Prisioneiro Deposto no Líquido sagrado de Baco
Rodei pelos bares e espeluncas da vida, em puteiros falidos e mulheres de esquina; já me vi na latrina, na obscuridade do ser, e seguindo nas vozes o que devia fazer. O corpo e a alma, tão visível ameaça, cicatriz ao lado das tatuagens; e quentes miragens se fundem na carcaça, fazendo graça sem ao menos me conhecer. Me camuflo e prossigo adiante, o coração é imundo, mas não carece de morrer. Morto por dentro, um desfavor de outrora, e morto por fora em vários prévios instantes. Um adendo: na roleta russa do desgosto vejo seu riso no alvedrio da bala. Gritos e falas em minutos se calam, apontado ao ouvido ao som do breve estampido. Rigoroso tempo na tela do céu azul, enorme pingo quente dourado, aflito caminho sem norte (também sem sul). Espero o cair da noite e vou-me frenético abraçar a boemia: mesas bambas dos bares sinto-me bem, é aquilo ali que quero. Paredes descascadas, lavabos de intolerável cheiro ruim, o garrafão de vinho barato: todo feio se faz tolerável; o detestável é alegoria. O porre corriqueiro: Janeiro, meu aniversário, tudo que é falso torna-se verdadeiro. Larguei o último copo e voltei ao primeiro – onde a mente vai demudando, o tom de voz aumenta e enterra-se a tormenta. Voo bem calmo ao terreno estrangeiro. A insanidade das horas perdidas no líquido sagrado de Baco, com uma mão vai afundando o barco e com a outra fornece o salva-vidas.
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