Inquilino
(André Anlub - 28/6/09)
Pela sutileza do olhar de Rosa, já sabia o que queria... Não devidamente falado, não claramente pensado, mas sempre demonstrava com o olhar o que antes refletira. Um domingo como qualquer outro. Frio lá fora e as árvores cobertas com uma fina camada de orvalho balançavam com o vento forte e gelado que vinha do sul. Aqui dentro, nessa casa velha de madeira e forno a lenha, a temperatura era mais amena; enquanto houvesse lenha haveria calor. Tinham também os cupins comendo as paredes e uma velha escrivaninha no canto da sala, que brilhava porque recebera um presente meu: uma lata de verniz que achei no porão, fez a mesma que outrora estava sem vida, ficar linda, com jeito pueril, uma anciã tornando-se novamente criança. Entardeceu e nuvens negras no céu. Eu e Rosa, no ostracismo da casa, sem recursos e com inúmeras goteiras... Perguntávamo-nos o que poderia acontecer. Lá de fora ouvimos um som estranho, um pouco abafado e sem direção; o som foi aumentando, ficando bem mais perto – mais grave – claro e objetivo. Era um urso pardo, grande, e pelo cair de suas babas, faminto. Corremos para o porão e não havia luz, nem pela janela entrava algum filete de luz. A mesma havia sido coberta por pedaços de galhos e árvores que caíram; a porta da sala foi-se abaixo, o urso havia entrado e foi de encontro a nossa mesa, esbarrou no rádio que caiu e ligou. Ficamos todos ao som de uma música calma; não dando atenção ao ocorrido... Comeu o resto de provisões que tínhamos e depois de se deleitar com frutas, deitou e dormiu ao calor da lareira e o som "So far away" de Carole King.
Meus Nerudas 4/5/15
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