“Nós somos um
país desonesto”, disse o técnico do Atlético Mineiro, ao reclamar, com razão,
dos escandalosos favorecimentos que o Corinthians vem recebendo das
arbitragens. Árbitros erram porque são humanos. Até aí, tudo bem. Mas quando a
soma destas humanidades favorece apenas um dentre vários, mais do que
desconfiar, dá pra ter certeza. Na fala do competente Levir Culpi há um vício
de origem, no entanto. Algo muito sintomático e descritivo. O que é um país? É mar,
montanhas, planaltos, planícies? É a conjuntura econômica, o PIB, a dívida pública?
É o numero de medalhas conquistados na última Olimpíada? Um país é o povo, nem
mais nem menos. O resto é abstração e estatística. O país é desonesto porque o
povo é desonesto. Se no micro o povo considera aceitável estacionar em vaga de
cadeirante, não respeitar sinaleira para pedestre, dirigir com carteira de
habilitação irregular (para ficar só no trânsito), por que razão no macro não
criaria estruturas como as denunciadas nas operações Lava Jato e Zelotes? Só
que não se pode dizer isso. É ofensivo. Corre-se o risco de ter a vidraça
apedrejada. Então usa-se o eufemismo: “Somos um país desonesto”. E isso cria um
distanciamento confortável: é o país o desonesto, não o povo, não nós.
Rogério Camargo
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