- Eu acho tudo
isso um saco!
- Já eu acho
tudo isso muito interessante. Até isso de você achar tudo isso um saco.
Precisando
desabafar, Pulino contou coisas suas, íntimas, a Caluffo. Caluffo era seu amigo
de confiança. Mas comentou o que ouviu com Matella, sua esposa, sua amiga de
confiança. E Matella comentou o que ouviu com Sunira, sua amiga de longos anos,
sólida amizade, de confiança. Mas Sunira não era amiga de Pulino. A ela Pulino
jamais contaria coisas suas, íntimas.
Ankaldo achou
sua cabeça rolando no pátio, para lá e para cá. Ralou com ela. Estou te procurando
há horas, disse. A cabeça de Ankaldo deu uma gargalhadinha satisfeita, de
menina coquete que conseguiu chamar atenção. Ele, pelo menos, percebeu.
- Não,
obrigado, não é pra mim.
- Mas você não
disse que deseja tanto?
- Desejo. Mas
desejar é uma coisa, Obter o que não é pra mim é outra.
- Foi muito
feio.
- Foi mesmo?
- Mesmo. Nós
nos dissemos horrores.
- E vocês já
conversaram sobre isso?
- Não. Desde
aquele dia não nos falamos mais.
- Talvez isso
seja o mais feio de tudo...
Menino
ingênuo, facilmente enganado pelos outros nas brincadeiras de esperteza, sempre
ludibriado nos trotes e nas tretas, jamais vencedor em nada. Menino ingênuo a
ponto de confundir ingenuidade com deficiência e estragar-se em autoacusação.
Grande trabalho, mais tarde, para recuperar a inocência. Mas um trabalho que
valeu cada gota de suor, pois lhe devolveu não apenas o que já tinha como acrescentou
muito mais.
- Você me ama?
- Claro,
claro.
- “Claro,
claro” não é resposta!
- O que é
resposta? “Muito, muito”?
- Se eu te
disser, não tem graça. Vai, responde, você me ama?
Uma gota de
luar caiu distraidamente nos olhos da rosa e ela despertou de seu perfume noturno
para o sol que havia na imaginação de suas pétalas.
- Você nunca
me disse que dava pra fazer assim!
- Você nunca
me perguntou.
- Mas você
podia ter me dito!
- Podia. Se
você me perguntasse.
- Como se te
faltasse alguma coisa!
- Claro que
falta: o principal.
- E o que é o
principal?
- Achar que
não me falta nada.
Somos três e o
tempo todo nos vigiamos: eu, a felicidade e a desconfiança de que a felicidade
vai acabar em seguida. Somos três e poderíamos ser apenas eu sem vigiar o que
não precisa de vigilância.
Vamplérgio
caminhava solitário por uma trilha na montanha de seus desejos. Nada havia que
confirmasse um destino – nem tampouco uma desistência. Vamplérgio não parecia
conhecer ou recear o ambiente, que também não parecia hostil ou amistoso. Era
apenas uma forma de ir. E Vamplérgio ia, até porque nada o convidava a parar.
Antípio
cumprimentou a morte de um jeito que ela achou muito engraçado. Tão receptiva
foi que o cumprimentou de volta utilizando seu próprio senso de humor.
Ernídio
cobrava de Fanteka:
- Você me fez
de trouxa!
- Fanteka
respondia a Ernídio:
- Até pode
ser. Mas você também se fez de
trouxa.
- O que você
está dizendo? Eu me apaixonei por você!
- É exatamente
disso que estou falando.
ROGÉRIO CAMARGO
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