Dómilo reclamava que Pinitto já sabia há muito tempo das traições de Cânina e não lhe contara.
- Que grande amigo você é, hein? Já podia ter me contado há três anos, no mínimo.
- Três anos em que você foi feliz, não foi?
- Baseado em uma mentira!
- E baseado em quantas mentiras você está sendo infeliz?
Alguma coisa no olhar de Amino Reus dava conta de que ele tinha visto alguma coisa. Mas alguma coisa nos receios de Gusto Bamps não queria saber coisa alguma do que Amino Reus tivesse visto. Amino Reus olhava e olhava. Gusto Bamps não via e não via.
O Roteiro incluía visitas a Votucaran. Eu não quero visitar Votucaran, bradava Alfonso Meira. Vou ficar no hotel dormindo. Não pode, você tem que ir, é a regra! Não quero, se eu for, vou incomodar o tempo todo. Alfonso Meira foi e incomodou o tempo todo, mas para isso também havia regras.
O poema a quatro mãos não tinha quatro pernas. Mesmo assim correu feliz para dois abraços.
Jóbilo lamentava-se por não estar fazendo nada. O que não era bem verdade. Jóbilo tinha o seu dia inteiramente ocupado, como quase todo mundo. Ao mesmo tempo, não estava fazendo nada. “De valor”. Que “valesse a pena”. Jóbilo era daquelas pessoas para as quais não adianta só viver. Só viver é não fazer nada.
- Zebélia, vê se tem algum poema florindo no jardim, por favor.
- Tem dois, Dona Su. Quer que colha?
- Não. Quero que você regue com aquele perfume que eu trouxe do Meu Sonho e depois me conte o que aconteceu.
Remédios? Havia três ou quatro. Todos eficientes. Mas Taulino queria sentir a dor, ora essa, o que é que os remédios tinham a ver com isso?
Ninguém sabe ainda, mas Abobil vai ser feliz dentro de quarenta minutos. Depois Abobil vai ficar eufórico porque ficou feliz. E bem depois Abobil vai sentir uma saudade danada. Mas ninguém sabe ainda.
É tão bom sentir-se bem que Murvina jurou a si mesma que ia parar de tentar e ia conseguir.
O Muito Engraçado tinha umas ideias muito engraçadas que o Muito Deprimido considerou de muito mau gosto ele expor logo agora, quando o pessoal finalmente começou a ficar triste.
Plóvio não queria mais.
- Eu não quero mais!
Mas isso não era o suficiente.
- Isso não é o suficiente!
Ele não sabia o que fazer, no entanto.
- Eu não sei o que fazer!
Este era o seu problema.
- Este é o seu problema!
De cada vez que Mureka arrumava as coisas, Porínio não achava mais nada.
- Por favor, não mexa mais aqui!
- Mas como é que eu vou deixar tudo desarrumado?
- Deixa que eu arrumo.
- Só pra você poder encontrar as coisas? Tem graça!
De cima da nuvem, a nuvem olhava a nuvem por baixo da nuvem e pensava que as nuvens são engraçadas, com essa coisa de ficar por baixo. Nisso veio o vento.
- Nunca mais te vi lá!
- Então somos dois, porque eu também nunca mais me vi lá...
Ela estava muito triste nas fotos. Nenhum sorriso, nenhuma distensão. Sempre um olhar pedindo socorro ou clemência. Ele olhou as fotos uma por uma duas vezes. Depois guardou-as na gaveta onde já estavam há quinze anos e por mais quinze anos ficariam.
- Eu acho tudo isso muito idiota.
- Talvez tudo isso também te ache idiota...
- Você acha?
- Eu disse talvez. O que também não muda nada em lugar nenhum.
Alguma coisa inteligente foi feita em algum lugar, não se sabe onde. Mas alguma coisa inteligente está sendo feita a respeito, não se sabe onde.
Quando se entusiasmou, Dora Mirna soltou dez gritinhos, deu vinte pulinhos e arrumou quinze vezes os cabelinhos. Quando se decepcionou, Dora Mirna soltou dez gritinhos, deu vinte pulinhos e arrumou quinze vezes os cabelinhos.
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