O livro que fez meu cavalo livre
(Parte I)
A priori...
tudo está a contento, e sobrevivi!
Lembro-me da vastidão do picadeiro
o cavalo da loucura em galope louco.
Nunca se deixa de fazer pouco
quando tudo se tem...
É você em primeiro!
Alucinações, parábolas, cogumelos
nos desenhos, moravam duendes
pras crianças, eram casas...
Salgados caramelos.
Cavalguei sobre o campo de tulipas
amassadas pelas pegadas do cavalo.
E na queimada da mata...
Pelo ralo foram-se alguns anos
pelo corpo farejei meus desenganos.
Chorei ao deparar-me com o tempo perdido
e no dito e não dito que ignorei.
Com a felicidade tinha perdido o compromisso
e no chumaço do chá de sumiço,
hoje me achei.
Enfim, estacionado o cavalo.
Dei banho, água e feno
abri o cercado do terreno
e o deixei livre ao regalo.
André Anlub®
(3/6/13)
Se todas as tulipas fossem negras
(continuação de “O livro que fez meu cavalo livre”)
Meu cavalo nesse momento é livre
porém, ainda com alguns fantasmas.
Também há as estradas íngremes
que estendem um tapete vermelho para o nada.
Agora, as tulipas estavam inteiras.
não mais pisadas pelas patas.
Brilhantes tulipas, com cores vivas
e força para enfrentar a tempestade.
O amanhã próximo de letras e tintas
a sina que mudaria o caminhar.
Nas mãos, preparados para tocar a alma...
Os livros de Emily Dickinson e Sylvia Plath.
E as tulipas se tornaram negras
ao conhecerem sua história e sua dor.
Regadas e afogadas pelas flores coloridas
que também afogaram junto seu rancor.
E meu cavalo livre...
Hoje tenho novo cavalo
ele está perto, mas não temos contato.
Ele me inspira, traz força e medo
me respeita e impõe respeito.
O coração se abre, vejo meu próprio inventário.
Martírio empoeirado de um achaque guardado
e o amor incrustado de um todo imaginário.
Hoje a vida é um constante cenário
como o mar que me conhece
até mais do que eu mesmo.
A moradia na emoção
é o botão da alma incendiária.
Pago a diária desse hotel
com a locação do meu bordel
com o papel, meus rabiscos
e a loucura ponderada.
André Anlub®
(4/6/13)
O cavalos, as tulipas e uma vida
(continuação de “Se todas as tulipas fossem negras”)
Meu cavalo relinchou por comida
quer algo esquecido e sem fim.
Quer banquete farto e antigo
quer minhas loucas iguarias
pois já está farto de capim.
Meu cavalo veio à minha porta
nessa torta manhã de domingo.
Ouvi com delicadeza sua clemência
e chorei feito menino.
Mais uma vez só vejo as tulipas negras
e o verão mergulhado no inverno.
O inferno com suas portas abertas
badalou os sinos
e colocou o capacho de “bem-vindo”.
Mas, minha gente amiga...
beijo a vida vadia.
Deem-me as mãos, me deem guarida
não quero ser julgado, é covardia.
Como réu confesso, meu cavalo se vai
some ao longe, pelo canto da estrada.
Sua estada é sempre trágica
e, como mágica, ressuscita as tulipas.
André Anlub®
(7/6/13)
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