Dueto da tarde (XLII)
Fomos até onde a curva da estrada já não
era mais a curva da estrada,
Tornou-se uma nanica quimera
desamparada, desejo que foi para o brejo.
Nenhuma vaca atolada (no brejo ou fora
dele) poderia contestar: a curva da estrada sumira sem deixar endereço.
Perguntas eram constantes, interrogações
que voavam sem rumo, mas havia uma variante: o silêncio inquietante do mais
adiante, incógnita gigante.
Algumas bocas falantes – mexeriqueiros
que sabem de tudo (até do que não existe), diziam ofegantes em alerta: a curva
da estrada não mais existe... tornou-se uma reta.
Perdendo-se no horizonte, perdendo-se no
infinito, a estrada, feito a barca de Caronte, pouco se importava com gritos.
Fomos então até à beira de um abismo,
bisbilhotar; ele nos encarou, olhar sedento, olhos de Lince aos quatro ventos.
A curva da estrada não-mais passou a ser
a profundidade do abismo agora-e-sempre; nada mais ficaria exato, claro e no
agrado se não houvesse o fútil e inútil interesse em saber o destino da
estrada.
Rogerio Camargo e André Anlub
(21/1/15)
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