A série é fraca, mas já suportei piores. No
centro dela, uma família de três pessoas. O pai é consultor financeiro, vive em
reuniões de negócios. A mãe passa o dia na rua também, porque é uma espécie de
arquiteta. A filha (uma atriz lá pelos 25 ou 27 anos se fazendo de adolescente)
é uma carente revoltada que não os vê quase nunca e quando os vê é como se não
os visse – porque eles não estão presentes e porque ela também não está. Por
que diabos alguém quer ter uma casa, então, se é para “mantê-la” deste jeito?
Primeiro porque nem sabe que este é um jeito doente de manter uma casa. A inconsciência
e a alienação impedem. Segundo porque não saberia o que fazer, caso percebesse
o que está fazendo. Terceiro porque não haveria o que colocar no lugar. Todo mundo
se casa porque todo mundo se casou, dizia um colega meu, e não estava muito
longe da verdade. Todo mundo faz o que todo mundo sempre fez porque não há
outra forma, aparentemente, de continuar sendo todo mundo. Ir contra a corrente
implicaria em, antes de mais nada, perceber que há uma corrente. E ainda não é
tudo. Há também o indispensável fator “contar consigo mesmo”, ter condições de
permanecer sobre as próprias pernas quando as consequências da estranheza e da
marginalização acontecerem. Muito mais fácil ser um pai ausente, uma mãe omissa
e uma filha revoltada.
ROGÉRIO CAMARGO
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