Fulano da Silva, Sicrano Barbosa e Beltrano dos Santos
Deu um gole no chá verde gelado e ao descansar a xícara, sorriu; viu-se num lago novamente o guri que um dia brincou com seus sonhos alados.
Congelando o momento foi trajando o futuro, luz no fim do túnel do incerto predestinado; no amanhã um apogeu deveras absurdo é a essência madura que utopicamente nasceu. Viu-se feliz com o viver protegido, viu-se ungido com o suor de mil anjos.
Na boca pequena um grandioso sorriso e os ouvidos docemente arranhando violinos de Vivaldi em arranjos; faz-se adulto, pecante e andarilho, com rugas no rosto e prantos arquivados.
É trem de carga que não carece de trilhos; abandonou seu abrigo, sem culpas e mágoas.
Chegou o tempo das convicções positivas, de amores desatados por mãos limpas e lavadas com o suor da procura. Eis mais um desafio no meio do povo “de andar semelhante”: - barba bem feita, o sapato novo e alma nada desnuda.
Eis o semblante guerreiro, os filhos na escola e hora na labuta: - comida na mesa e nove talheres para apenas duas mãos.
Chegou o tempo de desprender-se do básico
E não se sentir um traste por nada ter de praxe.
Fugindo da história:
Foi convicto à feira no domingo e comprou seu peixe... subiu no velho caixote e disse a todos os ouvintes: - é bendito e bem-vindo o tal de Benvindo Nogueira... deputado do povo (eleito por ser um homem oprimido).
Voltando à história:
No arraste das horas a barba crescendo e o sapato mais velho; vê-se esotérico ao som erudito de um novo critério; agora homem simples, Sicrano da vida em um mundo baldio.
A vida estava por um fio, mas as nuvens se foram e tempestades sumiram. (o chão é o limite)
O tempo chegou, o clarão é mais vivo das asas no apoio e o voo continuo. (o céu é o limite).
Há estradas fáceis que levam ao pecado, mas há também caminhos íngremes que estendem o tapete vermelho pro nada.
Ao final da tarde as flores enfim se mostram (mais dela) submissas, num colorido real e pétalas como olhos famintos de belo.
Ela, dama, atravessa os jardins, os passos tímidos e sutis, abrindo os lábios e deixando brotar as próprias cobiças; um artista do amor sorri, aponta seus dedos magros, (outrora gordos e inebriados de nanquim): - Ai, ai, ai, é o fim, ela não me notou... choram eu, ele, você e os jardins. E o chá, um sopro para esfriar; vem aqui – foi lá.
A fumaça do tabaco profana a luz
Que atravessa a janela adentrando o quarto, trazendo a beleza que há, aos olhos abertos, no limpar das remelas, no sonhar – realizar e fazer jus.
Beltrano dos Santos é uma figura, já foi profeta, mas não se mostrou... só ele sabia; nas alquimias que os anos trouxeram, a derradeira ainda estaria porvir; mas ele não tem pressa, o amor não tem pressa e o que só interessa é o acreditar sem fim.
- André Anlub
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