Nas manhãs o sol piegas prega uma peça: se esconde atrás de uma nuvem e torna ainda mais glacial a água da cachoeira. As novas selvas não são anfitriãs, são as selvas de pedras e as de podres; há deusas anãs; há duendes gigantes. O tempo está estafado; está estufado; está estatelado. Muita pimenta no pirão; muito pernil com paçoca; mas o pulso ainda pulsa. Já foi descrito algo assim, fatos mais que conhecidos; até eu já debati mentindo, já me bati me debatendo. Enganando a escória pisaram na Lua e correram em Marte, fiquei corado e fui coroado um mártir eunuco e maluco; no final das contas joguei os dados: fumei ópio no hospício, e doido, deu para mentir adoidado. Que fatalidade: ao fechar seu zíper, Zappa perdeu seu Zippo; ficou com o fumo, mas sem consumo, sem fogo, sem fósforos; ficou famélico e – quem diria – com fisionomia de abstêmio, perfume de absinto e sorriso de feijão-fradinho. Não foi um ano velho e não há o novo – não começa pelo fato de não terminar; a vida é um dia de cada vez, e cada dia uma nova jornada, novas ideias, perdas, vitórias, escritas, leituras... tudo dentro das lacunas entre as rotinas. Samba do crioulo doido na casa da mãe Joana é tudo naquela bolha de sabão; o mundo, o universo, as aves, o mar... Tudo coloridamente alucinatório na majestosa bolha de sabão. Chegam os louros de toda a vitória: o pódio, as coroas de flores, a beijoca aqui e outra acolá; chega o conforto num colchão de molas, vão-se os odores de podre do peixe dourado morto e vão-se as duradouras dores no ponto morto das costas. Cada pétala dessa certa rosa coloriu-se com as cores preferidas de todos, foi um bafafá, foi uma correria – para aqui, para lá. O canto esfarela e professa dançando com cada caravana sem freio (tudo dentro de uma densa atmosfera niilista). Riu dos ventos úmidos que não deixam as fardagens secarem nos céus; mas chora com seu som abafado pelo sol escaldante pendurado na ponta da lança de um Deus. Seriam sonhos? Ergue os mais belos castelos, barro por barro, pedra por pedra, para depois deixar vazio, sem libertinagens, sem histórias... Só com o eco do silêncio, com o vazio e o tempo, com a fantasia de um achismo simplório. Não, não se vê mais um tesouro que os atrai, tampouco a própria arca vazia. Alguém o roubou e levou para muito longe (além da estrada), e esse alguém morre de sede ou de fome (e fica a arca) ... um anjo a viu em lugar deserto aonde ninguém ia, ninguém fala, canta, lê poesia, late ou mia... enfim, ninguém vai. E ficou a arca! Ficou a arca com a morte; ficou a arca com a morte e a foice; ficou a arca, a morte, a foice e a lança... ficaram os quatro para a próxima ganância, pois não se diz ganancioso, apenas não se contenta com pouco; só não percebeu ainda que também não se contenta com muito.
André Anlub
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