A OUTRA BELEZA DE DILMA
Por respeito à dignidade humana, quase todos os órgãos jornalísticos se negam a divulgar as imagens que restaram dos jovens guerrilheiros mortos pela Ditadura Militar do Brasil.
Quem suporta vê-las no Memorial da Resistência, em São Paulo, encara corpos de moças e rapazes deformados por pancadaria massacrante, queimaduras de pontas de cigarros, afogamentos e choques elétricos.
Pois, muitos deles não foram simplesmente eliminados como ocorre em qualquer guerra, em combates. Mas depois de submetidos a perversidades, quando já estavam desarmados e presos.
Por esta razão, houve grande emoção entre os pesquisadores, em 2011, ao ser descoberta, no Arquivo Público de São Paulo, a foto de uma jovem guerrilheira, que sobrevivera a 22 dias de tortura.
Dilma Rousseff, aos 23 anos de idade, aparece nela sentada no banco dos réus da Auditoria Militar do Rio de Janeiro, à espera da sentença que a condenou a três anos de prisão.
Com olhar sério, mas sereno, ela acompanha a farsa do seu julgamento, clamorosamente desmascarada, na própria foto, por dois juízes militares que escondem os rostos com as mãos. Enquanto Dilma mantém a cabeça erguida e o nariz empinado.
A foto havia sido publicada 41 anos antes, no Última Hora, com assinatura de Adir Mera.
Sobre ela escreveu a jornalista Karina Peixoto:
“É extraordinária sob muitos aspectos. E um deles é a sua expressividade como História, como fato histórico. Uma jovem altiva mira os interrogadores e dois dos delinquentes que participavam da barbárie esconderam o rosto para o fotógrafo”.
Trata-se, de fato, de documento icônico de tal densidade que só, aos poucos, vai sendo melhor entendido. Reforçando, a cada passo que se dá nesta direção, seu significado simbólico de homenagem à força moral dos jovens imolados no enfrentamento da Ditadura.
Um destes passos foi conquistado quando a imprensa, no fim do período de censura da Polícia Federal, pôde ter informações sobre aqueles 22 dias de tortura a Dilma.
- A Dilma levou choque até com fiação de carro. Fora cadeira de dragão, pau-de-arara e choque p´ra todo lado, revelou uma de suas companheiras de prisão, Maria Luíza Belloque, a Luiz Maklouf, da Revista Piauí, em abril de 2009.
Antes, em dezembro de 2005, a própria Dilma havia contado para Luiz Cláudio Cunha, da Isto É:
- Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram choque, muito choque. Um dia, tive uma hemorragia muito grande, hemorragia mesmo, como menstruação. Tiveram que me levar para o Hospital Central do Exército”.
Finalmente, em 2014, novo avanço. Através de outra foto, tornou-se possível saber como era a aparência de Dilma antes de sua prisão.
A imagem, até então desconhecida, mostra Dilma com surpreendentes semelhanças físicas com uma lenda da música popular brasileira, a bela Maysa Matarazzo.
(Ilustração: A foto de Dilma, estudante universitária de Belo Horizonte, anterior à sua prisão)
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