27 de abril de 2020

Excelente noite






O louco que nos basta

A permissão tá na mão – foi concedida,
Na medida certa e esperta do desejo.
Cedo ou tarde o alarde de uma franquia...
Da seiva, da saliva, lavra daquela saída.

As resoluções em dissoluto
No luto do futuro mal resolvido.
Absolvições das ações, sonhos e quimeras...
Sem cancros com cálculos,
E culpas e desculpas e furto.

Colonização e navegação:
Ancoro o acordo que está traçado.
O traçado no boteco, a oferta no mercado – peixe namorado.
Juntos, juntam-se os anéis, decoram-se os papéis...
Teatros, tato e amor;
Teatros são sonhos – mas somo fiéis.
Um penhor de liberdade com chocolates e flor...
Satisfatoriamente recebo meus contos de réis.

Enfim o louco que nos basta,
Bastião dos desejos imorais;
Acordo fechado em uma praça,
Num filho nosso que você traz.

Há uma música que nos rouba uma lágrima
E a melodia em palavras soltas nos soa:
Seja feliz com cuidado em não confundir:
Quero ser alguém na vida
Com 
Viver fingindo ser outra pessoa.

André Anlub

Das Loucuras (nocaute tático, técnico, tântrico)



Das Loucuras (nocaute tático, técnico, tântrico)
.
Potências ao máximo e socos drásticos
Formam hematomas em caixa-alta.
.
O amor é bom de tapa,
Faz tipo e é ótimo de gancho...
E aproveitando o gancho
Deixa o recado:
Fique de olhos abertos,
Mexa as pernas e a guarda alta.
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O boxe é baile,
E na folia da vida só dança
Quem anda distraído.
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Na paixão passageira, deu bobeira,
Passou do ponto é dor de cotovelo.
.
Ônibus errado, calote, skate,
Moto, magrela, lambreta...
Com qualquer coisa se chega ao júri
Para tentar ser absolvido.
.
Jovem homem alarmado,
Com uma enxaqueca esperta
E nocauteado na esquina.
.
Já estava cansado,
Vem apanhando há tempos
De amores adoidados.
.
Foi numa noite enluarada,
Onde o lobisomem deu-lhe uma aspirina.
.
Ele desvendou os segredos
Guardados a sete mil chaves:
O mistério dos vampiros,
Dos curupiras, das picuinhas,
Das purpurinas, dos bobos...
.
Tornou-se um louco transviado
Na Transilvânia de ursos e lobos.
.
Agora já está tudo em ordem,
Volta à sua vidinha resguardada
De infeliz estada e estratagemas.
.
Disfarça-se de afável,
De boa gente e feliz,
De desaprovado e amargurado.
.
Potências ao mínimo
E socos e chutes fracos,
Em sacos cheios e ocos.
.
Vivência no instinto,
Se entrega inteiro
Com aliança de algema
E cordão que é corda no pescoço.
.
André Anlub



Manjando o Kilimanjaro


Manjando o Kilimanjaro

Tanto tempo contemplando a inventiva montanha:
Mais tarde, quem sabe, a alma fale e olhe com olhar sedento;
Quem sabe exprime, em música e rima, a saudade e o lamento.

Mais tarde, quem sabe, tal angústia suave e em silêncio,
Desça sem freio e molhe
O meu cúmplice de pano...
(meu travesseiro)

Submerso nas ilusões das palavras de tintas e nos fios de seda,
Procedo com medo, arredio, e coração cheio de ar, de vento, de ventania...
(porém, vazio).

Ficou tarde e agora troca-se o chá verde de menta
Por um copo cheio de camomila;
(quem sabe uma taça de vinho).

As torradas com mel e gergelim,
As estrelas da noite ou de um céu, enfim,
Quase tudo de quase todos,
Sumiram com a escuridão da saliva seca da saudade...
No céu da boca.

Foi-se a montanha,
É o fim...
(eu e o horizonte, a sós).
S.O.S!

André Anlub®

22 de abril de 2020

Excelente quarta a todos



três duetos (Eu e Gaudêncio) para alegrar a tarde de quarta!

Dueto XL

Um vento quente como o hálito de um bêbado bateu no rosto da desconfiança.
Deixou o desembaraço da incoerência, pois ninguém havia desconfiado desse ato.
Ela fazia sozinha o seu melancólico show de calouros, como as bonecas esfarrapadas de uma criança pobre.
Ela é esnobe; talvez pobre de espírito com tal artifício de em nada acreditar.
O vento quente seguiu seu destino e sua tarefa, deixando para trás um espetáculo mal acabado como o esqueleto de um prédio
Esperto! - o vento não para quieto, não esquenta lugar, não cria raiz, família, não constrói lar.
A desconfiança tem todos os motivos para não confiar nele e ele tem todas as razões para não levá-la a sério.
Esse (des) casamento é um mistério! - o vento sempre volta de surpresa (nisso todos confiam) e prega uma peça nos esquecidos, pois ele vem abraçado com o improviso.
O vento passa e a desconfiança fica, enraizada em terra ruim enquanto ele vai plantando inconsistências pelos ares. 
Ela cria seus azares nas consciências em decadências e afins, ele recria liberdades fugazes a cada instante.
São dois opostos da mesma aposta, são o lado de lá e o lado de cá e o lado nenhum, que nenhum quer entregar
Um lado berrante, atuante, que passa com a razão, e um lado sem noção, sem nação, que errante como o passo adiante do bêbado que realmente é.

Dueto LVIII

Passaram-se décadas de escadas e escaladas, entupiram-se alguns canos, cabelos caíram, ossos furados, castelos ruíram.
No rosto do bibliotecário o vinco dos registros formava rios que desaguavam em oceanos de mágoa.
O que já passou por suas mãos e olhos são incontáveis joias raras, pedras preciosas, escritos, pequenos silêncios e enormes gritos de escritores de todo o globo.
Tudo dele, tudo nele. Sua vida é contar e recontar as pedras, encontrando ou deixando escapar as preciosidades.
Espalhou a semente da leitura: família, vizinhos e toda sua pequena cidade... mas não se sentia completo, não era pleno, era até mesmo infeliz ao extremo.
No extremo da angústia perguntava-se e a resposta era mais uma pergunta: O que é que eu estou fazendo aqui?
Saiu pelas ruas à procura da resposta; olhou pelas praças, bancos e ruelas e viu os amigos (eles e elas) lendo ou carregando livros; olhou pelas janelas baixas e viu mesas postas e ao lado as cristaleiras com livros guardados para o “após ceia”.
Pedras guardadas, livros guardados. Pedras nos olhos, livros nas estantes. Pedras nos sapatos, livros nas gavetas.
A impressão de dever cumprido veio junto com a de não dever nada; então, novamente, deságua em lágrimas, pois o livro que mais quis ler, ele não havia escrito.
No livro que ele não havia escrito, a resposta para sua pergunta não era uma nova pergunta e ele finalmente não dormiria mais embaixo da mesa.

Dueto XXXIII

Cavei no fundo da alma para tentar achar aquela paz esquecida. 
Cavei com as unhas cansadas já de procurar na carne exausta a alegria que um dia encantou-se com a melancolia.
Encontrei sonhos antigos, sons que eu gostava, leituras empoeiradas, luas vazias e sóis apagados,
Recostei-me na montanha do desconsolo, olhando longamente o que desfilava lentamente
E ponderei: já foi feito o bastante, o possível... cumpri minha missão ou haverá novas batalhas?
As unhas quebradas me responderam que aquela muito era já uma nova batalha. Ergui então o torso curvado, não me senti ultrajado, arregacei as mangas, chupei umas mangas e encarei meu fardo.
Dele me veio a certeza de que não preciso ter certeza. Dele me veio a força de que só preciso ter força.
Então levantei do banquinho do pessimismo, sugeri que a forca da depressão fosse pular corda, pisquei um olho para o abismo e fui ao próximo capítulo – onde encontrei a mim mesmo, sempre a mim mesmo, nada mais que a mim mesmo.

Rogério Camargo e André Anlub



19 de abril de 2020

Hospício






Hospício

Salientaram no hospício
Que ninguém iria comer
Só injeções na testa...
Mais que um sacrifício.

Uma doutrina errada,
Condições terríveis,
Faces amarguradas...
Pessoas mais que sensíveis.

Não tinham valor algum,
Exclusos da sociedade,
Pessoas novas e de idade...
Somavam um mais um.

Indigentes, obscenos
Cenas do dia a dia,
Pretos, brancos, morenos...
Sujeitos à revelia.

Desprezados pela verdadeira família,
Inúteis sem poder reciclar,
Cães expulsos da matilha...
Sem ter mais em quem amamentar.

Aos montes iam se definhando,
Em um frenético vai e vem,
Homens mortos andando...
Passos calmos pro além.

André Anlub

“Despostergado”

Desando por dentro do vulcão de uma saudade antiga
Calço tamancos de madeira que incomodam ouvidos alheios
Não me valho com benditas opiniões
E nos canhões das angustias, sou devaneio.

Quero ver o amor seguir nossas pegadas
Ilusão calada de um sonho sem cor
No alto teor no voo do etílico prumo
Eu bebo, como e fumo... 
É a simplória jornada.

Registro o torto por linhas tortas
Quero vivenciar em você o meu degelo
Lhe faço espelho, trancas das portas
Lhe faço as mortas de um pesadelo.

André Anlub






















18 de abril de 2020

Abril em festa?

Abril em festa?
Pela fresta
infesta o olhar da inveja.
Com a porta semiaberta
ela observa
não há mais breja
não há igreja
queimou-se a floresta
abril banal.

André Anlub®




17 de abril de 2020

A ilha em êxtase


A ilha em êxtase

A vida não é um coito de Fadas!

E agora, estava mais que na hora, o ânimo veio,
No veio sumido e assanhado de quem somos;
No envelhecido clichê de quem deveríamos ser.

No abstrato da tela, em aquarela, aquela ilha...
Confiando no absinto para encarar o abismo;
Na retrospectiva da vida, um céu de bel prazer:
A perplexa perspectiva a nosso ver.

Somos quem somos, fomos e seremos (os tais)...
E já estava na hora do abrigo de um alento amigo.
Publiquem nos anais e jornais, em letras garrafais: 
Nossa vultosa vida vivida não é particular...
Então, s'il vous plaît, mostrem o que há de divertido.

Exponham em íntimos olhos de ourives:
Tudo de todos tarda, e sempre soará peculiar...
Então tão assim – e assado – é para se mostrar.

O tempo alçou e alcançou o próprio tempo,
Como a serpente doente comendo seu rabo.
Na frase eu me acabo; no vento você me inventa;
Eu como a cobra com pimentão, pepino e pimenta.

Fecho os olhos e vejo um mar na nossa avenida;
Obro os olhos e vejo que sou um belo peixe...
Largue o preconceito e ao meu lado deite-se;
Deixe-se levar e leve a todos para sua ilha da vida.

André Anlub






15 de abril de 2020

Dueto CLXX



  Dueto CLXX

Um dia depois de um dia que não precisaria ter acontecido.
Um dia para entender que qualquer dia pode acontecer.
Hoje cabisbaixo e desgostoso não consegue se olhar no espelho.
E o espelho era o mesmo ontem, vai continuar sendo o mesmo amanhã.
Brigou com sua vida, tentou entender e não entendeu, ficou de mal com o mundo e em um surto desfaleceu.
O mundo não foi juntá-lo. Ninguém do mundo foi juntá-lo. Teve que se reerguer sozinho.
Organizou o que restou de suas forças, ergueu a cabeça e foi encarar seu juízo no espelho.
Não era um juízo final, nunca será. Também não era o perdão, a remissão, a condenação afastada. Era apenas olhar. E ele olhava.
No inicio não gostou do que viu, mas logo veio um discreto sorriso. Ficou corado... Não se sabe se por vergonha ou a força que voltou.
Do chão ninguém passa. E só os fracos fecham os olhos ou viram as costas para o espelho.
Um dia depois de um dia que mais parecia uma noite. O sol e seus olhos voltam a brilhar.
Reconhece. Já viu o sol antes. Já foi o sol antes. Mesmo que também seja noite quando é noite.
Contentamento de ter perdido uma luta, mas ganhou o duelo e aprendeu uma lição. Só que novas lutas, lições, espelhos e dias difíceis virão.
Amanhã é amanhã. Hoje é hoje. O espelho também diz isso, mas é preciso ouvir o que ele diz, não o que ele dirá.
Pensou em quebrar o espelho para evitar o conflito; pensou em consertar a si mesmo para evitar o conflito.
Pensou que só com o espelho intacto pode consertar o conflito. Então sorriu – para si, para ele e para o mundo – e foi preparar um café.

Rogério Camargo e André Anlub

Biografia quase completa






Escritor, locador, vendedor de livros, protético dentário pela SPDERJ, consultor e marketing na Editora Becalete e entusiasta pelas Artes com uma tela no acervo permanente do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC/BA)

Autor de sete livros solo em papel, um em e-book e coautor em mais de 130 Antologias poéticas

Livros:
• Poeteideser de 2009 (edição do autor)
• O e-book Imaginação Poética 2010 (Beco dos Poetas)
• A trilogia poética Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos de 2014
• Puro Osso – duzentos escritos de paixão (março de 2015)
• Gaveta de Cima – versos seletos, patrocinado pela Editora Darda (Setembro de 2017)
• Absolvido pela Loucura; Absorvido pela Arte
(Janeiro de 2019)

• O livro de duetos: A Luz e o Diamante (Junho 2015)
• O livro em trio: ABC Tríade Poética (Novembro de 2015)

Amigos das Letras:
• Membro vitalício da Academia de Artes, Ciências e Letras de Iguaba (RJ) cadeira N° 95
• Membro vitalício da Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura da Embaixada da Poesia (RJ)
• Membro vitalício e cofundador da Academia Internacional da União Cultural (RJ) cadeira N° 63
• Membro correspondente da ALB seccionais Bahia, São Paulo (Araraquara), da Academia de Letras de Goiás (ALG) e do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa (PT)
• Membro da Academia Internacional De Artes, Letras e Ciências – ALPAS 21 - Patrono: Condorcet Aranha

Trupe Poética:
• Academia Virtual de Escritores Clandestinos
• Elo Escritor da Elos Literários
• Movimento Nacional Elos Literários
• Poste Poesia
• Bar do Escritor
• Pé de Poesia
• Rio Capital da Poesia
• Beco dos Poetas
• Poemas à Flor da Pele
• Tribuna Escrita
• Jornal Delfos/CE
• Colaborador no Portal Cronópios 2015
• Projeto Meu Poemas do Beco dos Poetas

Antologias Virtuais Permanentes:
• Portal CEN (Cá Estamos Nós - Brasil/Portugal)
• Logos do Portal Fénix (Brasil/Portugal)
• Revista eisFluências (Brasil/Portugal)
• Jornal Correio da Palavra (ALPAS 21)

Concursos, Projetos e Afins:
• Menção Honrosa do 2° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Brava Gente Brasileira”.
• Menção Honrosa do 4° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Amor do Tamanho do Brasil”.
• Menção Honrosa do 5° Concurso Literário Pague Menos, de nível nacional. Ficou entre os 100 primeiros e está no livro “Quem acredita cresce”.
• Menção Honrosa no I Prêmio Literário Mar de Letras, com poetas de Moçambique, Portugal e Brasil, ficou entre os 46 primeiros e está no livro “Controversos” - E. Sapere
• classificado no Concurso Novos Poetas com poema selecionado para o livro Poetize 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas)
• 3° Lugar no Concurso Literário “Confrades do Verso”.
• indicado e outorgado com o título de "Participação Especial" na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas/Salvador (BA).
• indicado e outorgado com o título de "Talento Poético 2015" com duas obras selecionadas para a Antologia As Melhores Poesias em Língua Portuguesa (SP).
• indicado e outorgado com o título de Talento Poético 2016 e 2017 pela Editora Becalete
• indicado e outorgado com o título de "Destaque Especial 2015” na Antologia O Melhor de Poesias Encantadas VIII
• Revisor, jurado e coautor dos tomos IX e X do projeto Poesias Encantadas
• Teve poemas selecionados e participou da Coletânea de Poesias "Confissões".
• Dois poemas selecionados e participou da Antologia Pablo Neruda e convidados (Lançada em ago./14 no Chile, na 23a Bienal (SP) e em out/14 no Museu do Oriente em Lisboa) - pela Literarte

André Anlub por Ele mesmo: Eu moro em mim, mas costumo fugir de casa; totalmente anárquico nas minhas lucidezes e pragmático nas loucuras, tento quebrar o gelo e gaseificar o fogo; não me vendo ao Sistema, não aceito ser trem e voo; tenho a parcimônia de quem cultiva passiflora e a doce monotonia de quem transpira melatonina; minha candura cascuda e otimista persistiu e venceu uma possível misantropia metediça e movediça; otimista sem utopia, pessimista sem depressão. Me considero um entusiasta pela vida, um quase “poète maudit” e um quase “bon vivant”.

Influências – atual: Neruda, Manoel de Barros, Sylvia Plath, Dostoiévski, China Miéville, Emily Dickinson, Žižek, Ana Cruz Cesar, Drummond
Hobbies: artes plásticas, gastronomia, fotografia, cavalos, escrita, leitura, música e boxe.
Influências – raiz: Secos e Molhados, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mutantes, Jorge Amado, Neil Gaiman, gibis, Luiz Melodia entre outros.
Tem paixão pelo Rock, MPB e Samba, Blues e Jazz, café e a escrita. Acredita e carrega algumas verdades corriqueiras como amor, caráter, filosofia, poesia, música e fé.