Despedida VIII
Sábado de sol,
De sola de sapato sendo gasta
Pelos amigos que passam e se vão
Ao longo da rua.
Sábado de poesia, de escrita;
Acordei escrevendo, depois li um pouco...
Agora escrevo novamente.
Voltando algumas horas no tempo:
Essa noite fez um frio de inverno,
Acordei na madrugada em posição fetal
E com uma estalactite no nariz.
“Eta ferro”, me meti no frio da Serra;
Frio que me serra os ossos,
E quase, mas quase, gela meu sangue...
Foi por um triz.
Voltando ao tempo atual:
Almoço pronto,
Deixo meu “boa tarde”
Ao moço que passa
(mais solas sendo gastas).
Barulho de maquita cortando algo,
Complementa o som que ouço aqui...
Qual música?
Hoje deixarei à imaginação de quem lê.
Indo adiante no tempo:
Em casa com os cães,
Meu peixe pronto,
O mesmo som de agora,
Sol queimando a cachola,
Ao tédio meu afronto.
Preciso só imaginar e já sinto o cheiro de café,
Aquele fresco – novo – aquele meu;
Misturando-se ao perfume L’occitan que estou usando.
Vejo o céu limpo, ouço os cães distantes
E os cães aqui também latem.
Preciso só imaginar e já sinto o beijo...
Ah,
O som é Joni Mitchell,
Do disco Blue.
Despedida XII
(corpo e café – torrados e moídos)
Hoje me sinto dentro da melodia
“Rio quarenta graus”;
Mas quarenta... só se for na sombra.
A aura parece que quer deixar a carcaça
E se perder na atmosfera.
O sossego berra, a quietude é onipresente...
Mas “péra”...
Ouço o tilintar dos dentes,
Como se fossem lâminas de aço.
Saboreio a pera,
E o sumo resseca meus lábios.
Meu lema para sair da lama
É sorvete de lima-limão
E um chá verde gelado.
Estão bebendo cafés quando esfriam,
Vi gente saindo pela rua, pelado.
Agora a aura quer ficar no corpo,
Um bom banho gelado.
Ao alto as audaciosas asas de Ícaro,
Há tempos derretidas...
Agora aparecem em nuvens, desenhadas.
Vejo o futuro, não vejo sempre muito boa coisa;
Há decepção, sempre há;
Há ressurreição, tem que haver.
Há de aparecer alguma ligeira solução,
Nas poesias sinceras despontadas.
Sai da melodia, penetrei no sigilo
Já são bem mais de meio dia;
Entrei entre as almofadas
E sorri para a nostalgia.
André Anlub
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