrapalham – isso. Pau nos “ditadores”, então. Prosaico feito somar dois e
dois. Uma outra soma, bem menos prosaica, junta tudo isso à afirmação de um biólogo:
se todo mundo vivesse como os americanos vivem, seria preciso mais três
planetas para destruir. Este biólogo é americano, por sinal...
Já que falei no cara, outra afirmação do
Francis que achei muito boa foi a de chamar o programa espacial americano de
besteira. É uma das maiores inutilidades da civilização contemporânea, em face
dos problemas colossais que a humanidade tem para resolver. De que adianta
saber que cor ou cheiro têm as pedras da nona lua de Saturno se logo ali,
embaixo da ponte, há gente passando frio e fome? De que adianta perseguir o fim
dos confins do universo se a dois passos de distância um desgraçado estrebucha
sua desgraça? Na contra-argumentação, um entusiasta diz que o orçamento da NASA
é de só 14 bilhões de dólares. O que não fariam os encarregados de alojar os miseráveis
refugiados de uma guerra provocada pelo mesmos Estados Unidos, caso tivessem 14
bilhões de dólares para gastar? Alojamentos, colocações e reestruturação
cultural/psicológica custa dinheiro. Mas não é tão emocionante quanto descobrir
que cor e que cheiro têm as pedras da nona lua de Saturno...
ROGÉRIO CAMARGO
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