Dueto CLXXII
Trago-te um sorriso. Não te posso trazer a vontade de sorrir.
Sonhos, promessas, esmeros estão por ai... Mas deixo-te um sorriso.
Não espero que ele germine. Mas até entendo que ele seja uma semente.
Saboreia-te – deleite. Faze-me sonhar com teu prazer intenso e onipresente.
Pelo menos em minha imaginação. Trago um sorriso para minha imaginação também.
A casa está limpa – portas e janelas abertas; os cães abanam os rabos e a carne assada e os nabos estão na panela.
A simplicidade sabe tudo de ser feliz. Alguns de nós não sabemos.
Vivemos querendo o sopro à frente do vento e apanhando da saudade, nocauteados no tempo.
Trago-te um sorriso que costuma ver essas coisas, quando não vê outras.
Feito um rasgo na boca, os olhos se cerram, a maledicência se encerra no porvir do transbordo.
Se serve para o amanhã, serve para o agora. Porque só temos o agora. Não vou sonhar com sementes germinadas.
O jardim está pronto, a terra disponível, a água potável e o sol e a chuva são sempre bem-vindos.
Mas eu não tenho nada com isso; isso não é problema meu; nem solução minha.
Vejo-te com teu sorriso... Poderia tê-lo guardado para um dia mais conciso. Sinto-te quente... Deveria ser sempre assim, assado, ascendente...
Não buscarei meu fogo no teu. Nem roubarei a água do teu jardim para o meu. Trago-te um sorriso, apenas, não a vontade de rir.
Aqui jazem meus desejos em ti. Se vais enterrá-los, perpetuá-los, absolvê-los... Não me conte, pois cabem somente a ti.
Rogério Camargo e André Anlub
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