Dueto LXXIII
O corpo passou como uma sombra densa, adensando cada vez mais na imaginação;
O corpo antes de carne e osso, agora é alma e esboço, meio acabamento, arte final de cores, letras, músicas e varia-ções.
Quanto mais perde a forma na distância, mais toma forma na memória e no desejo de que não saia da memória.
As solas de seus pés deixam pegadas coloridas e notas musicais nas areias, nas estradas, nas montanhas onde passam; no voo formam um arco-íris que serve de partitura aos pássaros.
Dissolve-se o concreto e concretiza-se o abstrato no tra-to da música, na música do contrato entre a alma e seu retrato.
É meramente puro e imediato, é a interação da atuação da arte com a ação da alma – casamento perfeito, fato consumi-do e congeminado.
O corpo que passa não é o corpo que fica. O corpo que fica nem conhece o corpo que passa. Por isso não passa.
Estacionado no momento, mas na combustão borbulha desvairadamente em inspirações
que as transpirações transformarão em matéria, talvez, ou talvez mais material em sobra passando.
Rogério Camargo e André Anlub
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