25 de julho de 2019

Dia do Escritor



""No Dia do Escritor, casa onde morou Guimarães Rosa, em BH, é demolida.

No Dia do Escritor, a casa onde morou Guimarães Rosa é dmolida. Nada a comemorar, portanto.

Há sei lá quantos anos, Lulu me chamou para conversar. Eu fazia assessoria de imprensa a eventos culturais. Estava começando o “Sempre um Papo”.

– Afonso, descobri que aqui morou Guimarães Rosa. Vamos fazer uma exposição, um evento, um debate, qualquer coisa?

Confesso, não sei quantos anos essa conversa se deu. Sei que era o Bar do Lulu, e o Lulu tinha consciência da importância histórica e cultural da casa que ele alugava. Era locatário, vendia cerveja para pagar o aluguel. Mas tinha consciência, tinha noção de onde o seu Bar estava instalado. E precisava fazer alguma coisa neste sentido.

Nely Rosa de Jorge, com sua memória extraordinária, pode me ajudar. Tanta gente boa pode me ajudar. Como foi aquele evento, meu Deus? Sei que tinha fotos de Rosa, tinha livros, tinha cerimônia, tinha respeito, todos sabiam da importância de se se preservar a história da cidade, que é a história de nós mesmos. Vou chutar: pode ser que isso tenha acontecido há 30 anos, em 1989. Melhor 1988, penso.

E mais: todos os frequentadores entendiam a importância e o valor daquilo. Entendiam que naquele lugar, naquela casa morou um estudante que viria a escrever, décadas depois, um livro chamado “Grande Sertão: Veredas”. O livro que determinou e trouxe para Minas Gerais o enclave da natureza com natureza humana. Um livro tão moderno que é simples: o amor de um jagunço por outro. Só que o outro era uma mulher, vestido de homem.

E o Lulu entendeu isso. E fez com que a casa de Guimarães Rosa se tornasse o Bar do Lulu e vice-versa. E todo aquele movimento que nem deveria ser tanto, afinal, são 30 anos atrás e hoje deveríamos valorizar mais a nossa história do que há tanto tempo, fosse o que é: a casa onde morou o maior escritor brasileiro de todos os tempos.

Outro dia eu fiz um vídeo denunciando o descaso e iminência da destruição. Saiu em vários jornais, a Câmara dos Vereadores deu a grita – salve o bom Gabriel Azevedo – e nada. Ninguém disse nada, como se nada ali houvesse para ser relatado. Como se história não fosse porque pode ser destruída – afinal, Belo Horizonte não preservou a casa de seus mais importantes escritores e suas mais importantes personalidades. Vale lembrar apenas uma: a casa onde Carlos Drummond de Andrade e sua família morou, na Floresta, não tem nem uma placa. É um prédio. Mal comparando, é como se Dublin não soubesse quem foi James Joyce. Ou pior.

Acabo de deixar a professora Heloisa Starling em casa, depois de um jantar onde discutimos isso ou mais: a realização de um novo e potente festival literário onde o homenageado seria quem? João Guimarães Rosa, que mudou jovem para Belo Horizonte, e se formou em Medicina, pela antiga UMG – Universidade de Minas Gerais. Em BH ELE se formou, ele se constituiu. E morou em uma casa na esquina de Rua Leopoldina com Congonhas. A mesma casa que funcionou, durante anos, o célebre Bar do Lulu, aquele moço que sabia da importância da história da gente. Sim – aquele moço que vivia de vender cerveja para pagar o aluguel da casa onde morou Guimarães Rosa.

Aí abro o Facebook e leio, no portal Mais Minas, que esta mesma casa – e mais 12 daquelas quarteirão – havia sido derrubada, neste 24 de julho. O portal replicou as fotos e parte do texto de Juliana Duarte, que publicou em seu perfil no Facebook fotos aéreas da demolição. Olho foto por foto, aterrado. Conheci cada uma daquelas casas. Denunciei, fiz textos, vídeos – tenho uns dois inéditos, onde eles estavam modificando a cerca de alumínio que escondia a fachada das casas. Cansei de avisar.

Aterrado continuo, e piora, quando lembro que escrevo este texto às uma da manhã do 25 de julho, quinta-feira, quando se comemora o Dia do Escritor. Tenho ganas de entrar no carro e correr lá, agora, para fotografar, talvez chorar. Lembro que passei ali na porta há 30 minutos atrás e não percebi nada, destruição oculta pelo tapume de folhas de alumínio. Olho de novo, foto por foto, feitas por Juliana Duarte.

A Construtora, cujo nome não ouso citar, não destruiu apenas a casa de Guimarães Rosa e outra doze que compunham talvez o único conjunto harmônico da zona sul de Belo Horizonte, no antigo bairro do Santo Antônio. Não é assim que funciona.

A casa onde morou João Guimarães Rosa não foi demolida fisicamente. Não é assim que a história, no futuro, será contada. Toda vez que uma cidade permite a destruição de seu patrimônio cultural, apaga-se também a força que o cheiro da memória traz. A lembrança do que fomos, do que somos. Lulu sabia disso, há décadas. A gente sabia e sabe disso.

E hoje, como eu disse, comemora-se o Dia do Escritor.

Nada a comemorar, portanto – pelo menos em Belo Horizonte."""

Materia Original do O Globo

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Agradecemos pela leitura.

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.