“Já estive em Paris, França, e Paris,
Paramount. Prefiro Paris, Paramount” (Ernest Lubitsch). Se eu fosse obrigado, a
boca de fuzil, a fazer uma escolha, escolheria Paris, França – pela qual não
tenho a menor simpatia, mas apenas e tão somente porque seria mais real, mais
viva, menos alucinação e delírio do que Paris, Paramount. Já é difícil manter
os dois pés na realidade. Já é difícil não se perder em fantasias. Optar
deliberadamente por um universo fantasioso é dar um tiro no pé, se a intenção é
a de viver alguma coisa fora da ilusão. Mas quando a ilusão se torna um valor
inestimável, quando não é só uma fatalidade, por tudo que a mente já faz
sozinha, mas igualmente um bem de raiz, aí não adianta nem argumentar. Aliás,
quase sempre argumentar é uma grande perda de tempo, só serve mesmo para o
argumentador pensar coisas boas de si mesmo – que é um cara atilado,
mentalmente organizado e de “boas intenções”, já que deseja mostrar “a verdade”
para os outros. Isso é, outra vez, Paris, Paramount, é o mundinho do cinema
dentro da cabeça da gente.
ROGÉRIO CAMARGO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos pela leitura.