A chuva bem-vinda
A chuva que cai agora me soa como profética:
Ação assim – assada, assumidamente estratégica;
Feita para exteriorizar minhas lembranças e andanças,
Numa aliança em quimeras de utopias herméticas...
Tudo e todos na combustão do interno,
Que afasta e expurga do externo o inferno.
O tempo em vai-e-vem permanecerá quadrado,
Com o meu casco cascudo que circunda em círculos;
O ciclo do vento bate na face em ritmos,
Gelando também a pele do outro Eu ao lado.
A loucura é minha cura que me morde e me acaricia,
É minha avó, é minha mãe, é minha irmã, é minha filha;
Absolutamente abastada, dissolvente e disponível,
Agora dorme serena com os vinhos na vinícola.
A tempestade banha suavemente o meu mundo;
A água é a verve no vértice, minha saliva viva...
Quando mordo o mundo num amargo absurdo,
A vida torna-se viva, afortunada e faminta.
Tudo se mistura na língua, debaixo da língua...
Sólido elixir do existir que traz calmaria.
O tempo se desconserta num concerto de cordas,
Onde a corda das forcas se desenlaça e afrouxa.
A alma nua na areia; a aura arrumada no arrimo;
É meu sobrinho, é meu irmão, café com pão, é meu primo.
A loucura e a chuva são como um cavalo-marinho;
Misto geminado de paixões; ações: escrever, estar sozinho.
Envergo versos e rimo, brinco com runas, feitiço e patuá;
Sorrio e escorrego no limo de uma cachoeira em Mauá.
André Anlub
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